O que estamos fazendo ao longo das últimas lições? Se você é um(a) estudante atento(a) e gosta da área de finanças, responderia, rapidamente, que estamos aprendendo sobre análise patrimonial e, para isso, estamos utilizando os demonstrativos contábeis. Sua resposta está correta, no entanto o que estamos realizando nestas lições é muito mais do que isso, pois, a cada novo tema, estamos fazendo de você um(a) analista financeiro(a), ainda que em um nível básico.
Você já deve ter ouvido, ou, provavelmente, ouvirá, que algumas profissões tendem a ter melhor remuneração do que outras, dentre elas, o analista financeiro e orçamentário (claro que um excelente analista). Uma das coisas mais importantes para um profissional que trabalha na área da gestão empresarial é se atentar para o comportamento financeiro e patrimonial da empresa em que trabalha.
Vimos que há demonstrativos contábeis que mostram a situação da empresa em termos de receita, despesas e lucro, como o demonstrativo do resultado do exercício, e o demonstrativo que mostra a situação patrimonial da empresa, ou seja, o total de bens, direitos e obrigações que ela possui. Saber “ler” um demonstrativo contábil é importante, para tanto, é necessário conhecer as ferramentas de análise. Desse modo, existem duas que são muito utilizadas, sendo elas: análise vertical e análise horizontal.
Já vimos na lição passada o que é análise vertical bem como é calculada e interpretada. No entanto nosso objetivo nesta lição é desenvolvermos tudo o que você, estudante, precisa saber sobre análise horizontal, que, em essência, é uma técnica da análise da evolução da situação financeira e patrimonial da empresa, tendo como base os resultados da análise vertical ao longo de dois ou mais exercícios sociais. Após esta lição, você já será capaz de unir a análise vertical com a horizontal e construir bom relatório financeiro patrimonial!
Em lições passadas, vimos que é importante para a empresa compreender como está sua composição em termos de participação de contas em relação a uma conta de referência. Para isso, como já aprendemos, é possível utilizar a análise vertical. No entanto a análise vertical fará essa avaliação para determinado período escolhido pela empresa ou pelo analista. Se forem repetidas por diversos períodos, o que se pode ter é a percepção de tendências dessas mesmas contas.
Por exemplo, talvez, uma empresa esteja preocupada com grande parte dos seus bens e direitos estar em contas a serem recebidas em longo prazo, ou que suas vendas no prazo tenham sido muito maiores que as à vista, o que pode ser algo ruim se suas obrigações de curto prazo forem muito elevadas. Em um cenário assim, o que a empresa pode solicitar é uma análise vertical, para ter certeza de que seus temores estão certos, e, se, de fato, for verificada tal realidade, propor ações para que esse cenário mude de situação. No entanto, para verificar se, realmente, essas ações foram efetivas, será necessário acompanhar a tendência das contas que estão gerando “dores de cabeças”, tendo que fazer a chamada análise horizontal.
A análise horizontal, porém, tem diversas outras aplicações, como avaliar a tendência que determinadas contas e subcontas do balanço patrimonial ou do demonstrativo do resultado do exercício têm tomado, se de elevação, de redução ou, mesmo, de estagnação (sem tendência verificada).
Em um ambiente onde boa informação é o fundamento para boas decisões, é de fundamental importância que um profissional da gestão financeira saiba não somente interpretar o que há nos demonstrativos contábeis, mas também fazer a aplicação de análises em cima de tais demonstrativos. Sem a análise horizontal, a empresa seria incapaz de avaliar as tendências de suas contas e, consequentemente, de fazer diagnósticos corretos sobre os resultados que alcançou no passado e os que almeja alcançar em curto, médio e longo prazo.
Procederemos da mesma forma que fizemos na análise vertical na lição passada e avaliaremos um balanço patrimonial de nossa empresa hipotética Administradores SA. No entanto, dessa vez, nosso objetivo será avaliar qual tem sido a tendência de algumas contas do ativo, como apresentado a seguir, na Tabela 1:
A partir do que é apresentado nos valores da análise horizontal anteriormente feita, o que você pode dizer sobre o comportamento da conta dinheiro em caixa nos três exercícios considerados? E sobre a conta estoque? Você percebe que houve uma tendência do aumento da conta dinheiro em caixa (ou seja, dinheiro que está no caixa da empresa, provavelmente, em função do aumento no número de vendas à vista) enquanto há uma queda no percentual da conta estoque (o que pode ser explicado pelo aumento das vendas e pelo consumo do estoque que a empresa possuía no período)? Isso e muito mais pode ser obtido por meio da análise horizontal, pois, ao indicar tendências, dentro do próprio demonstrativo, pode se ter a resposta para o motivo dessas tendências apresentadas. No entanto houve, também, uma redução do total do ativo em 50% no período. O que poderia explicar isso? Se quer aprender, continue comigo em nossas lições sobre avaliação financeira e patrimonial!
