Olá, estudante! Na presente lição vamos dar continuidade às lições passadas; contudo, nesse momento, todo nosso tempo será dedicado a apenas uma coisa: calcular e interpretar análise vertical!
Em aulas anteriores, o que fizemos foi construir com vocês, aos poucos, o conhecimento sobre contabilidade, especificamente sobre demonstrativos contábeis, com a intenção de chegar em um momento em que poderíamos aplicar as análises que são fundamentais para a administração financeira e orçamentária.
Na lição de hoje nosso foco será apresentar de forma prática como é realizada uma análise vertical em um balanço patrimonial. Um balanço patrimonial traz a situação patrimonial da empresa e é dividido em três grandes contas: o ativo, o passivo e o patrimônio líquido, sendo que cada uma dessas contas possui um conjunto de outras contas, como caixa, contas a receber, estoque, imobilizado, no ativo; e salários, contas a pagar, empréstimos, no passivo.
Como um gestor de empresa sabe o quanto de seu patrimônio está destinado em estoque, o quanto ele tem de dívida em relação ao seu caixa, quanto ele tem para receber de vendas a prazo que fez e, o mais importante, qual a atual situação da empresa? Será que ela tem muitas dívidas de curto prazo e poucas fontes de receitas de curto prazo? Ela é capaz de bancar uma emergência financeira, como um acidente ou um desastre natural, com o dinheiro que tem em caixa, ou tem que se endividar mais?
Então, após essa lição, você estará apto a aplicar a análise vertical, não somente em balanços patrimoniais, mas também em qualquer tipo de demonstrativo contábil que permita tal avaliação, como o demonstrativo do resultado do exercício. Além disso, você será capaz de identificar a distribuição das contas de uma empresa e poderá apontar possíveis falhas, ou acertos, o que lhe permitirá, em sua vida futura como profissional da área, realizar diagnósticos e planos de ação para a empresa.
Pense no seguinte cenário: você precisa identificar quais as disciplinas que você está com as maiores e também com as menores notas, pois quer se preparar para os próximos bimestres para ter a certeza de que passar de ano não será um problema.
Como você faria isso? Provavelmente olharia seu boletim passado e faria uma análise destacando, talvez com uma caneta vermelha, as matérias em que as notas foram baixas; as notas próximas da média destacaria de amarelo; e, para notas altas, de verde.
Agora vamos mudar o ambiente: você é dono de um galpão em que há diversos espaços comerciais que você aluga para empresários que trabalham com diferentes produtos. Quanto maior for o espaço do salão do seu galpão, maior é o aluguel. Sua renda mensal com aluguéis é de R$ 50.000,00. No entanto, você não negocia diretamente com os empresários, pois tem um assistente que recolhe o aluguel dos inquilinos. Em determinado momento, você como dono do galpão gostaria de saber quanto cada empresa contribui para o valor de R$ 50.000,00 que recebe mensalmente, pois se forem poucos empresários, talvez valha a pena investir em marketing para aumentar o número de salas comerciais para aluguel, para não ficar “na mão” de poucos, correto?
Novamente a pergunta: como você faria isso? Se você leu e entendeu a lição passada, talvez o que você faria seria dividir o valor do aluguel de cada empresa pelo total que recebe, pois assim teria o percentual de participação de cada um.
Por mais distante que o segundo cenário seja da sua realidade, acreditamos que o primeiro faz parte da sua vida (ao menos no fim de cada bimestre) e, por isso, os dois trazem, no fundo, a mesma ideia, a de avaliação da situação atual. Avaliar o cenário atual de algo, seja nota escolar, contas da casa, valor do aluguel, faturamento, lucro, despesas etc., é algo comum na vida das pessoas e, mais ainda, no dia a dia das empresas. Saber quanto da receita vai para as contas, quanto do valor destinado à conta é de custos fixos e variáveis, entre outras avaliações, pode ser um diferencial que garantirá a manutenção das atividades de uma empresa.
Por essa razão, entender o cálculo da análise vertical, bem como sua interpretação, é uma exigência para o profissional que quer atuar na gestão de empresas, principalmente na área de finanças, razão pela qual a nossa presente lição é voltada para esse conteúdo.
Como nosso objetivo é aprender a fazer uma análise vertical, vamos ver o balanço patrimonial de uma empresa hipotética, a Administradores SA, presente na Tabela 1 a seguir, que será analisada com mais detalhes ao longo da lição.
