O Equilíbrio do Feminino na Modernidade
* Jéssica Amanda Morais Rodrigues
CRP 15/3944
O feminino na ancestralidade através de relatos tribais, seria a base de uma comunidade, aquele que gera, que organiza, que leva adiante seus costumes e crenças para novas gerações.
Elas usavam saberes passados de mães para filhas, tinha um cuidado com as necessidades femininas e seus ciclos, respeitando cada necessidade do seu corpo.
Assim como a proximidade de seus filhos e conciliação com seus afazeres sejam domésticos, artesanato ou de plantação, o qual poderia se configurar hoje como um trabalho que agrega na renda de casa semelhante um trabalho home office.
A sociedade foi “evoluindo” e as construções de pequenos feudos, que eram comunidades que tinham uma espécie de coronel e a comunidade mantinha uma hierarquia diferente. Aquelas mulheres que não tinham seus dinheiros trabalhavam para os senhores e senhoras, conciliando com seus lares e filhos. Nesta época, algumas senhoras mandavam seus filhos morarem com cuidadoras. A mulher não tinha voz, não tinha valor social, a não ser de ser esposa de alguém que tinha dinheiro ou não. Os ciclos eram respeitados por achar impuro o sangue.
Séculos mais tarde, com a manufatura as mulheres começaram a desenvolver a costura, a renda, assim como uso de ferramentas na agricultura aquelas que tinham que ajudar seus maridos. Existia ainda a criação de filhos numa certa rede comunitária, a mulher não tinha vez e nem voz social e muito menos suas necessidades de afetividade respeitada. Os escravos trabalham apenas pela comida, sejam homens ou mulheres, os quais não tinham mais titulação, eram livres e sem renda para se manter dignamente.
Na era industrial, como os homens foram para a guerra, já havia uma certa necessidade do sistema de introduzir as mulheres, e assim foram agregadas na indústria com seus filhos. Por ao menos no contexto histórico do Brasil, houve uma grande seca, a qual levou muitas famílias nordestinas para os grandes centros econômicos de industrialização. Essas pessoas, montaram as favelas e viviam de forma sub-humana, porque o que ganhavam não dava para viver adequadamente. Por esse motivo, como os filhos já ajudam nos campos, começaram a ser colocados nas fabricas, o feminino teve uma ruptura com saberes ancestrais por ser considerado inadequado para época e seus saberes científicos, a necessidade de descanso, de cuidar dos seus filhos em casa, foi substituído por necessidade da indústria de a mulher estar fora. A qual, ainda ganhava menos que o homem e eram colocadas em cargos feitos para mulher. Aqui a gente percebe um afastamento da mulher e suas necessidades de tempo para si, de respeito aos ciclos de cuidado com família (maridos e filhos), isso pela forma interna. Externamente era apenas uma mão de obra necessária e barata para o mercado. Por ter consciência de sua forma que vinham sendo tratadas e sem ter voz as mulheres vão para as ruas, através de sindicatos e apoios de direitos humanos, por ter uma participação adequada na sua vida profissional, ganhou alguns direitos humanos básicos e direito ao voto.
Será que evoluímos demais para caber na postura de mulher em seu resgate do feminino?
Hoje no pós modernismo vivemos numa sociedade saturada de opiniões, de direitos que não são efetivados, e de uma ideia de liberdade e conservadorismo que sufoca o feminino, seja com extremo de que sua liberdade não teria a necessidade de ter um lar estruturado, ou quer um lar estruturado não tem necessidade de organizar sua vida profissional. E nosso feminino podemos viver de que forma nesta estrutura? O respeito aos nossos ciclos, a necessidade de reconhecimento profissional? A necessidade de ter um lar? Como construir nosso feminino nesse contexto que não sabemos, se apenas o estilo de vida daria conta de abarcar tantas demandas enquanto pessoa que temos.
Somos mulheres com necessidades peculiares, com cargas hormonais peculiares, o que leva variações hormonais e necessidades sexuais, as quais são iguais as masculinas e em que lugar de discursão estamos nesse contexto atual?
Diante deste contexto, temos um papel de enquanto profissionais da saúde mental de defender um espaço de discursão para um espaço adequado do papel de equilíbrio para mulher.
Defender amor-próprio seria sinônimo de individualismo ou egoísmo, onde temos o dever de como mulheres, suprir as necessidades de terceiros e não as nossas, a começar pelas necessidades da primeira linha de apoio que seria a família inicial, a segunda família que é a real base da mulher pela escolha e direcionamento, logo ela sobrecarrega com expectativas de terceiros sobre cuidado de demandas que nem dela é.
Segundo Abbey e Garfinkel, a Síndrome da Fadiga Crônica (SFC), se inicia entre vinte e quarenta anos, mais entre mulheres do que em homens. Onde exaustão psicológica é entendido como esgotamento e cansaço no indivíduo como consequência do seu trabalho, é como o indivíduo esteja sendo superexigidos no trabalho, estando no seu limite de sua resistência.
Porque trazer esse dado? Porque ao escutar a mulher hoje, é um relato de sobrecarga, de ter que dar conta, de não poder contar ou contar o mínimo com outros.
Falar de autocuidado vem sendo um desafio, por espaços adequados, informações são consideradas tabus.
Falo que encontrar o seu equilíbrio, vai partir do pressuposto pessoal e do autoconhecimento.
A psicologia positiva é pautada no estudo das potencialidades do indivíduo e formas que o encoraje a busca do bem estar e felicidade. Entendendo o bem estar como aspectos materiais básicos atendidos e felicidade, por ser mais subjetiva como necessidades emocionais atendidas, como romance, espiritualidade.
Para Seligman, e sua teoria do bem estar, elencou 5 elementos que podem proporcionar bem estar. 1. Emoção Positiva; 2. Engajamento; 3. Desejo de sucesso profissional e a busca pela inserção no mercado de trabalho; 4. Realização e concretização de planos; Relações Interpessoais saudáveis.
Aqui volto a dicotomia entre realização pessoal de sucesso profissional da mulher, seu autoconhecimento e necessidade de romance. E vejo que a mulher não precisa mais abrir mão de um para com o outro, mas de se conhecer a ponto de saber gerenciar seu tempo para tais áreas, já que como qualquer ser humano necessita de ter essas necessidades atendidas e facilitadas por pessoas que lhe faça bem, por seu parceiro. Tirando da mulher a necessidade de para ter uma carreira ou filhos abdicar de outras áreas.
Observar suas necessidades com amor, sem julgamentos e nem culpas.
Respeitar seus limites pessoais (O que meu eu suporta, tendo como parâmetro o vivido e aquilo que quero construir.
Buscar um ciclo interpessoal que busque elevar o seu melhor.
Busca por momentos felizes hoje, mas não deixando suas ideias de futuro.
Referencial
Felicidade e Bem estar na visão da Psicologia Positiva, Bol. Acad. Paulista de Psicologia, São Paulo, Brasil - V. 37, no 93, p. 206-227. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/bapp/v37n93/v37n93a04.pdf, acessado em: 27 de Maio de 2024.
Diversos Nomes para o cansaço: Categorias Emergentes e sua Relação com o Mundo do Trabalho. Zorzanelli R, Vieira I, Russo JÁ. Interface. Comunicação Saúde Educação. 2016; 20(56):77-88. Disponível em: exaustao 1.pdf; Acessado em: 26 de Maio de 2024.
A mulher em sintonia com os seus ciclos se torna uma mulher em equilíbrio com sua feminilidade.