Music'Alta
Música de Altos Menistreis
João Mateus - charamelinha, charamela, bombarda tenor e direcção
Joaquim António Silva – charamela, bombarda alto, gaita-de-foles, alaúde
Hélder Rodrigues - sacabuxa tenor e sacabuxa baixo
Paulo Cordeiro - sacabuxa tenor
João Barroso - traverso e percussão
xx ENCONTRO DE MÚSICA ANTIGA DE LOULÉ FRANCISCO ROSADO - 2018
xx ENCONTRO DE MÚSICA ANTIGA DE LOULÉ FRANCISCO ROSADO - 2018
IGREJA DE N. SRª da CONCEIÇÃO - QUARTEIRA dia 14 de outubro de 2018
Programa: Versões instrumentais de Canções de Josquin Deprez (1450-1521) de Claudin de Sermisy (1490-1562), de Jacob Arcadelt (1507-1568) e Danças Europeias de meados do século XVI, destacadas das colectâneas nomeadamente de Pierre Attaingnant (1530), Tielman Susato (1551), Claude Gervaise (1540), Pierre Phalèse (1571) e Michael Praetorius (1612).
No final da Idade Média e na Renascença, o termo "Menistreis" designava o conjunto de músicos instrumentistas. Constituíam um grupo de músicos profissionais que trabalhavam para o rei, nobre, igreja ou poder municipal, de uma forma mais ou menos permanente. Estes músicos que nos aparecem com as diferentes designações de "menestres", ou “menistréis”, eram muitas vezes multi-instrumentistas que formavam conjuntos relativamente autónomos. Existiam os menistreis baixos, que tocavam instrumentos de sonoridade mais fraca, e os menistreis altos, que tocavam instrumentos de sopro com forte sonoridade tais como trombetas, charamelas, sacabuxas e cornetas. Estes agrupamentos de “ALTA MÚSICA” tinham diversas designações conforme o país. Os “piffari” em Itália, os “stadtpfeifer” na Alemanha, os “waits” ou “loud minstrels” em Inglaterra, os “hauts menestrels” em França, os “altos ministriles” em Espanha, os “menistreis altos” em Portugal. As ocasiões especiais de festa pública, tais como banquetes, cortejos e cerimónias reais, procissões, bailes de corte ou outras grandes festividades, celebradas quer em palácios, igrejas, ou em espaços exteriores de praças ou principais ruas das cidades, eram marcadas com “Alta Música” e com grande impacto sonoro.
Uma das primeiras referências à música “Alta “ aparece com Johannes Tinctoris (1436-1511): “Os tocadores de charamela tocam em instrumentos de diversos tamanhos, alguns mais agudos para as vozes superiores e outros mais graves - geralmente chamadas bombardas - para as vozes do meio e inferiores. Por vezes são acompanhados por músicos de sopro com instrumentos de metal, que tocavam um tipo de trombeta chamada em Itália trompone [trombone] e em França saqueboute [sacabuxa]. Quando todos estes instrumentos tocavam em conjunto eram chamados a “ALTA”.
Este tipo de formação de “Musica Alta”, de charamelas e sacabuxas e tambores, era muitas vezes a formação de excelência e a base instrumental requerida em ocasiões de dança, em bailes de corte ou populares, nomeadamente praticada em amplos espaços de interior ou de ar livre, onde se pretendia uma sonoridade de maior impacto. Esta situação encontra-se amplamente documentada em diversas representações iconográficas europeias referentes ao século XVI. Na música de dança, no final do século XIV, encontramos formações instrumentais mais reduzidas, constituídas por duas charamelas e gaita-de-foles. Mais tarde, no século XV é típica a formação de três charamelas e uma trombeta bastarda (trombeta deslizante). A invenção da sacabuxa no final do século XV, decorrente da evolução técnica da trombeta bastarda, originou uma formação típica do século XVI constituída por três charamelas e uma ou duas sacabuxas. Com o avançar do tempo, nomeadamente no século XVII, com o aumento das vozes instrumentais, esta formação seria estendida a outros instrumentos tais como às cornetas e aos baixões. Contemporaneamente, em meios rurais, mais afastados das grandes cidades, a música de dança era muitas vezes assegurada por uma gaita-de-foles.
Por volta de 1487, o teórico e compositor Johannes Tinctoris (1436-1511) escrevia no seu tratado "De usu et inventione musicae" Nápoles: "Na nossa época cristã, há numerosos tocadores de instrumentos de sopro que por vezes tocam em festivais religiosos, e muitas vezes em casamentos e esplêndidos banquetes da nobreza. Eles são também chamados a tocar nas celebrações de vitória e nas festas, tanto públicas como privadas. Eles fazem-se ouvir nas cidades, tanto à aurora do dia como ao crepúsculo. Eles tocam música sacra e profana de todos os tipos nos seus instrumentos, com graça e invenção".