A partir do balanço patrimonial da empresa, o que você pode dizer sobre a sua condição? Ela está correndo algum risco de caixa? Será que as suas dívidas são uma preocupação de curto prazo ou ela pode aumentar seus gastos com empréstimos para financiar a compra de um novo equipamento?
Apenas por meio da Tabela 1, sem fazer nenhuma alteração ou aplicar nenhum tipo de método de análise, você é capaz de responder as perguntas feitas anteriormente? Ainda que sejam valores hipotéticos, a estrutura do patrimônio não difere de um real, e as perguntas apresentadas são umas das mais frequentes que profissionais da área da gestão financeira respondem em seus relatórios.
Em lições passadas temos dado ênfase na importância da contabilidade para o administrador financeiro e orçamentário, principalmente em função das informações que podem ser obtidas a partir dos demonstrativos contábeis.
Começamos a desenvolver na lição passada as técnicas para análise de tais demonstrações, a saber, análise vertical e horizontal, em que aprendemos o conceito por trás de cada indicador. O que vamos fazer na lição 12 de nossa disciplina é aprofundar nosso conhecimento sobre como utilizar corretamente a análise vertical, aprendendo corretamente como calcular e como interpretar para, dessa forma, sermos capazes de gerar bons relatórios.
Sabemos que na análise vertical se realiza uma comparação do percentual de cada subconta (ou de um grupo de subcontas) de um demonstrativo contábil, normalmente balanço patrimonial de demonstrativo do resultado do exercício, em relação ao valor do grupo ou do total (por exemplo, o percentual de cada conta do ativo circulante em relação ao total do ativo circulante ou o percentual de uma conta do ativo circulante em relação ao ativo total).
De acordo com Silva (2012), ao se utilizar a análise vertical, a intenção é revelar a participação de cada conta de um demonstrativo contábil em relação a uma conta de referência. Por esse motivo, aplicado a um balanço patrimonial, é comum se analisar o percentual do ativo total que está no caixa (dinheiro que a empresa possui), ou o percentual do caixa em relação ao ativo circulante. No entanto, mesmo sendo um indicador interessante do ponto de vista analítico, identificar a participação percentual mostrará uma “fotografia” da empresa em determinado momento, ou seja, será uma avaliação estática, parada.
Imagine que você queira analisar o seu desempenho nas disciplinas. Se você avaliar apenas um bimestre, ainda que tenha informações sobre sua condição (que esperamos ser muito boa) naquele bimestre, para passar de ano você precisa saber o resultado dos demais bimestres, seja para verificar o período anterior (bimestres passados) ou para definir o que precisará fazer em bimestres futuros.
Por essa razão, não basta a empresa saber o percentual do seu ativo que está em caixa, ou em imóveis, mas como esse percentual tem se comportado ao longo de um período, razão pela qual a análise vertical é realizada em conjunto com a horizontal (ASSAF NETO, 2012).
Esperamos que já tenha ficado claro que, em uma análise vertical, se compara o valor de uma conta em relação a outra de referência – ou de base –, para se saber a importância em relação à demonstração financeira que ela faz parte. Sem mais demoras, vamos colocar em prática esse conhecimento? Para isso, vamos por partes. Primeiro, observe a Tabela 2 a seguir – que é a mesma tabela apresentada no case –, que traz os valores do balanço patrimonial da empresa Administradores SA:
Veja que, por um princípio contábil, o total do ativo sempre será igual ao total do passivo. Como podemos aplicar a análise vertical no balanço patrimonial hipotético? Inicialmente, vamos avaliar primeiro o lado do ativo, como na Tabela 3.
Para fazer a análise vertical, basta dividir o valor da conta do ativo pelo ativo total (considerando que ativo total seja o valor de referência). Dessa forma, como todas as contas indicadas no ativo de nosso balanço patrimonial possuem R$ 5.000,00 de valor, então, ao dividir esse valor por R$ 20.000,00 obtemos a participação percentual de cada conta no total do ativo dessa empresa hipotética, que é de 25% (lembre-se de que 0,25 é a representação decimal, ao multiplicar por 100, se obtêm a representação percentual, motivo pelo qual o total do ativo dividido por ele mesmo é igual a 1, ou 100%).
No exemplo apresentado utilizamos como valor de referência, ou de base, o total do ativo, porém a depender do tipo de preocupação da empresa essa análise poderia ser feita considerando como base o total do ativo circulante, o que mudaria os percentuais e os tipos de análises que seriam obtidos.
