CAPÍTULO 1

NTIC’S EM TEMPOS DE PANDEMIA: A PERCEPÇÃO DE EDUCADORES DO CONTEXTO EDUCACIONAL DO MUNICÍPIO DE MARINGÁ


KELEN RODRIGUES DA FONSECA AMARAL¹

TAYZA CRISTINA NOGUEIRA ROSSINI²

RESUMO

O objetivo desta pesquisa é analisar como as Novas Tecnologias da Informação e Comunicação (NTIC’s) têm sido utilizadas na prática pelas escolas municipais de Maringá (PR) para auxiliar no processo de ensino-aprendizagem no período de isolamento social causado pela Covid-19 ao longo do ano de 2020. Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa que se delimitou a pesquisar cinco servidoras públicas que atuam como professoras em cinco diferentes escolas da rede municipal de ensino de Maringá. Conforme os dados analisados por meio de Análise de Conteúdo, a metodologia adotada pelas profissionais para o ensino-aprendizagem consistiu no uso de apostilas com orientações e atividades impressas, entregues mensalmente às famílias dos alunos e a disponibilização de vídeos explicativos sobre o conteúdo utilizado. Além dessas ferramentas, as professoras também usaram o Google Meet como plataforma virtual para videochamadas em reuniões e capacitações, bem como o aplicativo WhatsApp para a interação entre os pares, e como suporte para os alunos e seus familiares. Embora o uso das NTIC’s não seja a principal forma de ensino remoto adotada pela rede municipal, as professoras avaliam como positivas as metodologias adotadas, visto que muitos dos alunos não têm acesso ao computador e à internet.

PALAVRAS-CHAVE:

Tecnologia. Educação. Ensino remoto.

¹ Mestre em Economia Doméstica Pela Universidade Federal de Viçosa (UFV). Pós-graduada em Psicopedagogia pela Faculdade Vale do Piranga (FAVAPI). Pós-graduanda em EaD e as Tecnologias Educacionais pelo Centro Universitário Cesumar – Unicesumar. Graduada em Pedagogia pela UFV.

² Doutoranda em Letras na Universidade Estadual de Maringá (UEM), Mestre e Graduada em Letras pela mesma Instituição. Especialista em Docência no Ensino Superior; EAD e as Novas Tecnologias Educacionais; e Docência no Ensino Superior: Tecnologias Educacionais e Inovação, pelo Centro Universitário de Maringá (UniCesumar).

INTRODUÇÃO

As Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTIC’s) estão cada vez mais presentes na sociedade atual. Presenciamos diariamente o crescimento do uso destas ao alcance das mãos das pessoas. No âmbito educacional, mesmo com algumas críticas e restrições, não poderia ser diferente. Computadores, smartphones, projetores multimídias, televisores, internet, redes sociais e outras ferramentas estão presentes em muitas escolas.

Atualmente, estamos vivenciando uma pandemia mundial, causada pelo recém descoberto Coronavírus SARS-COV 2, que causa a doença denominada Covid-19. Esta tem causado muitas mortes em todo o mundo e levado às autoridades a orientarem o isolamento social. No Brasil, o primeiro caso registrado da doença ocorreu no final do mês de fevereiro de 2020 e a transmissão comunitária, bem como a primeira morte, foram registradas em março do mesmo ano. Nesse contexto, uma série de medidas de lockdown foram tomadas e as escolas paralisaram suas atividades presenciais com os alunos. Diante desse distanciamento social advindo de forma abrupta, é inegável a necessidade de uso das NTIC’s, e a sua relevância tem se destacado como fundamental para a continuidade do processo ensino-aprendizagem remoto.

Nesse sentido, busca-se questionar: como as NTIC’s têm sido utilizadas na prática pelas escolas municipais de Maringá para auxiliar no processo de ensino- aprendizagem nesse período de isolamento social causado pela Covid-19? Considerando esse contexto, o objetivo desta pesquisa é analisar como as NTIC’s têm sido utilizadas na prática pelas escolas municipais de Maringá para auxiliar no processo ensino-aprendizagem nesse período de isolamento social causado pela Covid-19. Mais especificamente, pretende-se investigar quais NTIC’s as escolas municipais têm empregado nesse período de ensino remoto; descrever as principais práticas pedagógicas adotadas pelas instituições que se diferenciam das praticadas anteriormente à pandemia; e analisar como os professores avaliam o processo de ensino-aprendizagem nesse tempo em que precisaram se adaptar à nova realidade.