Em nossa última lição, aprendemos, calculamos e aplicamos a análise vertical sobre o balanço patrimonial de nossa empresa hipotética Administradores SA. No entanto o que fizemos nos mostrou a situação em que ela se encontrava naquele período, ou seja, o que foi feito apenas indicou qual a composição patrimonial em um único período.
Vimos que 25% do ativo estavam na conta dinheiro em caixa, ou seja, de todos os bens e direitos que ela possuía, 25% eram de dinheiro vivo que poderiam ser utilizados para uma emergência financeira (caso não se lembre dos valores obtidos, basta dar uma olhada na lição passada). Também vimos que 50% de suas obrigações, ou seja, do seu passivo, eram destinados ao pagamento de salários.
Como analista, cabe a você fazer a avaliação se os percentuais encontrados na análise vertical são bons ou ruins para a empresa. Caso algum valor percentual não seja o mais interessante de se ter (como gastos elevados a serem pagos em curto prazo sem uma fonte de receita de curto prazo o suficiente para os cobrir), cabe ao gestor, assessorado pelas informações obtidas pelo analista financeiro, tomar as devidas ações corretivas para mudar a situação para algo mais desejado.
Em um cenário no qual mudanças foram feitas, como é possível verificar se, de fato, o desempenho da empresa, em termos de representatividade das contas, mudou? Como saber se o percentual do caixa em relação ao ativo aumentou ou se reduziu ao longo de um período? A resposta para essas questões é a análise horizontal.
De acordo com Assaf Neto (2012), uma análise vertical tem como propósito identificar qual tem sido o desempenho dos chamados elementos patrimoniais, ou de resultados de exercício, de uma empresa, com o objetivo de realizar avaliações ou, mesmo, verificar possíveis tendências (de aumento, de queda ou de estagnação).
Matarazzo (2010) aponta que uma análise horizontal faz a comparação de determinada conta, ou conjunto de contas, em diferentes períodos de tempo, ou, usando um termo da contabilidade, diferentes exercícios sociais. A principal aplicação de tal análise, como já apontado, é mostrar alguma possível tendência.
Uma forma de você entender isso antes de voltarmos ao balanço patrimonial da empresa Administradores SA. é pensar no seu boletim. Você sabe que passará de ano se obtiver a média necessária nos bimestres (trimestres/semestres), certo? Supondo que a média seja sete, então, sua preocupação deve ser em ter, pelo menos, essa nota, em todas as disciplinas. Com certeza, o que deve ocorrer com você — e com todo mundo, fique tranquilo(a) — é que, em algumas disciplinas, você irá melhor e, em outras, pior, o que o(a) faz perceber certa tendência em termos de desempenho bimestral.
Com essa tendência percebida, o que você faz? Provavelmente, preocupa-se mais em recuperar aquelas matérias com tendência de notas menores do que com as que têm uma tendência de serem altas? Não é mesmo? De certa forma, é isso que se objetiva com a análise horizontal, verificar o comportamento de determinada conta no patrimônio líquido, ou no demonstrativo do resultado do exercício, para se obter uma tendência, que, se positiva, será mantida, e, se negativa, dentro dos objetivos da empresa, deverá ser corrigida.
O que se obtém com a análise horizontal, no entanto, deve ser interpretado com atenção, visto que, algumas vezes, os maiores percentuais não representam os que são mais significativos. Por exemplo, determinada conta pode ter um valor elevado em relação ao ativo circulante, mas não implica que terá no ativo total, sendo a análise uma etapa fundamental para se definir o que, de fato, é importante em termos de desempenho da empresa.
Existem diferentes formas de se fazer uma análise horizontal, mas, segundo Assaf Neto (2012), uma forma de se realizar boa avaliação comparativa de um balanço patrimonial segue três momentos, que são eles:
Esse tipo de análise tem como objetivo verificar se existe alguma folga nas finanças da empresa, ou seja, que o ativo circulante (tudo aquilo que pode ser convertido em dinheiro em menos de um ano) tenha crescido mais do que o passivo circulante (obrigações de curto prazo). Se esse for o caso, a empresa tem “dinheiro sobrando” para lidar com suas despesas.
A capacidade tanto de produção como de venda aponta que os investimentos nos bens produtivos da empresa estão em concordância com o aumento das vendas.
Mostra a situação da empresa em termos de como ela está financiando seus ativos, ou seja, suas dívidas de curto e longo prazo.
Dessa forma, por meio de uma análise horizontal, obtêm-se informações sobre o comportamento de contas importantes para a manutenção, financeiramente, viável de uma empresa em longo prazo. Por exemplo, se determinada empresa esteja apresentando um crescimento no seu passivo circulante, ou seja, nas suas dívidas, caso não haja uma mesma tendência no ativo circulante, principalmente em contas, como caixa e bancos, ela pode ter, e, provavelmente, terá, problemas para pagamento de dívidas.
