Olá, estudante! Como é bom tê-lo(a) conosco em mais uma lição! Já sabemos que os conhecimentos financeiro, orçamentário e patrimonial de uma empresa são construídos em “tijolos”, ou seja, cada nova etapa será útil para a compreensão da próxima. Portanto, não é possível começar “de cima” da construção, mas, primeiro, colocando as bases, para que o todo esteja completo, da forma correta, ao final do processo.
Nesse sentido, um aspecto importante das empresas que efetuam um bom planejamento de curto, médio e longo fazem é avaliar a própria estrutura de dívidas, ou seja, a própria capacidade de pagamento das obrigações que ela acaba fazendo ao desempenhar a função produtiva.
Por exemplo, assim como você já sabe, as empresas, para que possam produzir, carregam custos. No entanto, elas esperam que esses custos sejam compensados pela geração de receita das mercadorias vendidas. Isso ocasiona um excedente que conhecemos como lucro (aqui, encontram-se alguns “tijolos” da nossa construção de conhecimento).
E quanto ao prazo? As empresas acabam tendo despesas que têm prazos distintos de pagamento, como a compra de matéria-prima à vista ou a prazo, o pagamento de empréstimos, dentre outros. Da mesma forma, ao vender os produtos, o valor recebido também pode acontecer em momentos distintos (por exemplo, uma venda à vista indica que haverá dinheiro no caixa no exato momento em que a operação é feita, mas uma venda a prazo indica que a empresa receberá em partes pelo que foi vendido).
A forma como as empresas usam para fazer esse controle ocorre por meio dos chamados indicadores de liquidez, que indicam a capacidade de curtíssimo, curto, médio e longo prazo da empresa. Sem o conhecimento voltado aos demonstrativos contábeis, não seria possível entender e aplicar o que aprenderemos hoje (novamente, mais “tijolos” necessários).
Em um contexto econômico de elevada concorrência, as empresas que não têm um excelente controle dos próprios gastos acabam tendo menores chances de ter bons resultados a longo prazo, haja vista que, assim como diz o velho ditado do mundo empresarial: “quem não mede, não gerencia, e quem não gerencia, não melhora”.
No entanto, a pergunta é: como saber se a empresa tem capacidade de pagamento, ou seja, como o empresário sabe como está a saúde patrimonial da própria empresa em termos de ser capaz de cumprir com as próprias obrigações?
Acredito que você, estudante, já sabe que, quando usamos o termo obrigações, referimo-nos aos pagamentos que a empresa tem que realizar por produzir bens e serviços, como fornecedores de matéria-prima, funcionários, possíveis empréstimos realizados e aluguéis (se for o caso).
Dessa maneira, primeiramente, para que a empresa possa saber se tem capacidade de pagamento, ela tem que estar com a contabilidade em dia, pois essas informações somente serão obtidas com qualidade, se ela tiver esse registro. Trata-se de uma necessidade devida: as empresas que se preocupam com essa necessidade de pagamento demandam o serviço de consultores e analistas, sejam internos, sejam externos, e procuram obter os chamados indicadores de liquidez.
Em suma, os indicadores de liquidez exibem como estão as situações financeira e patrimonial da empresa em termos de comparação com as contas do ativo e do passivo. É considerado um conjunto de contas e avaliado se ela é capaz de, se necessário, quitar as obrigações de curtíssimo, curto, médio e longo prazo.
Não saber isso é o mesmo que andar de olhos fechados por uma ponte suspensa sobre um grande vale! Talvez, você possa imaginar que essa comparação é um exagero. Entretanto, acredite: não é! Saber a capacidade de pagamento indica se a empresa tem apresentado um bom desempenho ao longo do tempo, pois, se ela está muito suscetível a falir, ou seja, se a estrutura não se mostra firme do ponto de vista financeiro e patrimonial, então, talvez não valha a pena se manter em atividade.
Conhecer os indicadores de liquidez é saber o quão forte e eficiente, financeira e patrimonialmente, a organização tem sido. Pode acreditar: esse é o desejo de todos os empresários!
