CAPÍTULO 14

O USO DO MATIX COMO FERRAMENTA NA APRENDIZAGEM DE NÚMEROS INTEIROS



LUCELIA FERREIRA DOS SANTOS¹

MILENE RODRIGUES MARTINS²

RESUMO

É grande a dificuldade encontrada, em geral, pelos alunos na aprendizagem dos números inteiros, principalmente quando se trata de operações com adição e subtração. Nesse sentido, ressalta-se que o trabalho faz uma abordagem da experiência metodológica de uma discente do curso de Pós-Graduação, desenvolvida em uma escola da rede pública, tendo como objetivo explorar situações cotidianas para prática do cálculo intuitivo através de jogos. Este trabalho é uma pesquisa desenvolvida com 20 alunos do 7º ano do Ensino Fundamental II de uma escola da rede pública situada na cidade Metropolitana de Salvador. O trabalho possui um caráter exploratório, descritivo e uma abordagem qualitativa. Resultados produzidos emergem para o novo olhar que estudantes tiveram para a aprendizagem matemática, pois não imaginavam que poderiam aprender um conteúdo dessa natureza através de jogos de maneira descontraída e divertida.

PALAVRAS-CHAVE:

Educação. Conhecimento docente. Aprendizagem significativa.

¹ Licenciada em Matemática pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Camaçari. Pós-graduanda em EaD em Inovações no Ensino de Matemática pelo Centro Universitário Cesumar - UniCesumar.

² Doutora e Mestra em Educação para a Ciência e a Matemática pela Universidade Estadual de Maringá. Licenciada em Física pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul.

INTRODUÇÃO

Na maioria das vezes, quando os professores começam a abordar um novo conteúdo em sala de aula, ouve-se aquelas frases dos alunos: “lá vem o professor dificultando a nossa vida, para que inventaram isso” ou “matemática é muito difícil e o professor ainda complicando, pronto”. Essas são algumas das afirmações que os professores de matemática costumam ouvir em sala de aula.

Dessa forma, muitos docentes têm se preocupado com a sua didática, pois, como já foi sinalizado, os estudantes veem a matemática como a disciplina vilã da escola. Na busca por alterar essa concepção, muitos profissionais da área vêm buscando sair do ensino tradicional com aulas expositivas, nas quais, através do uso de quadro e piloto, o professor explana conceitos e cálculos de determinado conteúdo, e optam por abordar novas metodologias em sala de aula.

Com isso, a introdução de jogos em sala tem se configurado como uma grande ferramenta para o ensino e aprendizagem dos alunos em conteúdos matemáticos. Dessa forma, as aulas se tornam mais dinâmicas, proporcionando aos estudantes momentos de descontração, aprendizagem significativa e momentos de interação.

Assim, quando um professor se predispõe a trabalhar com jogos, visa conhecer quais contribuições eles podem proporcionar ao ensino e aprendizagem dos estudantes em sala de aula, considerando o conhecimento matemático dos alunos, para uma possível evolução na maneira de pensar matematicamente desses estudantes.

Dessa forma, o presente trabalho tem como objetivo explorar situações cotidianas para prática do cálculo intuitivo através de jogos, sendo uma Pesquisa de Campo com uma abordagem qualitativa, a qual descreve uma experiência vivenciada com o uso de jogos matemáticos em sala de aula, em uma escola da rede pública, com uma turma de vinte alunos, do 7º ano do Ensino Fundamental II, na região Metropolitana de Salvador.

Para isso, foi construído um jogo com materiais recicláveis, para facilitar a aprendizagem dos estudantes com as operações de adição e subtração de números inteiros. Inicialmente, a professora, através de aulas expositivas, explicou para os estudantes como se desenvolvia essas operações e, logo após, aplicou o jogo.

Para mais, o artigo está dividido em três tópicos: o primeiro abordará a relevância do tema; o segundo, a trilha metodológica, os passos percorridos pelo autor para desenvolver o trabalho; no terceiro, serão apresentados os principais autores para fundamentar a pesquisa, concluindo com as considerações finais.

