Cultura & Arte

Pinceladas, notas e flashes sobre alguns dos movimentos artísticos e culturais de Caxias do Sul.

Cultura artística

Caxias tem uma ligação muito forte com o campo artístico, que eleva a cidade para além da economia industrial e do ethos do trabalho. Olhando para a história, muitos coletivos se organizaram para promover a cultura artística no município. Um primeiro movimento que merece ser referenciado é o surgimento, no início dos anos de 1930, da Sociedade Artística Cultural, que tinha o objetivo de unir os amadores que se dedicavam a diversas manifestações, especialmente aos concertos e apresentações musicais. Anos mais tarde, em 1949, foi criada a Escola Municipal de Belas Artes (Emba), que promoveu a formação profissional e em nível superior dos artistas locais, notadamente na Pintura, Música e Dança. Outro espaço de igual importância para a divulgação artística foi a Aliança Francesa, de 1955, que promoveu exposições e peças teatrais. Entre as décadas de 1980 e 2000, a cidade ganhou novos espaços para a Arte, como a Casa da Cultura Percy Vargas de Abreu e Lima (de 1982) e o Centro de Cultura Dr. Henrique Ordovás Filho (de 2001). Mais recentemente, diversos são os novos exemplos de institutos, centros culturais, galerias de arte, ateliês e museus que conservam e divulgam a produção artística e a cultura local, dando continuidade a essa outra vocação da cidade.



Fundo 15.01.02 - Comunicação Institucional. Registros fotográficos administração Pepe Vargas - 2001-2004.
Nov. 2003. Autoria do Mário André.
Centro de Cultura Ordovás.Caxias do Sul, nov. 2003. Autoria Mário André Coelho de Souza.Fundo Prefeitura de Caxias do Sul - Comunicação Institucional. Acervo Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.
Integrantes da Banda Independente, que atuou de 1910 a 1950.[Caxias], déc. 1920. Autoria Augusto Trintinaglia.Fundo AHM. Acervo Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.
Banda União durante a distribuição de prêmios na Festa da Uva de 1933 realizada na Praça Dante Alighieri. Ao fundo, o stand da Vinícola Rio Grandense Ltda. Caxias, 1933. Autoria Giacomo Geremia.Fundo Família De Antoni. Acervo Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.
Autoria Mauro de Blanco.Fundo Mauro de Blanco. Acervo Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.

Música e canto coral

Músicos da Banda Santa Cecília. Registro do regresso de Abramo Eberle e família de sua primeira viagem à Europa. A imagem foi capturada na gare da Estação Férrea de Caxias, onde a banda Santa Cecília, inaugurando o seu novo uniforme, esperava a família.Caxias, 10/08/1928. Autoria não identificada.Fundo Metalúrgica Abramo Eberle S.A. Acervo Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.

Alguns colonos trouxeram em sua bagagem, além de roupas, ferramentas e sementes, os seus instrumentos musicais, que vibraram notas desde a saída de suas comunas, nas estações de trem, nos portos e nos navios por onde viajaram, até chegar ao Brasil. O mesmo pode-se dizer do canto, que foi trazido como um patrimônio imaterial pelos imigrantes; verbalizado para recordar os que ficaram, para ajudar a amenizar o esforço do trabalho e para celebrar a colheita, muitas vezes em grupo, a partir dos corais. Em Caxias do Sul, a primeira banda musical organizada que se tem notícia foi a Banda Santa Cecília, que tocou na solenidade de assinatura da primeira Lei Orgânica do município, dois anos após a emancipação, em 1892. Os corais organizaram-se, inicialmente, de forma amadora, nos núcleos das capelas, como são conhecidas as comunidades do interior. Posteriormente, surgiram formações profissionais, como são exemplos o Coral Municipal (de 1975) e a Orquestra Municipal de Sopros (antiga Banda Municipal, de 1986), e o Coro e a Orquestra Sinfônica da UCS (de 1968 e 2001, respectivamente). No gênero da música gaúcha, ganha destaque a formação dos Irmãos Bertussi, em 1955, conjunto originário de São Jorge da Mulada, vila do distrito caxiense de Criúva. Os Bertussi inovaram ao tocar em dupla com dois acordeons, sendo responsáveis por levar aos palcos do país a cultura regional serrana. Bandas de Rock e Pop, como a Lobo da Estepe (famosa nos anos de 1970) e a Itamone (do início dos anos de 1960) também marcaram gerações. A título de outros exemplos, o Samba é representado pelo grupo Seresteiros do Luar, e a cultura do Hip-Hop, pelo rapper Chiquinho Divilas. Músicos daqui, ou que escolheram a cidade para viver, como os violinistas Valdir Verona e Lúcio Yanel, destacam-se no cenário nacional, sem esquecer do grupo Yangos, indicado ao Grammy, em 2017. Entre os eventos que movimentam o cenário musical local, tem repercussão o Festival Brasileiro de Música de Rua e o Mississippi Delta Blues Festival. A diversidade musical também caracteriza os 130 anos do município.

