Urbanização & Cidade
Conheça um pouco do história urbana de Caxias do Sul, as transformações que moldaram a cidade.
A cidade de Caxias foi planejada de acordo com a legislação imperial, observada pelos colonizadores de seu território. Cresceu durante vários anos dentro da planta original estipulada, garantindo uma certa organização urbanística. A expansão das atividades econômicas e a vida comunitária couberam em seu projeto original até de meados do século XX.
Durante esse período, o crescimento econômico, a expansão da migração interna, o êxodo rural e a desigualdade de renda e riqueza levaram ao surgimento de núcleos fora do planejamento. Desse modo, a cidade tornou-se um território de múltiplas ocupações.
O trem chega, surge a Cidade
Vinte anos após a emancipação, novamente o mês de junho traz novos ares para Caxias. No dia 1º de junho o trem chegava pela primeira vez à Gare de Caxias. Milhares de pessoas se deslocaram pelas ruas decoradas com bandeirolas, até a Estação. Lá ouviram pela primeira vez o apito do trem que chegava.
As comemorações estenderam-se até a noite, quando realizou-se um grande baile na sede do Clube Juvenil. Ali foi lido para os presentes, o telegrama que informava que o Presidente do Estado, pelo Decreto Estadual nº 1.607, de 1° de junho de 1910, elevara a Vila à categoria de cidade, passando a chamar-se CAXIAS. Isso foi possível devido a localidade apresentar população superior a trinta mil pessoas, possuir um movimento econômico avultado e, agora, estar ligada à Capital pela viação férrea.
Ainda em 1910, como reflexo do crescimento econômico, em 07 de setembro, Caxias recebeu a instalação da primeira agência bancária, a filial do Banco da Província do Rio Grande do Sul.
"O estabelecimento de credito, que se vem inaugurar, marcará uma nova etapa no progresso desta zona, fomentando a organisação de novas emprezas industriaes, ampliando as existentes e facilitando o desenvolvimento das nossas relações commerciais."
Uma cidade que cresce
Para que a Estação Férrea fosse incorporada à área urbana de Caxias, esta foi ampliada por meio do Ato n° 23, de 30 de novembro de 1910, assinado por Tancredo Appio Feijó, Vice-Intendente em exercício:
"Extende os limites urbanos da cidade, lado Oeste, a partir da rua Feijó Júnior até encontrar a estrada Rio Branco, na parte atravessada pela linha da viação férrea e todas as suas adjacências".
A primeira ampliação da área urbana ocorreu em 1897, por meio do Ato nº 10, de 31 de julho, e a posterior, no ano de 1925, por meio do Ato nº 21, de 15 de maio.
Surgem as periferias, o Burgo
Conforme a cidade crescia econômica e espacialmente mais e mais pessoas eram atraídas e novos bairros não oficiais surgiram. De Forma espontânea, ao norte do Bairro de Lourdes, organizou-se a primeira periferia, conhecida como Zona do Burgo, composta pelo Bairro Jardelino Ramos, comunidade São Vicente e Zona da Antena. Ali fixaram-se famílias, vindas principalmente dos Campos de Cima da Serra que buscavam trabalho na crescente indústria.
Enquanto o Burgo crescia, nos arredores do cemitério municipal formava-se o Bairro Euzébio Beltrão de Queirós, que passou a ser chamado Zona do Cemitério. Áreas periféricas, muitas vezes de ocupação irregular, proliferavam durante o regime militar. O crescimento da indústria e a oferta de emprego atraíam cada vez mais pessoas para Caxias do Sul. Por não haver políticas públicas específicas de habitação, os migrantes se organizaram de forma quase que independente, configurando as periferias da cidade.
Toda cidade precisa de uma praça
Desde o início da ocupação já tinha sido destinado o espaço para a praça central da cidade. No entanto, o local não havia sofrido intervenções significativas que o tornasse um espaço de convivência. De 1897 a 1910, foram construídos cinco quiosques para fins comerciais e de serviços. A implantação dos mesmos foi de iniciativa de particulares e estava condicionada à plantação de árvores, construção de jardins e cercamento dos mesmos. Nesse período, uma das únicas ações do Poder Público foi a de construir muros e pilares como forma de nivelar a praça.
Somente na Administração do Intendente Penna de Moraes, a praça passou por significativos melhoramentos. Entre os anos de 1912 e 1914, foram realizadas obras de nivelamento e ajardinamento da Praça Dante Alighieri. No mesmo período foi decidido pela confecção e colocação na praça central dos bustos de Júlio de Castilhos e Dante Alighieri, a fim de homenagear personalidades vinculadas à história local. Esses monumentos foram planejados tendo em vista as comemorações dos 25 anos da Proclamação da República. Foram inaugurados no mesmo dia, 15 de novembro de 1914.
Com o passar do tempo, na Cidade de Caxias, foram implantados e regulamentados pela Intendência Municipal, uma série de serviços que atendiam em especial a área urbana. A partir de 1911 foi criado o serviço de recolhimento de lixo urbano e, em 1913, pelo Ato n° 12, de 19 de dezembro, foi instituído e regulamentado o serviço de remoção de materiais fecais. Além desses, a construção do matadouro público, em 1914, com o objetivo de regrar o abate de animais e fiscalizar a carne destinada ao consumo da população, complementava as ações da Intendência Municipal, relacionadas aos serviços de higiene pública que já eram implantadas em outras cidades do país.
Relatório apresentado pelo Intendente Municipal Dr. Celeste Gobbato em 31 de dezembro de 1925.
Acervo do Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.A iluminação pública
Na época de Colônia e Vila a iluminação pública era realizada por lampiões a querosene. A luz elétrica chegou à área central de Caxias em 13 de maio de 1913, trazida ao longo dos 13 km de fiação que ligavam à Usina construída no Rio Pihay. A concessão do serviço era feita pelo Banco da Província e, em 1919, o contrato foi transferido para Cia Telefônica Riograndense.
