A morte e o processo de luto
* Jéssica Amanda Morais Rodrigues
CRP 15/3944
Costumamos relacionar a morte com o final de um ciclo de vida. Sempre pensamos que ainda teremos muito tempo à frente, e vamos deixando a vida para amanhã. Convido você a buscar imaginar o quanto é próximo a morte da vida.
Temos vários índices de mortes abruptas, seja por violências, seja por doença ou até mortes neonatais. Aqui no Brasil, segundo o censo do IBGE de 2022, de neonatais foram cerca de 1.284 ao ano declarada, de jovens entre 30 e 40 anos, 174 à 240. Mas seguimos imaginando que teremos nossos 75 anos, que é a média de vida. Essas pessoas tinham uma rede de apoio que sofreram com tal acontecimento. Ou até elas mesmas tinham grandes planos para sua vida.
Deixo uma reflexão a cerca dos nossos planos e sonhos e formas de viver a vida. Vamos imaginar que perdemos alguém e o que precisamos alinhar nossas vidas? O que passamos ao perder um filho que tanto sonhamos, ou perder um amigo ou familiar que tanto nos espelhamos?
Pois bem, aqui vamos falar de como lidar com a morte de forma que vivamos melhor nossos dias. A morte de um idoso em geral impacta menos do que um jovem que costumamos associar com muito futuro pela frente. Mas a morte é um final de ciclo para todos indescritivelmente.
O luto é uma reação ao sentimento de perda e uma organização de espacial e sentimental daquela pessoa que “fazia parte” de sua vida, mesmo que não seja de forma direta (cotidianamente), ou seja, indireta (apego sentimental, mesmo que distante fisicamente). Existe ainda a reorganização emocional, intelectual e social. Segundo Elizabeth Kibler-Ron fala sobre os estágios do luto, lembrando que não sofremos luto apenas diante de uma morte física, mas diante de rupturas, de alguns traumas. Elizabeth expôs cinco estágios do luto, entendendo-o como um processo a ser enfrentado após alguns momentos, os estágios previstos não são estáticos, assim como não necessariamente precisa seguir todos de forma pontual. Os estágios são: 1. Negação; 2. Raiva; 3. Barganha; 4. Depressão; 5. Aceitação.
Segundo Moura (2006): “em um primeiro momento ocorre o choque da notícia, seguida de uma negação ao ocorrido, como uma defesa, que a leva a não acreditar ou a não querer acreditar no que aconteceu, podendo vir a uma leve depressão, gerando uma ansiedade, uma culpa, até que o indivíduo consiga se reintegrar, se organizar e aceitar a viver novamente. (p. 13)
Como bem exposto, sofremos as fases do luto ao terminar um relacionamento que muito nos impactou, ou perder algo que gostávamos muito, ou até aquele emprego que foi sempre sonhado.
O enlutado passa pelo desafio cognitivo e emocional, isso desencadeia várias reações, como: estado depressivo, negação da situação e até idealização excessivamente da pessoa que se foi, como um deus.
Temos observado que o processo de luto é um dos maiores desafios ao equilíbrio do psiquismo e que, além disso, dependendo do tipo de perda, ou seja, mortes súbitas, precoces, violentas, perda de um filho, a elaboração pode se tornar mais complexa, com grandes possibilidades de um fracasso parcial deste trabalho. (MENDLOWICZ, 2000, p. 93-94)
Um dos fatores que conta bastante para o enlutado é a idealização de como a pessoa era ou seria no caso do neonato, do que poderiam viver juntos e o cruel sentimento de falta, questões essas que, ao serem trabalhadas vão se dissolvendo no nosso cotidiano
Parece um tanto deprimente nosso texto, mas há uma forma de viver após a perda de alguém. Para o pesquisador Daniel Gilbert, em Havard, descobriu que, em resposta a eventos traumáticos a difíceis, as pessoas conseguem superar de forma resiliente e melhor do que, tanto os terapeutas e cientistas esperavam, quanto elas mesmo imaginavam. Sabe aquele sentimento, ao perder um ente querido num acidente abrupto, que as pessoas pensam de que não vão conseguir mais viver e nem conseguir fazer suas coisas cotidianas? Pois bem, ao passar os meses percebem que a vida continua e deve ser vivida, e ao si permitir vão percebendo que, apesar da pessoa querida ter partido, elas estão no mesmo mundo e bem vivas, precisando reorganizar suas vidas para segui-las, esse conceito para psicologia é chamado de impermanência.
Com isso, por mais impactante que seja, ou que você não aceite os processos do luto, passará por eles, não de forma linear. Mas ao final, o que resta é a sua vida. Logo, lidar bem com a morte é saber viver bem. Ao passo que você tem a sensação que viveu bem, que deu todo seu amor aqueles que estavam ao seu lado, os quais existia uma reciprocidade não há tanto o que temer, vai sentir muito, mas ao esvaziar sua vida seguirá plena.
Por isso, além de terapia, a dica passada é para lidar bem com o luto atreva-se a viver.
Referências Bibliográficas
GOTTIILIEB, Lori. TALVEZ VOCÊ DEVA CONVERSAR COM ALGUÉM: UMA TERAPEUTA, O TERAPEUTA DELA E A VIDA DE TODOS NÓS. São Paulo: Vestígios, 2021.
MENDLOWICZ, E. (2000). O Luto e seus Destinos. Rio de Janeiro. Ágora, v. 3, n. 2. Disponível em <http://www.scielo.br/pdf/agora/v3n2/v3n2a05.pdf> Acesso em: 25 JUN. 2015.
MOURA, C. M. Uma avaliação da vivência do luto conforme o modo de morte. 2006, 188 f. Dissertação de (mestrado). Universidade Brasília. Distrito Federal.
TÁBUAS COMPLETAS DE MORTALIDADE DE 2022. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/populacao/9126-tabuas-completas-de-mortalidade.html. Acessado em: 28 de dezembro de 2023.