A presente pesquisa justifica-se dada a importância de se discutir as mudanças que vêm ocorrendo na sociedade no que se refere ao uso das NTIC’s e, especialmente, seu uso no contexto escolar. Essa análise se torna ainda mais necessária visto que estamos vivenciando uma pandemia mundial sem precedentes, que modificou as relações interpessoais de modo geral e rompeu de forma abrupta o ensino presencial nas escolas. Assim, vivenciamos um momento em que há crescente necessidade de uma educação disruptiva que inclua elementos das novas tecnologias nas práticas escolares.

Este artigo está subdividido em quatro tópicos. O primeiro consiste nesta introdução; no segundo, será apresentada uma fundamentação teórica sobre As Novas Tecnologias no Contexto Educacional; no terceiro tópico será exposta a metodologia que evidenciará os procedimentos adotados para obtenção e análise dos dados propriamente ditas; encerrando com as considerações finais como quarto tópico.

AS NOVAS TECNOLOGIAS NO CONTEXTO EDUCACIONAL

Kenski (2015, p. 15) relata que o uso da tecnologia não é algo recente, como costuma-se pensar. Ela não se limita a determinados equipamentos.

As tecnologias são tão antigas quanto a espécie humana. Na verdade, foi a engenhosidade humana, em todos os tempos, que deu origem às mais diferenciadas tecnologias. Cada época foi marcada por elementos tecnológicos que se fizeram importantes para a sobrevivência da espécie humana.

A autora faz um apanhado histórico e remete aos períodos mais remotos em que os “homens da caverna” conseguiram afugentar seus predadores – e outros grupos que traziam ameaça – utilizando-se das ferramentas criadas e do domínio dos elementos naturais, como fogo, por exemplo, até o ponto em que os homens começaram a utilizar as tecnologias como instrumento de obtenção e consolidação de poder para a subjugação uns dos outros. Na atualidade, podemos perceber que essa relação de domínio não sofreu alteração, pode-se observar isso por meio do desenvolvimento de armas de guerra, dos domínios das grandes corporações e até mesmo no meio da política (KENSKI, 2015).

O conceito de tecnologia, segundo Veloso (2011, p. 3), traz essa ideia de poder, mas também amplia o conceito, enfatizando que ele está relacionado a “[...] tudo aquilo que, não existindo na natureza, o ser humano inventa para expandir seus poderes, superar suas limitações físicas, tornar seu trabalho mais fácil e sua vida mais agradável”.

De acordo com Silva (2017), a presença da tecnologia na sociedade colabora para a alteração do nosso comportamento cultural e social. Essa ideia também é compartilhada por Veloso (2011), que considera que estamos vivenciando um momento de crescimento exponencial, no que se refere ao uso das novas tecnologias, e esse aumento tem alterado a vida social. Somos conhecidos como a Sociedade da Informação, que designa uma nova forma de pensar baseada na produção e disseminação da informação (VELOSO, 2011).

De acordo com Silva (2017, p. 20), podemos dizer que a expressão Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) serve para “designar a utilização de aparatos tecnológicos a fim de potencializar e facilitar a comunicação”. As NTIC’s, por sua vez, se referem mais especificamente às novidades e inovações que são resultado desse avanço tecnológico.

Diante de tais transformações, cabe questionar: o que isso tem a ver com a educação? De acordo com Silva (2017, p. 51), pode-se observar claramente transformações tecnológicas em diversas áreas.Na educação, esse caminho não poderia ser outro.

Se um dos objetivos da educação é preparar os indivíduos criticamente e torná-los plenamente inseridos na sociedade, não se pode pensar o sistema educacional isolado das práticas culturais desenvolvidas no ciberespaço, ou deixar de fora dos muros escolares às ações desses indivíduos na cibercultura ou cultura digital. Assim é o que pensamos o lugar da escola no processo de Alfabetização e Letramento Digital dos alunos.