Ouça a canção 'Merica, Merica', na voz do coro Stella Alpina, integrante do acervo Cancioneiro Popular da Imigração do IMHC.

Arte Escultórica, Sacra e Religiosa

A devoção dos primeiros imigrantes aos santos, explicada pela religiosidade católica, fez a produção de estatuária sacra ser um serviço muito demandado na região. Por isso, a tradição local no campo da arte escultórica foi iniciada com a produção realizada pelos “santeiros”. Um nome que se destaca é o de Tarquínio Zambelli. Com formação pela Academia de Belas Artes de Milão, Zambelli escolheu Caxias do Sul para viver e para expressar a sua arte, por meio de imagens sacras e esculturas, ornamentando igrejas e capelas. O seu trabalho, iniciado na década de 1880, teve intensa participação dos filhos, que ajudavam o pai no ateliê, chamado de Grande Laboratório Artístico. Mais tarde, em 1915, o primogênito Michelangelo Zambelli montou o seu próprio ateliê de esculturas, que funcionou, mesmo após a sua morte, até o início dos anos 2000. No espaço, trabalhou por mais de meio século a escultora Ludwina Valesca Klein Reis (a Dona Valesca, falecida em 2009), autora de obras existentes em espaços de grande movimentação da cidade, como na Estação Rodoviária. Outro escultor importante, contemporâneo à Zambelli, foi Pietro Stangherlin, chegado à Caxias ainda na década de 1870. Suas obras mais conhecidas estão na Catedral Diocesana (Santa Teresa de Ávila) e no Santuário de Caravaggio (Nossa Senhora com a vidente Joaneta). No mesmo campo artístico, tem realce a trajetória de Bruno Segalla, que iniciou jovem a sua produção no setor de gravação da Metalúrgica Abramo Eberle, sendo artífice de medalhas comemorativas. Além disso, é autor de obras icônicas da cidade, como Instinto Primeiro (homenagem à Gigia Bandera, na Praça Dante Alighieri), Estátua do Padre Giordani (no Largo da Igreja de São Pelegrino) e de Anna Rech (no bairro homônimo), Monumento aos Direitos Humanos (na Câmara de Vereadores) e o Monumento Jesus Terceiro Milênio (junto aos Pavilhões da Festa da Uva). Já as esculturas do Monumento Nacional ao Imigrante, foram obras do celebrado artista pelotense Antônio Caringi, que venceu um concurso local para adornar aquele espaço. Obras recentes, como a Beatrice, junto à estátua de Dante Alighieri na praça central, é assinada pela caxiense Dilva Conte (falecida em 2018).


Tarquinio e Estácio Zambelli, à direita, defronte ao atelier de escultura Zambelli, “O Grande Laboratório Artístico de Tarquinio Zambelli e Filhos”, localizado na Rua Júlio de Castilhos.Caxias, [ca. 1915]. Autoria Studio Geremia [Reprodução].Fundo Studio Geremia. Acervo Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.
Bruno Segalla trabalhando.Caxias do Sul. Autoria Mauro de Blanco.Fundo Mauro de Blanco. Acervo Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.
Aula de pintura na Escola Municipal de Belas Artes. A modelo é Dora Rezende Fabião.Caxias do Sul, [déc. 1950]. Autoria Studio GeremiaFundo Studio Geremia. Acervo do Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami

