Zoroastro Torres

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Patrono: Engº e poeta ZOROASTRO TORRES - Vida e Obra (dados cedidos pela família)

patrono da cadeira 282 da Academia Municipalista de Letras de minas Gerais

Zoroastro Torres, o Tato, nasceu em 31 de maio de 1891, na cidade de Sumidouro, Estado do Rio de Janeiro. Sua infância e adolescência foram passadas parte em Sumidouro, parte em Carangola, Minas Gerais.

Embora com raízes no meio rural, desde cedo buscou ampliar seu horizonte através da atenta observação do mundo que nos cerca. Foi assim que, um belo dia, ainda adolescente, usando como instrumento uma vara cortada bem a propósito, pôs-se a medir a extensão da estrada de acesso à fazenda em que residia. E tanto gostou da experiência que decidiu partir para uma grande cidade, em busca da oportunidade de estudo de que não dispunha no campo. Foi assim que trocou a enxada pelo livro.

Em Belo Horizonte, para onde foi em 1912, ingressou na Guarda Civil, para custear seus estudos preparatórios e o curso de Engenharia, que concluiu em 1920. Na época, o estudante não contava com as facilidades de hoje: os caminhos eram cheios de obstáculos e preconceitos. Quem não tivesse recursos suficientes, dificilmente conseguiria matricular-se numa escola de nível superior.

Em janeiro de 1921, já como engenheiro, ingressou na Estrada de Ferro Paracatu, onde participou de estudos e obras de implantação ferroviária.

Tendo deixado a ferrovia em junho de 1924, foi para Manhçuaçu onde, entre julho e outubro daquele mesmo ano, esteve prestando serviços no Distrito de Terras.

Foi quando conheceu Maria da Conceição Sette, com a qual veio a se casar em 30 de maio de 1925.

Entre 1925 e 1930 prestou serviços ao Estado do Espírito Santo, tendo participado da elaboração de diversos projetos ferroviários.

Nos anos seguintes, a natureza de suas atividades mudou radicalmente: em fevereiro de 1931 tornou-se Prefeito de Mutum e, em outubro do mesmo ano, Prefeito de Jacutinga, ambas por nomeação do então Presidente do Estado de Minas Gerais. Em novembro de 1932 foi nomeado Prefeito de Machado onde permaneceu até agosto de 1933.

A partir de agosto de 1933, passou a integrar o quadro de engenheiros da antiga Estrada de Ferro Oeste de Minas, posteriormente Rede Mineira de Viação, tendo trabalhado tanto em frentes de serviços, como na sede da ferrovia, em Belo Horizonte.

Em abril de 1948 passou para a Secretaria de Viação e Obras Públicas do Estado de Minas Gerais, inicialmente como Engenheiro Chefe do Serviço de Campos de Pouso e, posteriormente, como Engenheiro Chefe da Circunscrição de Obras com sede em Carangola, onde permaneceu até 1966, quando, compulsoriamente, se aposentou.

Em 24 de junho de 1968, aos 77 anos de idade, em Belo Horizonte, sua jornada chegou ao fim. Sua descendência conta com dois filhos, sete netos e oito bisnetos e um trineto. Seus filhos são Marzo Sette Torres, engenheiro civil, e Zorma Sette Torres Farrér, médica e advogada.

(memorial: original do soneto Saudade. Clique para aumentar o tamanho e ler este belo soneto, sobretudo o fecho de ouro)

Em suas andanças, sempre procurou sondar os mais profundos escaninhos da alma humana. E, com sua argúcia e sensibilidade, soube traduzir em poesia, com rara felicidade, aquilo que a vida lhe mostrou de mais significativo.

Seus poemas foram publicados em Carangola, entre 1952 e 1958, nos periódicos "Folha da Mata", “O Mascote”, “Folha dos Municípios” e “A Fênix”. Seu gênero preferido: o soneto clássico.

Da Folha da Mata, edição do dia 7 de fevereiro de 1951, transcrevemos o seguinte comentário:

“Zoroastro Torres é a mais nova revelação poética que nós temos atualmente em Carangola. Seus versos falam muito do seu espírito jovem e o seu contato com a musa se revela plenamente em cada estrofe, um cadinho de simetria ardendo num crisol que reverbera a rima suave, na composição cristalina de sua alma liberta.”

