A pele oculta das vogais

A pele oculta das vogais

Dani Rodrigues

ISBN - 978-85-65375-68-9 

1ª edição, 2022

Formato: Brochura com orelha 12x18 cm

66páginas

R$45,00 - frete para o Brasil incluso

Orelha

Na cena de abertura de A pele oculta das vogais, Eilá está diante de uma janela sem grades do sétimo andar e a possibilidade de um voo anuncia-se. Ao longo da narrativa o leitor acompanhará a trajetória interior dessa mulher que desdobra a memória como possibilidade de ressignificação da existência. Nesse processo comparecem os avós, os pais, as casas da infância, brinquedos e, entre eles, os livros, uma biblioteca assemelhada à biblioteca-mundo de Borges, imortalizada no conto “A biblioteca de babel”.

Contraposto ao passado revisitado, o presente sempre às voltas com as paredes brancas, os leitos de hospital, as luvas cirúrgicas. Eilá parece absolutamente focada na sobrevivência coletiva, não só na própria. As figuras mágicas de Eudora-Pandora e Iriê-Atiá assombram a narrativa apontando para uma (im)possível reconexão com a natureza, numa ambígua solução, metaforizada na imagem de gêmeos siameses, um vivo e outro morto: “unidos até a raiz dos cabelos e presos pelos vasos de sangue às vísceras da mãe. a placenta de ambos, aderida ao mesentério, nutria um de sim e outro não”.

Num mundo assombrado pela pandemia de COVID-19, a situação-limite, a iminência do salto da janela e da vida, torna-se uma alegoria com a qual a sensibilidade poética de Dani Rodrigues nos apresenta uma narrativa intensa, rigorosa, na medida em que dimensiona a existência humana no trânsito entre o espaço da saúde coletiva e a biblioteca, ou a parede branca coalhada de letras. É curioso, mas ambos os espaços contrapõem-se na dinâmica entre preservação e esquecimento, vida e morte, palavra e silêncio.

Há para o leitor uma terceira via, a percepção do romance pelo contato tátil com a pele oculta das vogais. Aqui o inteligível dá lugar ao sensível. Nesse mundo, dos limites e dos sentidos embotados, há também palavras. Seguremo-nos nelas.