Pintura e cultura visual

Além da relação com a Emba, do fim dos anos de 1940, as artes visuais tiveram incentivo, em Caxias, a partir do Núcleo de Artes Visuais (NAVI). Fundado em 1988 e originário do antigo Atelier Livre, ligado à UCS, o Núcleo era responsável pela formação de diversos artistas locais e pela promoção de exposições e de discussões teóricas próprias do campo. Nos anos de 1950, a passagem de Aldo Locatelli por Caxias resultou em obras que possivelmente sejam as mais conhecidas e visitadas da cidade. Entre elas, o grande mural, com mais de 30 metros de largura, Do Itálico Berço à Nova Pátria Brasileira, exibido ao público desde 1954 no antigo Pavilhão de Exposições da Festa da Uva (hoje, Centro Administrativo Municipal), e o conjunto das pinturas sacras que preenchem a Igreja de São Pelegrino. A pintura dos murais da igreja contou com a participação do italiano Emílio Sessa. Outros artistas que elevam a arte local podem ser conhecidos a partir da produção ligada aos cartazes da Festa da Uva, que ocorreu desde 1950 até meados dos anos de 1990, quando, então, as agências de publicidade assumiram a função. São destaque de alguns cartazes, os artistas Jorge Leitão, Darwin Gazzana, Rita Brugger e Valdir dos Santos. Todos possuem outras obras conhecidas na cidade. A celebração da Festa da Uva também movimentou outros coletivos de artistas, em especial, com a realização do projeto Pinte a Festa da Uva, ocorrido em duas edições (1991 e 1994), em que muros da cidade transformaram-se em obras de arte, apresentando motivos relacionados à cultura vitivinícola local. Nos últimos anos, a arte urbana tem expressão pelo Grafite, que transforma a paisagem cinzenta e monótona do concreto. Espaços e eventos como galerias, salões e acervos, particulares ou ligados à Prefeitura (Acervo Municipal de Artes Plásticas – Amarp, Galeria Gerd Bornheim e Museu Municipal) e à UCS (Galeria do Campus 8), conservam e exibem obras de outras referências da arte plástica e visual local: Antônio Giacomin, Beatriz Susin, Celso Bordignon, Fábio Balen, Genoveva Finkler, Juventino Dal Bó, Mara De Carli, Rafael Dambrós, Sérgio Lopes, e muitos outros.

Mural do chargista Carlos Henrique Iotti, criador do personagem Radicci, que ficou conhecido em todo o Estado do RS por abordar com bom humor a cultura dos imigrantes da Serra. Autoria: Aldo Toniazzo e Ary Trentin. Acervo IMHC-UCS.
Mural do Projeto Pinte a Festa da Uva de 1994, de autoria de Elizabeth Cardoso, que ainda sobrevive na cidade. O mural está localizado na rua Matteo Gianella. Autoria: Aldo Toniazzo e Ary Trentin. Acervo IMHC-UCS.
Painel de Aldo Locatelli na Prefeitura de Caxias do Sul.

Artes Cênicas - Teatro e Dança

Nas Artes Cênicas, destacam-se ações no campo do Teatro e da Dança, seja na montagem de peças, na realização de apresentações ou na inauguração de espaços próprios para os espetáculos. A partir dos anos de 1950, a Associação Cultural Franco-Brasileira (Aliança Francesa) de Caxias do Sul passou a promover a dramaturgia, por meio do seu Atelier de Teatro, que chegou a firmar, em 1962, convênio com a Prefeitura para colaborar em “festividades cívicas, recepções ou conclaves culturais” do município. Anos mais tarde, em 1980, surgiu o Miseri Coloni, um dos mais celebrados grupos teatrais. O grupo tinha o objetivo de resgatar, preservar e cultivar a cultura de imigração. Chegou a fazer apresentações na Itália. No fim daquela década, em 1989, foi criada a Associação Caxiense de Teatro (Acat), no intuito de organizar a produção e valorizar os profissionais da cena na cidade, que tinha, àquele período, além do Miseri, também os grupos amadores Mistura e Bocas, Oficina Um, Trancos e Barrancos, Mimesis, TER, In Atos, Ribeiro Cancela e Tem Gente Teatrando (que se tornará Escola de Teatro). Em 1997, a Acat passou a promover, em conjunto com a Secretaria Municipal da Cultura, o GentEncena, evento para a mostra dos antigos e dos novos grupos. Quanto aos espaços dedicados à arte, além do palco do Teatro Pedro Parenti da Casa da Cultura, a cidade ganhou, em 2001, o espaço do UCS Teatro, passando a receber artistas locais, nacionais e internacionais. No início da década de 2010, foi inaugurada, no Centro de Cultura Ordovás, a Sala de Teatro Professor Valentim Lazzarotto, homenageando um dos principais incentivadores dessa arte em Caxias. Por outro lado, alguns espaços importantes foram perdidos, como é exemplo o Cine Teatro Ópera, que, mesmo após mobilização da comunidade local pela sua preservação, teve um triste fim em 1994.

Autoria Mauro de Blanco.Fundo Mauro de Blanco. Acervo Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.
Aula de Balé na Escola Municipal de Belas Artes. Acervo IMHC-UCS.

