Espiritualidade e saúde mental: aspectos que influenciam no cuidado

Data de postagem: Oct 20, 2016 1:6:2 AM

Espiritualidade e saúde mental: aspectos que influenciam no cuidado

Emilly Cristina Oliveira Mota, Iolanda Santos Nogueira

Resumo

A espiritualidade é caracterizada como uma parte do ser humano que remete aos questionamentos, emoções e convicções acerca do sentido da vida. A saúde mental se relaciona com ela através de estratégias que visam uma melhora no cuidar da saúde, pois desenvolvendo a espiritualidade do paciente, consequentemente ampliasse sua resiliência, fundamental para promover o equilíbrio mental e promover a saúde integral. Portanto, esse artigo trata-se de uma pesquisa de revisão bibliográfica analítica sobre a espiritualidade e saúde mental acerca dos aspectos relacionados à atenção de saúde.

Palavras-chave: Espiritualidade, religiosidade, saúde mental, cuidado integral, assistência de enfermagem.

Introdução

Após a reforma psiquiátrica, na década de 70, o modelo de assistência em saúde mental tem passado por várias transformações no cuidado ao paciente com transtorno mental, mudando o foco desse cuidado de internações hospitalares e manicomiais para o atendimento integral através dos Centros de Atenção Psicossociais (CAPs), que tem o suporte de sua assistência na Rede Atenção Psicossocial (RAPS) (LEITE; SEMINOTTI, 2013).

Essa mudança proporcionou um atendimento integral, individual e que possibilita o fortalecimento da autonomia do individuo, além da valorização de sua subjetividade como algo intrínseco do paciente e que faz parte do cuidado. Esse novo paradigma de cuidado é importante, no contexto da sociedade pós-moderna, com o surgimento da tendência de questionamento existencial que afeta o bem estar e qualidade de vida (OLIVEIRA; JUNGES, 2012).

Dessa forma, levando em consideração o conceito de saúde como um bem estar físico, mental e social, uma mente saudável seria um bem estar que supera as adversidades do cotidiano e mantém sua subjetividade, abrangendo a espiritualidade. Sendo que a espiritualidade é caracterizada como uma parte do ser humano que remete aos questionamentos, emoções e convicções acerca do sentido da vida, de que há mais no viver, e das coisas que não são plenamente compreendidas. Não se limitando assim, a uma crença ou prática religiosa (OLIVEIRA; JUNGES, 2012).

Portanto, é importante distinguir a espiritualidade da religiosidade, além de que, só depois da metade do século XX que a questão espiritual passou a ser estudada e aceita como parte importante na saúde, ao invés de influência negativa sobre ela, em especial a saúde mental. Percebe-se assim que a solução de problemas e questionamentos interiores, proporcionado pela espiritualidade contribui para o bem estar mental e físico, sendo uma forma de promoção de saúde (LEITE; SEMINOTTI, 2013).

Entretanto, a forma como o individuo desenvolve sua espiritualidade pode tanto levar a comportamentos positivos quanto desordenados, o que na assistência clínica deve ser um fator a ser abordado, observando a importância que o paciente dá ao aspecto religioso, que pode se manifestar como espiritual, como propriamente dito, as questões existenciais que podem causar sofrimento exacerbado (OLIVEIRA; JUNGES, 2012).

Além de que, certos pensamentos religiosos dificultam o tratamento, pois exclui o tratamento medicamentoso, piorando o quadro clínico, essas atitudes estão mais relacionadas ao fanatismo religioso. Por isso é importante à orientação sobre a espiritualidade, pois quando o paciente entende que está esta ligada a uma energia positiva, o individuo se sente mais forte e mais disposto para enfrentar os obstáculos da vida, principalmente quando se trata de adoecimento mental (MURAKAMIL; CAMPOS, 2012).

Metodologia

Trata-se de uma pesquisa de revisão bibliográfica analítica sobre a espiritualidade e saúde mental acerca dos aspectos relacionados à atenção de saúde. Uma pesquisa bibliográfica é descrita por Andrade, 2004 apud Assis 2009, mais como a forma como se obtém os dados necessários para uma pesquisa, do que sobre suas características, sendo o meio pelo qual se recolheu informações para desenvolvimento deste artigo, em livros e documentos bibliográficos publicados referentes à espiritualidade e saúde mental.

A pesquisa analítica é o estudo e analise das informações disponíveis sobre espiritualidade e saúde mental, sendo que o material para desenvolvimento desse trabalho foi encontrado na plataforma da Biblioteca Virtual do Ministério da Saúde (BVMS) e Scielo, com as palavras chaves espiritualidade, religiosidade, saúde mental, cuidado integral e assistência de enfermagem.

Espiritualidade como experiência e sua relação com saúde mental

De acordo Carone & Barone (2001) a crença religiosa estabelece uma parte importante da cultura, dos princípios e dos valores utilizados pelos pacientes para dar forma a julgamentos e ao processamento de informações. Desse modo, a confirmação de suas crenças e inclinações perceptivas podem fornecer ordem e compreensão de eventos dolorosos, caóticos e imprevisíveis.

A espiritualidade e religiosidade são entendidas de forma importante no aspecto da nossa força superior, onde sabemos que é um sentido de vida e que nos direciona à nossa integralidade, dessa forma nos ajudando com nossos sentidos embaralhados, no auxilio com a ansiedade, medos, angustias, desânimos, raiva e principalmente com a prevenção de doenças mentais (MOREIRA et al., 2006; VOLCAN et al., 2003).

