Os Cigarras e as Formigas

Além de Romeu e Julieta: As Inesperadas Cigarras e Formigas  por  Aline Lopes

"Os Cigarras e as Formigas", escrita por Maria Clara Machado, é uma peça que ecoa a clássica dinâmica de Romeu e Julieta, mas com um toque distintamente brasileiro. A trama gira em torno de duas famílias contrastantes: de um lado, a família formiga, representando a tradicionalidade e valores arraigados; do outro, a família cigarra, marginalizada pela sociedade.

No cerne da história, encontramos o amor proibido entre membros dessas duas famílias opostas. Como em muitas tragédias shakespearianas, a sociedade e a tradição se interpõem no caminho do amor verdadeiro, gerando conflitos, brigas e confusões.

A narrativa ressoa com a atualidade, destacando o drama enfrentado por aqueles que desafiam as expectativas sociais e buscam sua própria felicidade. A pressão para conformar-se com as normas estabelecidas pela sociedade é um tema central, refletindo os desafios enfrentados por muitos jovens em suas jornadas amorosas.

Mas “Os Cigarras e as Formigas” não se limita apenas a explorar o tema do amor verdadeiro, mas também oferece uma crítica perspicaz à sociedade e às expectativas tradicionais que ela impõe sobre nós. A peça questiona o papel atribuído às pessoas na sociedade, desafiando a noção de que devemos seguir um caminho predefinido para encontrar sucesso e felicidade.

Ao apresentar famílias tão contrastantes, Maria Clara Machado destaca as diferentes facetas da sociedade brasileira e as tensões que surgem quando os valores tradicionais entram em conflito com as aspirações individuais. A narrativa serve como uma reflexão sobre a pressão social para se conformar, casar, ter sucesso, e como isso muitas vezes limita a liberdade e a autenticidade das pessoas.

Assim, a peça não só aborda o desejo de amor verdadeiro, mas também ressalta a importância de desafiar as normas sociais e buscar a própria felicidade, mesmo que isso signifique ir contra o status quo. 

“Os Cigarras e as Formigas” nos convida a questionar e reavaliar as expectativas impostas pela sociedade, defendendo o direito de cada indivíduo viver sua vida de acordo com seus próprios termos e valores.

Ao final da peça, quando os personagens entoam "Que mundo é este, que o amor é loucura, mas que linda loucura o amor das criaturas", somos confrontados com uma reflexão sobre a natureza complexa do amor e as barreiras que enfrentamos para vivenciá-lo plenamente.

Em resumo, "Os Cigarras e as Formigas" é uma peça atemporal que nos lembra da importância de ser quem somos, mesmo diante das pressões sociais e das expectativas familiares.

Referência: - Os cigarras e as Formigas de Maria Clara Machado.


 "O Baile das Máscaras"  por  Aline Lopes

Crônica:

Em meio ao caos das ruas, onde o concreto cinza se mistura com as cores vibrantes dos sonhos e desejos, a sociedade segue seu curso, como um grande baile das máscaras. Cada um de nós, dançando ao som das expectativas alheias, escondendo nossos verdadeiros rostos por trás de sorrisos ensaiados e gestos protocolares.


Neste grande espetáculo da vida, somos atores em um palco onde a pressão para se encaixar, para se conformar, é avassaladora. Desde cedo, somos ensinados a seguir um roteiro pré-determinado, a vestir as máscaras que a sociedade nos oferece, mesmo que estas nos apertem o rosto e nos impeçam de respirar.


À medida que o baile avança, as vozes dos julgadores ecoam ao nosso redor, como um coro sinistro de críticas e expectativas não atendidas. "Case-se", dizem eles. "Tenha sucesso", insistem. "Seja alguém na vida", exigem. E assim, dançamos conforme a música, lutando para nos encaixar em um molde que nunca nos pertenceu.


Mas, por trás das máscaras polidas e dos trajes impecáveis, há uma teia complexa de emoções, medos e anseios. Somos todos lutadores nesta batalha silenciosa contra a pressão social, buscando desesperadamente por um vislumbre de autenticidade em meio ao mar de falsidade que nos cerca.


