Olá, estudante! Temos trabalhado nas últimas aulas com as ferramentas da contabilidade para a formação do profissional que atuará na administração financeira e orçamentária de uma empresa. Conhecer sobre esse assunto é importante para que você seja um(a) profissional que tenha a capacidade de compreender e aplicar diferentes aptidões na hora de entrar para o mercado de trabalho, e não temos dúvidas de que as disciplinas que está cursando no curso técnico serão de grande ajuda em sua caminhada.
Na presente lição, daremos continuidade às lições passadas, especialmente no que diz respeito à contabilidade. Porém, dessa vez, nosso foco será na aplicação, ou seja, na prática. Já sabemos que a contabilidade é uma ciência que tem contribuído imensamente para a gestão das empresas, pois, ao longo das décadas, desenvolveu formas de medir, de quantificar, o resultado de uma empresa do ponto de vista financeiro e patrimonial.
Hoje, por lei, as empresas precisam estar vinculadas a um escritório de contabilidade por razões diversas, dentre elas, o controle das receitas, das despesas e dos tributos, que precisa ser repassado ao governo. No entanto não basta que se saiba, por exemplo, o quanto uma empresa tem em seu caixa, ou em dívida, ou em máquinas e ferramentas, é necessário saber fazer uma avaliação.
Assim como em uma prova de Matemática, ou de Português, algumas perguntas específicas são feitas para saber se o aluno, de fato, conhece, ou não, o conteúdo, certo? Da mesma forma, existem algumas perguntas específicas que podem “ser feitas” para uma empresa para, assim, descobrir sua situação, se está muito endividada, se está com bons lucros, se o lucro é sustentável no longo prazo, se uma parte muito grande de seu dinheiro está aplicada em itens que terão retorno apenas no longo prazo etc. Para formular essas perguntas, existem algumas técnicas de análise de demonstrativos contábeis, e são essas técnicas que aprenderemos nesta lição, especificamente, a forma de realizar uma análise vertical e uma análise horizontal.
Você, no atual momento da vida, é um(a) estudante de Ensino Médio, certo? Talvez, você esteja fazendo um estágio de meio período ou algo parecido, ou, talvez, apenas estude, o que já é muita coisa, não é mesmo? Ao longo de sua vida, enquanto estudante, deve ter enfrentado diversos desafios em algumas disciplinas, pois, com poucas exceções, sempre teremos dificuldade em algum tema, assunto ou, mesmo, matéria no geral, certo? Sempre que o ano se inicia, você sabe que precisará passar por um conjunto de provas e trabalhos, aplicados bimestral, trimestral ou semestralmente, correto? Sua preocupação com tais atividades é que elas demandam uma nota mínima para garantir que você passe para a próxima etapa, ou seja, o próximo ano.
A cada novo bimestre (ou qualquer que seja a divisão do ano estudantil em sua escola), você vai somando e verificando o quanto “falta”, em termos de nota, para passar de ano (ou o quanto você, ainda, pode faltar para não reprovar por faltas). Supondo que a nota para passar seja 7,0, então, se em um bimestre sua média ficou abaixo disso, no próximo, você deve correr atrás do “prejuízo” e recuperar o valor, correto? Você só saberá quanto falta ao analisar o quanto já teve no passado. Da mesma forma, ao analisar um boletim bimestral, você é capaz de saber em quais matérias tem mais dificuldade e em quais tem mais facilidade, sabendo que, para as mais difíceis, se for o caso, você pode dedicar mais tempo de estudo.
Essa sua realidade estudantil não difere muito da empresarial, sendo que a principal diferença é o objetivo a ser obtido, para você, é preciso nota, para passar de ano, e, para a empresa, dinheiro, para pagar todos seus custos e sobrar algo (lucro). Assim como você, uma empresa deve fazer o acompanhamento mensal (até diário) de suas contas (o quanto entrou, o quanto saiu, o que tem no momento no caixa, quanto deve pagar aos fornecedores, qual dia o cheque cairá na conta, até que dia o salário dos funcionários tem que ser pago etc.). Para fazer esse acompanhamento, as empresas utilizam as chamadas técnicas para análise das demonstrações contábeis, que mostram justamente como estão as contas da empresa, seja em um momento no tempo, seja em comparação com um período base.
O case da lição será um exemplo, hipotético, sobre o que as empresas enfrentam em termos de controle do grande fluxo de informações que elas precisam gerenciar. Analisemos a Tabela 1, a seguir, que mostra um balanço patrimonial da empresa Tecnológica LTDA. de determinado período:
Veja que o balanço patrimonial traz informações gerais sobre o resultado da empresa e que, como já aprendemos, o total do ativo terá um valor igual ao total do passivo (lembra o motivo?). O que você pode dizer da situação dessa empresa analisando apenas a Tabela 1? Ela está muito endividada? Qual o percentual do patrimônio que está aplicado em imóveis e em empréstimo? Se a empresa precisar pagar uma conta não esperada à vista, ela teria caixa para isso?