Como uma forma de apresentar, de forma prática, o conteúdo que estudaremos, analisaremos o Balanço Patrimonial da empresa Administradores SA. Nós o retomaremos em determinado momento da seção Conceitualização.
A partir do que foi apresentado, o que você pode dizer acerca da empresa Administradores SA em termos da situação financeira e patrimonial? Você sabe dizer se ela é capaz de cumprir com as obrigações dela de curto prazo? E as obrigações de longo prazo: o que você pode dizer sobre?
Ao longo desta lição, você aprenderá a responder as perguntas feitas e verá que são questões muito fáceis. O que te faltava era apenas o conhecimento adequado para fazer essa avaliação.
Continuando os nossos estudos sobre a administração financeira e orçamentária, mais especificamente, sobre a importância dos demonstrativos contábeis, na presente lição, daremos início à análise de alguns indicadores muito empregados na avaliação das finanças empresariais.
Dentre esses indicadores, existem alguns voltados à demonstração de como está a capacidade de crédito da empresa: os chamados indicadores de liquidez. Eles mostram a forma como a organização se financia e como está a situação de financiamento por meio dos indicadores de endividamento. Por fim, há os indicadores que apontam a eficiência operacional da empresa: são os indicadores de lucratividade.
O foco da presente lição será abordar os indicadores de liquidez, para que você, técnico(a) em administração, saiba avaliar como está a situação financeira de uma empresa a partir das informações presentes no Balanço Patrimonial. Vamos lá?
De acordo com Matarazzo (2010), os indicadores de liquidez fazem comparações entre o ativo e o passivo para mostrar como estão as finanças de uma empresa, ou seja, qual tem sido a capacidade para gerar recursos para cobrir as dívidas. Antes, porém, de estudarmos esses indicadores, faremos uma breve revisão de conceitos.
Já sabemos um Balanço Patrimonial é formado por três contas: o ativo, o passivo e o patrimônio líquido. No ativo circulante, estão os bens que a empresa possui e que podem ser convertidos em dinheiro em um prazo inferior a um ano, como estoque, contas de curto prazo a receber, conta no banco, o próprio caixa da empresa etc. O ativo não circulante, por sua vez, compreende os bens que não são conversíveis em dinheiro a curto prazo (um ano). Justamente por isso o termo “não circulante”.
Existe, também, o chamado realizável a longo prazo, que indica as contas a receber em um período superior a um ano. A conta passivo circulante, assim como já estudamos, é composta pelas dívidas que a empresa tem e que deverão ser quitadas em um período inferior a um ano. Por sua vez, a conta exigíveis a longo prazo abrange as obrigações que a empresa tem e que possuem prazo superior a um ano.
Após essa revisão, podemos prosseguir com a nossa lição, a fim de não somente conhecer os indicadores de liquidez, mas também entender a forma como eles são calculados.
Assaf Neto (2012) afirma que os índices de liquidez dizem respeito à capacidade de um bem da empresa ser convertido em dinheiro. Em outras palavras, quanto maior for a liquidez, mais fácil é vender esse bem (que estará no lado do ativo do Balanço Patrimonial) e obter dinheiro.
No contexto das empresas, os ativos representam a estrutura dos bens e dos direitos que uma firma possui e que são necessários para a manutenção do patrimônio. Em outras palavras, falar em indicadores de liquidez no contexto financeiro é mostrar como está a composição do ativo e do passivo da empresa, a fim de verificar se ela é capaz de cumprir com os próprios deveres, ou seja, pagar as contas.
Como você já possui uma quantidade expressiva de conhecimentos financeiros, deve ter percebido que, se esses indicadores apresentarem um bom resultado (assim como veremos adiante), eles poderão assegurar a manutenção das atividades da empresa. Dessa forma, os indicadores de liquidez servem para avaliar como está a “saúde” financeira da empresa, dado que um mau desempenho desses indicadores mostrará que a empresa está “doente” financeiramente.