Sem mais demora, vamos realizar uma análise horizontal? Para isso, daremos uma olhada, novamente, no balanço patrimonial da empresa Administradores SA., mas, agora, considerando que estamos no exercício social do período 2 (assumiremos que o período 1 foi o que analisamos na lição passada em nossa análise vertical):
Veja que houve uma alteração expressiva em termos de resultado patrimonial da empresa, pois houve mudanças nas contas dinheiro em caixa, contas a receber e estoque, no ativo, bem como em contas e capital próprio, no passivo e no patrimônio líquido. O que você pode avaliar, considerando o balanço patrimonial dos exercícios 1 e 2? Veja que houve aumento da conta dinheiro caixa e contas a receber e uma redução da conta estoque, o que significa que a empresa produziu mais de suas mercadorias, o que reduziu o estoque, mas gerou uma receita à vista, que foi para o caixa, e uma receita a ser recebida em parcelas, valor que aumentou nas contas a receber. Do lado do passivo, as mudanças que ocorreram foram a redução no saldo das contas, possivelmente, por seu pagamento, e o aumento da conta capital próprio, talvez, em função do aumento dos lucros vindos das vendas.
Analisaremos, agora, o resultado de um terceiro exercício social, mas, primeiro, para a conta do ativo e, depois, para a conta do passivo.
Como pode ser visto pela Tabela anterior, há uma tendência de crescimento da conta dinheiro em caixa, visto que passou de 25% para 31% e, depois, para 39%, o mesmo para contas a receber e o contrário para estoque. Ou seja, a empresa gastou todo seu estoque para vender mais, vendas tanto à vista como a prazo. No entanto, para os próximos exercícios, essa tendência negativa, provavelmente, será reduzida, porque, sem estoque, a empresa não produz, então, ela precisará se endividar (o que será possível ver nas contas do passivo) ou financiar o novo estoque com dinheiro do caixa, o que reduzirá seu saldo e, consequentemente, sua tendência.
Analisaremos, agora, o passivo da empresa Administradores SA. nos mesmos exercícios, da mesma forma que foi feito na Tabela 4.
O que vemos no passivo é uma explicação do que aconteceu no ativo da empresa ao longo desses três períodos, e isso mediante a análise horizontal. O aumento do caixa se deu pelo provável aumento das vendas e pela redução do estoque, o que aumentou muito o capital próprio no segundo período, mas caiu no terceiro, pois passou de 13% para 27% e, no fim, caiu para 10%, ou seja, parte do lucro da empresa retornou para ela na forma de estoque, que foi, diretamente, consumido no processo de produção, além do estoque que a empresa já tinha e utilizou. A conta salário não subiu, o que indica que a empresa não contratou mais funcionários, ainda que o percentual dessa conta tenha mudado em função da variação do valor-base (passivo total).
Veja que a fórmula de cálculo é a mesma que da análise vertical, divide-se o valor da conta pelo total do passivo e multiplica o resultado dessa divisão por cem, bastando repetir o processo em cada novo exercício.
Ainda que os valores utilizados sejam hipotéticos, conseguimos ver que a vantagem de se utilizar as análises horizontal e vertical é que, por meio delas, é possível avaliar o desempenho da empresa e, tão importante quanto, explicar esse desempenho por meio das mudanças e tendências que as contas apresentam.
Com os conhecimentos adquiridos nesta lição e na anterior, você já pode se considerar um indivíduo capaz de analisar o balanço patrimonial de uma empresa e gerar relatórios sobre a participação relativa de cada conta, ou conjunto de contas, em relação a uma referência (análise vertical). Além disso, poderá indicar quais têm sido as tendências observadas ao longo de exercícios dessas mesmas participações (análise horizontal).
Nosso interesse, no entanto, vai além disso, pois podemos, por meio da análise horizontal, ajudar no planejamento estratégico da empresa, visto que, por meio dela, é possível avaliar se as metas e os objetivos da empresa estão sendo, ou não, alcançados. Além disso, ela pode ajudar no diagnóstico em relação a quais contas precisam ter mais atenção, por exemplo, em termos de objetivos futuros, como correção de erros observados no passado.
Como exercício de fixação, reveremos o balanço patrimonial visto na seção case, que trata sobre as contas do ativo.
Seu desafio será fazer uma avaliação completa das contas dos exercícios da empresa Administradores SA. Para isso, você indicará as possíveis tendências de todas as contas apresentadas e dirá se elas são positivas ou negativas para a empresa, a partir dos seus conhecimentos. Realize essa tarefa e compare sua avaliação com a de seus colegas, assim, vocês aprenderão praticando e debatendo sobre as análises feitas.
ASSAF NETO, A. Estrutura e análise de balanços: um enfoque econômico-financeiro. São Paulo: Atlas, 2012.
MATARAZZO, D. C. Análise Financeira de Balanços: abordagem básica e gerencial. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2010.