Até então só havia luz elétrica no moinho de Aristides Germani, atualmente conhecido como "Moinho da Cascata”. No mesmo ano entrou em funcionamento a usina do Lanifício São Pedro localizada no distrito de Galópolis.
Água e Saneamento
Quanto ao abastecimento de água nas residências, a forma mais comum e tradicional eram os poços domiciliares, abertos nos lotes ou quintais, e também o abastecimento por fontes naturais. Em 1914 ocorreu a primeira iniciativa do poder público municipal quanto ao controle e distribuição de água, escavando um poço e construindo um reservatório para abastecer a Praça Dante e a Intendência.
Conforme Relatório do Intendente Penna de Moraes de novembro de 1914.
A segunda iniciativa do poder público municipal em relação ao abastecimento de água deu-se em 1919, quando uma pequena barragem foi construída em terreno arrendado pela Intendência, nas terras de Antonio Giuriolo, local que hoje abriga o Parque Getúlio Vargas. A água era distribuída por motor para residências e casas comerciais localizadas na área central da cidade.
O sistema de abastecimento de água viria a ser ampliado somente em 1928, com a construção da Hidráulica Municipal Borges de Medeiros. Na mesma época a Praça Dante também foi prioridade da administração. O poder público e a população percebiam a necessidade de um projeto de reformulação do espaço, pois o crescimento da cidade e da circulação de pessoas demandavam mudanças.
O símbolo da Cidade, a praça
Entre os anos de 1927 e 1944 a praça sofreu outras significativas intervenções até apresentar o nivelamento e formato que mantém até hoje.
Na época foi iniciada uma remodelação, guiada pela ideia de uma praça aberta que permitisse o livre acesso e a circulação de pessoas. O novo desenho da praça apresentaria influência dos jardins franceses, prevendo canteiros geométricos e eixos simétricos, demarcando os caminhos.
A inauguração da nova praça ocorreu durante a Festa da Uva de 1937. O espaço demonstrava os ares de modernidade que a cidade buscava, com seu exuberante chafariz, construído em pedra basáltica, tendo esculpido no anel interior cachos de uva e folhas de parreira em baixo-relevo.
Porém os trabalhos na praça e no entorno se estenderam até por volta de 1944, quando o calçamento dos caminhos internos, realizados na técnica do mosaico português, ficaram prontos.
Estava configurado o símbolo central da cidade, juntamente com a nova escadaria de acesso à Catedral de Santa Teresa, que se tornou necessária devido ao rebaixamento das ruas do entorno.
A praça, que neste período foi denominada Ruy Barbosa, passou a ser o local do footing, quando os jovens da época aproveitavam o espaço recém construído para passear e paquerar.
Com o passar do tempo a praça sofreu pequenas intervenções como a construção de banheiros e a modificação do chafariz que, depois de polêmicas, retornou ao estilo original.
O projeto de revitalização da Praça Dante, concluído em 2003, respeitou a configuração dada pelas administrações de Celeste Gobbato e Dante Marcucci. Os caminhos internos foram recuperados com a restauração de 105 elementos integrantes do mosaico português. O Calçadão, que interrompia a continuidade da Avenida Júlio de Castilhos, foi desfeito, permitindo a circulação de veículos. A reinauguração da nova Praça Dante Alighieri aconteceu no dia 23 de janeiro de 2004.
Reformas Urbanas, a cidade moderna
Com a praça pronta, em meados da década de 1940, e as ruas centrais niveladas e calçadas com paralelepípedos, foi concluído o projeto que configurou a área central da Caxias moderna. Essa década foi marcada pelo crescimento da cidade, da população urbana que, em números, superou a rural. O fornecimento de água e luz são ampliados, é inaugurado o Aeroporto Municipal em 1941, mesmo ano em que foi aberta a circulação na Estrada Federal Getúlio Vargas, atual BR 116. Novos espaços de lazer foram planejados, como a Praça da Bandeira, hoje Dante Marcucci. A rodoviária, inaugurada em 1958, ficava defronte a esta Praça, sendo transferida para a rua Ernesto Alves, no ano de 1975.
Em 20 de dezembro de 1944, pelo Decreto-lei no 720, a cidade tem seu nome alterado para Caxias do Sul.
Referências
- Foto de Capa: Praça Dante Alighieri, vista a partir do telhado do prédio da Metalúrgica Abramo Eberle, durante o desfile de carros alegóricos da Festa da Uva de 1950. Caxias do Sul, 1950. Autoria Studio Geremia. Fundo Metalúrgica Abramo Eberle S.A. Acervo Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.
- ARQUIVO HISTÓRICO MUNICIPAL JOÃO SPADARI ADAMI. Complexo Jardelino Ramos: uma história de luta e esperança. Caxias do Sul, RS: Secretaria Municipal da Cultura, 2018.
- ADAMI, João Spadari. História de Caxias do Sul: 1864-1962. Caxias do Sul: Editora São Miguel, 1962.
- ADAMI, João Spadari. História de Caxias do Sul .Caxias do Sul: São Miguel,1972.
- MACHADO, Maria Abel. Construindo uma cidade: história de Caxias do Sul - 1875/1950. Caxias do Sul: Maneco, 2001.
- TOMAZONI, Mário Alberto. Álbuns da cidade de Caxias (1935-1947) : as reformas urbanas fotografadas. 2011. Dissertação (Mestrado em História) - Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2011.
- SAMAE. SAMAE 50 anos: Serviço Municipal de Água e Esgoto de Caxias do Sul: 1966-2016. Caxias do Sul: SAMAE, 2016.