Lição 5: Taxa Mínima de Atratividade (TMA)
e Taxa Interna de Retorno (TIR)
e Taxa Interna de Retorno (TIR)
Olá, caro(a) aluno(a)! Na presente lição, aprenderemos sobre dois conceitos, duas ferramentas de análise, amplamente utilizadas por profissionais que atuam na análise de projetos de investimentos, a taxa mínima de atratividade e a taxa interna de retorno.
Já sabemos que todo investimento tem um único propósito, ter um retorno positivo. Mesmo que esse retorno não seja necessariamente monetário, ao realizá-lo, a intenção final é sempre ter um benefício. Como estamos falando de administração financeira, no entanto, nosso foco aqui é o ganho financeiro. Imagine você investir seu tempo ou dinheiro em algo e, no fim, apenas ter prejuízo, isso não é um bom cenário, correto?
Como visto em lições passadas, uma das principais ferramentas de análise, para a viabilidade de um investimento, é a análise do seu valor presente líquido, ou VPL, que, basicamente, consiste em trazer um fluxo de caixa descontado a valores presentes para a comparação com o valor inicial. Se esse fluxo for maior que o investimento inicial, o que se verifica é um bom investimento, e, se esse fluxo for menor, teremos um mau investimento.
Veja, no entanto, que existe certa taxa de retorno esperada para cada tipo de investimento e para cada perfil de investidor. Por exemplo: suponha que, talvez, você só estivesse disposto(a) a emprestar R$ 100,00 que possui, caso a pessoa que pegar emprestado pague juros (que você já sabe o que é como calcular) de R$ 10,00 (ou seja, juros de 10%). Então, para um retorno menor que R$ 10,00 (ou 10% de R$ 100,00), você não emprestaria.
Nesse caso, o retorno mínimo esperado que objetiva é de 10%. Mas como calcular isso? Ou, melhor, de que maneira investidores definem essa taxa para decidir entre investimentos diversos? Será esse conteúdo que aprenderemos: analisar, por meio de uma taxa interna de retorno do investimento, qual será a taxa mínima de atratividade para realizar, ou não, um investimento.
Para iniciarmos a seção da lição destinada à problematização, precisamos imaginar quais fatores afetam a decisão de uma empresa ao fazer, ou não, um investimento. O objetivo final é sempre o lucro, certo? No entanto existe uma diversidade de investimentos que uma pessoa pode fazer. Ela pode investir diretamente na criação de uma empresa, comprar ações de uma empresa, investir em fundos, aplicar seus recursos em títulos do tesouro, entre outras possibilidades.
Imagine que uma empresa possua um recurso de R$ 1.000.000,00 para aplicar em investimentos, e ela chega até você, Técnico(a) em Administração em Construção, e pede uma ajuda para decidir onde investir esse dinheiro. Como você já conhece a metodologia do valor presente líquido, você pode simplesmente avaliar diferentes tipos de investimentos e indicar para a empresa (no caso para seu proprietário ou seus sócios) os que tiveram um valor presente líquido maior que zero (como aprendeu na lição sobre o VPL). No entanto será que apenas o VPL é suficiente para indicar um bom investimento? Será que não existem outras metodologias criadas que são capazes de dar maior credibilidade ao VPL? A resposta é: sim, e muitas. O VPL é apenas uma das diversas ferramentas que são utilizadas para avaliar se um investimento é, ou não, bom.
Dentre essas outras formas, é possível avaliar e comparar a taxa de retorno de um investimento, que, normalmente, é definida por uma taxa de juros, conforme já aprendemos. Dessa forma, você, enquanto analista de projetos, pode analisar não somente o valor presente líquido, mas também a potencial taxa de retorno, ou taxas, de forma a dizer qual é o valor mínimo que se deve ter de retorno para um investimento ser, ou não, bom.
Se a empresa que o(a) procurou disser que espera receber, no mínimo, 12% ao realizar o investimento, você pode pegar os mesmos investidos que utilizou para avaliar o valor presente líquido e comparar se a taxa de retorno deles é maior, menor ou igual a 12%, pois, se maior, indicará um bom investimento, mas, se menor, um mau investimento. Para fazer isso, conheceremos e aprenderemos a interpretar a taxa interna de retorno, ou TIR, e compará-la com a taxa mínima de atratividade.
Para que possa compreender, de forma prática, o conteúdo, leremos a seguinte matéria, intitulada “Minas Gerais bate marca histórica em operação de energia solar”, veiculada no dia 23 de novembro de 2021.