Existem, pelo menos, quatro tipos de indicadores de liquidez. São eles:
Liquidez Imediata.
Liquidez Geral.
Liquidez Corrente.
Liquidez Seca.
A principal diferença entre os indicadores listados é que cada um indica uma modalidade de prazo em termos de capacidade de pagamento. Enquanto a liquidez imediata diz respeito às dívidas de prazo muito curto, a seca e a corrente apontam para o curto prazo. Já a geral indica as dívidas de longo prazo. Vamos aprender o cálculo de cada um?
O índice de liquidez imediata mostra a disponibilidade que a empresa tem para o pagamento das próprias obrigações de curto prazo. Ele é considerado por alguns o indicador mais conservador, por mostrar o total que a empresa possui em ativo que pode ser convertido imediatamente (por isso, o nome do indicador) em dinheiro.
Por meio desse indicador, é possível avaliar se a empresa tem capacidade para lidar com situações financeiras emergenciais, ou seja, aquelas com um prazo inferior a três meses (ou noventa dias). Nesse sentido, um bom resultado desse indicador evidencia que a empresa possui a capacidade de lidar com imprevistos, não estando despreparada financeiramente em alguma urgência. Imagine quantas empresas precisavam ter essa análise em dia quando surgiu a pandemia de Covid-19 em 2020, já que muitos negócios precisaram fechar as portas por dias. O cálculo do índice de liquidez é dado por:
Liquidez imediata = Ativo disponível / Passivo circulante
O ativo disponível abrange os bens que podem ser imediatamente convertidos em dinheiro, como o caixa e a conta banco. Ao fim desta lição, faremos juntos uma aplicação de todos os indicadores no Balanço Patrimonial da empresa Administradores SA.
Assim como o próprio nome diz, esse indicador diz respeito à condição financeira. Portanto, considera todos os ativos que a firma possui, tanto o circulante quanto o não circulante. Basicamente, esse indicador mostra se a empresa possui capacidade de pagamento superior a um ano, ou seja, de longo prazo.
Uma das utilidades desse indicador é mostrar se, entre os exercícios sociais, a empresa está melhorando, ou não, a liquidez, pois, se, ao longo dos exercícios sociais, o valor melhorar, a empresa estará aumentando a liquidez. Em sua fórmula, o índice de liquidez leva em consideração as contas do ativo e do passivo da empresa da seguinte forma:
Liquidez geral = (Ativo circulante + Realizável a longo prazo) / (Passivo circulante + Passivo não circulante)
Também conhecida como liquidez comum, a liquidez corrente indica a capacidade de pagamento da empresa no curto prazo (inferior a um ano). Em outras palavras, é o indicador que mostra a saúde do caixa. A fórmula é dada por:
Liquidez corrente = Ativo circulante / Passivo circulante
Apenas para reforçar, o ativo circulante indica todos os bens e os direitos da empresa que rapidamente podem ser convertidos em dinheiro, enquanto o passivo circulante abarca todas as obrigações de curto prazo. A diferença entre a liquidez corrente e a imediata é que esta considera apenas o caixa da empresa ou toda forma de dinheiro direta, enquanto a corrente considera todo o ativo circulante, e não apenas a conta caixa (ou banco).
Também é similar à liquidez corrente, com uma diferença: não leva em consideração a conta estoque em sua fórmula. Isso acontece, uma vez que, em alguns casos, nem sempre o estoque pode ser um bem da empresa ou, contabilmente falando, um patrimônio de posse da empresa.
Nesse sentido, o índice de liquidez seca mostra a capacidade da empresa de cumprir com as próprias obrigações de curto prazo, sem considerar, nesse cômputo, o estoque (se você entende matemática, já deve ter percebido que o valor do índice de liquidez corrente sempre será maior que o de liquidez seca). A liquidez seca é obtida pela seguinte fórmula:
Liquidez corrente = (Ativo circulante - Estoque) / Passivo circulante
Agora que você já conhece os indicadores de liquidez e sabe como eles são aplicados a partir das informações presentes no Balanço Patrimonial, você deve estar se perguntando: como interpretar?
