Olá, estudante do ensino médio. Seja bem-vindo a mais uma disciplina de nosso curso. Dessa vez, iniciamos a disciplina de Logística e Gestão de Estoques, do curso Técnico em Agronegócio. É importante dizer a você que esta é uma disciplina que demonstra uma importante atuação enquanto técnico em agronegócio e, por isso, torna-se de extrema relevância para seu currículo conhecer sobre esse assunto.
Como é nosso primeiro contato na disciplina, pretendo apresentar uma introdução aos assuntos que serão abordados por aqui e já iniciar nossos estudos sobre essa temática. Os principais objetivos da lição de hoje são: definir logística, demonstrar sua importância às empresas, e ao agronegócio, bem como os principais objetivos.
Eu te convido a vir comigo em mais uma aventura de aprendizagem. Está pronto para isso?!
Imagine que cada produto que fosse produzido tivesse que ser consumido apenas pela região próxima de seu local de produção, você acha que seria possível nos dias de hoje? Certamente, atualmente isso seria inviável, mas, sim, isto já existiu! Na época em que ainda não se havia descoberto os meios de transporte como a carroça, animais de montaria, trens à vapor e tudo mais, era dessa forma que as coisas funcionavam.
Nessa época de pouco acesso aos meios de locomoção, os produtos eram consumidos apenas pelas comunidades locais. Hoje em dia, costumamos dizer que: “nosso mercado é o mundo”, “nosso potencial consumidor está em qualquer parte do mundo”, entre outras frases. Ter esse pensamento é possível graças ao sistema de entregas, que conecta as mercadorias produzidas em uma determinada região aos consumidores de outras localidades do país e do mundo, por seus mais diversos meios e formas. Isto tudo envolve um campo de estudo muito importante, a logística. Sendo assim, é vital às empresas e ao produtor de qualquer mercadoria – como é o caso do produtor rural –, entender um pouco sobre como ocorre o escoamento de sua produção. Você como Técnico em agronegócio, sendo o braço direito do produtor rural, ou atuando frente a uma agroindústria, precisa dominar este assunto! Por isso, venha comigo dar o primeiro passo nesta jornada!
No case de hoje, vou apresentar a você seu João, um homem visionário, de família humilde, que vive em uma grande propriedade rural na região metropolitana da capital do estado do Paraná. Em sua propriedade, ele cultiva algumas culturas em menores proporções, mas seu forte é a soja.
Seu João sabe que a soja produzida é destinada à exportação, pois a cooperativa onde entrega seus grãos a cada safra o informou. No entanto, João ainda não entendia como alguém do outro lado do mundo poderia comprar seu produto. Ele vivia pensando: “Por que não plantam a sua própria soja?”, “Por que gastam com o transporte de todos esses grãos para um lugar tão longe?” e “Não seria mais barato se esses países que compram daqui produzissem localmente em seu país?”.
Seu João sempre carregou essas dúvidas, até que um dia contratou um profissional para realização de um projeto agropecuário em parte de sua propriedade e resolveu perguntar a ele como as exportações funcionavam. Esse profissional era formado pelo curso de Técnico em Agronegócio, em sua época de Ensino Médio Técnico, em que, além de tantos conhecimentos profissionais, havia recebido as informações sobre as cadeias de produção, processos logísticos e precificação de mercadorias e soube dar uma verdadeira aula a seu João sobre o assunto questionado.
O profissional disse que os países tinham diferentes custos de produção, e que se especializavam em diferentes áreas de atuação na produção de produtos específicos que eram mais adaptados às suas condições de clima, terra e outros fatores naturais. Também explicou que exploravam a tecnologia que mais dominavam e que as políticas de governo brasileiro davam conta de permitir um transporte que não encareça tanto os produtos que seriam exportados, a fim de serem mais baratos ao país de destino, e compensar a importação para os países compradores. Seu João ficou muito feliz e ainda mais confiante no trabalho do profissional que havia contratado.
Este case, apesar de ser fictício, reflete a realidade de muitos agricultores. Por vezes, perguntas que parecem simples de serem respondidas não são óbvias para muitos produtores devido à falta de informação em relação ao que é e como ocorre a logística. Escolhi essa situação para mostrar a você como um Técnico em Agronegócio pode auxiliar os agricultores a entender melhor como as coisas funcionam. Mas, para que isso seja possível, há muito o que aprender! Então, vamos lá!
Iniciando nossa primeira conceitualização da disciplina, vamos definir o que será o tema principal de nossa disciplina: logística. Para essa definição, vou recorrer à literatura existente. Começo utilizando as palavras de Carvalho (2002, p. 31), nas quais o autor indica que:
Logística é a parte do gerenciamento da cadeia de abastecimento que planeja, implementa e controla o fluxo e armazenamento eficiente e econômico de matérias-primas, materiais semi-acabados e produtos acabados, bem como as informações a eles relativas, desde o ponto de origem até o ponto de consumo, com o propósito de atender às exigências dos clientes.