Podemos dizer que quase 27% do ativo da empresa está em dinheiro, mas 27% também está em imóveis, ou seja, algo que não pode ser rapidamente convertido em dinheiro, ao menos, não no valor adquirido. A empresa tem mais de 50% de suas receitas destinadas a pagamentos de salários. As ferramentas que aprenderá, especialmente a análise vertical, fornecerão a você o conhecimento necessário para fazer essas e outras avaliações sobre o balanço patrimonial.
Em nossas últimas lições, abordamos a importância da contabilidade para a administração financeira e orçamentária, aprendemos sobre os demonstrativos contábeis bem como sua importância para a empresa e utilização e as regras para serem aplicados. No entanto uma coisa é conhecermos as metodologias utilizadas, como o Balanço Patrimonial e o Demonstrativo de Resultados do Exercício, e outra bem diferente é compreender, corretamente, como as análises contábeis são realizadas e essenciais para o processo de decisão da empresa. De acordo com Silva (2010), o processo de obtenção de informações ocorre em algumas etapas, sendo elas:
Coleta: momento em que são obtidas as demonstrações contábeis.
Conferência: ocorre uma análise prévia dos dados com objetivo de ter a certeza de que são informações não fraudadas, ou seja, que não são informações enganosas.
Preparo: processo de ajuste das demonstrações contábeis de acordo com o propósito a ser avaliado.
Processamento: momento em que as técnicas de análise são aplicadas sobre as demonstrações contábeis.
Análise: parte em que se avalia, de forma detalhada, o obtido no momento do processamento, sendo necessário bom conhecimento e experiência na área e domínio sobre as técnicas de análise (tema dessa e das próximas lições).
Conclusão: fase em que se obtém um parecer técnico do analista indicando as principais recomendações para a empresa, em termos de continuidade ou mudança das práticas adotadas.
Ao se falar sobre as técnicas de análise dos demonstrativos contábeis, duas se destacam, sendo elas: a análise vertical e a análise horizontal. Nesta lição, aprenderemos um pouco mais sobre cada uma para, em lições futuras, aplicarmos cada uma delas. Dessa forma, obteremos o máximo de aproveitamento desses indicadores, que, como mencionamos anteriormente, são de vital importância nas etapas de processamento, análise e conclusão.
Antes de começar a explicar sobre esse indicador, o que vem à sua mente ao ouvir a palavra “vertical”? Talvez, uma linha “em pé”, uma coluna de uma casa ou, até mesmo, uma trave de gol seja uma forma de pensar em algo vertical, certo? Gostaria que você mantivesse essa mesma ideia para o conteúdo que estamos aprendendo, pois a ideia é similar. Quando falamos em análise vertical, estamos analisando um conjunto de elementos que estão “em pé”, ou seja, uma espécie de lista de itens, como indicado no Quadro 1, a seguir.
Como pode ser visto no Quadro 1, a primeira coluna indica as variáveis que farão parte de nossa análise, como o item que faz parte do ativo ou do passivo, a estrutura de receitas e descontos da DRE etc. Na segunda coluna do Quadro 1, está a participação de cada uma das variáveis no total, ou, como no quadro, resultado das variáveis. Essa participação é dada em percentual, indicando o quanto cada variável representa do total. Para ser mais conceitual, dado que você já é quase um(a) administrador(a) financeiro(a) e orçamentário(a) e já está começando a se acostumar com termos mais técnicos, de acordo com Assaf Neto (2012), o objetivo de uma análise vertical é indicar qual é o percentual de participação de uma conta em relação ao total do seu grupo, mostrando, assim, o quanto ela representa do total.
Pensando em um balanço patrimonial (se tiver dúvidas, dê uma olhadinha na lição passada), o total do ativo e do passivo serve como referência e, na análise vertical, o que será analisado é o quanto cada subconta do ativo ou do passivo representa dele. Por exemplo, na conta ativo, existe a subconta “caixa”. Se esse valor da conta caixa (valores apenas hipotéticos) for de R$ 10.000, e o total do ativo for R$ 100.000,00, a conta caixa representará 10% do total do ativo (basta dividir os dez mil pelos cem mil).
Da mesma forma que fizemos na análise vertical, faremos agora: o que vem à sua mente quando pensa em algo horizontal, ou na horizontal? Algo “deitado” ou as linhas de um caderno, talvez? A ideia aqui é similar em termos de “espacialidade”, ou seja, um analista, ao realizar uma análise horizontal, está olhando, de fato, na horizontal.