E, no entanto, entre as sombras da noite, há lampejos de esperança. Pequenos gestos de bondade, sorrisos genuínos e olhares de compreensão que nos lembram da nossa humanidade compartilhada.

Pois, no fundo, todos nós ansiamos pela mesma coisa: ser vistos, aceitos e amados pelo que realmente somos.


Enquanto o baile das máscaras continua, somos desafiados a questionar o papel que desempenhamos neste grande teatro da vida. Será que continuaremos a dançar conforme a música dos outros, ou encontraremos a coragem de arrancar nossas máscaras e revelar nossos rostos verdadeiros?


Pois, no final das contas, é na vulnerabilidade que encontramos nossa verdadeira força, e é na autenticidade que descobrimos a verdadeira beleza da vida. Então, que possamos todos ter a coragem de sermos quem realmente somos, e que o baile das máscaras se transforme em uma celebração da nossa singularidade e diversidade.


A Princesa e a Jovem   por Maria Eduarda Cândido 

Era uma vez, em um reino distante, uma princesa que tinha o sonho de se tornar cantora. Porém, não possuía tal dom, e para cantar como gostaria ela precisaria aprender a fazer isso. Mas como uma princesa que teve tudo na vida, ela sempre achou que não precisava estudar. 

Já na aldeia, havia uma jovem que cantava lindamente. Além de ter uma voz bonita, ela estudava sobre música desde de criancinha, com a sua madrinha. A cada ano que passava, se empenhava mais em aprender tudo o que precisava, até que passou a encantar a todos com a sua linda voz. 

Um belo dia, o reino vizinho decidiu realizar um grande concurso de canto, onde o prêmio seria fazer parte da maior banda da região, que sempre tocava em grandes bailes reais e em eventos diversos. Qualquer pessoa que gostasse de música, seja cantando ou tocando um instrumento, tinha o sonho de participar daquela banda. A princesa se inscreveu, e a jovem também. 

No dia do concurso, a princesa foi direto para a final, só porque era a princesa. Um dos donos do concurso a conhecia, e achou que ela merecia estar na final, sem nem mesmo ouvir ela cantar. Já a jovem, passou por todas as três etapas, e chegou na final depois de muito se esforçar para isso. 

No dia seguinte a apresentação final era entre a jovem e a princesa, mas dessa vez, os jurados não conheciam nenhuma das duas. Haviam vindo de um reino bem distante, para julgar apenas as habilidades dos candidatos. 

Quando a jovem cantou, os jurados se emocionaram. Choraram ouvindo a voz dela ecoar por todo o salão, trazendo a mais linda das melodias. Mas, quando foi a vez da princesa, os jurados pediram para que ela parasse a apresentação no meio, dizendo apenas que era o suficiente. 

Mais tarde, quando foram dar o resultado, o jurado principal se levantou e disse: 

– Nós fomos convidados para julgar a voz de quem estivesse aqui, e foi isso que fizemos. Na vida, não importa se temos talento ou não, pois o esforço e o conhecimento sempre serão maiores que os talentos. Por isso, a vencedora do concurso é a jovem. 

– A JOVEM?? – A princesa gritou, indignada.– POR QUE ELA? 

– Você não sabe nada de canto, princesa. Não adianta todo o seu dinheiro e seu nome, se você não sabe nada sobre cantar. Você precisa se esforçar e aprender a fazer isso, como a jovem fez. Só assim será capaz de cantar de verdade. 

E mesmo sob protestos, a princesa voltou para seu castelo entendendo que, mesmo tendo dinheiro e sendo conhecida, isso não era tudo na vida. Que ela precisava estudar e se dedicar, para alcançar os sonhos que ela quiser. 

Análise de "Os Cigarras e os Formigas" de Maria Clara Machado  por Laís Scarpe

Em 1974, em plena ditadura militar brasileira, a dramaturga Maria Clara Machado lança a peça de teatro voltada ao público infanto-juvenil “Os cigarras e os formigas”. Usando da fábula infantil “As Cigarras e as Formigas”, Maria Clara realiza uma releitura de Romeu e Julieta de William Shakespeare sem fugir de sua brasilidade, mostrando a realidade e os costumes brasileiros de seu tempo. 