A IMPORTÂNCIA DO USO DE JOGOS NA APRENDIZAGEM MATEMÁTICA

Em uma época no qual os estudantes estão rodeados em seu convívio social de tecnologias, ministrar aulas de matemática diante desse cenário tem sido uma tarefa cada vez desafiadora para o professor; pois os estudantes já consideram a disciplina de matemática algo complexo para sua compreensão, com isso, se sentem desmotivados para aprendê-la.

Dessa forma, os professores têm buscado inovações para ministrar suas aulas; para Piaget, citado por Wadsworth (1984, p. 44), a inovação pode ocorrer por meio de um jogo, pois:

O jogo lúdico é formado por um conjunto linguístico que funciona dentro de um contexto social; possui um sistema de regras e se constitui de um objeto simbólico que designa também um fenômeno. Portanto, permite ao educando a identificação de um sistema de regras que permite uma estrutura sequencial que especifica a sua moralidade.

Com isso, uma das sugestões para que as aulas de matemática se tornem mais significativas, despertando o interesse e a participação dos estudantes em sala de aula, têm sido a aplicação de jogos. Para Silva (2009, apud SELVA; CAMARGO, 2009, p. 5),

Ensinar por meio de jogos é um caminho para o educador desenvolver aulas mais interessantes, descontraídas e dinâmicas, podendo competir em igualdade de condições com os inúmeros recursos a que o aluno tem acesso fora da escola, despertando ou estimulando sua vontade de frequentar com assiduidade a sala de aula e incentivando seu envolvimento nas atividades, sendo agente no processo de ensino e aprendizagem, já que aprende e se diverte, simultaneamente.

O jogo, desde que bem elaborado, tem se configurado como uma das grandes ferramentas metodológicas utilizadas pelos professores para mudar a rotina das aulas tradicionais de matemática. Com isso, muitos professores, com o intuito de diversificarem suas metodologias, têm utilizado jogos em sala de aula para facilitar a aprendizagem dos estudantes.

Dessa forma, o jogo pode proporcionar nas aulas ludicidade; formação de relações interpessoais e desenvolvimento intelectual. Como se sabe, todo jogo possui suas regras, porém, proporciona um momento de brincadeira, pois transmite uma sensação de prazer, proporcionando ao estudante a aquisição de uma nova forma de aprender e de se relacionar com seus colegas em sala de aula, pelo fato deo jogo construir diálogo entre as partes. Segundo Borin (2009 apud MELO; SARDINHA, 2009, p. 13),

O jogo desenvolve nos alunos o hábito de explorar as possibilidades ao acaso, sem a preocupação de achar uma fórmula pronta, sem uma técnica específica, exatamente como se inicia a pesquisa. Essa postura foi ressaltada sempre, fazendo com que a adotassem normalmente nas aulas, em qualquer circunstância. Os bloqueios que alguns alunos apresentavam em relação à Matemática, a ponto de se sentirem incapazes de aprendê-la, foram aos poucos sendo eliminados. O sentimento de autoconfiança foi sendo desenvolvido, pois todos tinham oportunidades, em algumas situações, de se destacar em relação aos outros.

Dessa forma, o estudante precisa desenvolver, através do uso do jogo, uma nova maneira de construir o seu conhecimento, desenvolver resolução de problemas através das estratégias, superar dificuldades e bloqueios pelo fato de considerar que matemática é algo difícil de compreender, em virtude da construção do seu pensamento sem a preocupação de errar, se motivando em cada partida a adquirir meios para vencer seu adversário em cada jogada.

Assim o professor, ao aplicar um jogo, deve redobrar a sua atenção em sala de aula, analisando como a turma se comporta com essa nova ferramenta. Outro fator fundamental é que o docente está em sala de aula com os estudantes como facilitador, mediador; orientando os alunos e enfatizando que o fato de a aula ser apresentada com jogo não significa que não tenha objetivo.

