Olá, estudante! É muito bom tê-lo(a) em mais um trimestre do curso de Técnico em Administração e em nossa disciplina Administração Financeira e Orçamentária! Nas últimas lições, temos estudado as formas de fazer análises a partir dos demonstrativos contábeis. Aprendemos o que é e como realizar as análises vertical e horizontal e, em nossa última lição do trimestre passado, demos início aos estudos dos indicadores, começando pelos indicadores de liquidez. Você se lembra?
Nesta e na próxima lição, daremos continuidade ao tema, visto que os indicadores servem não somente para expor a capacidade de crédito da empresa, ou seja, a capacidade dela de arcar com as próprias obrigações, mas também para mostrar como está o nível de endividamento, a rentabilidade e a lucratividade da organização.
Dessa forma, nesta lição, o nosso objetivo é estudar os chamados indicadores de endividamento, incluindo o cálculo e a interpretação deles. Esse tema é de suma importância para a sua formação como tecnólogo(a) na área da gestão, uma vez que é de responsabilidade do gestor e dos analistas a avaliação de algumas contas da empresa, como o Balanço Patrimonial, e saber se a empresa está, ou não, muito endividada.
Gostou do tema? Então, prepare-se, pois, nesse último trimestre, fecharemos a disciplina com chave de ouro!
Diversos são os desafios que uma empresa enfrenta devido à grande quantidade de informações e ações que ela precisa lidar diariamente. Dentre esses desafios, encontra-se a capacidade de avaliar se ela tem gerado muitas dívidas. Por mais estranho que isso possa parecer, não é um problema por si só, isto é, o fato de a empresa contrair dívidas não necessariamente é algo ruim. A razão disso é que, de certa forma, uma empresa sempre está com dívidas, seja com fornecedores, seja com colaboradores, seja com bancos, seja com o próprio proprietário (uma empresa que não gera lucro não remunera o trabalho do empresário).
No entanto, se as dívidas não são um problema, por que, recorrentemente, os jornais mostram que empresas faliram, ou seja, fecharam as portas, por estarem muito endividadas? Por que você, estudante da área da gestão, tem que aprender isso?
A resposta é relativamente simples: o problema não é se endividar, o problema é não gerar caixa o suficiente para arcar com as dívidas! Suponha que você, em sua fase adulta, deseja adquirir um carro 0 km no valor de R$ 120.000,00. Mesmo que você não tenha todo esse valor, se tiver uma boa fonte de renda que te garanta o pagamento em parcelas (além de arcar com os demais custos), você poderá comprá-lo. Logo, caso você faça essa dívida, ela não será um problema, pois haverá como pagá-la.
Contudo, e se você não tiver uma boa renda, de tal forma que seria impossível pagar, ao menos, uma parcela: essa dívida ainda seria viável? A resposta é “não”, certo? O mesmo fato se aplica às empresas, pois a questão não é a dívida em si, mas a composição dessa dívida, a maneira como ela é estruturada. Será que as obrigações de curto prazo são muito grandes? Os bens e os direitos de curto prazo são capazes de pagar as obrigações de curto prazo?
Em nosso case, apresentaremos um Balanço Patrimonial hipotético. Trata-se de um demonstrativo contábil já usado muitas vezes no decorrer da disciplina (esperamos que você já domine as principais contas).
O que dizer sobre a situação de endividamento da empresa a partir do Balanço Patrimonial dela? Ela está muito endividada, ou não? Como está a situação de dívida dela a longo prazo? E a curto prazo? Você é capaz de dizer se a empresa se encontra em um bom momento, ou não?
Se essas perguntas te deixaram provocado(a) por não saber a resposta, venha comigo nesta lição, porque, ao final dela, realizaremos os cálculos dos indicadores e você será capaz de dizer, com certeza, a atual situação, em termos de dívida, da empresa.
Continuando a análise de indicadores, aprenderemos a aplicar os chamados indicadores de endividamento.
Assim como o próprio nome diz, esses indicadores são utilizados para indicar a condição de endividamento das empresas (ASSAF NETO, 2012). No entanto, as dívidas que as empresas têm, ainda que sejam a representação de obrigações a serem pagas, carregam uma conotação diferente daquilo que, talvez, você imagine. Isso ocorre, porque esse termo, para você, diz respeito ao momento em que uma pessoa compra algo, não paga à vista e permanece com uma dívida, certo?
Para as empresas, é um pouco diferente, porque, em termos de dívidas, temos que nos lembrar da estrutura do Balanço Patrimonial, do lado direito, em que são mostrados os deveres e as obrigações, e aqueles que compõem parte do passivo (circulante e não circulante) e do patrimônio líquido. O patrimônio líquido indica o dinheiro que os donos e os sócios colocaram na empresa do próprio bolso, ou seja, refere-se à fonte de recursos financeiros que a empresa tem e é de origem dos donos.