Quanto à Dança, a Emba foi novamente um celeiro de formação em Balé Clássico na cidade, a partir dos anos de 1950. Décadas após, já no contexto da dança contemporânea, surgiu o Grupo Raízes (1984), que conquistou diversos prêmios em encontros e festivais de dança nacionais. No mesmo período, professoras como Ilse Gruber, Sandra Trintinaglia e Dora Resende seguiram formando gerações de bailarinos em escolas particulares. Com o fim do Raízes, originou-se, em 1997, a Companhia Municipal de Danças, vanguarda no Estado, e que, além de promover apresentações, passou a incentivar a formação de novos dançarinos a partir da sua Escola Preparatória de Dança. Nas danças folclóricas, tem realce histórico o CTG (Centro de Tradições Gaúchas) Rincão da Lealdade, que, assim como a Aliança Francesa, também manteve convênio com a Prefeitura nos anos de 1960 para “organizar espetáculos folclóricos e recepções” durante eventos oficiais do município. Atualmente, a tradição das danças gaúchas é mantida pelos mais de 60 CTG’s existentes na cidade. Outros gêneros, como as danças urbanas, são praticados e exibidos em eventos e mostras anuais.

Bailado Cafezais do Sem Fim, realizado no Cine Ópera, no evento “Primavera da Canção Gaúcha”, apresentado pelo Grupo de Danças Raízes e com coreografias de Jair Moraes. Caxias do Sul, déc. 1980. Autoria Nilo Tadeu Moreira. Fundo Grupo de Danças Raízes. Acervo Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.
Imagens Teatro Apollo, depois denominado Cine Ópera.Acervo Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.

Cinema

Nos primórdios da vila de Caxias, o acesso às produções cinematográficas acontecia por meio dos chamados “cinemas ambulantes”, em sessões nas comunidades, através de um projetor móvel e de filmes em película, levados geralmente por um itinerante. Nos anos de 1920 surgem as primeiras casas de cinema na cidade, sendo o Juvenil o primeiro a inaugurar esse serviço. Logo após, para fazer concorrência acirrada com o precursor, surgiu o Cinema América, seguido de muitos outros: Juvenil, Pathé, União, Iris, Ideal, Coliseu, Riograndense, Apollo (depois, Ópera), Juventude, Central, Guarani, Real e Imperial. A quantidade desses estabelecimentos, nas primeiras décadas do século passado, demonstra como o cinema era um produto moderno, de grande aceitação e consumo pela sociedade local, que buscava entretenimento, diversão e lugar para o namoro, especialmente nas matinês, exibições que ocorriam ao fim de tarde.

Acervo Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.

A cidade também teve precursoras produtoras audiovisuais, como a de Manuel Tomazzoni (Tomazzoni Filmes), a de Itacir Rossi e a de Nazareno Michelin (Michelin Filmes). Além dessas, merece destaque a produção de alguns amadores, como Oscar Boz e Idorly Zatti, que, pelo seu entusiasmo com a chamada “sétima arte”, documentaram e eternizaram em movimento os acontecimentos da cidade.

Nas últimas décadas, os cinemas passaram por algumas crises, levando ao fechamento de várias salas. No entanto, o cinema encontrou espaço nos shopping centers, onde o circuito tem apelo mais comercial, e na Sala de Cinema Ulysses Geremia do Centro de Cultura Ordovás, que exibe produções alternativas ou do “cinema de arte”.

O setor audiovisual local, por sua vez, tem realizado destacadas produções, entre séries, curtas-metragens e documentários, ganhando espaço no circuito nacional. Produtores culturais têm executado ações que ampliam o acesso ao cinema e promovem a sua produção, como os recentes projetos Cinema de Verão e CineSerra.

Documentário Imagens da Cidade, produzido pela UCS, por Juventino Dal Bó, Luiza Horn Iotti e Maurício Moraes, a partir de acervos fílmicos da UCS e do Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.

Literatura e Poesia

AP JJE 001.pdf
Carta de Imigrante. Fundo Júlio João Eberle. Acervo Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.