Com isso, salienta-se que o jogo precisa ser bem planejado no que tange à realidade cotidiana apresentada em sala de aula. Grando (2004) afirma que este pode ser utilizado como um instrumento facilitador na aprendizagem de estruturas matemáticas, muitas vezes de difícil assimilação. Dessa forma, o professor precisa analisar como tem se desempenhado a sala mediante apresentação de determinado conteúdo, para introduzir e planejar um jogo em sua turma.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Este trabalho é uma pesquisa de campo, que se classifica em um tipo de pesquisa desenvolvida no local em que acontecem os fenômenos a serem pesquisados (sala de aula), ocupando-se em identificar as principais características dos indivíduos que compõem esse universo de estudo, por meio de questionamentos acerca do problema estudado.

Ressalta-se que essa pesquisa foi realizada em uma escola do ensino Fundamental II, com 20 (vinte) alunos do 7º ano da rede pública, situada na região metropolitana de Salvador, com uma faixa etária de 12 a 13 anos de idade. A pesquisa possui um caráter exploratório e descritivo, além de uma abordagem qualitativa.

A pesquisa exploratória visa proporcionar maior familiaridade com o problema em questão, ou seja, o uso de jogos como ferramenta metodológica na aprendizagem de soma e subtração de números inteiros nas aulas da disciplina de matemática, com vistas a construir hipóteses sobre as regras dessas operações (GIL, 1991 apud SILVA; MENESES, 2005).

Para a obtenção dos dados em campo, podemos descrevê-la através da seguinte maneira. Iniciou-se um estudo de adição e subtração de números inteiros através de aulas expositivas, porém, ao perceber as dificuldades na aprendizagem apresentadas pelos estudantes, tivemos a ideia de introduzir algum jogo como ferramenta para auxiliar na aprendizagem dos discentes.

Assim, foram pesquisados na internet alguns jogos que auxiliassem na transposição do conteúdo. Dessa forma, optou-se pelo Matix, pelo fato de ser um jogo que pode ser construído pelos discentes em sala de aula, através de materiais recicláveis. Então, o apresentamos para os estudantes, informando-os que o jogo deveria ser construído e jogado em duplas. Na figura abaixo, apresenta-se o tabuleiro que os estudantes deveriam construir em sala de aula.

Figura 1: modelo ilustrativo do Matix.

Fonte: Profª Albanira Sena, 2015

Solicitou-se que eles trouxessem o material necessário para construção (papelão, lápis de cor, tampinhas de garrafa pet, tesoura de papel); assim, os estudantes em sala de aula desenvolveram em duplas seu instrumento (tabuleiro) com a orientação do professor, após a construção do jogo, apresentamos para os discentes as instruções, são elas:

  • MATIX: jogo com um tabuleiro e 35 peças com números positivos e negativos, além de uma peça coringa.

  • A turma é dividida em duplas, cada uma com um tabuleiro, com as peças embaralhadas e viradas para baixo.

  • As duplas irão tirar par ou ímpar duas vezes, uma para iniciar o jogo e outra para determinar quem ficará na posição de linha ou coluna.

  • Cada jogador deve escolher um número do tabuleiro, retirar esse número para si e colocar no seu lugar o coringa, sempre jogando na posição que escolheu anteriormente (linha ou coluna).

  • O jogo termina quando não restarem mais números no tabuleiro ou quando um jogador não puder fazer mais nenhuma movimentação na coluna ou na linha.

  • O vencedor será aquele que conseguir maior saldo positivo, caso os dois jogadores fiquem com saldos negativos, é preciso analisar quem ficou com o menor saldo negativo.

A seguir, temos algumas imagens dos estudantes jogando em sala de aula e do tabuleiro-Matix. Estas apresentam o instrumento já desenvolvido pelos estudantes e o momento da aplicação, no qual eles já estão jogando entre as duplas.