Como fica evidente no trecho apresentado, a logística é parte de um processo complexo, que envolve áreas como transporte, fluxos de informações e de mercadorias, estoques e diversos outros enfoques e temáticas. Contudo, não paramos por aqui quanto à definição deste termo. Também é possível analisar o que é descrito por Ballou (1993), que define a logística como sendo um processo de planejamento do fluxo de materiais e recursos, em que o maior objetivo é a entrega de produtos de qualidade, com a utilização do menor número de insumos e no tempo correto. É a partir deste momento que começa a despertar o interesse pela obtenção de algumas informações que serão necessárias para o cumprimento destes objetivos!
A primeira delas é em relação à qualidade. Talvez quando você ouviu a palavra “logística” pela primeira vez, tenha pensado apenas no transporte de mercadorias, mas posso te garantir já no início dessa primeira lição que a logística não se restringe somente à parte de transporte de mercadorias. Diria, ainda, que talvez essa questão de transporte nem seja a parte mais importante quando pensamos em logística, isso porque precisamos considerar todo o processo envolvido, desde a fabricação até o recebimento pelo cliente. Ou seja, desde a captação de informações sobre o desejo de consumo dos potenciais clientes, até o retorno sobre a experiência de consumo que eles obtiveram após adquirirem as mercadorias ou serviços.
Segundo Ballou (1993), o principal objetivo da logística está em melhorar os serviços oferecidos ao cliente, sendo, então, responsável, muitas vezes, pelo diferencial competitivo que permite o destaque das empresas em um mundo de concorrência cada vez maior.
Em seu livro, Ballou (2006) define a logística como sendo o processo de planejamento, implementação e controle do fluxo eficiente e eficaz de matérias-primas, sobretudo do ponto de vista econômico. Também inclui o estoque como parte do processo logístico, seja em relação aos produtos acabados ou em processo de fabricação. O ponto relevante desta nova definição feita pelo autor é que ele leva em consideração o fluxo informacional, desde o ponto de origem até o consumidor final, sempre com o propósito claramente defendido na literatura: atender às exigências dos clientes, ou ainda potenciais clientes.
Para finalizar as apresentações de definições de logística, deixo aqui mais um autor que fala sobre o assunto. Christopher (2007) apresenta que a logística se trata do processo de gerenciamento estratégico de compra, transporte e armazenagem de uma empresa, seja em relação aos insumos que utiliza no processo de produção, seja dos produtos em processo de fabricação ou acabados. O autor também lembra bem o papel das informações referentes a esses processos e o papel do alinhamento com os setores de marketing, de modo a possibilitar à empresa o maior lucro possível por meio do atendimento aos pedidos ao menor custo possível.
A seguir, na Figura 1, chamo a atenção para como se dão os fluxos logísticos entre os agentes econômicos, nesse caso os fornecedores e seus respectivos clientes. Por um lado, as mercadorias produzidas precisam chegar até o consumidor final, e talvez seja por isso que pensemos tanto em logística como sinônimo de processo de entrega de produtos e transportes. No entanto, não podemos nos esquecer de outro fluxo que, muitas vezes, ocorre até mesmo antes dos materiais, o fluxo de informações.
Pense um pouco: para que as mercadorias sejam produzidas, tem de existir uma demanda para elas, ou seja, a realização de pedidos de compras, a definição de quais materiais e em quais quantidades estes devem ser produzidos, entre outras informações. Da mesma forma, após a entrega dos produtos, precisa-se de retornos sobre sua funcionalidade, ou seja, a experiência do consumidor, se o produto atendeu as necessidades dele ou se são necessários ajustes. Poderíamos, portanto, caracterizar esse sistema como um “ciclo sem fim” de processos.
Eu poderia manter essa lição apenas discorrendo sobre o conceito de logística, trazer palavras de conselhos oficiais, normas técnicas e outros materiais, no entanto, definições são sempre atualizadas, cabendo a você o entendimento da definição aplicada a nosso estudo e a busca por informações atualizadas, sempre que disponíveis ou necessárias.
Sendo assim, de uma maneira geral, podemos concluir que a logística é o processo que cria a melhor maneira de se utilizar o tempo e local para a produção, armazenamento e entrega de produtos ou da prestação de serviços de uma organização. Desta forma, para facilitar ainda mais a compreensão, podemos pensar que a fábrica fica responsável pela produção, a transportadora pelo frete e os clientes pelo consumo, e a logística, por sua vez, cuida de todo esse processo.
Vimos que a busca pela satisfação do cliente e a melhoria da qualidade dos serviços e produtos oferecidos é um dos grandes alvos da logística. Contudo, como diminuir custos e ainda aumentar a qualidade dos produtos?