A notícia diz que o estado de Minas Gerais obteve o registro histórico de dois gigawatts (GW) em operação da fonte solar, sendo que esse valor de geração centralizada (631,16 megawatts) e distribuída (1.384,21 megawatts) corresponde à energia solar fotovoltaica obtida por grandes usinas, parques solares e por painéis solares em residências e condomínios, respectivamente. A meta do governo de Minas, para o fim de 2021, era de 1,75 gigawatts, mas ela foi superada, alcançando o valor que estava previsto apenas para o fim de 2022. Do total de municípios do estado, mais de 99% têm geração distribuída de fonte solar fotovoltaica. Já a geração centralizada, que envolve grandes cargas, como aquelas em parques solares e usinas, está concentrada na região norte do estado (AGÊNCIA MINAS, 2021).
O diretor de energia apontou que Minas Gerais é um estado amigo do empreendedor, o que contribui, significativamente, para a implantação de empresas fornecedoras de bens e serviços no setor de energia solar fotovoltaica, visto que o tempo para recuperação do investimento é rápido (tema da próxima lição), o investimento é baixo e a taxa interna de retorno e a incidência de luz solar são altas, além de os benefícios fiscais e o licenciamento ambiental serem simplificados, o que possibilita os empreendimentos, tanto na modalidade centralizada quanto na distribuída, expandirem-se com cada vez com mais força (AGÊNCIA MINAS, 2021).
Veja o quão interessante é a análise da taxa interna de retorno de um investimento. Para o caso do estado de Minas Gerais, o fato da taxa interna de retorno possuir elevado valor indica que há um estímulo à entrada de novos empreendedores na atividade. Nesse sentido, conseguir identificar essa taxa e analisar o valor presente líquido é de fundamental importância, para identificar bons e maus projetos de investimento, o que fará de você um(a) profissional da área da gestão com um diferencial a mais em relação ao mercado de trabalho.
Nas últimas lições, aprendemos conceitos importantes da matemática financeira e orçamentária, pois já vimos sobre a questão dos riscos, da incerteza e do retorno e como isso afeta as decisões de investimento, além de termos dado grandes passos acerca de conceitos que são a base para a gestão financeira e orçamentária, que são os tipos de capitalização de juros simples e compostos.
A partir desses fundamentos essenciais para o estudo nessa temática, na lição passada, vimos uma metodologia de grande aplicabilidade, quando se quer avaliar um projeto de investimento ou distintos projetos de investimento, para verificar o valor presente de um fluxo de caixa. Uma pequena revisão é importante. Se você, no futuro, tiver o interesse de abrir uma empresa, precisará desembolsar determinada quantia de dinheiro para iniciar suas atividades, certo? Mas e se essa empresa não der lucros ou se um investimento qualquer não der lucros? O que fazer?
Para tentar verificar isso, dentre as diversas metodologias existentes, existe o Valor Presente Líquido, que traz a valores presentes um fluxo de caixa e permite a comparação com o valor do investimento inicial (PUCCINI, 2011). Colocaremos em valores para ficar mais fácil. Se você investir R$ 10.000,00 e espera receber, nos próximos dez meses, um valor de R$ 1.500,00, é errado você comparar os R$ 15.000,00 gerados (dez meses vezes R$ 1.500,00), pois, para os R$ 10.000,00 se transformar em R$ 15.000,00, houve o acréscimo de uma taxa de juros (ou de retorno).
Para essas situações, é necessário empregar o valor presente líquido para trazer esse fluxo de dez meses para o tempo inicial e, daí sim, comparar com o investimento inicial (como aprendemos a fazer na lição passada). Vimos que, na fórmula do VPL, há uma taxa, que fica no denominador da divisão, como indicado a seguir:
Qual o ponto que destacaremos nesta lição? Veja que, abaixo do CFt, encontra-se uma taxa i, que descontará os fluxos de caixa gerados pelo investimento. Esse aqui é um ponto que precisamos que você preste bastante atenção, pois será justamente o valor da taxa i que indicará se o investimento é, ou não, bom, ou atrativo.
Imagine, novamente, que você é um(a) adulto(a) empreendedor(a) que possui dinheiro o suficiente para realizar um grande investimento produtivo, ou seja, comprar máquinas, construir um barracão e contratar trabalhadores para trabalhar para você. Como já deve ter ficado claro, você apenas fará isso se souber que terá um retorno, um ganho positivo nesse investimento, certo? Mas e se existisse uma alternativa para seu dinheiro? De forma que você poderia aplicá-lo em um investimento que não demandará que você compre máquinas, construa prédios e contrate trabalhadores (imagine o quão complexo e demorado pode ser para tudo isso acontecer)? Como você já entende de gestão financeira e orçamentária, sua resposta seria: bom, eu estou disposto(a) a aplicar meu dinheiro nesse outro investimento, mas qual será o meu retorno?