O passivo, por sua vez, indica o dinheiro usado para financiar as atividades da empresa e que não é dos proprietários, mas de terceiros. Mesmo não havendo um consenso sobre o percentual de recursos financeiros que a empresa precisa ter entre o próprio e o de terceiros, uma preocupação que todas deveriam ter é como está a composição dessa relação e como ela tem se comportado ao longo dos anos (MATARAZZO, 2010).
Isso, porque a empresa, ao ser uma pessoa jurídica (toda empresa legalizada tem um Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ), que equivale ao Cadastro de Pessoa Física (CPF) para as pessoas) e ao receber dinheiro de alguém, deve pagar por ele, tanto para o proprietário quanto para terceiros. Desse modo, a empresa tem a responsabilidade de ser capaz de “devolver” o dinheiro que nela foi aplicado, pois, senão, não haverá investimentos e, logo, ela deixará de existir. Para avaliar esse comportamento, são utilizados os indicadores de endividamento, justamente para mostrar essa relação (ASSAF NETO, 2012).
Um aspecto importante, antes de começarmos, de fato, a apresentação dos indicadores de endividamento, é que apanhar o dinheiro de terceiros para investir na empresa não é algo ruim, dado que esse dinheiro pode (na verdade, deve) ser usado para a realização de investimentos, como abertura de uma filial e compra de novos equipamentos, o que pode aumentar muito o faturamento da empresa. O que não pode ocorrer, no entanto, é não analisar a evolução desse endividamento.
De forma geral, é muito comum que empresas tomem dinheiro emprestado de terceiros para poderem realizar as próprias atividades. Entretanto, quem são esses terceiros? Podemos pensar, em especial, em bancos, alguma instituição de crédito e fornecedores.
Muitas empresas solicitam empréstimos para bancos para poderem pagar contas ou realizar investimentos. Da mesma forma, um fornecedor, ao vender a prazo, está depositando, na empresa, a confiança de que ela pagará. No caso do banco, todavia, há um acréscimo de juros sobre a dívida (assim como já aprendemos em lições passadas), o que aumenta o custo de terceiros (MATARAZZO, 2010).
A utilização dos indicadores de endividamento mostra como está a relação de dívida com terceiros. Se estiver em um patamar aceitável, a empresa terá mais tranquilidade sobre as contas e para realizar a captação de dinheiro de terceiros, a fim de realizar investimentos. Caso esses indicadores apontem uma situação difícil, a empresa precisa rever as contas, os custos e as receitas, a fim de não se colocar em uma posição arriscada, podendo chegar à falência.
Um aspecto a ser destacado é que o termo endividamento pode ser substituído pelo termo alavancagem. Em si, não é um problema, exceto se a alavancagem estiver em patamares elevados.
Assim como você já está ciente, contabilmente, podemos dividir o “tempo” em curto e longo prazo: o curto prazo é um período inferior a um ano, enquanto o longo é superior a um ano. Assim, o endividamento de curto prazo abarca as dívidas que precisam ser quitadas em um prazo inferior a um ano. Se usarmos a expressão endividamento de longo prazo, estamos nos referindo às dívidas que precisam ser pagas em um período acima de um ano (por exemplo, alguns financiamentos, como o de imóveis ou de grandes máquinas, normalmente, são pagos em vários anos, enquanto, para a conta “fornecedores”, o prazo, geralmente, é de poucos meses) (MATARAZZO, 2010).
Aprenderemos a calcular e a interpretar quatro indicadores. São eles:
Participação de Capital de Terceiros.
Composição de Endividamento.
Imobilização de Patrimônio Líquido.
Imobilização dos Recursos não Correntes.
O indicador de Participação de Capital de Terceiros indica para a empresa o quanto dos recursos é de capital de terceiros. Mostra, assim, como está o endividamento da empresa.
Assim como já deve ter ficado claro, as análises dos indicadores de endividamento utilizam informações presentes no Balanço Patrimonial. Dessa forma, a fórmula do indicador de participação de capital de terceiros é dada por (MATARAZZO, 2010):
PCT = (Passivo circulante + Passivo não circulante) / (Passivo circulante + Passivo não circulante + Patrimônio líquido)
No passivo circulante, estão as dívidas de curto prazo e, no não circulante, as de longo prazo.
Se você é um(a) aluno(a) curioso(a), deve ter percebido que, assim como a fórmula indica, quanto maior for esse indicador, maior será a proporção do capital da empresa que tem, como fonte, os recursos de terceiros, ou seja, maior será o endividamento. Se for superior a um, a empresa está em uma situação complicada do ponto de vista patrimonial.
