americalatina

A América Latina (des)integrada

Sabe-se que os países da América Latina dispõem de muitas fragilidades externas, com dívidas públicas crescentes e déficits comerciais substantivos, o que acaba exigindo sacrifícios sociais tremendos, gerando desemprego e falta de oportunidades de investimento. Por isso, no final dos anos 80 e principalmente ao longo dos anos 90 tem-se argumentado que uma das saídas dessa crise seria uma integração maior da América Latina. Muitas iniciativas foram desencadeadas por várias instituições. Exemplos disso são os esforços dos países (no âmbito do Mercosul), dos estados (dentro do Foro Codesul – Crecenea) e das cidades (na rede de Mercocidades). Essas idéias procuram ser uma versão bem mais simplificada da integração européia que, desde os anos 50, países e cidades vêm desenvolvendo. Inegavelmente, um dos caminhos do desenvolvimento encontrados pela Europa foi uma integração maior através da cultura, da economia, da política e, principalmente, de muito esforço para entender quais são as diferenças existentes em todas as áreas da civilização. Lá se tem conseguido superar as inúmeras rivalidades entre a Europa ocidental e a oriental, uma vez que os resultados alcançados até agora são muito expressivos. O mesmo não se pode dizer da América Latina. Apesar de a integração ser aceita por todas as correntes ideológicas, acadêmicas e científicas, bem como por várias instituições, como a própria Cepal, falta o fundamental, conhecer as nossas diferenças.

O termo América Latina foi criado no ano de 1861, em Paris, para dar origem a uma identidade entre os países latinos situados em ambos os lados do Atlântico. Entretanto há quem diga que América Latina ainda não existe, sendo necessário inventá-la. Apesar de compreender 33 países que se situam ao sul dos Estados Unidos, eles mal se falam, pois se enxergam sob a ótica da separação. Têm ocorrido nessa região inúmeros conflitos de fronteiras (muitos ainda não resolvidos), problemas de contrabando, rivalidades tanto históricas (originadas pelas guerras e pela convivência do dia-a-dia) quanto causadas pelos esportes e pelas políticas macroeconômicas adotadas. Existem até problemas no serviço postal, como, por exemplo, entre Santana do Livramento e Rivera (separadas apenas por uma avenida), onde as cartas vão primeiro para Montevidéu. A nossa região possui mais de 20 milhões de quilômetros quadrados, onde habitam 500 milhões de sujeitos heterogêneos, distribuídos em 23 etnias, 21 religiões e 22 línguas, que estão catalogadas nos cd-roms consultados. O tema América Latina pouco foi discutido nos livros de ensino médio - tanto de Geografia como de História - que foram revisados, pois a atenção maior foi para a Europa e para os Estados Unidos.

Não é demais lembrar que a idéia de Simón Bolívar sobre a integração da América Latina em 1815 foi derrotada pelas pequenas oligarquias locais, que achavam que iriam perder todo o seu poder com essa união. Isso fez Bolívar exclamar no final de seus dias: “Lavrei no mar!”. Para que os esforços de integração da América Latina dêem certo, é fundamental desenvolver projetos de pesquisa, convencendo as agências de fomento, mobilizando assim capital e trabalho. Se isso não for feito, a região continuará desconhecida e, portanto, desintegrada.

Disponível na Internet. http://www.rio.rj.gov.br/cgm/textos/america-latina-desintegrada.htm. 20.08.01