A verve literária é pulsante em Caxias. As cartas produzidas pelos imigrantes recém-chegados guardam os primeiros registros escritos, íntimos, da experiência do processo de colonização. Em seguida, os jornais locais foram espaço para a expressão literária, por meio do conto, da crônica e da poesia. É o caso, por exemplo, de uma obra que marcou época: a história de Nanetto Pipetta, escrita por Aquiles Bernardi (ou Frei Paulino de Caxias). Primeiro, a obra foi publicada na forma de episódios semanais nas páginas do jornal Stafetta Riograndense (depois, Correio Riograndense), entre os anos de 1924 e 1925, e , mais tarde, em 1937, reunidos em livro. Entre os anos de 1920 e 1930 diversos autores surgem no cenário literário da cidade, com obras como crônicas, poemas e de caráter técnico-científico, como são exemplos: Artur de Lavra Pinto, Celeste Gobbato, Dom José Barea (bispo diocesano), Joaquim Pedro Lisboa, Ítalo Balen, Natal Chiarello, e Vico Parolini Thompson. Contribuem para esse cenário de efervescência cultural o espaço das livrarias, como a Livraria e Tipografia Saldanha, localizada na Avenida Júlio de Castilhos, e a criação, em 1947, da Biblioteca Pública Municipal. Mais tarde, tem início a formação de grupos literários. Surgido em 1958, o Grupo Folha de Parreira, vinculado à Aliança Francesa, foi um dos primeiros da cidade. No mesmo ano, uma Feira Popular do Livro foi organizada, com apoio da Prefeitura.

Na década de 1960, marcos importantes ocorreram para a valorização da literatura local. No ano de 1962 foi fundada a Academia Caxiense de Letras e, em 1967, foi iniciada a tradição do Concurso Anual Literário, um dos principais meios de incentivo às novas produções. Para as obras literárias, o concurso oferece o Prêmio Vivita Cartier, que faz homenagem à poetisa porto-alegrense que escolheu, ainda jovem, o distrito de Criúva para viver, e onde produziu boa parte de seus poemas. O ano de 1967 também marcou o surgimento do Grupo Matrícula, que resultou na expressão de importantes autores regionais: Oscar Bertholdo (de Farroupilha), José Clemente Pozenato, Jayme Paviani e Ary Nicodemos Trentin. Ainda naquela década, em 1966, foi publicada a primeira obra sobre a história de Caxias do Sul, escrita pelo memorialista João Spadari Adami, autor que hoje denomina o Arquivo Histórico Municipal. A década de 1970 foi marcada pela criação da primeira editora caxiense, a Editora da Universidade de Caxias do Sul (Educs, de 1976). Na década seguinte, a partir de 1984, a Prefeitura passou a capitanear a organização da Feira do Livro, evento de tradição anual. Entre as produções mais recentes, há muitos nomes que poderiam ser registrados. Por terem alcançado projeção nacional, destacam-se: José Clemente Pozenato, com a obra 'O Quatrilho', adaptada para o cinema no filme de título homônimo, indicado ao Oscar em 1996, e Natália Borges Polesso, com 'Amora', livro de contos que versam sobre relações homossexuais entre mulheres, vencedor do Prêmio Jabuti em 2016.

Inauguração do Centro Informativo da História Caxiense.Contou com as presenças de Pedro Simon, Julio João Eberle e sua esposa Alda Muratore Eberle, Pedro Olavo Hoffmann, João Spadari Adami, Etelvina Lautert de Castro Adami e Joaquim Mano. Fundo João Spadari Adami. Acervo Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.
O livro que aparece em uma das fotografias, de 74 cm por 48 cm e pesando cerca de 7kg. Foi transcrito por João Spadari Adami e arquiva mais de 750 documentos relacionados à história caxiense.

Fotografia

A arte e técnica da Fotografia teve um grande desenvolvimento em Caxias. Muitos dos primeiros fotógrafos eram imigrantes que traziam consigo o ofício, ou que aqui aprendiam com algum profissional mais experiente. Há registros de ateliês de fotografia na região desde o final do século XIX. O surgimento de novas “casas de tirar retratos”, como eram inicialmente conhecidas, foi constante à medida que Caxias crescia. Além de atender a clientela nos seus estabelecimentos, quase sempre localizados na região central da cidade, os profissionais também atuavam como itinerantes, percorrendo o interior para oferecer o serviço aos colonos, que se trajavam solenemente para os registros. A paisagem, o trabalho, as fábricas, as ruas e as praças também estavam no foco de suas lentes e no enquadramento de suas chapas fotográficas, legando para a posteridade um patrimônio visual de relevância histórica. Alguns nomes significativos do início da Fotografia em Caxias do Sul, até os anos de 1960, são: Giovanni Battista Serafini, Francesco Moscani, Umberto Zanella, Domingos Mancuso, Giacomo e Ulysses Geremia, Julio Calegari, Clemente Tomazoni, Antônio Beux, Mauro De Blanco, Ary Pastori, Hildo Boff, Basílio Scalco, José Maccagnan. Entre os anos de 1970 e 1980, novos profissionais surgiram, muitos vinculados à fotografia de imprensa ou fotojornalismo. Entre os entusiastas da arte, mas também congregando alguns profissionais, surgiu, em 1980, o Clube do Fotógrafo de Caxias do Sul. Nos dias atuais, o trabalho autoral tem sido o gênero escolhido pelos profissionais para proporcionar a reflexão sobre diferentes temas por meio da Fotografia.