Na análise vertical, a intenção era avaliar a participação de uma subconta em comparação ao total, como o caso do percentual do valor da conta caixa no total do ativo da empresa (lembre-se, qualquer dificuldade com termos relacionados ao balanço patrimonial, dê uma olhada na lição passada), e, na análise horizontal, por sua vez, o propósito é avaliar como cada subconta tem se comportado ao longo de um período, podendo ser meses, bimestres, trimestres, semestres ou anos.
Novamente, sendo mais preciso em termos conceituais, a análise horizontal tem como propósito indicar qual tem sido o comportamento temporal dos elementos patrimoniais ou do exercício de uma empresa em dado período para avaliar seu desempenho (ASSAF NETO, 2012). Para ficar mais claro o que estamos tentando dizer, dê uma olhada no Quadro 2, a seguir.
No caso do Quadro 2, veja que o mês 1 (segunda coluna) é o mês de referência, ou base. Sendo ele a base de comparação, então, o percentual de cada subconta será comparado ao seu valor. Voltando ao exemplo da análise vertical aplicada ao ativo, consideraremos que, no mês 1, a empresa tenha um ativo total de R$ 100.000,00 e um caixa de R$ 10.000,00, no mês 2, um ativo total de R$ 120.000,00 e um caixa de R$ 60.000,00 e, no mês 3, um ativo total de R$ 50.000 e um caixa de R$ 10.000,00.
Veja que, no primeiro mês, o caixa representava 10% do total de ativos (dez mil dividido por cem mil), no segundo, 50% (sessenta mil dividido por cento e vinte mil) e, no terceiro mês, 20% (dez mil dividido por cinquenta mil). Veja que, ao longo de um período de três meses, o caixa passou de 10 para 50% e, depois, para 20%. Por meio dessa informação, o gestor da empresa pode se organizar para compreender por qual razão isso ocorreu, se por um grande recebimento de vendas a prazo, aumento no prazo de pagamento aos fornecedores etc.
Veja que, como, na análise vertical, é preciso estabelecer um período de referência, como, talvez, o primeiro mês da empresa, o primeiro semestre, o primeiro ano, ou qualquer um desejado por quem for realizar a análise. Dessa forma, o período-base será a referência. No entanto, de acordo com Assaf Neto (2012), a escolha do ano-base pode ser fixa ou não, podendo ser o período imediatamente anterior ao em análise.
Por exemplo, uma empresa que começou suas atividades no mês de março pode tomar como referência esse mês em toda análise que fizer, um período de referência fixo, ou pode ir ajustando mensalmente, de forma que a referência de maio não seja março, mas, sim, abril. A vantagem dessa segunda opção é ela permite uma análise mais dinâmica, pois, ao invés de comparar apenas com um único período, você pode ir comparando período a período.
Por meio da presente lição, espero que tenha compreendido a importância da contabilidade e suas demonstrações contábeis bem como as técnicas de análise de tais demonstrações, para o profissional da administração financeira e orçamentária. Por meio da contabilidade, uma empresa é capaz de obter formas de quantificar, de mensurar, como anda sua situação patrimonial e financeira. Com base nas informações vindas da contabilidade, o profissional que atua como analista financeiro de uma empresa é capaz de gerar diagnósticos, assim como um médico para seu paciente, sobre o atual estado da empresa bem como o direcionamento do que pode estar sendo corrigido ou fomentado.
Espero que tenha se empolgado com o conteúdo da lição, pois o desenvolveremos melhor nas próximas, e isso porque agora, de fato, estamos analisando, de forma prática, ainda que com valores hipotéticos, a realidade de um profissional que atua na área da gestão financeira e orçamentária. Para termos certeza de que absorveu o necessário para que possamos avançar no conteúdo, voltemos à Tabela 1, apresentada na seção case.
No momento da leitura do case, apresentei a você a empresa Tecnologia LTDA. e seu balanço patrimonial. Agora, desafio você e seus colegas de sala a fazerem uma avaliação completa do balanço patrimonial. Nessa avaliação, vocês precisarão dizer o percentual do ativo total que as contas estoques e contas a receber representam e, do passivo total, qual a representatividade, em termos percentuais, do capital próprio e dos impostos. Realize as contas, compare com seus colegas e, com o obtido, tente fazer um diagnóstico da empresa. Boa sorte nesse desafio, jovem analista!
ASSAF NETO, A. Estrutura e análise de balanços: um enfoque econômico-financeiro. São Paulo: Atlas, 2012.