Olá, querido(a) estudante do Ensino Médio. Seja bem-vindo(a) a mais uma lição da disciplina de Logística e Gerenciamento de Estoques. O curso Técnico em Agronegócio já deve ter lhe proporcionado diversas opções de atuação até aqui, como no caso da última lição que vimos sobre o papel da logística no agronegócio em suas mais diferentes formas de atuação. Como já sabemos, de forma muito clara, a esta altura de nossa disciplina, logística não se trata apenas de transporte. Na verdade, considerando o aspecto geral desta parte de nossa disciplina, muitas são as opções de atuação profissional sua nestes setores.
Na lição de hoje, caminhamos para outra etapa de nossa disciplina, reforçando a importância do controle e do gerenciamento dos estoques. Veremos alguns dos principais conceitos referentes a esse processo e iniciaremos nossos estudos sobre como eles se aplicam à realidade do produtor rural, dos empresários e em sua atuação enquanto Técnico em Agronegócio. Vamos juntos explorar mais este capítulo de nossos estudos.
Imagine que você é um gestor de materiais em uma empresa agrícola que lida com a produção e a distribuição de produtos agrícolas. Você enfrenta desafios constantes para garantir a satisfação do cliente, manter a eficiência operacional e controlar os custos relacionados ao armazenamento e à movimentação de estoques. Diante deste cenário, como você tomaria decisões estratégicas para gerenciar os níveis de estoque? Quais critérios você usaria para determinar o que manter em estoque, quando reabastecer e qual a quantidade ideal? Considere os aspectos específicos do agronegócio, como sazonalidade de produtos, demanda variável e a importância de manter produtos frescos.
Além disso, como você lidaria com a segmentação de clientes, considerando que alguns são altamente lucrativos, e outros menos? Como equilibrar a oferta e a demanda, garantindo a entrega rápida de produtos enquanto evita excessos de estoque? Pense em estratégias práticas que poderiam ser implementadas para otimizar o processo de gerenciamento de estoques, levando em conta as características únicas do agronegócio. Tudo isto será iniciado nesta lição e seguirá conosco nas próximas que virão. Vamos juntos aprender sobre estes temas na lição de hoje?
O case de hoje trata-se de uma história fictícia, em uma pequena comunidade rural, onde a agricultura florescia e a vida dependia diretamente do sucesso das plantações e do cuidado com os animais. Nesta comunidade, vivia uma agricultora chamada Ana cuja família há gerações se dedicava ao cultivo de produtos agrícolas.
Ana sempre soube que o sucesso de sua plantação estava diretamente ligado ao gerenciamento eficiente de seus estoques. Ela decidiu aplicar os conhecimentos adquiridos em seu curso Técnico em Agronegócio para aprimorar ainda mais sua abordagem. Sua atuação começava na época de plantio, quando precisava tomar decisões sobre quais sementes plantar. Optou por uma seleção estratégica que atendesse à demanda local e garantisse uma oferta consistente ao longo do ano. À medida que a temporada avançava, Ana monitorava regularmente seus níveis de estoque, aprendeu a programar o abastecimento de insumos na medida certa, evitando excessos que resultam em custos desnecessários. Isso permitiu que ela mantivesse uma produção contínua, evitando interrupções que poderiam prejudicar o fornecimento de alimentos à comunidade.
Quando chegou a época da colheita, Ana pensou no dimensionamento estratégico dos estoques. Sabia que armazenar em excesso poderia levar a perdas, especialmente, considerando a natureza perecível de alguns produtos agrícolas. Com base em suas decisões, evitou a imobilização de capital e garantiu que cada colheita fosse utilizada de maneira eficiente. Durante os momentos em que a demanda era mais alta, como durante festivais locais ou eventos especiais, Ana se beneficiou de sua capacidade de atender rapidamente às necessidades do mercado. Mantendo estoques adequados, ela conseguiu fornecer produtos frescos e de alta qualidade, ganhando a lealdade dos clientes.
