Anita Garabaldi

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Patrona da Cadeira 20: ANITA GARIBALDI

AFEMIL - Academia Feminina Mineira de Letras

Rua Timbiras, 1560 – conj. 703/704

30140–061 – BELO HORIZONTE/MG

(tela de pintor lagunense de meu acervo)

O poema, a seguir, é parte do discurso de saudação à patrona Anita Garibaldi apresentado por Angela Togeiro na ocasião de sua posse na AFEMIL

Retrato de ANITA

Maura de Senna Pereira (1904-1991)

É filha de rei

esta que vamos celebrar?

Vestiu-se de ouro e prata

teve pérolas nos dedos

colar de água-marinha

axorcas e tiaras

teve manto de rainha?

Não é filha de rei

nem mulher de grão-senhor.

Não cintilou de pedrarias

e não nasceram em castelo

os frutos do seu amor.

É uma filha do povo

e mulher de espadachim.

Usou vestido singelo

e cinto de couro cru.

Escandalizou o seu burgo:

fugiu com um louro guerreiro

os pés morenos afoitos

no peito uma rosa brava.

Não teve filho em castelo

mas foi mãe de generais.

Não teve reis a seus pés

mas tem o culto dos povos.

É a Heroína de dois Mundos

que vamos celebrar.

Lutou n convés dos navios

pela Republica Juliana.

Lutou de espada na mão

pela unidade italiana.

Passou fome passou frio

dormiu noites ao relento.

Na própria terra natal

caiu um dia prisioneira

e julgou morto seu amado.

Ah, figura de tragédia:

face bela transtornada

um archote na mão pálida

espiando rostos mortos.

Mas o amado não achou

esperança renasceu

toda épica fugiu

sobre o dorso de um cavalo.

Cabelos soltos ao vento

Vinte léguas até Lajes

a heroína percorreu.

(Ao vê-la surgir da noite

galopando em seu corcel

os guardas fogem de espanto:

Era centauro? aparição?)

O coração ardente batia

sob a lua fria da serra

e com o primeiro filho no ventre

moça guerreira corria

para seu amor encontrar.

É a Musa da Liberdade

que vamos celebrar.

Eis então que o seu rosto

não mais o vemos contido em nenhum quadro

e sim transfigurado, re-

Partido pelo universo.

Os cabelos parecendo faíscas

presos ao solo europeu

O queixo fincado na barra da Laguna.

Profundos olhos, rasgados mundos

brilhando como estrelas

Pousados sobre os povos.

Oh, e os lábios se abrirem como outrora

para invectivar

aquele que oprime o seu semelhante

e aquele que se esconde na hora de lutar.

É Anita Garibaldi

que vamos celebrar.

(Declamado pela autora por ocasião da inauguração do monumento de Anita Garibaldi, na cidade de Laguna, a 20 de setembro de 1964 - Maura de Senna Pereira, Busco a palavra, poesia. 1985, Edições Fundação Catarinense de Cultura, convênio com a IOESC.)

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