Módulo 2 - Análise / Modelos da Literatura
Módulo 2 - Análise / Modelos da Literatura
contribuição acrescida: Joana Gonçalves
Nota
Com excepção dos textos assinalados com * (utilizáveis directamente), os resumos ou excertos de textos literários que se seguem (com copyright) são apresentados de modo a permitir uma noção mínima do teor de textos que podem ser utilizados para análise.
A
A Breve Vida das Flores (Changer L’Eau des Fleurs), Valérie Perrin, 2018, Editorial Presença, 448 pgs, excerto no capítulo 19 (pg. 73-75).
“Ao abrir a porta-cocheira” que dá para sua casa, Violette é atraída por um livro exposto na montra adjacente. Apesar de ter uma competência de leitura equivalente a uma “criança de seis anos”, e de o livro ter 821 páginas, resolve comprá-lo e tentar lê-lo, motivada pela sua “vontade de reaprender” à medida que a sua gravidez avança. A sua primeira tentativa revela-se insatisfatória (após duas horas, “só ia na décima página e tinha conseguido entender uma palavra em cada cinco”), mas não desiste: no dia seguinte, compra um dicionário, para a ajudar a compreender o que está a ler.
À Espera no Centeio (The Catcher in the Rye), Jerome Salinger, 1951, Editora Quetzal, 233 pgs. excertos nos capítulos 4, 5 e 6 (pg. 37-38, 47-49 e 51).
Num diálogo entre dois estudantes, um deles – Stradlater – pede ao outro – Holden – um favor particular: “– Tenho de ler para aí umas cem páginas de história para segunda-feira – disse ele. – Não me escrevias uma redação para inglês? Estou tramado se não entrego [isso] (…) na segunda-feira (...).”. Stradlater informa que a redação deverá ser sobre “qualquer coisa descritiva”, como um quarto ou uma casa. Holden aceita o pedido, inspirando-se numa situação referente à luva de beisebol do irmão. Mais tarde, Stradlater enfurece-se ao ler a redação, visto que, na sua perspetiva, o colega não escreveu algo conforme acordado, acusando-o de fazer “sempre tudo ao contrário”. Holden ainda procura justificar-se mas, frustrado, acaba por rasgar a redação.
A Menina que Não Sabia Ler (Florence & Giles), John Harding, 2010, Livros d’Hoje, 288 pgs., excerto no capítulo 1 (pg. 15-18).
Enquanto joga às escondidas com o irmão, Florence descobre uma “porta estranha” atrás da qual se refugia. Apercebe-se de que se trata da porta da biblioteca, uma divisão da sua casa que sempre lhe foi interdita. Maravilhada com o “imenso tesouro de palavras” com que se depara, a menina pede mais tarde a Mrs. Grouse, sua governanta, que a ensine a ler, pedido que a senhora recusa, justificando-se que seria contra a perspetiva do seu tio sobre a “educação das mulheres” e que perderia o seu emprego caso assentisse. Face a isto, Florence decide aprender a ler sozinha, “roubando letras” de jornais e através de uma cartilha de criança antiga, e escondendo-se na biblioteca.
Aprender é Ficar Vazio, Miguel Esteves Cardoso, 2023, Público, 8 Dezembro 2023, p. 9
"Para aprender, é preciso estar-se insatisfeito. É preciso estar-se à procura de mais. (...)"
*As Andorinhas (Τα χελιδόνια), Zacharias Papantoniou, 1920, Educational Association Library, p. 44 (tradução livre)
"O Papagaio - Quando aprendeu a palavra "boa noite", / o papagaio, atónito, disse de repente: / "Sou um sábio! Sei grego. / Porque estou aqui sentado, sem fazer nada?" / Veste assim o seu casaco verde e dirige-se à assembleia dos pássaros, / com a intenção de exibir uma sabedoria reluzente. / Assume uma pose que a dignidade alcança,/ pigarreia, lança um olhar arregalado / e diz suavemente: "Boa noite". / O seu discurso é saudado com admiração e deleite. / "Que sábio é este papagaio!", declaram todos. / "Ele deve ser sábio, / para usar as palavras dos homens de forma tão apropriada, tão correcta! / Da Índia foi trazido — quem sabe quantos livros transportou consigo? / Com que sábios poderá ter falado? / Como ele conhece bem a língua dos gramáticos!" / "Senhor Papagaio, concedei-nos, se não nos for negado, / ouvir mais verdades da sua boca tão ricamente proferidas!" / O papagaio tosse, pigarreia de novo... / Mas o que dizer? Mais uma vez: "Boa noite", pois.
*Augúrios de Inocência (Songs of Innocence), William Blake, 1863 [integral]
“Ver um mundo num grão de areia/e um céu numa flor silvestre,/ter o infinito na palma da mão/e a eternidade numa hora.” (...)
B
C
D
.Diário Secreto de Camila, Ana Magalhães & Isabel Alçada, 1999, Editorial Caminho, 160 pgs., excertos nas pgs. 41-43 (entradas de 23, 24 e 27 de novembro).
A 23 de Novembro, Camila escreve sobre o pânico face ao facto de três professoras terem marcado testes em dias seguidos, confessando que não tem «pegado num livro, [tem feito] os trabalhos de casa mal e porcamente quando [faz], não [sabe] “raspas”» e concluindo que vai «ter negas». Face a isto, a rapariga começa a engendrar planos para faltar aos testes, não se convencendo com nenhum. No dia seguinte, Camila escreve que esteve em casa de uma amiga, Marta, a «fazer umas cábulas». No dia 27, a rapariga expressa o seu alívio face ao término dos testes, referindo que «entre cábulas e copianço, (...) deve dar para chegar aos cinquenta por cento».
