crise

Crise Evidente

Três evidências de que a crise econômica está bem presente. A primeira deve-se ao relatório anual do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) divulgado no começo deste ano, que revelou que o fosso que separa os países pobres dos mais desenvolvidos voltou aos níveis de 30 anos atrás. O que os países pobres acumularam de riqueza na década de 70 e no início dos anos 80 retornou às regiões mais ricas a partir de 1990. Em 1970, a renda per capita brasileira (que são todas as riquezas geradas em um ano no País, descontadas as remessas para o Exterior, divididas pelo total de habitantes) de US$ 1,6 mil correspondia a 15,5% do rendimento médio de cada habitante do grupo de países desenvolvidos. Em 1980, depois do milagre econômico da década de 70, essa relação alcançou 21,6%. Com a globalização da economia, intensificada no início dos anos 90, a distância entre as nações ricas e pobres voltou a crescer. E, no ano de 1999, a renda média do brasileiro passou novamente a representar apenas 15,5% da dos países mais ricos.

A segunda evidência está relacionada com o peso dos tributos na classe média. Uma simulação evidenciou que um cidadão de classe média, definido pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA) como aquele que ganha entre R$ 682,61 a R$ 1.405,00, está pagando uma média de R$ 5,00 por dia de impostos cobrados e embutidos nos produtos e serviços que consome. Os tributos aparecem nos ingredientes básicos do café da manhã (leite, café, pão, manteiga e açúcar) e no cardápio de uma refeição simples, como arroz, feijão, carne e batata. Também surgem no lazer (cinema e teatro), na forma do ISSQN recolhidos ao município, ou nos bares na forma de ICMS e IPI sobre a comida e bebida. Isso faz com que a classe média deixe de lado certos confortos para manter gastos essenciais, como condomínio, colégio, saúde. Além disso, ela terá que apertar mais o orçamento com os recentes aumentos de gasolina, transporte público, luz e telefone. Alguns já foram anunciados, e outros estão a caminho. É óbvio que o aumento nos preços dos combustíveis vai trazer uma série de altas de preços. A feira livre ficará mais cara, a conta do supermercado também, haverá reajuste do gás de cozinha. Os caminhoneiros vão cobrar mais pelo transporte dos alimentos. Os taxistas deverão também reajustar, o mesmo ocorrerá com as passagens de avião e ônibus. Pode-se, então, prever que o efeito dos aumentos em cascata deverão empobrecer mais ainda o brasileiro, e, para compensar, ele deixará de comprar comida e de fazer despesas diversas.

Outra constatação é que isso ocorre também em todo o território americano ao sul dos Estados Unidos, ou seja, na chamada América Latina. Só para se ter uma idéia no ano de 1999 o PIB caiu na Argentina, no Chile, na Colômbia, no Equador, no Uruguai e na Venezuela. Já no Paraguai e na Bolívia, O PIB quase não reagiu, ficando abaixo de 1%. Vários outros indicadores ficaram aquém do desejado nesses países. Por exemplo o saldo da balança comercial no ano de 1999 foi negativo na Argentina, na Bolívia, no Brasil, no México, no Paraguai, no Peru e no Uruguai. Esses dados ilustram bem que a vida está mais difícil para todo o povo latino americano e que a crise atual está evidente.

ZERO HORA, 22.7.2000, p.19