ISBN - 978-85-65375-69-6
1ª edição, 2023
Formato:
Brochura com orelha 12x18 cm
108 páginas
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entre “o sertanejo é, antes de tudo, um forte” de euclides da cunha e “o dia em que o morro descer e não for carnaval” de wilson das neves e paulo césar pinheiro, escancara-se na república dos estados unidos do brasil uma fenda, uma fissura tempo-espacial, um buraco negro que acumula imagens e clichês de um estado e de um povo que também possuem entre si outra fenda, um vão muitas vezes intransponível. mind the gap, atenção para o vão, como as vozes metálicas das estações de metrô, é o que este livro de oswaldo martins pretende dizer. os poemas de fenda constituem-se como pontuadores de uma narrativa épica brasileira.
eu conto e o senhor põe ponto, diria o jagunço reoseano do grande sertão. é claro que o leitor não encontrará na poética oswaldiana o conto, a fábula. toda narrativa capaz de engendrar ilusões sobre as ideias de pertencimento, cidadania, republicanismo no brasil é, aqui, voluntariamente omitida. o poeta põe apenas os pontos e com eles traça retas e planos que trazem à tona o que é sistematicamente silenciado. vira do avesso o buraco negro dessa história e compõe, como um curador atento, uma galeria de personagens e fatos que “unidos no revés histórico (…) pespegam no nosso mundo / faíscas de luta e liberdade”. com os poemas de fenda o estatuto da cultura aflora da radicalidade dos versos como extrato de raízes profundas de um brasil supostamente esquecido ou relegado, mas que é, sim, sistematicamente silenciado à bala.
oswaldo martins é um poeta incontornável do panorama das letras brasileiras do século xxi. a cada livro compreende-se mais a construção de uma obra sólida e estável. por exemplo, sugerimos que o leitor observe a coesão entre a repontuação da história dos poemas de fenda, as blagues e os chistes das desimitações, e os delírios verbais de manto. esses livros compõem uma trilogia (involuntária?) em que as questões da ordem pública, da política, do mundo supostamente organizado, são milimetricamente postas à prova pelos versos de um lirismo enxuto, evidência de que até a emoção, como pretensamente é encontrada no sentimentalismo dos versos até hoje românticos, precisa ser revista e reinventada em nome da poesia e de seu poder de subversão.