É claro que, ao longo do tempo, Ana enfrentou desafios, variações climáticas inesperadas e oscilações no mercado. No entanto conseguiu adaptar-se de maneira eficaz, mantendo sua produção e garantindo a sustentabilidade de sua pequena propriedade rural. Isso demonstra como o estudo do gerenciamento de estoques na área rural e o conhecimento adquirido permitiu que Ana não apenas enfrentasse os desafios do agronegócio, mas também prosperasse e contribuísse para o bem-estar de sua comunidade e de sua família na agricultura.
Uma vez que tenhamos estabelecido o nível de estoques, o próximo passo crucial envolve responder às perguntas fundamentais: O quê? Quando? E Quanto? Estes são aspectos essenciais que um gestor de materiais precisa considerar para aprimorar a administração de estoques.
A diversidade de produtos em estoque exige uma ponderação cuidadosa. Manter uma ampla variedade pode aumentar os custos de armazenagem e complicar a gestão, enquanto uma seleção limitada pode resultar em desafios para atender à demanda.
A frequência com que reabastece os estoques é crucial para evitar excessos ou faltas de produtos. Uma programação eficiente de reabastecimento é fundamental para prevenir interrupções na produção e manter os custos sob controle.
Determinar a quantidade apropriada de cada item em estoque é uma habilidade em si. Manter um excesso pode acarretar custos desnecessários, enquanto manter uma quantidade insuficiente pode resultar em atrasos e insatisfação do cliente.
Ao ter estas definições em mãos, o gestor de materiais coordena com o departamento de compras para garantir que a aquisição de produtos seja eficiente. Ele supervisiona o recebimento, o armazenamento e a aprovação dos materiais, alinhando-os às necessidades operacionais.
Para otimizar o recurso de armazenagem, é imperativo dimensionar o estoque de maneira estratégica. Encontrar o equilíbrio certo entre os custos de produção, armazenagem e transporte é a chave. Ballou (2007) elaborou uma lista com as principais vantagens e desvantagens de se manter estoques. As principais vantagens são:
Redução de custos de transporte e produção: manter estoques estratégicos pode amortizar custos associados ao transporte e à produção, pois permite aproveitar economias de escala e eficiências operacionais.
Coordenação de suprimento e demanda: estoque adequado facilita a coordenação eficaz entre a oferta e a demanda, evitando desequilíbrios que poderiam levar a atrasos ou à falta de produtos.
Produção de estoques de segurança: estoques extras funcionam como uma rede de segurança, garantindo que a empresa esteja preparada para flutuações inesperadas na demanda ou nas interrupções na cadeia de suprimentos.
Pesquisa de oscilação de preços: manter estoques permite à empresa observar e aproveitar oscilações de preço no mercado, possibilitando decisões estratégicas de compra e venda.
Capacidade de atender à demanda durante ações de marketing: durante ações de marketing, como promoções ou lançamentos de produtos, ter estoques adequados é crucial para atender à demanda gerada por estas iniciativas.
As desvantagens apontadas por Ballou (2007), são descritas a seguir:
Imobilização de capital: manter grandes estoques pode resultar na imobilização de capital, prejudicando a flexibilidade financeira da empresa.
Envelhecimento das mercadorias: estocar por muito tempo pode levar ao envelhecimento dos produtos, especialmente, em indústrias com produtos perecíveis, resultando em perdas financeiras.
Aumento dos custos com movimentação: manter estoques em excesso pode aumentar os custos associados à movimentação, à armazenagem e ao controle destes materiais.
Necessidade de mais controles e melhor gerenciamento: estoque extenso exige controles rigorosos e gerenciamento eficiente, demandando recursos e atenção adicionais por parte da empresa.
