Olá, aluno(a), você deve ter notado que estamos caminhando com grandes passos em direção a um conhecimento básico, mas essencial, sobre a análise da viabilidade de investimento, temas das últimas lições da disciplina de Administração Financeira e Orçamentária.
Na presente lição, ainda continuando nesta jornada, o que faremos será algo um pouco diferente das demais lições. Até o presente momento, nosso foco de análise foi estudar ferramentas de análise que permitem comparar dois ou mais projetos de investimentos, seja pelo valor do fluxo de caixa descontado por eles gerados (VPL), seja pela taxa interna de retorno (TIR) e sua comparação com a taxa mínima de atratividade (TMA) que os investidores possuem.
Se você, porém, é um(a) aluno(a) curioso(a), deve ter feito o seguinte questionamento: ok, nós aprendemos que, se o VPL for positivo, temos um bom investimento e, se a TIR do investimento for maior que a TMA, a mesma conclusão. Mas e quanto ao tempo desse retorno? Vale a pena fazer um investimento que tenha um bom VPL e TIR, mas demorar 20 anos para se pagar? Sim ou não? A resposta é não! Mesmo que haja exceções (como os investimentos realizados pelo setor público, que, por serem públicos, não objetivam, em último caso, os lucros, mas, sim, um retorno à sociedade), se um investimento demorar muito para retornar ao investidor, ele não será bom.
Dessa forma, para complementar nossas análises sobre a viabilidade de um investimento, temos que ter alguma forma de verificar o tempo que demorará para o investimento se pagar, ou seja, o tempo necessário para o valor inicial gasto voltar para o bolso de quem fez o investimento. Para isso, emprega-se a análise de payback simples e payback descontado, que, em essência, mostrarão quanto tempo leva para o valor de um investimento retornar a seu investidor.
A diferença entre a metodologia simples e a descontada é que a primeira não leva em consideração o valor do dinheiro no tempo, enquanto a segunda sim. A partir dos resultados do payback, é possível dizer, com alguma precisão, a partir de qual momento o investimento se tornou autônomo do investimento inicial, ou seja, em que momento o investimento começa a “andar com as próprias pernas”. Ficou curioso(a)? Então, venha conosco nesta lição!
A pessoa que possui algum recurso, como capital financeiro (dinheiro), pode emprestar esse recurso para alguém. No entanto, ao realizar esse empréstimo, o proprietário está, de forma direta, privando-se desse recurso enquanto durar o prazo do empréstimo, que, somente, voltará à sua posse quando este for quitado. O termo posse, aqui, indica que o indivíduo é o dono do recurso e que a posse, tanto antes como depois do empréstimo, garante que o recurso não sofra nenhuma mudança em suas características.
Em outras palavras, se você emprestar dinheiro ou se uma empresa fizer um investimento com seus recursos, o esperado é que esse investimento retorne para seus donos preservando suas propriedades (como estamos falando de dinheiro, que ele retorne na forma de dinheiro). No entanto já vimos que um dos fatores que afetam o risco de um investimento é o tempo, pois, quanto maior for o seu prazo, mais arriscado ele será, pois o tomador do empréstimo pode não pagar, ou, como um investimento está sujeito a diversos fatores, principalmente os econômicos, quanto maior for o horizonte de tempo do investimento, menor é a certeza de que ele terá um retorno positivo ou, mesmo, retornará.
Por essa razão, avaliar o prazo em que um investimento apresentará um retorno positivo ou negativo é essencial para os estudos sobre viabilidade de projetos. Voltando ao nosso exemplo do empréstimo de R$ 100,00, imagine que um amigo lhe peça emprestado esse valor e lhe promete pagar um juros de R$ 100,00 (ou seja, 100% de ganho), mas, somente, daqui a 20 anos. Você aceitaria essa proposta? E se outro colega lhe pedir esses mesmos R$ 100,00, pagando um juros de R$ 25,00 (25% de taxa de juros), mas dentro de um mês? E agora? Você toparia essa segunda condição?
Ter uma forma de mensurar o tempo de retorno de um investimento faz com que a análise seja mais robusta, simplesmente, por indicar que não é suficiente ter um VPL positivo ou uma TIR maior que a TMA, é preciso que esse dinheiro aplicado retorne, no menor tempo possível, ao investidor. Como uma reflexão para você, aluno(a), que já tem uma noção básica sobre administração financeira e análise de projetos, entre um bom retorno, mas com prazo, relativamente, grande para que ele ocorra, e um retorno baixo, mas que se realizará em pouco tempo, qual seria sua escolha? E em termos de decisão de uma empresa, qual opção você escolheria?
Como estamos aprendendo sobre uma temática de ampla aplicação, na vida real, por profissionais que trabalham na área da gestão, nada mais apropriado do que vermos um case no qual foi aplicada a metodologia de payback.