No Brasil e no mundo, as pessoas podem investir não somente na criação de empresas, mas também pode investir no governo ou em empresas, ainda que indiretamente. Os governos do mundo fornecem à população formas de investimento, em que pegam o dinheiro da população e, em troca, após um período, retornam o dinheiro acrescido de uma taxa de juros. Esses investimentos podem ocorrer nos chamados títulos públicos, que, por serem emitidos pelo governo, em um baixo risco, indicam que o rendimento também é baixo. Empresas, também, fornecem meio de investimentos indiretos à população de várias formas, uma das mais conhecidas delas são as ações, que representam uma fração da empresa que é vendida para população, que faz dela uma sócia da empresa. Ações apresentam maior risco que títulos do tesouro nacional, mas também têm retornos maiores (ROSS et al., 2013).
Não se preocupe em memorizar as formas de investimentos financeiros como títulos do tesouro ou ações, mas saiba que são alternativas de investimento que indivíduos podem escolher fazer. Voltando ao nosso exemplo, em que você, aluno(a), é um(a) adulto(a) que tem muito dinheiro e está querendo investi-lo, imagine que, se você aplicar seus recursos na criação de uma empresa, o retorno que você terá será de 10% por período (mês, trimestre ou ano), mas, se aplicar em títulos do tesouro, você terá um retorno de apenas 8%, e, se investir em ações, terá um retorno de 12%. Qual opção você escolheria?
Se a pergunta é muito difícil, tentaremos explicar. Imagine que três pessoas distintas pedem dinheiro emprestado para você, R$ 100,00, e todas prometem devolver esse valor em um mês. Mas a primeira pessoa paga 10% de juros (e você recebe R$ 110,00), a segunda, 8% (e você recebe R$ 108,00) e a terceira, 12% (e você recebe R$ 112,00). Nessa situação, para qual pessoa você prefere emprestar? Com certeza, você escolherá a que pagar mais juros, pois, assim, o dinheiro recebido no final do empréstimo será maior, não é mesmo?
Então, basicamente, é essa a decisão que os investidores no mundo fazem, escolhem os investimentos que apresentam o melhor e maior potencial de retorno, dados os riscos. Nesse contexto, existe uma ferramenta complementar ao valor presente líquido, chamada taxa interna de retorno, ou simplesmente TMA. Essa TMA indicará o retorno mínimo exigido por um investidor para aplicar seu dinheiro (PUCCINI, 2011). Voltemos ao exemplo dos R$ 100,00. Talvez, você não queira emprestar seu dinheiro para nenhuma das três pessoas, pois você estaria disposto(a) apenas se o retorno fosse muito alto, quem sabe 50% (o que o(a) faria receber R$ 150,00).
A TMA é, em essência, uma taxa de retorno que indicará se vale a pena, ou não, determinado investimento, sendo assim, uma taxa de caráter individual, pois cada indivíduo sabe o quanto quer ter de retorno por seu investimento. De acordo com Puccini (2011), existem alguns fatores que influenciam essa TMA, que são:
Custo de oportunidade: relacionado às diferentes opções de investimento.
Risco do investimento: todo investimento tem riscos associados, de forma que, para uma taxa de retorno muito elevada, o risco também o será, mas isso dependerá do tipo de investidor. Um ponto interessante a se destacar é que a aceitação dos riscos é maior quando se é jovem, mas tende a reduzir à medida que se envelhece (há exceções para esses casos).
Liquidez do investimento: liquidez é o termo utilizado para expressar um recurso que é, facilmente, convertido em moeda e, por isso, de ampla aceitação. Uma grande máquina que produz peças de carros é de baixa liquidez, pois, dados o tamanho e a utilização específica, poucas pessoas têm interesse em comprar, motivo pelo qual possui pouca liquidez. No entanto um título do tesouro, por exemplo, é, facilmente, transformado em dinheiro, pois todos sabem que é um investimento de pouco risco.
Dessa forma, o que define a TMA é o valor que se espera ter de retorno de um investimento, e esse é um conceito importante, pois, no valor presente líquido, esta taxa é utilizada como taxa de desconto do dinheiro, de forma que:
Veja que a fórmula é exatamente a mesma, o que muda é que, em vez de se colocar i, coloca-se a TMA de um investidor (no Brasil, essa TMA, normalmente, é medida pela taxa Selic).
