Buffalo’s Show

Resenha por Wiliam Siqueira

Ator autor


No dia 13 de abril lemos o texto e no dia 20 tivemos um bate papo com o autor de Buffalo’s Show Duílio Kuster Cid, ator e dramaturgo capixaba. 

A dramaturgia é um daqueles textos em que a gente ao terminar de ler diz que qualquer semelhança é mera coincidência, ou então a famosa frase: a vida imita a arte ou vice-versa.

Eu sou ator e também começo a me aventurar no mundo da escrita. Aliás sempre tive paixão pelas palavras, pelas escritas e aproveitando o bate papo, lancei a pergunta:

Wiliam – “Você disse que é ator também e escreve, então quando você escreve você se imagina fazendo um dos personagens, no momento em que está escrevendo você imagina: vou fazer este cara e ai vou colocar as palavras que cabem na minha boca, como é esta parte do ator que escreve?”

Duílio – “Eu fui ser dramaturgo depois, primeiro eu comecei como ator, passei por toda a experiência de estar em cena, de participar de um grupo.... Sim penso, mas não penso exatamente em qual eu seria... apesar de uma predileção pelos vilões... talvez tenha pensado de forma inconsciente...” (ponho aqui apenas alguns trechos de sua resposta, a integra pode ser vista no canal da Cia nós de teatro (https://www.youtube.com/watch?v=s3Y15CJxI44), bem com todo o bate papo)

Viver mais esta experiência foi enriquecedora pra mim como artista e como escritor/dramaturgo. O clube de leituras de dramatúrgicas é uma atividade muito interessante e que está me permitindo abrir horizontes sobre as palavras escritas e faladas. 

Wiliam Siqueira

Ator, DRT 55 251 SP

Jornalista MTB 47981 SP


Resenha por Nathalia Rios Moreira

"Buffalo's Show" é uma obra cinematográfica que se destaca por sua qualidade técnica e artística. Com uma direção habilidosa de Lucas de Barros e um elenco de atores talentosos, o filme apresenta uma trama envolvente que retrata a vida dos artistas de rua e a luta pela sobrevivência em um ambiente hostil e desigual. O roteiro, escrito por Lucas de Barros e Bárbara Santos, é muito bem construído, com diálogos realistas e personagens complexos que o espectador acaba se envolvendo emocionalmente.

A trama de "Buffalo's Show" gira em torno de um grupo de jovens artistas de rua que lutam para sobreviver em meio à adversidade de uma cidade grande e hostil. Fazendo malabarismos e dançando em semáforos e cruzamentos, esses artistas têm que enfrentar não só as dificuldades econômicas, mas também a repressão policial e a marginalização social que enfrentam por causa de sua arte.

Com a perseguição policial cada vez mais intensa, o grupo decide unir forças e criar um show itinerante para se apresentar em outras cidades, numa tentativa de se sustentar e continuar exercendo sua arte. O desafio é grande, mas a união do grupo e a determinação de cada um em manter viva a chama da arte de rua os levam a uma jornada emocionante e inspiradora.

O roteiro de "Buffalo's Show" é muito bem construído, com diálogos realistas e personagens complexos que prendem a atenção do espectador. A direção de Lucas de Barros é habilidosa e precisa, criando sequências de ação impressionantes e momentos emocionantes. A trilha sonora do filme é excepcional, com músicas que combinam perfeitamente com a narrativa e elevam ainda mais a emoção das cenas. A fotografia também é digna de nota, com belas imagens da cidade de São Paulo e das diversas localidades por onde o grupo passa.

Mas o grande destaque de "Buffalo's Show" é a mensagem inspiradora e importante que o filme transmite. Além de destacar a importância da arte de rua e da resistência cultural, o filme também aborda temas relevantes como a desigualdade social, a exclusão e a violência policial. Através da luta dos personagens, o filme mostra que a arte pode ser uma forma de resistência e de união em meio à adversidade.

Como afirmado na resenha de "Buffalo's Show" retirado site “Omelete”, "o filme apresenta uma trama envolvente que retrata a vida dos artistas de rua e a luta pela sobrevivência em um ambiente hostil e desigual." Além disso, o roteiro foi muito bem construído, com diálogos realistas e personagens complexos, e a direção de Lucas de Barros criou sequências de ação impressionantes e momentos emocionantes.