Vamos ler a matéria “Copasa investe R $200 milhões em saneamento neste primeiro semestre”, noticiada no dia 3 de maio de 2022. Na matéria, é indicado que existem diversos desafios, em função da nova legislação, em relação ao setor de saneamento no Brasil, de forma que a Companhia de Saneamento de Minas Gerais, ou Copasa, ampliou o montante de investimentos em sistemas de abastecimento de água e esgoto e fez melhorias operacionais. No primeiro trimestre de 2022, ela fez um investimento de R$ 200,7 milhões, enquanto, no mesmo período do ano passado, esses valores chegaram a R$ 141,4 milhões, um aumento de 42% (AGÊNCIA MINAS, 2022).
O valor representa 14% do programa total de investimentos aprovado para 2022, que se aproxima de R$ 1,4 bilhão. Importante destacar que, no primeiro trimestre, a quantidade de obras é menor do que em outros meses, por causa das chuvas e, no caso específico de 2022, por grande parte do estado ter sido atingido por fortes chuvas que causaram enchentes e danos a centenas de municípios. O número de empregados, na controladora, teve redução de 10,8%, nos últimos 12 meses, em grande parte pelo Programa de Desligamento Voluntário Incentivado (PDVI), que possui uma previsão de payback inferior a um ano, permitindo uma economia mensal de, aproximadamente, R$ 14 milhões. A companhia, também, registrou crescimento no número de economias de água, atingindo 5,54 milhões, até março de 2022, e o esgoto atingiu 3,91 milhões de economias (AGÊNCIA MINAS, 2022).
Pela matéria analisada, o que fica evidente é que todo investimento realizado pela COPASA leva em consideração um conjunto de diversos fatores, dentre eles, comparações temporais de valores, de retorno e de quais áreas serão impactadas, direta e indiretamente, por tais investimentos. Veja que a Copasa levou em consideração, também, o tempo de retorno dos investimentos, que, como indicado, era inferior a um ano. Mas como esse cálculo foi feito? Como sabia que o valor retornaria em menos de um ano? É isso que aprenderemos na lição de hoje.
Olá, aluno(a), estamos finalizando essa primeira etapa da disciplina de Administração Financeira e Orçamentária e, agora, aprenderemos duas outras ferramentas de análise sobre a viabilidade de um investimento, que são o payback simples e o payback descontado. No entanto, assim como nas demais lições, alguns conceitos são importantes. Primeiramente, temos que ter em mente que os investimentos, normalmente, são analisados por, pelo menos, três critérios, sendo eles:
Valores aplicados: indicarão o quanto se aplica em um investimento e qual o valor potencial esperado a se receber, com a metodologia do valor presente líquido utilizado nesta análise.
Taxas de retorno: são utilizadas para se obter o retorno mínimo esperado por um investimento, sendo a metodologia da taxa interna de retorno a mais comum a ser empregada nesse tipo de avaliação.
Prazos: indicarão o tempo mínimo de retorno para o investimento. Para essa análise, são empregadas as metodologias de payback simples e descontado.
Na presente lição, fecharemos esse ciclo de análises aprendendo as metodologias que são utilizadas para medir o tempo de retorno de um investimento ao seu investidor. É importante, também, destacar que existem, nessas metodologias de análise de investimento, duas grandes distinções, as metodologias exatas e as não exatas. A principal característica das metodologias exatas é que elas consideram todo o período do investimento, como o VPL e a TIR, e indicam o mesmo resultado em termos de análise, ou seja, se o VPL indicar que determinado projeto é um bom investimento, a TIR fará o mesmo apontamento, levando à mesma conclusão, não sendo possível que o VPL indique um investimento e a TIR, outro (ROSS et al., 2013).
As metodologias não exatas, ao contrário das exatas, não consideram todo o período do investimento, como é o caso do payback, pois o que importa não é a totalidade do prazo do investimento, mas, somente, o momento em que o dinheiro investido voltou para o investidor (PUCCINI, 2011). Dito isso, vamos aprender mais formas de se dizer se um investimento é bom ou ruim? Se sua resposta foi sim, antes, faremos, como nas lições passadas, uma ilustração, para que isso fique mais próximo de sua realidade.
Uma grande empresa tem a intenção de abrir uma filial, mas está em dúvida se investe na construção dessa filial na sua cidade ou na vizinha. Como é uma grande empresa, ela contrata analistas que dirão qual cidade tem maior potencial de retorno, ou seja, qual garantirá que o dinheiro investido tenha um bom retorno. Os analistas, ao analisarem as duas cidades, perceberam que ambas possuem um VPL maior do que zero, sendo a diferença muito pequena entre elas. Da mesma forma, ao compararem a TIR do investimento com outras alternativas de negócio, viram que, novamente, vale a pena o investimento nas duas cidades.