No “Livro dos Conselhos de El-Rei D. Duarte (Livro da Cartuxa) ” (1423-1438) indica-se que os infantes D. Pedro, D. Fernando, tinham cada um ao seu serviço além dos cantores, quatro "menestres de çharamelas", quatro de outros instrumentos e quatro trombetas. Na crónica D’El-Rei D. João II, Garcia de Resende refere: “E ao domingo vinte e sete dias de Novembro do dito ãno de mil e quatrocentos e noventa que era o dia ordenado pera a entrada da princesa em Évora (…) Chegou el-rey ao moesteiro, e a princesa que ja estava prestes sayo logo (...) E diante dela muitas trombetas, e atabales, charamelas, e sacabuxas, (...). E o estrondo de todas as trombetas e atambores, menistres altos d'elrei, da princesa e do duque, e muitos senhores que os levavam era cousa espantosa.” (…) “muitos menistres altos e baixos” (...) “trombetas, atabales, e menistres altos que tangiam” (...) “E o estrondo das trombetas, atambores, charamelas, e sacabuxas, e de todolos menistres era tamanho que se nam ouviam” Na crónica d’El-Rei D. Manuel encontra-se a seguinte passagem: “Todolos domingos & dias sanctos jantava & çeava [El-Rei D. Manuel] com musica de charamela, sacabuxas, cornetas, harpas, tamboris & rabecas & nas festas principaes cõ atabales, & trõbetas, qe todos em quãto comia tangiam cada hu per seu gyro (…).”
O repertório que era tocado por estes agrupamentos seria de três tipos. O repertório vocal, em que os instrumentos “dobravam” ou substituíam as vozes cantadas, o repertório puramente instrumental derivado do vocal e o reportório (instrumental) proveniente de danças populares ou da corte. Para além de peças estritamente instrumentais e de dança em voga na época em toda a Europa, estes grupos proponham interpretações instrumentais de canções e de peças de música vocal retiradas do repertório religioso, tais como partes de missas e motetes. Nos séculos XVI e XVII, a música de dança impressa, na maior parte a quatro e a cinco vozes, tais como as recolhas de Pierre Attaingnant (1530), Tielman Susato (1551), Claude Gervaise (1540), Pierre Phalèse (1571 e 1583) e Michael Praetorius (1572-1621), circulavam por toda a Europa. Encontramos referências a estas coletâneas de peças no índice da enorme e famosa Biblioteca Musical d’El-rei D. João IV, lamentavelmente perdida no terramoto de 1755.
João Mateus
João Mateus - corneta, charamela, bombarda e direcção
Hélder Rodrigues - sacabuxa tenor e sacabuxa baixo
Paulo Cordeiro - sacabuxa tenor
Gonçalo do Carmo - gaita de foles e percussão
João Mateus - corneta, charamela, bombarda e direcção
Hélder Rodrigues - sacabuxa tenor e sacabuxa baixo
Paulo Cordeiro - sacabuxa tenor
João Barroso - percussão
O grupo MUSIC'ALTA nasce da necessidade de reconstruir, de redescobrir e de fazer reviver a música "Alta" praticada
entre os séculos XV e XVII.
Que música se ouviria tocada por estes menistreis para assinalar a cerimónia de encontro de D. João I com John de Gaunt
negociando o casamento com Filipa de Lencastre... ? (1386)
Iluminura do livro Anciennes Chroniques de France et d'Angleterre de Jean Wavrin (século XV)
duas cornetas ou charamelas
Que música estaria a tocar este grupo de altos menistreis durante o casamento...? (1522)
Retábulo de Santa Auta – c. 1522 - Oficina de Lisboa, [Cristóvão de Figueiredo e Garcia Fernandes?]
duas charamelas, duas bombardas e sacabuxa.
Que música estaria a tocar este grupo de músicos na procissão...? (1615)
Denis van Asloot (1570-1628) - pormenor da "Procissão de Nossa Senhora de Sablon" Bruxelas 31 de Maio de 1615
Museu do Prado
baixão / bombarda / corneta / charamela / bombarda / sacabuxa
Estes agrupamentos de “ALTA MÚSICA” tinham diversas designações conforme o país. Os “piffari” em Itália, os “stadtpfeifer” na Alemanha, os “waits” ou “loud minstrels” em Inglaterra, os “hauts menestrels” em França, os “altos ministriles” em Espanha, os “menistreis altos” em Portugal.
As ocasiões especiais de festa pública, tais como banquetes, cortejos e cerimónias reais, procissões ou outras grandes festividades, celebradas quer em palácios, igrejas, ou em espaços exteriores de praças ou principais ruas das cidades, eram marcadas com “Alta Música” e com grande impacto sonoro.