O entendimento cuidadoso destas vantagens e desvantagens capacita gestores a tomarem decisões estratégicas sobre a gestão de estoques, considerando os trade-offs necessários para equilibrar eficiência operacional, custos e capacidade de resposta ao mercado (escolhas estratégicas que envolvem concessões, onde a melhoria em um aspecto pode implicar desvantagem de outro).
Ao decidir uma área específica para armazenagem, mesmo considerando custos mais elevados, é necessário definir a localização e o dimensionamento dos depósitos. A escolha da localização pode ser influenciada pela presença de outros armazéns nas proximidades, impactando diretamente na eficiência operacional. Platt (2015) destaca a administração de estoques como um processo crítico que requer equilíbrio entre as quantidades de materiais para produção, atendimento aos clientes e as necessidades financeiras da empresa. É um desafio encontrar a medida certa para não investir capital excessivo em estoques, considerando os custos associados, como armazenamento, seguros, impostos e obsolescência, que é quando os produtos se tornam ultrapassados, não utilizáveis.
É fundamental estabelecer, com precisão, os níveis de estoque para garantir tanto a satisfação do cliente quanto o controle efetivo dos custos relacionados ao desempenho logístico. Esta abordagem destaca que os estoques exercem uma influência direta sobre a lucratividade da empresa, afetando o lucro líquido, por meio dos custos de manutenção e do retorno do capital investido.
Compreender os objetivos estratégicos por trás da existência e do gerenciamento de estoques é fundamental. Isso orienta a definição de metas, funções, tipos de estoques e como estes fatores afetarão as atividades produtivas da empresa bem como suas relações com o mercado. A política de administração de estoques envolve decisões cruciais sobre o que comprar ou fabricar, o timing das ações (momento em que as ações são realizadas ou ao período específico em que uma ação é executada), as quantidades envolvidas e a localização estratégica dos estoques. Essas escolhas estratégicas moldam a eficiência operacional e a posição competitiva da empresa no mercado.
Bowersox, Closs e Cooper (2007) destacam que toda empresa que atende a uma variedade de clientes enfrenta uma demanda irregular, com alguns clientes sendo altamente lucrativos, e outros não. A rentabilidade de um cliente está intrinsecamente ligada a vários fatores, como produtos adquiridos, volume, preço, serviços de valor agregado exigidos e atividades complementares necessárias para construir e manter um relacionamento duradouro.
A segmentação logística eficaz, de acordo com os autores, está nas prioridades de estoque dedicadas a apoiar os clientes essenciais, uma vez que os clientes altamente lucrativos constituem o mercado principal de toda empresa. Sendo assim, as estratégias de estoque devem ser formuladas com foco nestes clientes fundamentais.
É comum que as empresas enfrentem variações substanciais no volume e na lucratividade de suas diversas linhas de produtos. A regra dos 80/20, ou princípio de Pareto, destaca que menos de 20% dos produtos podem ser responsáveis por mais de 80% do lucro total. Os autores sugerem que, para evitar resultados indesejados, os gestores devem implementar estratégias de estoque baseadas na classificação ABC.
A classificação ABC envolve uma avaliação realista do valor incremental adicionado pelo estoque de produtos com baixa lucratividade ou baixo volume. Isso é crucial para evitar o excesso de estoque. Embora seja desejável oferecer alta disponibilidade e entrega consistente dos produtos mais lucrativos, pode ser necessário um suporte mais robusto a itens menos lucrativos para fornecer um serviço completo a clientes importantes.
Bowersox, Closs e Cooper (2007) alertam para a armadilha de fornecer alto desempenho de serviços em itens menos lucrativos adquiridos por clientes eventuais ou sem importância. Portanto, a análise da lucratividade da linha de produtos é fundamental no desenvolvimento de uma política seletiva de estoques, direcionada para atender às necessidades dos clientes fundamentais e maximizar a eficiência operacional.