E
*Épico de Gilgameš, Autores Desconhecidos, c. 1800 aC/2017, Assírio e Alvim, 254 pgs., p.45 (dez primeiros versos)
“Aquele que testemunhou o abismo, as fundações da terra,/experiente de caminhos, em tudo era sábio!/Gilgameš, que testemunhou o abismo, as fundações da terra,/ experiente de caminhos, em tudo era sábio!/Aonde estavam os poderes, foi averiguá-los,/de cada coisa extraiu um ápice de sabedoria./O que era secreto encarou, o oculto trouxe à luz:/resgatou a memória de antes do Dilúvio. Extenuado, mas em paz, fez o caminho que não tem fim/e na pedra exarou os seus trabalhos.” (...)
F
G
H
I
J
K
Kafka à Beira-Mar (海辺のカフカ), Haruki Murakami, 2002,Casa das Letras, 590 pgs., excerto no capítulo 13 (pg. 139-141).
Oshima, um bibliotecário, aproxima-se de Kafka, perguntando-lhe o que é que já tinha lido desde que estava alojado na biblioteca. Kafka afirma que já acabara “O Mineiro”, ao qual Oshima responde com a sua própria opinião sobre o livro. Desenvolve-se, assim, uma conversa entre as duas personagens, na qual ambas argumentam sobre o enredo da história, comentam a escrita do seu autor e relacionam o livro com outras obras e com a sua própria vida.
Kokoro (こゝろ), Natsume Sōseki, 1914, Editorial Presença, 304 pgs., excerto no capítulo XXV da Primeira Parte (pgs. 84-86).
Vendo a data da entrega da sua dissertação a aproximar-se, o narrador reescreve o plano inicial para a sua redação, para se focar apenas em «compilar material retirado dos livros» com uma «conclusão adequada», abstendo-se de «moldar e elaborar pensamentos pessoais». Esta nova estratégia traz-lhe preocupação, admitindo que a sua «obsessão pela memória» o estava a fazer enlouquecer, mas também ânimo e alívio, à medida que sente a data de entrega a aproximar-se, significando isto mais tempo para apreciar o início da Primavera.
L
M
N
O
O Diário de Anne Frank [Het Achterhuis (The Annex)], Anne Frank, 1946, Livros do Brasil, 439 pgs., excertos das pgs. 26-27 (entrada de 21 de junho de 1942), 334 (entrada de 6 de abril de 1944) e 414-415 (entrada de 13 de junho de 1944).
A 21 de Junho de 1942, Anne discorre sobre quem irá passar de ano na sua turma e sobre a atitude dos seus professores face a esta aprovação/reprovação, descrevendo-os como “imprevisíveis”. Aponta, também, uma situação na qual um dos seus professores lhe passara um trabalho-de-casa extra, como forma de castigo por falar durante as aulas; e no seu foco em contornar esta tarefa ou em torná-la cómica. Mais tarde, a 6 de Abril de 1944, Anne enumera os seus passatempos e disciplinas preferidas, justificando-os; e a 13 de Junho do mesmo ano, explora o argumento da inferioridade das mulheres face aos homens, relacionando vários autores e perspectivas.
O Pavilhão dos Cancerosos (Раковый корпус), Aleksandr Solzhenitsyn,1967, Círculo de Leitores, 656 pgs., excerto no capítulo II: “A Instrução não Torna Ninguém mais Esperto” (pg. 32-35).
Numa enfermaria, à noite, um dos pacientes mais jovens - Dioma - informa um outro, mais velho - Kostoglotov - de que, não tendo sono, irá “ler um pouco mais”, visto que “gostaria de entrar na universidade”. Kostoglotov felicita-o, no entanto, discorre sobre o facto de que a instrução, por si só, não torna “ninguém mais esperto”, sendo importante a abertura à experiência e à vida. Os dois pacientes apresentam argumentos opostos de forma respeitosa. Por fim, Kostoglotov oferece-se para ajudar Dioma nos seus estudos, estabelecendo uma rotina, comentando sobre a legibilidade dos materiais de estudo escolhidos e exemplificando conceitos abstratos com materiais concretos.
Outono (Autumn), Ali Smith (2016), Elsinore, 224 pgs., excerto nas pgs. 100-104.
Daniel propõe a Elisabeth, sua vizinha pequena, que joguem à Bagatela, segundo a qual um dos jogadores apresenta o início de uma história e o outro “conta a (...) que lhe vier à cabeça quando ouvir esse início”. Elisabeth propõe “Caracolinhos de Ouro e os Três Ursos”. Daniel comenta a atitude de “Caracolinhos” face aos ursos, e afirma que ela escreveu “o seu nome a spray nas paredes dos quartos deles”. Elisabeth contesta, pois “isso não faz parte da história”. Daniel prossegue desafiando a rapariga a exercitar a sua criatividade, reforçando que é válido manipular “histórias que as pessoas acreditam ser definitivas e imutáveis”. Assim, Elisabeth, ao ser questionada por Daniel, vai refletindo sobre as várias ações possíveis das personagens, modificando a sua atitude face ao jogo.
Q
R
*Registo Assírio, Assurbanípal, séc. VI aC (cit. por Luckenbill, 1926, p. 378-379)
“(…) Aprendi o tesouro escondido de todo o conhecimento escriba, os sinais do céu e da terra (…) resolvi os laboriosos problemas de divisão e multiplicação, que não eram claros, li a escrita artística da Suméria e do sombrio Acadiano, que é difícil de dominar, tirando prazer na leitura das pedras de antes do dilúvio (…)”
S
*Superfície - Profundidade, ChatGPT, 2023
"Superfície rasa,/Profundo mergulho em busca,/Saber que transcende.
Superfície vazia,/Profundidade reveladora/Saber eterno."
T
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