Por volta de 1487, o teórico e compositor Johannes Tinctoris (1436-1511) escrevia no seu tratado "De usu et inventione musicae" Nápoles: "Na nossa época cristã, há numerosos tocadores de instrumentos de sopro que por vezes tocam em festivais religiosos, e muitas vezes em casamentos e esplêndidos banquetes da nobreza. Eles são também chamados a tocar nas celebrações de vitória e nas festas, tanto públicas como privadas. Eles fazem-se ouvir nas cidades, tanto à aurora do dia como ao crepúsculo. Eles tocam música sacra e profana de todos os tipos nos seus instrumentos, com graça e invenção"
Uma das primeiras referências à música “Alta “ aparece igualmente com Johannes Tinctoris (1436-1511): “Os tocadores de charamela tocam em instrumentos de diversos tamanhos, alguns mais agudos para as vozes superiores e outros mais graves - geralmente chamadas bombardas - para as vozes do meio e inferiores. Por vezes são acompanhados por músicos de sopro com instrumentos de metal, que tocavam um tipo de trombeta chamada em Itália trompone [trombone] e em França saque-boute [sacabuxa]. Quando todos estes instrumentos tocavam em conjunto eram chamados a “ALTA”.
No “Livro dos Conselhos de El-Rei D. Duarte (Livro da Cartuxa) ” (1423-1438) indica-se que os infantes D. Pedro, D. Fernando, tinham cada um ao seu serviço além dos cantores, quatro "menestres de çharamelas", quatro de outros instrumentos e quatro trombetas.
Na crónica D’El-Rei D. João II, Garcia de Resende refere: “E ao domingo vinte e sete dias de Novembro do dito ãno de mil e quatrocentos e noventa que era o dia ordenado pera a entrada da princesa em Évora (…) Chegou el-rey ao moesteiro, e a princesa que ja estava prestes sayo logo (...) E diante dela muitas trombetas, e atabales, charamelas, e sacabuxas, (...). E o estrondo de todas as trombetas e atambores, menistres altos d'el-rei, da princesa e do duque, e muitos senhores que os levavam era cousa espantosa.” (…) “muitos menistres altos e baixos” (...) “trombetas, atabales, e menistres altos que tangiam” (...) “E o estrondo das trombetas, atambores, charamelas, e sacabuxas, e de todolos menistres era tamanho que se nam ouviam”
Na crónica d’El-Rei D. Manuel encontra-se a seguinte passagem: “Todolos domingos & dias sanctos jantava & çeava [El-Rei D. Manuel] com musica de charamela, sacabuxas, cornetas, harpas, tamboris & rabecas & nas festas principaes cõ atabales, & trõbetas, qe todos em quãto comia tangiam cada hu per seu gyro (…).”
Este tipo de agrupamento, formado basicamente por charamelas, sacabuxas e atambores, no século XVI e XVII seria alargado às cornetas e mais tarde aos baixões e baixõezinhos.
Em Portugal, os instrumentos que eram utilizados nas principais capelas, seriam predominantemente instrumentos de sopro. Conforme consta do “Livro das Mercês”, sabemos que a partir dos finais do séc. XVI, em Vila Viçosa, a Capela Ducal de D. Teodósio II, Duque de Bragança (pai de futuro rei D. João IV), era composta, além dos Mestres de Capela e Cantores, pelos seguintes instrumentos: trombeta, charamela, corneta, baixão, baixãozinho, sacabuxa, contrabaixo e orgão. No mosteiro de Santa Cruz em Coimbra, o Capítulo de 1656 especifica que, para além do órgão, os instrumentos apropriados para o uso na igreja são a harpa, o baixão, o fagote (da mesma família do baixão) e a corneta. Na Capela da Sé de Évora num documento datado de 1651 com as folhas de salários aparecem referências além dos mestres da capela cantores e organistas, os nomes de quatro charamelas, uma corneta, dois sacabuxas, dois baixões, um fagote e um tangedor de harpa.
O repertório que era tocado por estes agrupamentos seria de três tipos. O repertório vocal, em que os instrumentos “dobravam” ou substituíam as vozes cantadas, o repertório puramente instrumental derivado do vocal e o reportório (instrumental) proveniente de danças populares ou da corte.
Para além de peças estritamente instrumentais e de dança em voga na época em toda a Europa, estes grupos proponham interpretações instrumentais de canções dos cancioneiros e de peças de música vocal retiradas do repertório religioso tais como partes de missas e motetes.
Nos séculos XVI e XVII, a música de dança impressa, na maior parte a quatro e a cinco vozes, tais como as recolhas de Tielman Susato, de Praetorius, circularia por toda a Europa. Encontramos referências a estas peças no índice da famosa Biblioteca Musical d’El-rei D. João IV, lamentavelmente perdida no terramoto de 1755.
João Mateus 2013
No final da Idade Média e na Renascença, o termo "Menistreis" designava o conjunto de músicos instrumentistas. Constituíam um grupo de músicos profissionais que trabalhavam para o rei, nobre, igreja ou poder municipal, de uma forma mais ou menos permanente. Estes músicos que nos aparecem com as diferentes designações de "menestres", ou “menistréis”, eram muitas vezes multi-instrumentistas que formavam conjuntos relativamente autónomos. Existiam os menistreis baixos, que tocavam instrumentos de sonoridade mais fraca, e os menistreis altos, que tocavam instrumentos de sopro com forte sonoridade tais como trombetas, charamelas, sacabuxas e cornetas.