Figura 2: Estudantes jogando em sala de aula.

Fonte: A autora (2020).

Posto isso, apresentam-se as considerações finais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através dos jogos, os professores podem desenvolver diversas estratégias em sala de aula, para o processo de ensino e aprendizagem do estudante. Afinal, o jogo proporciona concentração aos estudantes, o que permite desenvolver habilidades para vencer seu adversário em cada jogada; sem falar na interação entre os estudantes e o dinamismo que a proposta promove nas aulas.

Assim, pode-se perceber que, com a aplicação do jogo em sala, os estudantes tiveram um novo olhar para as aulas de matemática, pois muitos falaram que não imaginavam que poderiam estudar matemática brincando. Assim, percebeu-se a atenção dos discentes para compreender as regras do jogo, pois, no decorrer de cada jogada, os estudantes começaram a perceber que poderiam criar estratégias no tabuleiro para que seu adversário pegasse números com os maiores valores e negativos.

Dessa forma, os discentes apresentaram muito cuidado no cálculo do saldo, pois analisaram como se davam as regras dos jogos de sinais na adição e subtração de números inteiros. Outro fator relevante foi a interpretação dos saldos, visto que, quando ambas as duplas ficaram com saldos negativos, debatiam entre si o tema, explicando que, em relação aos números negativos, quanto mais se afasta do zero, o saldo devedor é maior.

Vale ressaltar que os estudantes estão habituados a desenvolverem operações com números naturais. Dessa forma, quando começam a desenvolver operações com números inteiros, eles apresentam dificuldades na compreensão do conteúdo, por ser algo novo para seu conhecimento. Assim, o jogo contribui com o processo de ensino e aprendizagem do estudante, pois através dele pode-se interagir de forma descontraída, fazendo uma ligação com situações cotidianas.

Ressalta-se também a interação da turma na confecção do tabuleiro, pois os estudantes trouxeram seu material reciclável, construíram seus jogos e ficaram satisfeitos, eles comentaram que se tratava de um jogo que podiam fazer em casa para jogar com seus familiares; sem falar na descontração da sala de aula, os estudantes ficaram muito à vontade com seu colegas, entretanto, a competitividade foi acirrada, pois ninguém queria perder no jogo.

REFERÊNCIAS

GIOVANNI, José Ruy; CASTRUCCI, Benedicto; GIOVANNI, José Ruy Junior. A Conquista Da Matemática. São Paulo: FTD, 2012.

GRANDO, R.C. O Conhecimento Matemático e o Uso de Jogos na Sala de Aula.

2000. 239f. Tese (Doutorado), Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2000

LÜDKE, M.; ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: E.P.U., 2012.


MELO, Sirley Aparecida de; SARDINHA, Maria Onide Ballan. Jogos no ensino aprendizagem de matemática: uma estratégia para aulas mais dinâmicas. Revista F@pciência, v. 4, n. 2, p. 5-15, 2009. Disponível em: Acesso em: 28 ago. 2020.

SELVA, Kelly Regina; CAMARGO, Mariza. O jogo matemático como recurso para a construção do conhecimento. In: ENCONTRO GAÚCHO DE EDUCAÇÃO MATEMÁTICA, 10., 2009, Ijuí. Anais... Ijuí: Unijui, 2009, 13 p. Disponível em:

Acesso em: 28 ago. 2020.

SILVA,E.L.DA; MENEZES. E.M. Metodologia da pesquisa e elaboração de dissertação, UFSC, 4. ed.Ver. Atual. Florianópolis 2005.

SOUZA, Maria de Fátima Guerra – Fundamentos da Educação Básica para Crianças. Volume 3, In: Módulo 2. Curso PIE – Pedagogia para Professores em Exercício no Início de Escolarização. Brasília, UnB, 2002.

WADSWORTH, Barry. Jean Piaget para o professor da pré-escola e 1º grau. São Paulo, Pioneira, 1984.