Agora que você já sabe o que significa tanto a sigla TMA como sua aplicação, podemos avançar um pouco mais no assunto e abordar a metodologia da Taxa Interna de Retorno, que é analisada e aplicada de forma complementar ao valor presente líquido (VPL). Como já visto, e a repetição é importante, o VPL apenas desconta valores de um fluxo de caixa no tempo e compara com o investimento inicial realizado.
A taxa interna de retorno, diferentemente da TMA, não é uma taxa que tem correlação direta com a análise do investimento em si, pois ela apenas aponta qual é o valor da taxa de desconto que fará com que o VPL seja igual a zero. Ou seja, a TIR é uma taxa hipotética que mostrará qual deveria ser a taxa a ser cobrada que faria com que os fluxos de caixas descontados fossem exatamente iguais ao valor do investimento inicial (PUCCINI, 2011). Talvez, seja mais fácil entender com um gráfico.
Veja que, como indicado, a TIR é apenas uma taxa que fará com que o VPL seja igual a zero, de forma que, para esses casos, o investidor é indiferente entre fazer, ou não, o investimento, visto que o valor recebido pelo investimento é exatamente igual ao aplicado. Mas por que estudar TIR e TMA após o VPL? A resposta é simples: são ferramentas de análise complementares! A razão, para isso, é que, sempre que o VPL for positivo, valerá a pena o investimento, de forma que a taxa de desconto cobrada é maior que a taxa mínima de atratividade, e, para o caso de um VPL negativo, a taxa de desconto é menor que a taxa mínima de atratividade.
Existe uma regra prática e simples de aprender que relaciona a TIR com a TMA e com o VPL, como indica Puccini (2011):
TMA > TIR: quando a taxa mínima de atratividade é maior que a taxa interna de retorno, é um mau investimento.
TMA < TIR: quando a taxa mínima de atratividade é menor que a taxa interna de retorno, é um bom investimento.
TMA = TIR: quando a taxa mínima de atratividade é igual à taxa interna de retorno, o investidor é indiferente em fazer, ou não, o investimento.
Mas por que isso? A resposta é simples: se a TIR é maior do que a TMA, então, o retorno da aplicação é maior que o mínimo exigido pelo investidor. Voltando ao exemplo anterior dos R$ 100,00, se o mínimo que você espera receber por emprestar seu dinheiro é 10%, e alguém está disposto a pagar 15%, então, você estará disposto(a) a emprestar, não é mesmo? Por essa razão, quando a TIR for maior que a TMA, o investimento valerá a pena. Mas, se a TIR for menor que a TMA, então, é como se fosse estivesse disposto(a) a emprestar seus R$ 100 somente se receber 10% de juros, mas todos que querem seu dinheiro emprestado só aceitam pagar 5%. Nesse cenário, você não faria o empréstimo.
Gostaria de saber, está gostando dessa parte do conteúdo da disciplina voltada especificamente para a análise projetos? Esse conteúdo é mais voltado para profissionais que atuam diretamente na gestão de projetos e de investimentos. Imagine um mecânico que se propõe a consertar um carro, mas não possui todas as ferramentas para isso, você acharia uma opção viável levar um automóvel para ele arrumar? Da mesma forma, um gestor ou administrador que se aventurar na gestão de projetos terá que possuir o básico em termos de ferramentas de análise viabilidade de projetos, não somente para realizar os cálculos, que são muitos importantes, mas para também interpretar corretamente os resultados obtidos.
Dessa forma, para que tenhamos certeza de que você sabe interpretar a relação entre taxa interna de retorno e taxa mínima de atratividade, deixaremos um desafio, presente no Quadro 1, a seguir:
Como exercício de fixação, você, aluno(a), olhará para cada um dos investimentos, que vão de A à E, e dirá quais deles são bons e quais deles são ruins, marcando com um X na coluna “Bom”, quando for um bom investimento, e marcar com um X na coluna “Ruim”, quando for um mau investimento. A regra de decisão é se a TIR é maior, menor ou igual à TMA. Se surgir alguma dúvida, dê uma olhada na seção conceitualização da lição. Mãos à obra!
AGÊNCIA MINAS. Minas Gerais bate marca histórica em operação de energia solar. 23 nov. 2021. Disponível em: https://www.agenciaminas.mg.gov.br/noticia/minas-gerais-bate-marca-historica-em-operacao-de-energia-solar. Acesso em: 7 dez. 2022.
PUCCINI, A. Matemática financeira objetiva e aplicada. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011.
ROSS, S. et al. Fundamentos de administração financeira. Porto Alegre: Bookman, 2013.