Libâneo (2012), ao discutir sobre as novas exigências educacionais e a profissão docente diante do mundo contemporâneo, aborda a necessidade de o professor reconhecer o impacto das novas tecnologias da informação na sala de aula. Ainda que por muito tempo a escola continue dependendo da sala de aula, dos cadernos, dos livros didáticos, do quadro e do giz, essas não são as únicas formas de ensinar e aprender. O autor afirma que não é mais possível ignorar o fato de que a tecnologia está em amplo crescimento e que impacta a vida das pessoas e o modo como a escola ensina.

De acordo com Werthein (2000, p. 75), no que se refere ao “novo paradigma tecnológico”, deixando de lado alguns exageros, há necessidade de reconhecer que a educação é um campo em que estão sendo realizadas diversas aplicações das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação, especialmente nos grandes centros urbanos mundiais. A saber “educação a distância, bibliotecas digitais, videoconferência, correio eletrônico, grupos de ‘bate-papo’ e, também, voto eletrônico, banco on-line, video-on-demand, comércio eletrônico, trabalho à distância” (WERTHEIN, 2000, p. 75).

Dessa forma, o processo de transformação social precisa ser investigado no campo escolar, bem como seu papel no contexto de ensino-aprendizagem. Segundo Werthein (2000), é primordial saber como utilizar as tecnologias de modo que apontem para uma educação para todos ao longo da vida, primando pela qualidade e garantindo a diversidade.

A escola precisa deixar de ser meramente uma agência transmissora de informação e transformar-se num lugar de análises críticas e produção da informação, onde o conhecimento possibilita a atribuição de significado à informação. Nessa escola, os alunos aprendem a buscar a informação (nas aulas, no livro didático, na TV, no rádio, no jornal, nos vídeos, no computador etc.), e os elementos cognitivos para analisá-la criticamente e darem a ela um significado pessoal (LIBÂNEO, 2012, p.12-13).

Libâneo (2012, p.18) também faz uma alerta ao docente acerca da necessidade de uma atitude crítica quanto à apropriação da tecnologia para que não seja “engolido” pelos meios de comunicação social. Para o autor, as multimídias devem ser vistas não apenas como recurso didático em sala de aula, mas também como algo que envolve as “mediações culturais que caracterizam o ensino”, ou seja, algo bem mais amplo; são como portadoras de ideias, culturas e emoções, que perpassam objetivos, conteúdos e métodos. Desse modo, a escola apresenta sua relevância ao mediar esse processo de comunicação, auxiliando o aluno no aprofundamento de suas pesquisas e reelaboração de informações fragmentadas, transformando-as em conhecimentos mais sólidos.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Realizou-se uma pesquisa de abordagem qualitativa por se tratar de um estudo com base em percepções e opiniões mais aprofundadas de um grupo pequeno de professoras, sem a intenção de generalizar suas respostas. A abordagem qualitativa tem por premissa básica:

[...] o que se aplica ao estudo da história, das relações, das representações, das crenças, das percepções e das opiniões, produtos das interpretações que os humanos fazem a respeito de como vivem, constroem seus artefatos e a si mesmos, sentem e pensam (MINAYO, 2010, p. 57).

Aplicou-se um questionário estruturado com uma amostra de cinco educadoras da rede municipal de ensino de Maringá com a finalidade de obter os dados necessários para identificar o uso de NTIC’s no processo de ensino- aprendizagem no período anterior e, também, durante o ensino remoto – iniciado em março de 2020 –, e a avaliação desse período de abrupta mudança.

DELIMITAÇÃO DA PESQUISA

De acordo com os dados da Secretaria Municipal de Maringá, disponíveis em seu site oficial, a rede é composta por 52 Escolas Municipais, que atendem 23.371 alunos, e 64 Centros Municipais de Educação Infantil, que atendem 14.558 alunos. Delimitamos a pesquisa a cinco servidoras públicas que atuam como professoras em diferentes escolas da rede municipal de ensino de Maringá.