Em relação à espiritualidade/ religiosidade a forma em que o individuo, de acordo a saúde mental, interpreta e sente é de grande importância para manter os comportamentos ou desenvolver certas ações saudáveis ou desordenadas, assim como também em qualquer outro aspecto da vida (OLIVEIRA; JUNGES, 2012).

Dessa forma a saúde mental está relacionada com a espiritualidade de forma que a promoção da saúde mental possa surgir através de estratégias que visam uma melhora no cuidar da saúde, relacionada com a criação de novas estratégias que irão se fortalecer no processo do bem estar do paciente, assim como promover um equilíbrio mental e prevenir transtornos psíquicos (LEITE; SEMINOTTI, 2013).

Abordagem da espiritualidade na atenção em saúde mental

Em decorrência da interpretação errônea sobre o que caracteriza a espiritualidade, os profissionais podem ter dificuldade em introduzir esse aspecto no plano de cuidado do paciente, sendo importante que esses ampliem o seu conhecimento acerca do assunto, tendo em vista que saúde mental não é uma parte separada apenas para os transtornos mentais, mas está relacionada ao conceito de saúde, do equilíbrio entre o bem-estar físico, mental e social (LEITE; SEMINOTTI, 2013).

Esse equilíbrio pode estar alterado não apenas nos transtornos, mas em sofrimentos decorrentes de qualquer patologia, como também de algum sofrimento subjacente, por isso dentro da assistência é preciso identificar a fragilidade que o paciente apresenta por esse sofrimento espiritual. Essa abordagem é realizada desde a acolhida na unidade de saúde, da escuta humanizada ao respeito acerca das dúvidas e questionamentos existenciais (OLIVEIRA; JUNGES, 2012).

Esses pontos devem ser seguidos de forma a estabelecer uma relação terapêutica com empatia, de forma a proporcionar um ambiente seguro para que o paciente repense sua vida, suas práticas e como esse cotidiano chega a afetá-lo. Se esse espaço de reflexão for realizado em forma de grupo, apresenta uma possibilidade de que coletivamente os participantes aprendam as respeitar as diferenças em grupo e a encontrar respostar aos seus questionamentos de forma segura e terapêutica (OLIVEIRA; JUNGES, 2012).

Isso porque ao se ter uma forma de se autoconhecer, o individuo está desenvolvendo sua espiritualidade e consequentemente ampliando sua resiliência, fundamental para promover o equilíbrio mental e promover a saúde integral dele, não focando apenas nos sintomas apresentados, mas em um contexto ampliado (OLIVEIRA; JUNGES, 2012).

Conclusões

A partir do estudo de espiritualidade em saúde mental, é perceptível que uma das grandes dificuldades que os profissionais de saúde, em especifico os enfermeiros, tem de desenvolver o aspecto espiritual dentro da sistematização da assistência de enfermagem do cuidado integral, com equidade e universalidade, sendo necessário a diferenciação do conceito de religiosidade e espiritualidade. Para tanto, é necessário se desprender de crenças pessoais, ligadas a religiosidade, para então compreender que a espiritualidade está relacionada ao sentindo individual do significado da vida, fundamental para o equilíbrio mental.

Por conta disso, é importante que os espaços de produção de conhecimento ampliem seus horizontes de forma a não apenas melhorar o conhecimento quantitativo, como também qualitativo, de forma a quebrar tabus acerca dos diversos aspectos envolvidos na atenção de saúde. Isso proporcionará que o conceito do que é saúde, seja de fato absorvido e transmitido de forma eficaz, uma vez que o organismo é codependente de suas áreas (física, mental e social), a partir do ponto de vista do paciente.

Quando se fala no ponto de vista do paciente, refere-se ao significado que este tem acerca de suas vivências, por isso o cuidado não pode ser fragmentado, assim como também as experiências proporcionadas aos pacientes. Deve-se então propor atuações tanto individuais quanto coletivas, como citadas anteriormente, uma vez que o meio coletivo, quando encaminhado corretamente, se torna uma forma de identificação e reflexão de dúvidas interiores que levam a um bem-espiritual, que proporciona um passo ao equilíbrio mental e consequente melhora da qualidade de vida.

Referências Bibliográficas

ASSIS, Maria Cristina de. Metodologia do trabalho científico. Ed. 3ª. Editora Universitária UFPB: João Pessoa, 2009.

CARONE, D.A.J.; BARONE, D.F. A social cognitive perspective on religious beliefs: their functions and impact on coping and psychotherapy. Clin Psychol Rev 21(7):989-1003, 2001.

LEITE, Imelidiane Silva; SEMINOTTI, Elisa Pinto. A influência da espiritualidade na prática clínica em saúde mental: uma revisão sistemática. Revista Brasileira de Ciências da Saúde. V. 17, n. 2, p. 189-196, 2013.

MOREIRA, A.A.; NETO, F.L.; KOENIG, H.G. Religiousness and mental health: a review. Rev Bras Psiquiatr, 28 (3):242-50, 2006.

MURAKAMI, Rose; CAMPOS, Claudinei José Gomes. Religião e saúde mental: desafio de integrar a religiosidade ao cuidado com o paciente. Rev. bras. enferm., Brasília , v. 65, n. 2, p. 361-367, Apr. 2012.

OLIVEIRA, Márcia Regina de; JUNGES, José Roque. Saúde mental e espiritualidade/religiosidade: a visão de psicólogos. Estud. psicol. (Natal), Natal , v. 17, n. 3, p. 469-476, Dec. 2012.

VOLCAN, S.M.A. et al. Relação entre bem-estar espiritual e transtornos psiquiátricos menores: estudo transversal. Rev Saúde Pública, 37(4):440-5, 2003.