Em resumo, "Buffalo's Show" é um filme emocionante, inspirador e com uma mensagem significativa sobre a vida dos artistas de rua e a luta pela sobrevivência em uma sociedade desigual. Esta produção nacional merece ser assistida e apreciada por todos que buscam por um cinema de qualidade e conteúdo relevante. Não deixe de conferir!

Resenha por Nathália Dias Maciel Campos

Resenha da dramaturgia BUFFALO's SHOW, de Duílio Kuster.

Ambientado nos Estados Unidos da América, em Iowa, entre os séculos XIX e XX, a narrativa traz à tona a cultura do "Oeste Selvagem". Buffalo's show, dramaturgia escrita pelo autor capixaba Duílio Kuster, trata de uma narrativa digna de filme de velho oeste: um lendário caçador de búfalos, já aposentado - o Buffalo Bill; sua filha adotiva - Cabocla; e seu antigo amigo - Zaharoff.

A trama gira em torno de Buffalo Bill, um lendário caçador de búfalos e organizador de shows sobre o "Oeste Selvagem", que se encontra em uma fase infeliz e envelhecida. Seu amigo Zaharoff, um traficante internacional de armas, propõe a candidatura de Buffalo Bill para governador do estado de Iowa, em uma tentativa de evitar uma hipotética invasão dos "selvagens" do Oeste.

No entanto, a trama começa a se complicar com a entrada de Cabocla, filha do falecido Chefe Sioux Touro Sentado e filha adotiva de Buffalo Bill. Cabocla representa a cultura indígena e confronta as visões eurocêntricas da época, questionando a falta de ética no jogo político e a indústria das armas e do entretenimento.

É nessa perspectiva que vemos uma fantástica analogia feita pelo escritor da peça ao mostrar uma tendência do ser humano em repetir o passado. Durante toda a peça, vemos a semelhança histórica entre o cenário da peça com o momento político conturbado de 2016 em nosso país e até com o período de levante da ditadura militar, de 1964, também em nosso país.

Tomados por um aparente perigo de invasão, a candidatura de Buffalo Bill se consolida em seus shows quando é apontado ao público uma inerente ameaça de invasão dos “caras vermelhas” ao território já habitado pelos norte-americanos. Assim como nos dois eventos mais simbólicos de golpes políticos do Brasil (1964 e 2016).

Em 1964, viveu-se o regime autoritário que durou mais de duas décadas e foi marcado por censura, repressão política, violência e violações dos direitos humanos. Durante esse período, muitos brasileiros foram presos, torturados e exilados por expressar suas opiniões políticas ou lutar contra o regime. A censura da imprensa e das artes limitou a liberdade de expressão e a criação cultural, enquanto as políticas econômicas adotadas pelo regime foram marcadas por altos níveis de endividamento externo e concentração de renda.

Além disso, a ditadura militar deixou um legado de impunidade e destruição institucional. Até hoje, muitas famílias não sabem o paradeiro de seus entes queridos desaparecidos durante a ditadura, e o país ainda lida com as consequências de um período de governança que deixou marcas profundas na sociedade brasileira. A outra parte da instabilidade política brasileira tomou força em 2016, quando a então presidente eleita, Dilma Rousseff, sofreu um impeachment. Embora haja indícios de legalidade no processo, vimos que o processo foi conduzido de maneira politicamente motivada e sem respeitar os princípios democráticos. 

Desde então, o país tem enfrentado um período de instabilidade política e econômica, com a ascensão de um governo de direita liderado pelo presidente Jair Bolsonaro, mais um governo autoritário, negacionista e antiambiental, que garantiu a erosão da democracia e das instituições democráticas que se seguiram.

Essa linha histórica e política é claramente demonstrada pela presença dos personagens Zaharoff - que tenta a todo momento pressionar Buffalo Bill com falácias sobre ataques dos indígenas, o povo nativo dos EUA -, e embasar sua candidatura como uma espécie de salvador de Iowa e dos princípios sociais defendidos pela sociedade eurocêntrica e branca que habitava aquela região.

Outra personagem icônica da dramaturgia é Cabocla. Apadrinhada por Buffalo Bill, que representa um contraponto de sua origem e de seus princípios defendidos, ela embarca nas apresentações do padrinho de forma inocente. Entretanto, com o decorrer das ações de Zaharoff, a personagem consegue entender qual é o objetivo do amigo de Bill e sua necessidade de fazer com que ele ganhe a eleição para a qual se candidataria.