A composição de endividamento mostra o quanto das dívidas da empresa estão no curto prazo, ou seja, o quanto de capital de terceiros está no passivo circulante. A fórmula é dada da seguinte forma (MATARAZZO, 2010):
CE = (Passivo circulante) / (Passivo circulante + Passivo não circulante)
Da mesma maneira, quanto maior for o valor do indicador, pior é a situação da empresa. Para a composição de endividamento, isso indica que a empresa tem muitas dívidas de curto prazo, o que pode ser um grande problema se ela não tiver caixa suficiente para quitar as dívidas.
No entanto, quanto menor for o valor do indicador, a empresa não tem grandes preocupações no curto prazo. É como se você tivesse muitas dívidas, mas que serão cobradas apenas daqui vários anos, o que deixa qualquer um em uma situação mais confortável, não é mesmo?
Diferentemente do indicador anterior, o IPL indica o quanto a empresa aplicou de recursos advindos do capital próprio no ativo não circulante, também chamado de imobilizado (bens e direitos que a empresa tem, mas que não carregam liquidez, ou seja, para que possam ser convertidos em dinheiro, é necessário tempo) (MATARAZZ0, 2010).
Por que saber isso é importante? Como você bem se lembra, no lado esquerdo do Balanço Patrimonial da empresa, está o ativo, ou seja, todos os bens e os direitos que são circulantes (e são facilmente convertidos em moeda, como o caixa, a conta no banco) e não circulantes (imóveis, construções etc.). Se muito do capital da empresa está em bens que demoram para ser convertidos em dinheiro, caso ela tenha uma emergência financeira, os ativos poderão não ser capazes de serem utilizados.
Suponha que você tenha, em sua carteira, agora, R$ 200,00, e uma bicicleta no valor de R$ 200,00. Caso aconteça uma emergência que faça com que você precise gastar R$ 100,00, você não teria problemas, pois possui caixa (dinheiro na carteira) e não teria que vender a sua bicicleta. Todavia, suponha que você não tenha dinheiro na carteira, apenas a bicicleta: se ocorrer a mesma emergência, primeiro, você teria que vender a bicicleta, para, depois, ter o dinheiro, o que pode demorar um pouco ou fazer com que você tenha que vendê-la por um valor inferior a R$ 200,00.
O IPL é fornecido pela seguinte equação:
IPL = (Imobilizado) / (Patrimônio líquido)
Apenas para recordar, no imobilizado, estão itens que representam os chamados ativos permanentes, como terrenos, construções e veículos. Quanto maior for o IPL, pior será a situação da empresa, pois ela tem muitos recursos próprios em ativos não circulantes.
O último, mas não menos importante, indicador de endividamento é o de Imobilização dos Recursos a Longo Prazo, que indica a proporção dos recursos que a empresa possui no imobilizado em comparação com o patrimônio líquido e o passivo não circulante (ASSAF NETO, 2012; MATARAZZO, 2010). Por meio desse indicador, é possível analisar o quanto dos recursos próprios e de terceiros no longo prazo estão aplicados em direitos de longo prazo.
A fórmula do IRPL é exibida a seguir:
IRPL = (Imobilizado) / (Passivo não circulante + Patrimônio líquido)
Em termos de interpretação, novamente, quanto maior for esse indicador, pior será a situação da empresa, visto que mais difícil será para ela cumprir com as próprias obrigações. Por consenso, o ideal seria que o valor do imobilizado fosse igual, ou menos, ao do passivo não circulante.
Para aplicar o que aprendemos, analisaremos o Balanço Patrimonial hipotético da Empresa Administradores S.A.
Ao aplicarmos os indicadores de endividamento que aprendemos, os resultados obtidos são:
Participação de capital de terceiros = 0,875.
Composição de endividamento = 0,8571.
Imobilização de patrimônio líquido = 2.
Imobilização dos recursos não correntes = 1.
É perceptível que, considerando os indicadores de endividamento, a situação patrimonial da empresa Administradores S.A não é muito positiva, pois todos os indicadores tiveram valores próximos ou maiores do que 1.
Nesta lição, estudamos os indicadores de endividamento e entendemos como eles são importantes tanto para as empresas quanto para os profissionais que atuarão em sua gestão.
Com o intuito de que você possa finalizar esta lição com a certeza que, de fato, aprendeu a calcular e a interpretar os indicadores de liquidez, eu te proporei dois desafios. O primeiro consiste em calcular e chegar aos valores dos indicadores visualizados na seção conceitual a partir dos dados do Balanço Patrimonial da Tabela 3. O segundo é apenas um exercício de fixação, pois a proposta é fazer uma análise dos indicadores de endividamento do Balanço Patrimonial a seguir.
Após a realização dos desafios, compare os resultados e as fórmulas com os seus colegas, para que vocês possam debater e verificar os resultados. Bons estudos!
ASSAF NETO, A. Estrutura e análise de balanços: um enfoque econômico-financeiro. São Paulo: Atlas, 2012.
SILVA, J. P. Análise financeira das Empresas. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2012.