Suas habilidades artísticas não se limitavam à literatura. Uma simples folha de roseira transformava-se, em suas mãos, em instrumento de sopro, do qual brotavam suaves melodias, em geral peças de música lírica. Melodias que também surgiam de sua gaita de boca, acrescida a virtuose ao violão.

Em certas situações, quando se fazia oportuno o bom humor, jocosamente se apresentava como “contador de anedotas que, nas horas vagas, exerce atividades de engenharia”.

Pesquisador incansável, de coroinha cheio de fé passou a livre pensador, enveredando por estudos da doutrina espírita, dos rosacruzes, do espiritualismo. E, sem aceitar de graça o que lhe era mostrado, buscava sempre ir ao âmago das questões, embora sabendo que a verdade nunca se mostra sem véus. Na linha da parapsicologia, aprendeu a usar a imposição de mãos, ou seja, o magnetismo, na harmonização do corpo humano.

Altruísta, identificou-se particularmente com o princípio, que praticava sempre que possível e oportuno, de: “fazer o bem sem olhar a quem”. Compreensivelmente, deu-se bem na maçonaria.

As duas cidades onde mais tempo viveu prestaram-lhe significativas homenagens: em Belo Horizonte, no Bairro Santa Lúcia, tornou-se nome de rua; a ponte sobre o Rio Carangola, na divisa entre os municípios de Carangola e Divino do Carangola, inaugurada em 1977, recebeu seu nome. E isto, quando nove anos já se haviam passado desde o fim de sua vida terrena, mostrou de forma expressiva que os carangolenses ainda o tinham bem vivo na memória.

As marcas deixadas pelo TATO, se muito devem às suas qualidades humanas, à sua vocação para a engenharia e para a poesia, devem-se também, por certo, à sua filosofia de vida, que tão bem transparece em sua poesia. Como nos sonetos, uma mostra de seu talento, transcritos a seguir e que fazem parte do livro Tato Poético, Coletânea de Poesias, e consta do acervo literário brasileiro assentado na Biblioteca Nacional.

Declaração do Jeca

Evolução

Eu sou filho do azoto e do carbono.

Quando unicelular eu fui monera.

E nas trevas profundas do oceano

Viver hoje, tranqüilo, ainda quisera.

Já fui alga marinha, já fui hera.

E nos cerros dos Andes fui iguano.

Nas selvas do Amazonas já fui fera!

E hoje, o que sou? Apenas um tirano!

Um tirano que mata o companheiro,

Que se aproxima em busca de um roteiro,

Neste mundo de dor e de miséria!...

E na triste e penosa evolução,

Mato a fé com as armas da razão

Mas nunca me liberto da matéria!

Teu Nome

Teu nome é para mim a chave de ouro

dos poemas que, triste, às vezes leio.

Hei de guardá-lo assim como um tesouro

que o rico e o avaro aperta contra o seio.

E é por ela que a inspiração me veio

(Que para mim não é nenhum desdouro).

Teu nome é inspiração. É luz e creio

que é tudo quanto é bom e duradouro.

Dizem que nome é tudo nesta vida

Nome de mãe, de pai, da irmã querida,

o tempo não apaga, não consome!...

Quando a morte afinal gelar meu peito

eu deixarei o mundo satisfeito

se partir murmurando inda

Foi num batuque a toque de viola

Que nóis dois se avistemo a veis primera.

Eu quais que fiquei doido da cachola,

Falei na oreia dela essas bestera:

O mundo, sá dona, é uma grande bola,

Onde a gente se agarra pelas bera.

As veis se aguenta, e as veis a gente rola,

Nus precipiços pelas pirambera.

Seus óio, dona, são os precipiços

Nus quá eu quero memo me afundá.

E fico alegre inté prumode disso!

Si eles vorve prá mim, são dois punhá

Que afinca no meu peito, no maciço

Fazeno inté meu coração pará!

Ícaro

Quanto mais sei, mais tenho que aprender

E tanto mais incerto é o meu provir!

E na escada infinita do saber

Tanto mais subo, mais tenho a subir!

Ah! Fora bem melhor eu cá não vir!

Na ignorância antiga então viver!

Sem a noção exata do existir

Desaparece a dor, foge o sofrer!

Seria bem melhor assim viver...

Sem ter problemas para resolver

Nesta vida de dor e de saudade...

E viveria muito mais contente,

Pois, entre os simples, inda encontra a gente

Alguns resquícios de felicidade.