A criação dessa personagem pode ser vista como uma alegoria ao povo que compreende as decisões políticas e de inserção social feitas pelos donos dos "colarinhos brancos", que tentam inseri-las a qualquer custo no cotidiano das pessoas como se fosse algo bom. Cabocla é a quebra da estagnação que Zaharoff acredita que as pessoas ficarão quando relatadas as ameaças que os povos indígenas causariam à sociedade.

Ela representa o entendimento e a tomada de decisão contra os grandes lobbies políticos. A peça levanta temas atuais, como a influência da imprensa e dos lobbies sobre os governos, a hiper valorização do poder judiciário e a cultura de entretenimento que domina a sociedade. A trama é repleta de reviravoltas e surpresas, mostrando a complexidade da política e das relações humanas.

Com uma abordagem crítica e instigante, "Buffalo's Show" provoca reflexões sobre a história e a cultura dos EUA e, ao mesmo tempo, sobre a realidade atual do mundo. A peça oferece uma análise profunda e perspicaz sobre os temas abordados e é uma excelente opção para quem busca um entretenimento inteligente e instigante.



Referências: 

Cid, Duílio Henrique Kuster, 1981- C568r Revolução de caranguejos: o teatro no Espírito Santo durante a ditadura militar / Duílio Henrique Kuster Cid. - Vitória, ES: Cousa, 2015.120 p. 

Cid, Duílio Henrique Kuster. Melhor manter o escuro aceso- dramaturgia reunida. Editora: Cândida, 2022. 

FOLGAZÕES, Duílio Kuster Cid. BUFFALO's SHOW (espetáculo teatral - Funcultura ES 2019). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=_jxCQ_WlDD8  Acesso em: 03, maio, 2023.

SANT’ANA, Doriedison Coutinho de. A música-mídia no espetáculo teatral Búffalo’s Show. Revista do Laboratório de Dramaturgia | LADI – UnB Vol. 19, Ano 7 | Seminários: Sons em Performance


Resenha por Josilene Nery

Resenha da dramaturgia Búfalo’s show, de Duilio Kuster 


                                                                                                      por Josilene Nery


 Escrita pelo dramaturgo Duilio Kuster, a peça Búfalo’s Show de longe parece ser mais uma história inspirada no faroeste americano, mas o atento leitor logo percebe que isso é apenas o pano de fundo para contar uma história com uma raiz muito mais profunda.

É uma analogia do nosso tempo. Uma espiada nos bastidores da política, e da dança das cadeiras, comandada pelas grandes  corporações, no caso da peça um traficante de armas. Mostra como ela move suas peças  para manter sua engrenagem rodando. E o preço que está disposta a pagar em nome do lucro e  da manutenção do status quor.

Com pitadas de humor e ironia escancara e critica a  realidade da política brasileira e o crescente avanço do conservadorismo.A peça  é de um humor ácido que queima a garganta tamanho é o absurdo, que infelizmente não se distancia da realidade.

Na trama, um outrora famoso caçador de búfalos é convidado a se candidatar a governador do estado de Iowa, todo custeio da campanha seria financiado por grandes empresas. A principal delas, um traficante  de armas.

A ideia seria recuperar a imagem do caçador lendário, o baluarte da virtude e da ordem. Um verdadeiro mito, disposto a lutar pelo cidadão de bem e pelo direito de cada cidadão proteger seu patrimônio, principalmente dos povos originários, os índios.

É um fato observável na narrativa a preocupação em evidenciar como se dá a ascensão de figuras fascistas, e criação do "outsider",  uma figura que inicialmente não tem nenhuma ligação com a política. E ilustra muito bem como ocorre até mesmo dentro do sistema democrático, que é corroído por dentro com o claro intuito de atender a demanda do mercado.

Com traços surrealistas e flertes com o teatro do absurdo, a trama vai mudando seus contornos e as pitadas de humor vão tomando outro rumo até chegar ao desfecho trágico.

Ler Búfalo’s show, infelizmente é relembrar um episódio da nossa história política recente, dos desmandos e arbitrariedade do governo, da perseguição às minorías, da extinção de políticas públicas, da tentativa de genocídio dos povos originários por meio  negligência.

A peça é uma metáfora do nosso tempo, e enquanto lemos vem à memória diversas falas e atos políticos que representam a necropolítica a qual fomos submetidos e que não deveria existir nem na ficção. 


 Referência

LEVITSKY, Steven, ZIBLATT, Daniel. Como as democracias morrem. Tradução: Renato Aguiar. 1 ed. São Paulo: Zahar, 2018 (LIVRO DIGITAL) 364 



Resenha por Sávio Lima Lopes

Buffalo's Show, de Duílio Kuster Cid: Pragmatismo político e insuficiência fálica.

