Coisa diacho tralha

Segundo o autor, “cada livro tem vários livros por dentro. O que o autor escreveu, o que ele nem sabe que escreveu, o que imagina ou intui. E há todos os livros que os leitores vão criar, misturando suas experiências de vida e leitura com as experiências escritas nas páginas”. Nos “vários livros” de coisa diacho tralha, Cesar relê o amor, a história do Brasil, a mulher, a religião e a própria poesia. O amor, este pêndulo que vai do desejo à dor, nos direciona e perturba, percorre o livro. Em seu lado amargo, já está no primeiro texto, que dá título à obra: 

Mas também o encontramos em sua versão “festa”, como no poema “:dois pontos”: 

Cesar relê constantemente outros autores, como Drummond, Bandeira, Vinícius, Oswald, Afonso Ávila e Cortazar. Conversando com o autor argentino, diz ele em “Agenda”: 

Em diálogo com Oswald, revê a nossa história, num texto chamado ironicamente de “História do Brasil 2 – o eterno retorno”:

Cesar também visita o texto “Quadrilha”, de Drummond, trazendo a obra de Machado de Assis para seu enredo e fechando com os versos: 

Outra visita de Cesar é ao “Soneto da Fidelidade”, de Vinícius. Verso a verso ele desmonta a visão romântica do poeta, até o final do soneto: 

O autor conversa com Camões, montando um soneto que é uma versão remix da obra do grande autor português, com o fecho: 

Cesar ainda relê a história bíblica, classificando heregicamente Madalena como “o melhor boquete / de toda galiléia”. E conjuga o verbo de suas preferências literárias em “breviário da conjugação”: 

Em coisa diacho tralha, a poesia de Cesar continua trabalhando a chave do humor e da literatura. “É com este humor que ele atravessa algumas dores, convoca companheiros, inventa palavras, expõe a fratura do sentido”, já havia dito André Lázaro sobre a poesia de Cesar. Mas agora ele assume um tom mais amargo e mais seco, mais ríspido do que aquele que já explorava em seu primeiro livro A Nossa Moranguíssima Paixão (também publicado nesta edição). Com menos espaço para a “moranguíssima paixão” da primeira obra, coisa diacho tralha termina com a prosaica frase: “no rio de janeiro, dezoito horas, trinta e quatro minutos e dezesseis segundos”, que finge nos localizar no tempo e no espaço, se não fosse antecedida pelos versos:

É o próprio autor que afirma na abertura do livro: “A proposta de juntar os dois livros partiu dos editores da TextoTerritório – Oswaldo Martins e Alexandre Faria. Passada a surpresa, me interessou essa conversa entre os dois livros e seus dois autores, reunidos um pouco acidentalmente na mesma pessoa. Para além das conversas, há discussões, brigas, afinidades, rompimentos, reencontros. E, acredito, um bom caminho para o próximo livro.”