As professoras foram escolhidas aleatoriamente dentre os docentes que primeiro se dispusessem a participar da pesquisa. Duas das professoras possuem até cinco anos de atuação profissional como educadora, três possuem mais de quinze anos de atuação profissional. Duas lecionam na Educação Infantil e as outras três no Ensino Fundamental I. Quatro das entrevistadas possuem como grau mais elevado de estudos a Pós-graduação Lato Sensu e uma possui graduação. Os dados como nome e escola em que atuam foram mantidos em sigilo, portanto, as entrevistadas serão identificadas pelas letras A, B, C, D e E.

TÉCNICA UTILIZADA

As perguntas do questionário foram realizadas por meio do aplicativo Google Forms com perguntas abertas em que as professoras puderam responder livremente de forma subjetiva. Os dados foram analisados por meio da Análise de Conteúdo - que se trata de uma metodologia propícia para a sistematização de pesquisas qualitativas – obedecendo às fases de organização, codificação de acordo com a temática e, por fim, a análise de conteúdo (BARDIN, 2011).

ANÁLISE DOS DADOS E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS

Há centenas de metodologias ativas que podem ser utilizadas pelos professores, no entanto, as melhores devem ser as que o professor domina e que atendem às suas necessidades e os objetivos de aprendizagem. Na atualidade, precisa-se conhecer e dominar cada vez mais ferramentas.

Contudo, as tecnologias, por si só, não mudam uma realidade. Afinal, de acordo com Kenski (2015, p. 9), “a tecnologia sozinha não educa ninguém”. Prosseguindo nessa ideia, é possível lembrar da famosa frase de Freire (1987, p. 39): “ninguém educa ninguém, como tampouco ninguém se educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo”. A relação entre educação e tecnologia é profícua e mais do que nunca exige uma compreensão aprofundada do sentido da complementaridade entre aspectos que envolvem o ensino-aprendizagem. Desassociar uma da outra, como se fossem itens absolutamente independentes, é esvaziar o potencial de desenvolvimento da educação em um mundo contemporâneo cada vez mais tecnológico e conectado, todavia, marcado por desníveis e descompassos no desafio da inclusão de todos ao direito da educação.

A principal metodologia adotada pela rede de ensino municipal nesse período de pandemia para que os alunos tenham acesso ao conteúdo, segundo as entrevistadas, é o sistema apostilado, em que a equipe pedagógica instrui os professores na montagem de apostilas com atividades e orientações impressas e entregues aos pais uma vez por mês. Segundo a entrevistada B, as atividades têm sido adaptadas, considerando o nível de dificuldade dos alunos.

Acreditamos que tal escolha metodológica se deva pelo fato de que nem todas as crianças possuem acesso a computadores e internet, conforme a realidade de nosso país, a qual mostra que, mesmo com o crescente número de acessos, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ainda há uma faixa de 25% de pessoas sem acesso a esta tecnologia, o que acirra ainda mais as desigualdades sociais (AGÊNCIA IBGE NOTÍCIAS, 2020). O Brasil precisa avançar muito em políticas públicas de inclusão digital para que realmente possa viabilizar um ensino tecnológico na Educação Básica.

Em unanimidade, as entrevistadas relataram o uso coadjuvante de aplicativos para capacitação, reuniões entre as equipes e para auxiliar no processo ensino-aprendizagem. Dentre os relatados, foram citados o aplicativo WhatsApp e a plataforma Google Meet. O primeiro foi utilizado para manter contato, enviar vídeos explicativos e sanar dúvidas dos alunos e pais. O segundo foi usado para reuniões e para contato com outros profissionais da educação.

A equipe realiza reuniões através do Google Meet para adequar alguns procedimentos e saber como está a relação professor/aluno. Cada turma ainda tem um grupo de WhatsApp com os pais, professores e equipe para retirada das dúvidas e recados relacionados à escola (Entrevistada E).