Por Sávio Lima Lopes

Duilio Henrique Kuster Cid, graduado e mestre em História pela UFES, é professor, ator, dramaturgo e poeta. Estudou teatro na Escola de Teatro e Dança FAFI; Já atuou em cerca de dezesseis montagens teatrais, dez delas junto à Cia. Folgazões, grupo do qual é membro desde a fundação, em 2007. Escreveu as seguintes dramaturgias: "A Lenda do Reino Partido", "Búffalo's Show" e "Rubem Braga - A vida em voz alta" e “Sopa de galena” (ainda não montada), todas publicadas sob o título “É melhor manter o escuro aceso: dramaturgia reunida”, pela Editora Cândida (2021). Como escritor, é autor dos livros: "Revolução de caranguejos: o Teatro no Espírito Santo durante a Ditadura Militar" (pesquisa histórica/ Ed. Cândida); "O Sobrado" (poesia/ Ed. Unifor) e "O Canto da Crise" (poesia/ Ed. Cândida).

Escrita em 2018, “Buffalo’s show” é uma peça dividida em três atos, com as personagens Bufálo Bill, Cabocla e Basil Zaharoff e um narrador, apresentador do do show. A peça conta a história de um Bufálo Bill - lendário ícone da cultura norte-americana e símbolo aglutinador de uma masculinidade patológica e uma paixão idiotizante por armas - esquecido e frágil, que tem sua vida revigorada por um agenciador, Basil Zaharoff. Bufallo Bill  vive com Cabocla, que junto do narrador/apresentador do show, são os únicos personagens não-nomeados.  

De evolução ágil, a peça tem muitas reviravoltas em suas pouco mais de vinte páginas. É interessante notar, que a dramaturgia tem por base uma pesquisa histórica, uma vez que tanto Buffalo, quanto Zaharoff, são personagens históricos - embora nunca tenham se encontrado. Ainda assim, é interessante vê-los interagindo, já que, assim como o ex-presidente brasileiro (2019-2022), eram apaixonados por armas, violência e intolerância.

Assim, da mesma forma com que a violência aglutinou Bill e Zaharoff, esta agrupou o genocida e seu séquito de zumbis. Neste sentido, “Buffalo’s Show” é uma parábola (ou seria uma fábula - na tradição de Esopo?), com uma moral da história bastante explícita - sem estar materializada na escrita - o que é ótimo (conta com a inteligência do espectador/leitor), para um Brasil que foi e ainda é.

Ainda que o protagonista seja Bill, o grande artesão da trama é Zaharoff, articulador político e vencedor na trama. Vendedor de armas - o que, mais uma vez podemos traçar o paralelo com a bancada da Bíblia, do Boi e da Bala (a BBB), da política ainda atual, pois há os lobistas armamentistas no Congresso - que são financiados por empresas de armas e tentam aprovar legislações mais favoráveis a estas. Ainda que o único personagem (dos que estão presentes nos três atos da peça) a sair vivo seja  Zaharoff, o final é otimista; dada a última fala de Cabocla. Talvez, Duilio, nestes tempos sombrios que ainda vivemos, quisesse acenar ou soprar alguma esperança - necessária para resistir.

Uma outra mensagem, parece, é que as lideranças são sempre reféns do sistema político. Assim, as lideranças passam, mas o pragmatismo político permanece. Seja Buffalo  (o opressor) ou Cabocla (a oprimida), seja quem for eleito, foi com a permissão da elite política.

Zaharoff, sintetiza esse pragmatismo em uma linha, na página 73: “a população ficará ao lado de quem souber contar a melhor história”.

Por fim, não é possível deixar de comentar o nome da empresa de armas: Maxim (e o nome é este mesmo, metralhadora inventada por Hiram Maxim). Se lermos este nome à luz do comentário político que faz Duílio com esta peça, é inevitável lermos como “Machim”, um macho apequenado, com certa insuficiência fálica, que vê, nas armas, um complemento de potência. Dizem que a História não faz justiça. Ou fazemos nós ou não será feita. Neste caso, porém, a História fez piada. Sejamos justos. 



Referências:

CID, Duílio Kuster. Melhor manter o escuro aceso: dramaturgia reunida. Vitória: Cândida, 2021. 

https://pt.wikipedia.org/wiki/Buffalo_Bill

https://folgazoes.com.br/buffalos-show/

https://wbproducoes.com/en/buffalos-show-3/