A resposta para essa pergunta é fácil, pois a referência para a interpretação e a análise é a unidade, ou seja, o número 1! Se a empresa tiver valores maiores do que 1 para os indicadores, ela é capaz de honrar as próprias dívidas, ou seja, tem liquidez; se menor que 1, então, não é capaz e; se igual a 1, a capacidade de liquidez é igual às dívidas.
Vamos para a prática? Observe o Balanço Patrimonial da empresa Administradores SA.
Aplicando os indicadores de liquidez, obtemos:
Liquidez imediata = 5.000 / (10.000 + 2.500 + 2.500) = 0,33...
Liquidez geral = (5.000 + 5.000 + 5.000) / (10.000 + 2.500 + 2.500 + 2.500) = 0,85
Liquidez corrente = (5.000 + 5.000 + 5.000) / (10.000 + 2.500 + 2.500) = 1
Liquidez seca = (5.000 + 5.000 – 5.000) / (10.000 + 2.500 + 2.500) = 0,33...
De acordo com a liquidez imediata, isto é, as necessidades de curtíssimo prazo, a empresa Administradores SA não é capaz de cumprir com as obrigações, já que o indicador é menor do que 1, ou seja, o valor da conta Caixa é menor que as obrigações que ela tem. A liquidez geral também foi menor do que 1, ou seja, a empresa não possui liquidez de curto prazo (os itens realizáveis no longo prazo são os bens que se converterão em dinheiro no próximo exercício social, como aplicações de renda fixa e recuperação de impostos, itens que não tínhamos no Balanço Patrimonial da empresa Administradores SA).
A liquidez corrente, que é divisão do ativo circulante com o passivo circulante, foi igual a 1, ou seja, se todas as obrigações de curto prazo fossem solicitadas, a empresa teria meios de quitá-las, utilizando, para isso, todo o ativo, ou seja, todos os bens. Por fim, a liquidez seca foi inferior a 1 (e menor que a corrente, como indicado), pois, ao retirar do ativo circulante o estoque, a empresa se torna ilíquida, ou seja, não é capaz de quitar as próprias obrigações de curto prazo.
Você se tornou capaz de avaliar a liquidez de uma empresa e averiguar se ela tem uma estrutura patrimonial capaz de se bancar no curto e no longo prazo, conhecimento mais do que fundamental para você exercer a profissão de gestor(a) ou administrador(a) financeiro(a)! Parabéns!
Com certeza, após o encerramento de mais uma etapa, você aprendeu diversos temas e conteúdos que nunca tinha conhecido, não é mesmo? Isso, não apenas na disciplina de Administração Financeira e Orçamentária, mas em todas.
Para fecharmos esta etapa com chave de ouro, tenho um desafio muito importante para você: ser o(a) analista financeiro e patrimonial da empresa Administradores SA. Você está preparado(a)?
Imagine que o sócio-gerente da Administradores SA te procura, pois está preocupado com o atual desempenho da empresa. Ele deseja saber se ela é capaz de quitar as próprias obrigações de curto prazo, pois teme que o cenário econômico mundial fique mais difícil e, para isso, quer garantir que as principais contas da empresa podem ser pagas sem grandes dificuldades.
Você aceitou o serviço e recebeu o Balanço Patrimonial apresentado a seguir.
A sua tarefa é aplicar os indicadores de curto prazo que estudamos nesta lição, sendo o(a) responsável tanto pelo cálculo quanto pela interpretação e criação de um relatório, com poucas palavras, sobre a condição da empresa do seu cliente. Realize essa análise e a compare com os resultados dos seus colegas, a fim de ter a certeza de que obteve os valores corretos e fez uma análise correta! Bom trabalho, senhor(a) analista financeiro!
ASSAF NETO, A. Estrutura e análise de balanços: um enfoque econômico-financeiro. São Paulo: Atlas, 2012.
MATARAZZO, D. C. Análise financeira de balanços: abordagem básica e gerencial. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2010.