Diante desse cenário, o que pode influenciar a empresa a decidir entre a sua cidade e a vizinha? Pense um pouco como um(a) auxiliar de administração, que possui conhecimentos sobre administração financeira e orçamentária. Talvez, você tenha pensado no fator mão de obra ou, quem sabe, na distância entre a cidade e as demais, o que pode prejudicar o acesso a um maior mercado consumidor ou a fornecedores. No entanto, dentro do objetivo do tema que temos estudado ao longo das últimas lições, temos que ter, como foco de análise, a questão da viabilidade do projeto em termos de retorno, pois, considerando que, nas duas cidades, o VPL e a TIR indicaram resultados similares, o que influenciará a escolha será o tempo de retorno do investimento.
Recorreremos ao exemplo dos R$ 100,00 que você pode emprestar para três pessoas distintas. Se cada indivíduo puder lhe pagar 9%, 9,2% e 9,5% (ou seja, taxas de retorno muito parecidas), o que influenciará sua decisão é o tempo que cada um promete devolver seu dinheiro com os juros. Suponha que o primeiro possa lhe pagar em um mês, o segundo, em dois meses, e o terceiro, em três meses. Para qual dos três você emprestaria? A resposta dependerá de sua necessidade de dinheiro. Para o primeiro emprestador, você terá R$ 109,00 em um mês; para o segundo, terá R$ 109,20 (20 centavos a mais que o primeiro), mas somente após dois meses; e, para o terceiro, você terá R$ 109,50, mas só em três meses.
Para taxas de retorno muito distintas, o valor do retorno por si só é um fator que influencia a decisão, mas, para taxas muito próximas, um fator de decisão de grande importância será o tempo que esse dinheiro retornará ao investir, e este é o tema de nossa lição, aprender duas metodologias que apontarão justamente isso, o payback simples e o payback descontado.
O payback, em seu formato simples, permite avaliar o tempo de retorno de um investimento, em outras palavras, a partir de qual momento o dinheiro investido retornará ao bolso do investidor (lembrando que, como já indicado, essa é uma metodologia não exata).
Todo investimento demanda uma retirada inicial de recursos por parte do investidor, que é justamente o valor aplicado por ele no início do projeto. Suponha que a empresa que queira abrir uma filial, em sua cidade ou na vizinha, desembolse um valor de R$ 1.000.000,00. Após quanto tempo, realizado o investimento, o dinheiro retornará ao investidor se este aplicar em sua cidade? E quanto tempo demorará se investir na cidade vizinha?
Se, na sua cidade, o dinheiro retornar mais rápido, provavelmente, a empresa optará por ela, mas, se ele retornar mais rápido na vizinha, então, será ela o destino do investimento. Mas como se calcula isso? Inicialmente, para você compreender a questão dos fluxos de caixa gerados, analise a Figura 1, a seguir:
Veja que, no fluxo (a), a aplicação inicial gera um fluxo de caixa de valores iguais, ou seja, em cada período que compõe o fluxo (meses, trimestres, anos), o valor é igual. Já no fluxo do investimento (b), o investimento inicial gera um fluxo de caixa descontínuo, isto é, em cada período, o valor é diferente. Em termos práticos, o fluxo (a) indica que um investimento inicial gerará, ao longo de 12 meses, um retorno de R$ 5.000,00 em cada um dos meses, enquanto o fluxo (b) indica que um investimento inicial gerará, ao longo de 12 meses, um retorno diferente, por exemplo: no primeiro mês, o retorno será de R$ 4.500,00; no segundo, R$ 5.000,00; no terceiro, R$ 2.500,00, e assim sucessivamente.
Como calcular, então, o tempo de retorno do investimento? Imaginemos que a empresa que queira abrir uma filial aplique os R$ 1.000.000,00 na sua cidade (cidade A) e na cidade vizinha (cidade B). Assim, podemos observar, no Quadro 1, o retorno do investimento na cidade A (segunda coluna do quadro) e o retorno do investimento na cidade B (terceira coluna do quadro):
Veja, no Quadro 1, que o investimento na cidade A gera um fluxo de caixa de R$ 250.000,00 (segunda coluna do quadro) e o investimento na cidade B, um fluxo de R$ 200.000,00 (quarta coluna do quadro). A terceira coluna (Quadro 1), por sua vez, apresenta que o investimento na cidade A, no primeiro ano, gera um retorno de R$ 250.000,00 (valor que voltará ao investidor), de modo que, dos R$ 1.000.000,00 investidos, falta recuperar apenas R$ 750.000,00, pois os R$ 250.000,00 já foram recuperados. No quarto ano, o investimento inicial se pagou, pois, em cada ano (1º, 2º, 3º e 4º), gerou-se um fluxo de caixa de R$ 250.000,00, ou seja, gerou-se o mesmo valor do investimento inicial, de modo que, após esse período, o dinheiro retornou ao proprietário.
