Mulher e o Parto
* Jéssica Amanda Morais Rodrigues
CRP 15/3944
No senso comum pensamos que o parir é apenas na hora do ato. Mas através de um breve resgate podemos analisar o quanto o parto foi construído ao longo dos vastos anos.
Temos tradições diversas com propostas de parto antes da ciência trazer evidências de como deveria ser um parto. Os cristãos acreditam que a mulher deve sofrer porque teve um pecado originário, também permeando sobre a ideia do sexo como algo pecaminoso por séculos. Já os povos originários vem trazendo uma tradição ancestral de parto como processo feminino de respeito ao momento, assim como levando em consideração as necessidades das mulheres, como a forma de parir e posições, e uma visão não de peso ou dor exaustiva.
Ainda hoje, mesmo com todos avanços da ciência e tecnologia, o parto ainda é um lugar desconhecido pela ciência, por pensa-lo como algo que podem intervir para que aconteça com mais facilidade, o que para buscar ter um mínimo de controle da hora do parto, buscam padronizar os partos e as mulheres, colocando-as em um quarto com outras mulheres, deitadas e caso não deem a luz no tempo hábil vão precisar intervir com a cesária. Sem o mínimo de análise das necessidades de cada pessoa. Umas necessitam de toque de pessoas de confiança, outras de espaço sós, outras ser alimentadas, outras de atividades relaxantes. O fato é, existe um mundo por trás do parto. Um mundo onde não tem como negar a subjetividade e a ciência deve reconhecer que não consegue abarcar, médicos não são formados para cuidar do momento de parto, mas apenas de técnicas para cortar mulheres, o que acarreta apenas em violências por falta de habilidade e mínimo conhecimento sobre processos de parto.
Sobre as mulheres é uma fase de vulnerabilidade, além de questões culturais, as quais onde vão escutam relatos de partos de pessoas a ensinar algo bizarro, tradições e costumes que por vezes não abarca suas necessidades. Fico indagando o quanto ou quais seriam as necessidades reais das mulheres?
Entendimento do momento de transição de identidade e fase de vida – como o nome sugere transitar é quando passamos por um determinado momento para outro. Toda a construção infantil e adolescente morre ou deveria morrer é ressignificada para uma fase adulta e com demandas distintas. Todos os entraves vão refletir, seja insegurança do poder ser a mulher que dá conta de cuidar de uma outra pessoa e dessa vez não mais adulta, mas um ser totalmente dependente. Outro fator que não podemos ignorar seria lidar com as violências no parto e tendo que lidar com todas as violências e abusos que já passou enquanto mulher numa sociedade machista. Só essa questão já é um causador psicológico de entrave. Vamos admitir que só em ouvir um relato de parto e pensar nos toques que precisa enfrentar o mínimo que acontece é o canal vaginal travar imagine relaxar para a criança passar tendo que ser submetida por vários toques, ambiente médico, falas que são provocativas, posições que não ajudam a lei da gravidade, sem o mínimo de lógica, o menino precisa descer o povo coloca as mulheres de perna aberta voltadas pra cima.
Segurança – a mulher vai precisar se sentir segura, essa é uma necessidade primitiva, onde a mulher para parir, por estar em vulnerabilidade precisa de um lugar e pessoas de confiança que não deixassem animais silvestres viessem para matar ela e sua cria. Vamos seguir essa lógica, a mulher está no meio de uma selva, deve organizar um ambiente que atraia o mínimo de bichos para ataca-la ou ter uma rede de apoio, onde caso venha esses animais possam afasta-los. Hoje seguimos a mesma lógica, o ambiente hospitalar se for a opção da gestante deve conter o mínimo de aspecto ou lugares que sejam ofensivos, as posições e necessidades respeitadas e pessoas que ela se sinta segura, seja doula, mãe ou marido.
Desconstruções/ Informações – A mulher vai precisar de informação sobre seu corpo, sua mente e como funciona o parto. Como seu filho vem, entender que o filho que faz os impulsos de sair, que as contrações vêm de substancias liberadas naturalmente pelo organismo, que o parto é possível e pode ser com mínima dor. Logo existem entraves que podem ser desfeitos por uma simples informação.
Busca por autoconhecimento – Nenhuma teoria seria válida se a mulher não souber seus próprios gatilhos ou necessidades, e isso não pode ser feito por terceiros, mas por ela mesma, a gestão de sentimentos, emoções e focos de suas prioridades deve ser advinda dela. Para isso, vejo um movimento tão necessário como o ato de expulsão do bebê. Porque o bem estar dela é imprescindível para o desenvolvimento do bebê e de sua relação conjugal.
A mulher é um ser humano como outro qualquer, mas passa por questões muito dela, como necessidades fisiológicas, emocionais e cíclicas. Por ter questões fisiológicas só delas, como parto, como menstruação, como climatério. Todos esses eventos impactam em suas emoções e só vamos ter noção a forma como são impactadas através da escuta dela mesma. Seja sobre suas necessidades ou parto. Todo esse sistema só vai funcionar para ela, quando for pautado nas necessidades dela e não da ciência, dos médicos ou pessoas com saberes externos a ela.
A saúde mental da mulher é saúde para família.