Cadernos de Linguagem:

Ressignificação das Práticas Pedagógicas

A discussão dos Projetos Políticos Pedagógicos que ocorreram nas escolas, tendo como premissa o texto “Bases para a construção de um Projeto Político Pedagógico na rede municipal de Santo André”, entre os anos 2003 e 2004, anteciparam as câmaras de discussão realizadas durante a gestão de 2005-2008 ( Prefeito João Avamileno - PT). Este texto estava presente nas "Agendas do Educador" (2005 e 2006), distribuídas aos profissionais da educação do município.

Desse contexto, novas reflexões emergiram e, posteriormente, concretizaram-se no material Caderno de Linguagens – Ressignificação das Práticas Pedagógicas. Representando diferentes funções e segmentos, integraram aos debates professores, AP’s, DUE’s, CSE’s, gerentes.

Coletânea Documentos Curriculares de Santo André - Cadernos de Linguagem: Ressignificação das Práticas Pedagógicas

Fonte: acervo documental da pesquisadora

Constituídos a partir do debate entre profissionais do ensino, os Cadernos de Linguagem se configuraram no documento curricular da rede municipal de Santo André. Essa construção, contou com a assessoria e supervisão do Prof. Dr. Gabriel de Andrade Junqueira Filho, juntamente com a Secretaria da Educação (SANTO ANDRÉ, 2008). Entre os anos 2005 e 2008, o município vivenciava a continuidade de uma gestão político-partidária, marcada por características mais progressistas, a participação dos sujeitos nas discussões era bastante comum.

Composto por quinze cadernos acomodados em um fichário, este documento foi entregue a todos os profissionais da educação do município no final do ano 2008. Subdivididos em doze linguagens geradoras, os cadernos possuíam as temáticas: Leitura e Escrita; Artes; Pesquisa; Jogos e Brincadeiras; Saúde; Matemática; Roda de Conversa; Mundo Físico e Natural; Mundo Social e Cultural; Tempos e Espaços; Linguagem Corporal; Novas Tecnologias de Informação e Comunicação. Os três demais cadernos correspondiam a questões teóricas e estruturais da rede municipal.

O caderno de apresentação abordava a pretensão em “consolidar as ideias construídas a partir do debate sobre a construção de uma Proposta Pedagógica para a rede municipal de Santo André, sob a perspectiva da continuidade educativa de zero a dez anos” (SANTO ANDRÉ, 2008, p. 3). O texto retomava a participação dos diferentes sujeitos envolvidos nas Câmaras de Discussão dos Conteúdos-Linguagem e os desdobramentos ocorridos em momentos formativos nas unidades escolares.

Capa de Apresentação do documento curricular Cadernos de Linguagem: Ressignificação das Práticas Pedagógicas

Fonte: acervo documental da pesquisadora

Neste volume, o texto reportava-se aos relatórios individuais e de grupo, aos instrumentos de avaliação, ao planejamento do professor e aos registros reflexivos e esquemáticos que derivam da própria ressignificação das práticas. Para cada um desses diferentes registros, o documento trazia uma breve explicação acerca de seu objetivo e funcionalidade, comunicando para o professor seu real significado. Haviam também, algumas reflexões sobre a importância do acompanhamento e das observações feitas pelo professor, que dariam vida a estes registros.

Capa do volume Planejamento, Registro e Avaliação - Cadernos de Linguagem: Ressignificação das Práticas Pedagógicas

Fonte: acervo documental da pesquisadora

Capa do volume Documentação Pedagógica - Cadernos de Linguagem: Ressignificação das Práticas Pedagógicas

Fonte: acervo documental da pesquisadora

O caderno Documentação do Trabalho Pedagógico, fazia um apanhado geral sobre a importância de documentarmos nossas vivências e concepções, não somente como profissionais, mas também como cidadãos. Assim, toda e qualquer documentação, pode ser recuperada na medida em que recobramos, organizamos e (re)significamos os registros que contam sobre ela (SANTO ANDRÉ, 2008, p. 5).

Os Cadernos instrumentalizavam o professor para que ele selecionasse os conteúdos inseridos nas diferentes linguagens geradoras, de acordo com as especificidades de seu grupo ou ciclo. Além dos textos introdutórios nos quais eram apresentadas as linguagens geradoras, os Cadernos traziam expectativas de aprendizagem, conteúdos e orientações didáticas correspondentes a cada linguagem desenvolvida em sala de aula.

Fragmento do Caderno de Linguagem - Ressignificação das Práticas Pedagógicas: Linguagem Geradora Mundo Social e Cultural

Fonte: acervo documental da pesquisadora

Os objetivos elencados nas diferentes linguagens relacionavam-se, de alguma maneira, com as teorias críticas do currículo. Tal correspondência se deve, entre outras percepções, à educação problematizadora, transformadora e emancipadora à qual se propunham os documentos analisados, cerne do pensamento de autores como Michael Apple, Michael Young e Paulo Freire, representantes das teorias críticas do currículo. Não há dúvidas de que, mesmo consonantes, nenhum documento representará “puramente” esta ou aquela teoria, tendo em vista, sobretudo, uma das mais relevantes características do currículo: a sua não neutralidade.

Todos os conteúdos-linguagem, delineados em módulos separados, traziam em seu contexto uma “leitura de mundo” que valorizava a busca de argumentos para sustentar pontos de vista, problematizar a realidade e fortalecer a criticidade do aluno. Atreladas a esse contexto, outras percepções como “teorias de desconfiança, questionamento e transformação radical” (SILVA, 2005), convergem o material às teorias críticas do currículo.