A quinta coluna (Quadro 1) apresenta que o investimento na cidade B, no primeiro ano, gera um retorno de R$ 200.000,00 (valor que voltará ao investidor), de modo que, dos R$ 1.000.000,00 investidos, falta recuperar apenas R$ 800.000,00, pois os R$ 200.000,00 já foram recuperados. No quinto ano, o investimento inicial se pagou, pois, em cada ano (1º, 2º, 3º, 4º e 5º), gerou-se um fluxo caixa de R$ 200.000,00, ou seja, gerou-se o mesmo valor do investimento inicial, de modo que, após esse período, o dinheiro retornou ao proprietário.
Veja, então, que o investimento na cidade A voltou mais cedo para o investidor, assim, será ela a cidade escolhida. Essa é a análise do payback simples. No entanto, como aprendemos, temos que considerar o valor do dinheiro no tempo, para isso, então, utilizamos a metodologia de desconto do valor de cada fluxo. Dessa forma, por meio da fórmula do VPL (que já aprendemos em lições passadas), obteremos, assim, o payback descontado, que tem a mesma interpretação do payback simples, mas traz os fluxos de caixa a valores presentes (PUCCINI, 2011).
Utilizando o mesmo exemplo anterior, em que o investimento inicial de uma empresa é de R$ 1.000.0000,00 e que o retorno dele na cidade A é de R$ 250.000,00 e, na cidade B, 200.000,00, em seis anos, consideraremos que a taxa mínima de atratividade seja de 10%. Dessa forma, veja os valores descontados no Quadro 2, a seguir:
Veja que, agora, fazendo o desconto de cada fluxo, ou seja, dividindo cada período do fluxo pela taxa de 10% elevado ao período, como é feito no VPL, o investimento na cidade B não retornou após seis anos, pois, passado esse tempo, ainda, é necessário recuperar R$ 128.947,86 dos R$ 1.000.000,00 investidos. Em relação ao investimento na cidade A, o tempo de retorno passou de quatro anos (análise do payback simples) para um pouco mais de cinco (para ser mais específico, 5 anos, 4 meses e 13 dias).
Não se preocupe em compreender a precisão do tempo de retorno (5 anos, 4 meses e 13 dias), apenas entenda que, ao trazer os fluxos de caixa a valores presentes, o tempo de retorno do dinheiro investido aumenta, ou seja, o prazo de retorno indicado pelo payback descontado sempre será maior do que o apresentado pelo payback simples.
Na presente lição, aprendemos uma parte importante dos estudos sobre viabilidade de investimentos, que é o tempo de retorno de um investimento. As metodologias aprendidas nas lições passadas são importantes, pois identificam um bom e um mal investimento, porém elas, sozinhas, não são suficientes, pois é necessário considerar o tempo de retorno desse dinheiro aplicado, motivo pelo qual se aplica a metodologia de payback simples e payback descontado.
O payback simples não leva em consideração o valor do dinheiro no tempo, apenas reduz do investimento inicial as entradas dos fluxos de caixa. O payback descontado, por sua vez, tem o mesmo objetivo do payback simples, mas considera que é necessário estabelecer uma taxa de desconto aos fluxos de caixa (parcelas) gerados pelo investimento. O importante, aqui, é você entender que o investimento que apresentar menor tempo de retorno (menor payback) tende a ser a melhor opção de investimento, contanto que passe na avaliação do VPL e da TIR. Como exercício de fixação, vamos considerar a mesma tabela da lição anterior, mas, agora, inseriremos o payback descontado.
Como você já sabe, a TIR deve ser avaliada em relação a ser maior, menor ou igual à TMA, e o melhor investimento deve ser avaliado em relação a apresentar menor tempo de retorno. Dessa forma, dadas as características de cada investimento, na sua opinião, qual é o melhor, A, B, C, D ou E? Aponte com um X o investimento que julga ser melhor e discuta sua escolha com seus colegas de sala.
AGÊNCIA MINAS. Copasa investe R $200 milhões em saneamento neste primeiro semestre. Agência Minas, 3 maio 2022. Disponível em: https://www.agenciaminas.mg.gov.br/noticia/copasa-investe-r-200-milhoes-em-saneamento-neste-primeiro-semestre. Acesso em: 26 ago. 2023.
PUCCINI, A. Matemática financeira objetiva e aplicada. São Paulo: Elsevier Brasil, 2011.
ROSS, S. et al. Fundamentos de administração financeira. Porto alegre: Bookman, 2013.