As entrevistadas afirmaram que o WhatsApp tem sido uma ferramenta de grande ajuda na comunicação com a família e, por meio desse aplicativo, têm obtido o retorno sobre as atividades enviadas, além de permitir chamadas de vídeo. Uma delas mencionou a gravação de vídeos explicativos e a possibilidade de um atendimento mais individualizado aos alunos.

Ao serem perguntadas sobre as principais práticas pedagógicas adotadas pelas escolas, que se diferenciam das praticadas anteriormente ao ensino remoto, elas relataram novamente a produção de vídeos explicativos, a participação e interação em grupos de WhatsApp dos pais e o uso do Google Meet para reuniões:

Gravamos vídeos explicativos do conteúdo e disponibilizamos no grupo de pais do WhatsApp. Quando necessário uma mediação mais pontual, fazemos chamadas de vídeo pelo WhatsApp para orientações e mediação das atividades (Entrevistada B).

As pesquisas divulgadas pela Agência IBGE Notícias (2020) também mostram que o telefone celular é o equipamento mais utilizado no Brasil para o acesso à internet com o objetivo de enviar e receber mensagens, como o aplicativo acima mencionado, que é capaz de enviar e receber mensagens de voz, de texto, imagens, vídeos e outros. Nesse sentido, justifica-se o uso dessas ferramentas como auxiliares no processo educativo, permitindo melhor comunicação e interação.

Quando perguntadas sobre como avaliam o processo de ensino-aprendizagem adotado pela rede de ensino municipal nesse tempo em que precisam se adaptar a esta nova realidade da pandemia da Covid-19, as respostas não foram unânimes. Três das entrevistadas avaliam os métodos como adequados e fundamentais. Elas enfatizam em suas respostas que consideram que toda rede de ensino tem feito grande esforço para assegurar aos alunos que continuem em contato com os conteúdos escolares e mantenham uma rotina de estudo, mesmo que em suas casas, para que permaneçam aprendendo e se desenvolvendo, enquanto sujeitos.

Por outro lado, uma das entrevistadas considera que a metodologia utilizada pela rede municipal não tem sido muito eficaz, porém, ela não apresentou suas justificativas. Outra entrevistada considera que o momento é delicado e o isolamento, inevitável. Nesse sentido, acredita que a rede municipal demorou muito para aderir a outros métodos de ensino, que não fosse o presencial, mas, quanto ao processo adotado nesse período de pandemia, ela analisa como satisfatório, considerando o fato de que é a primeira vez que está sendo utilizado.

No que se refere aos empecilhos para o uso da tecnologia no período de pandemia, as entrevistadas foram unânimes em mencionar as dificuldades de acesso às ferramentas tecnológicas. Elas relatam que muitos alunos são oriundos de famílias de baixa renda e não têm acesso a computadores, internet, entre outros aparelhos eletrônicos, além da insuficiente qualidade da internet e dos aparelhos utilizados por algumas famílias – o que vai ao encontro dos dados divulgados pelo IBGE anteriormente mencionados.

Ainda que algumas tecnologias do ensino remoto estejam presentes na vida dos alunos, precisa-se questionar também seus propósitos e adequações. Assim, deve-se avaliar as consequências da exclusão por falta do acesso digital. Nesse sentido é que se enfatiza a necessidade de políticas públicas de inclusão digital.

Conforme analisa Werthein (2000, p. 76),

Na sociedade globalizada em que avança o novo paradigma, a emergência de novas forças de exclusão se dá tanto em nível local quanto global e requer esforços em ambos os níveis no sentido de superá-las. Ações fundamentais nessa direção são as que promovem o acesso universal tanto à infraestrutura quanto aos serviços de informação a preços acessíveis.

Além das dificuldades no que se refere às questões tecnológicas, as professoras relatam alguns outros desafios enfrentados na pandemia, tais como pouco retorno por parte de alguns alunos por estarem desmotivados, os desafios em atingir adequadamente os estudantes com mais dificuldade de aprendizagem, além da própria saudade, relatada por uma das entrevistadas, por ficar longe de seus alunos e, por fim, o acúmulo de trabalho remoto. Sobre essa sobrecarga de trabalho, uma professora relata que, trabalhando em home office, além de montar, editar e corrigir apostilas dos alunos, ainda precisa conciliar o cuidado da casa e manter seus estudos em dia.