O que poderíamos dizer da situação dessa empresa, considerando apenas a análise vertical das contas do ativo? Como já mencionado, o importante não é apenas saber fazer o cálculo, mas interpretar de acordo com a necessidade da empresa.
Em termos de análise, a conta caixa indica o valor monetário que a empresa tem de forma imediata, ou seja, se ocorrer algum problema que necessite que ela desembolse algo, 25% do seu ativo está nessa conta, um valor razoável (lembrando que o balanço patrimonial das Tabelas é apenas para exemplo, não representa um balanço real). Os outros 25% da empresa estão em contas a receber, ou seja, é dela, um direito, porém não se tem, de fato, esse valor.
Veja que, diferente da conta caixa, contas a receber são um bem da empresa, porém não em dinheiro “vivo”, ainda que, por pertencerem ao ativo circulante, podem se tornar dinheiro em um breve espaço de tempo (lembra de nossa definição de circulante e não circulante de aulas passadas?). Os outros 25% do ativo da empresa estão em estoque, ou seja, serão utilizados para a produção dos bens ou serviços que ela produz; e os outros 25% em imobilizado, ou seja, nos imóveis, como máquinas, equipamentos, prédios, barracões etc.
A proporção ideal de cada conta no total do ativo depende do tipo de empresa que está sendo analisada, visto que há empresas que possuem um grande percentual em estoque, ou imobilizado; e talvez pouco em caixa, mas muito em contas a receber. A tarefa do analista é indicar a representatividade de cada conta e mostrar a realidade da empresa para seus proprietários.
Da mesma forma que as contas do ativo, também faremos uma análise vertical nas contas do passivo, como apresentado na Tabela 4.
Da mesma forma, para realizar a análise vertical do passivo, basta dividir cada conta pelo valor de base, no caso o passivo total. Veja que a composição nesse caso ficou com 50% do passivo sendo destinado a pagamento de salários, e as demais contas, impostos, empréstimos e o capital próprio representavam 12,50%. Novamente, veja que é o valor de referência que vai indicar o que se está analisando (no caso apresentado, a composição do passivo total).
Novamente, veja que a composição das contas do passivo apenas indica a atual situação da empresa, cabendo ao analista identificar se tal configuração é boa ou ruim para a empresa e possíveis ações para corrigir problemas identificados.
Como já aprendemos, e novamente reforçamos a importância de aprender sobre conceitos mais básicos em lições passadas, o lado direito do balanço patrimonial pode ser representado como sendo o total de recursos da empresa cuja fonte de financiamento são os sócios (o capital próprio), e o total de recursos da empresa que são obtidos por meio de capital de terceiros (o passivo).
Quanto maior for o passivo em relação ao patrimônio líquido, maior é a participação de terceiros, que é o caso visto na Tabela 4, dado que 87,5% do total da empresa é de capital de terceiros (basta somar o percentual das contas do passivo, 50% + 12,5% + 12,5%+ 12,5% = 87,5%). Além disso, do total do passivo, 50% deste está nas contas salários, o que indica que das obrigações da empresa metade do seu patrimônio vai apenas para pagar os seus funcionários, e somente 37,50% (soma dos 12,50% de cada conta) está destinados a impostos, contas e empréstimos.
Olha que interessante, em nossa lição vimos um balanço patrimonial e fizemos análise vertical e horizontal. Ainda que com valores hipotéticos, a análise para empresas reais não é tão diferente do que fizemos, o que muda é que no balanço delas existem mais subcontas no ativo e no passivo da empresa.
Para concluirmos nossa lição sobre análise vertical, contamos com vocês para ajudar a empresa Administradores SA a resolver seu problema.
O balanço patrimonial que foi visto ao longo da lição representava o primeiro ano de atividade da empresa. Após a avaliação vertical realizada, ela tomou algumas ações para modificar sua composição patrimonial, chegando nos valores presentes na Tabela 5, a seguir:
Veja que houve algumas mudanças no balanço da empresa, sem alterar, no entanto, o valor do ativo e do passivo total. Sua tarefa é realizar as mesmas análises que foram feitas na parte conceitual da lição no novo balanço da empresa. Compare os resultados com seus colegas e debatam se a situação da empresa melhorou ou piorou. Boa análise patrimonial!
ASSAF NETO, A. Estrutura e análise de balanços: um enfoque econômico-financeiro. São Paulo: Atlas, 2012.
SILVA, J. P. Análise financeira das Empresas. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2012.