Retrato de Mulher. Autoria Studio Geremia.Fundo Studio Geremia. Acervo Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.
Interior do Atelier de Julio Calegari.Caxias, déc. 1920. Autoria Julio CalegariFundo Julio Calegari. Acervo Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.
Estúdio de Mauro de Blanco, na avenida Júlio de Castilhos.Caxias do Sul, [déc. 1970]. Autoria Mauro de Blanco.Fundo Mauro de Blanco. Acervo Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.

Movimentos Culturais

Os movimentos culturais jovens, principalmente movimentos de resistência, acontecem desde os anos de 1980. No ano de 1982, aconteceu em Caxias do Sul o Cio da Terra, primeiro encontro da juventude gaúcha. Aos moldes de Woodstock, cerca de 15 mil jovens compareceram aos pavilhões da Festa da Uva, para exatar a liberdade, no momento em que o regime militar mostrava esgotamento. Ali foi dada a partida para vários outros movimentos que passaram a acontecer na cidade.

Manifestasol na Estação Férrea.Caxias do Sul, 08/nov./2008. Autoria Morgana Perini.Divulgação Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.


Cio da Terra.Caxias do Sul, 1982. Autrria Antonio Carlos GalvãoFundo Antonio Carlos Galvão. Acervo Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami

Referências

  • Foto de Capa: Festividade comemorativa pela chegada do Dr. João Abott, Secretário de Estado dos negócios do interior e exterior na gestão Borges de Medeiros. Vila de Santa Teresa de Caxias, 1908. Fundo Metalúrgica Abramo Eberle S.A. Acervo Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.
  • Anais de Sessões Legislativas da Câmara de Vereadores de Caxias do Sul. Acervo: Centro de Memória da Câmara de Vereadores.
  • ANTUNES, Duminiense Paranhos. Documentário histórico do município de Caxias do Sul: 1875-1950: comemorativo do 75º aniversário da colonização. São Leopoldo, RS: Artegráfica Comércio e Indústria, 1950.
  • Boletins Cenas do AHMJSA sobre as Fotografia em Caxias do Sul.
  • BRAMBATTI, Luiz Ernesto. Locatelli em Caxias. Porto Alegre, RS: Metrópole, 2003 .
  • CECCHIN, Aline Brustulin. Mapeamento e análise do cenário editorial e literário da Serra Gaúcha (2000-2016). Tese (Doutorado em Letras). Universidade de Caxias do Sul/Uniritter, 2018.
  • _____. Poetas em “reunião”: o Grupo Matrícula e a consolidação de um sistema literário regional na Serra Gaúcha. Dissertação (Mestrado em Letras, Cultura e Regionalidade). Universidade de Caxias do Sul, 2014.
  • COSTA, Liliane Maria Vieiro da. A Escola Municipal de Belas Artes de Caxias do Sul: histórias e memórias (1949 a 1967). Dissertação (Mestrado em Educação). Universidade de Caxias do Sul, 2012.
  • DOBERSTEIN, Arnoldo Walter (Org.). Emilio Sessa, pintor: primeiros tempos. Porto Alegre: Gastal&Gastal, 2012.
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  • KIRST, Marcos Fernando. A história nas estantes: 60 anos da Biblioteca Pública Municipal Dr. Demetrio Niederauer. Caxias do Sul: Belas-Letras, 2007.
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  • TOMAZONI, Mário Alberto. Álbuns da cidade de Caxias (1935-1947) : as reformas urbanas fotografadas. 2011. Dissertação (Mestrado em História) - Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2011.
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  • _____. Programa Temática, de Beverli Rocha. Entrevista com Zica Stockmans sobre a história das práticas teatrais em Caxias do Sul. 29/7/2019. Disponível em: https://www.tuaradio.com.br/noticias/cultura/29-07-2019/conheca-a-historia-de-desenvolvimento-da-pratica-teatral-em-caxias-do-sul .