No entanto, para além das dificuldades, as professoras acreditam que há alguns pontos positivos, ou mesmo oportunidades de crescimento vivenciados nesse período de pandemia. Foram citados a resiliência, a possibilidade de mais tempo de convívio em família, os novos hábitos e estratégias didáticas que o professor precisou adotar para se reinventar e o incentivo ao uso das tecnologias.

Quando falamos sobre a crença em mudanças na educação após a pandemia, as professoras citaram novos hábitos de higiene, melhoria no relacionamento com o próximo, mais abertura dos profissionais da educação à Educação a Distância e outras modalidades de ensino.

[...] se após este período retornarmos com as aulas apenas com quadro e giz, não teremos aprendido nada. Mudanças são necessárias para nossa evolução. A educação tem que se adequar aos novos tempos e utilizar a tecnologia como sua aliada (Entrevistada E).

Todas acreditam em algum grau de mudança em termos positivos, demonstrando esperança de um futuro diferente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O uso das NTIC’s tem se apresentado em frequente progresso e sua importância é inegável no contexto escolar. Nesse período, marcado pela pandemia mundial causada pela Covid-19, em que o ensino remoto teve que ser abruptamente introduzido, questionou-se como essas NTIC’s têm sido utilizadas na prática pelas escolas municipais de Maringá para auxiliar no processo de ensino-aprendizagem.

No conjunto de dados analisados, pode-se observar que a principal metodologia adotada para ensino-aprendizagem no período remoto foi por meio de apostilas com orientações e atividades impressas entregues às famílias dos alunos mensalmente. Foram também citados o uso da plataforma Google Meet para as reuniões e a capacitação dos professores e o aplicativo WhatsApp para a interação entre os pares e como suporte para os alunos e seus familiares. Essas mesmas ferramentas e a gravação de vídeos explicativos, segundo os relatos, foram as principais diferenças do ensino presencial anteriormente adotado.

Embora o uso das NTIC’s não seja a principal forma de ensino remoto praticada pela rede municipal de Maringá, elas têm sido consideradas como um bom suporte para os professores que avaliam como positivas tais metodologias adotadas, visto que muitos dos alunos não têm acesso ao computador e à internet. Acredita-se que as mudanças ocorridas, ainda que mais lentas que o esperado, sinalizam a esperança de uma educação futura diferente, mais moderna, tecnológica e interativa.

Devido às limitações de tempo e de contatos pessoais, recomenda-se que, em futuras pesquisas, sejam aprofundadas as análises, de forma pormenorizada, sobre as metodologias de ensino-aprendizagem utilizadas durante o período de pandemia.

REFERÊNCIAS

AGÊNCIA IBGE NOTÍCIAS. PNAD TIC 2018: Internet chega a 79,1% dos

domicílios do país. Agência IBGE Notícias, 29 abr. 2020. Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia- sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/27515-pnad-continua-tic-2018- internet-chega-a-79-1-dos-domicilio s-do-pais. Acesso em: 20 set. 2020.


BARDIN, L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011.


FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.


KENSKI, V. M. Educação e Tecnologias: o novo ritmo da informação. Campinas: Papirus, 2015. Acessado em 15 set. 2020.


LIBÂNEO, J. C. Adeus professor, adeus professora? Novas exigências educacionais e profissão docente. 13. ed. São Paulo: Cortez, 2012.


MINAYO, M. C. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 12. ed. São Paulo: Hucitec-Abrasco, 2010.


SILVA, M. J. da. Novas tecnologias na educação. Maringá: Unicesumar, 2017.


VELOSO, R. dos S. Tecnologias da informação e da comunicação: desafios e perspectivas. São Paulo: Saraiva, 2011.


WERTHEIN, J. A sociedade da informação e seus desafios. Ci. Inf., Brasília, DF,

v. 29, n. 2, p. 71-77, maio/ago. 2000. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/ci/v29n 2/a09v29n2.pdf. Acesso em: 2 jul. 2021.