O plano de estocagem em uma instalação específica não apenas influencia diretamente o desempenho do transporte, mas também pode ser uma estratégia inteligente para otimizar custos logísticos. Muitas tarifas de frete são baseadas no volume e no tamanho da carga, e uma abordagem sensata pode envolver o armazenamento de uma variedade suficiente de produtos para montar cargas consolidadas. A economia resultante no transporte pode superar o aumento do custo de manter o estoque.
O comprometimento de uma empresa com a entrega rápida de produtos é um importante fator competitivo. Entregar produtos rapidamente permite que os clientes reduzam seus próprios estoques, impactando, positivamente, os requisitos de estoque. Além disso, se as lojas puderem ser abastecidas, rapidamente, a necessidade de manter grandes estoques de segurança é reduzida. A alternativa ao acúmulo de estoques é receber um reabastecimento preciso e no momento correto. Embora programas baseados no tempo possam reduzir o estoque do cliente ao mínimo, é necessário calcular a economia em relação a outros custos da cadeia de suprimentos resultantes do processo logístico sensível ao tempo.
As estratégias de estoque não podem ser formuladas isoladamente, elas devem levar em consideração o ambiente competitivo. Prometer e cumprir uma entrega rápida e consistente pode tornar uma empresa mais desejável que seus concorrentes. Portanto, posicionar o estoque em um depósito específico para obter vantagens competitivas, mesmo que isso aumente o custo total, pode ser necessário. Políticas seletivas de desdobramento de estoques são fundamentais para obter uma vantagem de serviço ao cliente ou neutralizar pontos fortes dos concorrentes.
Os estoques de matérias-primas e componentes existem no sistema logístico por motivos diferentes dos estoques de produtos acabados. Cada tipo de estoque e seu nível devem ser analisados sob a perspectiva do custo total. Compreender a inter-relação entre processamento de pedidos, estoques, transporte e rede de instalações é crucial para a logística integrada.
Chegamos ao nosso momento em que visualizaremos algumas das estratégias aprendidas. Quero que você selecione três culturas agrícolas comuns em sua região ou adaptadas ao seu tipo de solo e clima. Considere a demanda do mercado local, a sazonalidade das culturas e a viabilidade de crescimento em sua área. Para cada cultura selecionada, avalie a diversidade de produtos que ela oferece. Considere as variedades ou as categorias que podem ser plantadas. Pondere os benefícios de oferecer uma variedade, levando em conta custos de armazenagem e demanda do consumidor. Estabeleça um cronograma para o abastecimento de insumos essenciais durante o ciclo de cultivo. Considere a frequência necessária para garantir a continuidade da produção, evitando excessos que possam resultar em custos desnecessários.
Além disso, pense em antecipar as quantidades de cada cultura a serem colhidas e planeje o armazenamento estratégico. Pense nas condições de armazenagem ideais para cada tipo de produto, levando em consideração a perecibilidade e as condições climáticas locais. Identifique períodos de alta demanda, como festivais locais ou eventos sazonais. Planeje como você responderia rapidamente a essas demandas, garantindo estoques adequados e entregas eficientes.
Com esta atividade, será possível que você visualize todo o ciclo de cultivo, desde o planejamento inicial até a colheita e a distribuição. Se preferir, pode utilizar gráficos ou tabelas para representar as diferentes fases do processo de gerenciamento de estoques. Destaque os momentos críticos, como os períodos de reabastecimento e as estratégias de resposta rápida. Assim, você começará a entender porque é tão importante estudarmos sobre este assunto em nosso curso. Até a próxima lição!
BALLOU, R. H. Logística empresarial: transportes, administração de materiais e distribuição física. São Paulo: Atlas, 2007.
BOWERSOX, D. J.; CLOSS, D. J. COOPER, M. B. Logística empresarial: o processo de integração da cadeia de suprimento. São Paulo: Atlas, 2007.
PLATT, A. A. Logística e cadeia de suprimentos. 3. ed. Florianópolis: Departamento de Ciências da Administração UFSC, 2015.