É para responder esse questionamento que precisamos de uma disciplina inteira para falar sobre a logística – ou, ainda, para dominar totalmente o assunto, muitos realizam faculdades nesta temática, ou pós-graduações –, pois se trata de tema de muito interesse pelas empresas. A resposta mais simples que posso te apresentar é também a difícil de ser realizada: para se reduzir os custos e manter a qualidade, ou até mesmo melhorar, poderíamos pensar em aumentar a eficiência, cortar custos desnecessários, entre outros que iremos aprender em nossa disciplina.
Precisamos falar, ainda, sobre a importância da logística no que se refere ao comércio, sobretudo o internacional. Na economia como um todo, os sistemas logísticos buscam cada vez mais a eficiência de suas entregas, barateamento dos fretes cobrados pelas empresas de transportes e o acesso a mercados cada vez mais remotos, e em maior número. Sendo assim, fica difícil não explorarmos a ideia de vantagem comparativa dos países, uma vez que é por meio das diferenças existentes entre as características naturais de cada país, seu modo de produção, sua especialização, produtividade e demais fatores que se torna possível que um produto seja mais barato importado do que produzido localmente.
Se as tecnologias disponíveis nos países, seus modos de produção, seus acessos aos recursos, produtividade e demais fatores que interferem na produção fossem iguais em todos os países, seus custos seriam os mesmos, e, portanto, ao decidir entre produzir ou importar, o preço do deslocamento do produto a ser importado poderia ser exatamente a diferença de preços encontrados entre ambos, e por isso, não ser uma boa troca. Dessa forma, acredito que fica fácil visualizar que somente faz sentido comprar algo importado se seu preço for menor, mesmo incluindo seu frete, ou então, que seja o mesmo preço ou mais caro, porém tenha diferenças significativas em relação à sua qualidade.
Os custos logísticos são fatores determinantes do comércio entre os países. Se os custos forem muito altos o comércio será pouco, porém se forem relativamente baixos, de maneira que compensem sua importação, o comércio será alto e os dois países sairão ganhando. O país de origem, de produção da mercadoria, ganhará com as vendas realizadas e com o aumento de seu mercado consumidor, por outro lado, o país de destino, o que importa a mercadoria, ganhará também, pois irá adquirir produtos a preços menores do que se fosse produzi-los nacionalmente.
A questão da importação impacta fortemente a indústria local, pois com o comércio acontecendo livremente entre os países as empresas locais tendem a ser forçadas a inovarem e reduzirem seus custos, para automaticamente reduzirem seus preços, e concorrer com os novos produtos internacionais. Por outro lado, países podem dificultar essa entrada forçando as empresas locais a se desenvolverem e atender a demanda local, para depois abrirem seus mercados. Esse movimento de dificultar o comércio para proteger a indústria e comércio local recebe o nome de protecionismo, mas esse é assunto para outro momento.
Por hora, quero que você apenas compreenda que a logística é muito mais do que apenas definir o tipo de transporte que uma mercadoria terá entre o produtor e o consumidor final. Ela serve para que seja possível melhorar a vida e as condições de interação entre as pessoas, como controlar os fluxos de veículos, construção de estradas, pontes, passarelas de pedestres, entre tantos outros assuntos que veremos ao longo dessa disciplina.
Nesta etapa, vou trazer a você uma oportunidade de aplicação em relação aos conteúdos abordados em nosso primeiro contato. Prometo não exigir demais na tarefa de hoje, no entanto, se prepare para os próximos desafios que virão. A intenção hoje é medir sua familiaridade com o tema que iremos abordar em nossa disciplina, por isso, eu te convido a identificar alguma situação em seu redor que tenha te chamado a atenção.
Pense em alguns produtos que você utiliza em seu dia a dia e escolha dois deles que não sejam produzidos na sua região. Agora, identifique e anote onde fica a fábrica deste produto e responda em um papel: Ele vem de uma região distante? É feito dentro do nosso país, ou é vindo de outro país (importado)? Agora tente visualizar o caminho que eles percorreram até chegar em suas mãos. Será que não seria mais barato optar por produtos produzidos localmente? Ou será que a especialização do local de origem é tamanha que o frete ainda compensou sua compra?
Após responder as perguntas, compartilhe com os seus colegas da turma as respostas e juntos identifiquem qual dos produtos escolhidos pela turma veio mais de longe! Será que foi o seu?
BALLOU, R. H. Logística Empresarial: transportes, administração de materiais, distribuição física. São Paulo: Atlas, 1993.
BALLOU, R. H. Gerenciamento da cadeia de suprimentos: planejamento, organização e logística empresarial. 4. ed. Porto Alegre: Bookman, 2006.
CARVALHO, J. M. C. de. Logística. 3. ed. Lisboa: Edições Silabo, 2002.
CHRISTOPHER, M. Logística e gerenciamento da cadeia de suprimentos: criando redes que agregam valor. São Paulo: Thomson Learning, 2007.