Na obra de Machado, conseguimos visualizar aspectos de nossa sociedade atual, como as vizinhas fofoqueiras, que estão sempre observando a vida dos outros pelas frestas de janelas e portas, representadas pelas donas Batistas. A família tradicional brasileira, especialmente burguesa, crente à Deus e fiel à moral, aos bons costumes e à ordem, representada aqui pelos Formigas. E as pessoas que são ditas como vagabundas pela sociedade, representada pelos Cigarras. Estes últimos simbolizam os artistas - D. Canária é cantora de ópera - e os que não se deixam levar pela máxima neoliberal “trabalhe enquanto eles dormem”, uma vez que a família Cigarra aproveita as férias de verão - as cigarras só cantam no verão - e volta à rotina laboral com certo pesar.

Os Formigas, os Batistas e os Cigarras são todos vizinhos. Os Batistas e os Formigas não gostam dos Cigarras, por considerá-los vagabundos. O pai de família Amadeu Formiga é o representante da frase de Max Weber: “O trabalho dignifica o homem”. Ele é um funcionário público que só vê sentido na vida através do trabalho. Não à toa é uma formiga. Sua filha Julietinha, que é reciprocamente apaixonada por Billy Rubina (da família Cigarra), é aluna exemplar e estuda durante as férias com seu vizinho Haroldinho (da família Batista) que, por sua vez, é apaixonado por ela. Amadeu quer que sua filha case com um rapaz estudioso, de boa família, que só tire 10 nas provas escolares, o que não é o caso de Billy Rubina. 

Para separar o casal apaixonado Formiga-Cigarra, as Donas Batistas, fazem uma armação para fazer com que seu sobrinho Haroldinho fique com Julietinha. Para tal, elas contratam o que chamam de “bandidos honestos”. Aqui, ao usar o tom cômico - marcado pelo paradoxo da frase - para entreter o público-alvo, Maria Clara também traz uma reflexão importante sobre o que é ser bandido em nossa sociedade. Visto que, para a sociedade de sua época que vivia uma ditadura militar, era considerado bandido quem pensasse diferente do regime imposto. Por outro lado, os militares corruptos e sanguinários que comandavam o país não eram considerados bandidos, mas se assim fosse, seriam “bandidos honestos”, ou seja, os bandidos aceitos pelo poder Estatal. Em comparação à sociedade atual, os que não são pretos e pobres.

Ainda em meio à tramoia orquestrada pelas Batistas, uma das irmãs justifica a artimanha com a paráfrase maquiavélica “Os fins justificam os meios”, marcando o caráter hipócrita e aproveitador das irmãs Batistas. Por último, e não menos importante, sem fugir da origem literária da peça, Machado utiliza uma moral de história (típica de fábulas) quando D. Canária Cigarra diz que “nem tudo que reluz é ouro”, ao se referir às Batistas, fazendo referência a hipocrisia da sociedade brasileira.

Novos tempos e novas famílias  por  Dandara Dias de Oliveira

Realmente existe uma família perfeita? Essa pergunta me veio diante dos tempos em que vivemos. Ao observar nossas crianças e adolescentes, percebemos que lhes faltam a presença familiar. Vejo pais entretendo seus filhos com  celular, este tornou-se o brinquedo mais eficaz para que seus pais possam “aproveitar” a vida.

Observo que não foram os mais novos que deixaram ou esqueceram de pedir benção, foram também os mais velhos que esqueceram de cobrar, que proibiram de lhes tratarem como senhores.

Hoje é difícil aceitar que o respeito vem de berço, de casa, se não há um lar que promova-o. Vejo pais por categoria, não por desejo e vontade. No mesmo momento que vejo crianças assistindo em sua programação, adultos brincando, ao invés de aproveitarem sua infância para brincar.

Vejo mais famílias idealizando sua perfeição, do que agindo para conquistá-la. Vejo mais pais buscando através de vídeos de 30 segundos, aprender como ser pais, do que viver a paternidade.

Hoje os tempos mudaram e a família também.