Caxias do Sul foi concebida como uma colônia, isto é, um local para receber imigrantes. A política colonial imperial pretendia povoar a região com imigrantes europeus. Assim, chegaram os imigrantes italianos, em sua maioria. Além deles, poloneses, portugueses, espanhóis, austríacos e outros tantos vindos de além mar. Desde o princípio, Caxias também atraiu migrantes locais que buscavam oportunidades, os chamados brasileiros, vindos dos Campos de Cima da Serra; afro-brasileiros, luso-brasileiros e indígenas. Eles carregavam as culturas brasileira e gaúcha, que se mesclaram com as culturas trazidas da Europa. Dessa forma, foram criando uma cidade de migrantes, multicultural e, ao mesmo tempo, com cultura própria.
Hoje, Caxias do Sul recebe novos grupos: sul-americanos, haitianos, senegaleses e tantos outros. Novos perfis e novas culturas que se somam, transformando e formando a cidade de amanhã.
Nos últimos séculos, cada povo, onde quer que tenha nascido, foi atingido por poder e cobiça, por crenças e desígnios da expansão europeia. Alegando que o homem branco tinha a tarefa de civilizar o mundo, a história do Brasil se integra nesse processo quando indígenas são desgarrados de suas tribos e, por via da escravidão, negros trazidos à força da África. A miscigenação de uns com os outros e dos europeus com todos plasmou o povo brasileiro. No século XIX, quando os imigrantes italianos chegaram ao Nordeste do Rio Grande do Sul, encontraram um Brasil racialmente heterogêneo, socialmente desigual e coeso apenas pela unidade do idioma. Neste ambiente, os italianos, assim como os demais imigrantes europeus, tiveram de se inserir.
Ainda hoje conflitos e questões econômicas fazem com que outros grupos sejam atraídos para a Serra Gaúcha, buscando estabilidade e oportunidade. Constantemente, novos grupos chegam à cidade, que escolheu por símbolo máximo, o Monumento, em homenagem a todos os imigrantes.
Antes da colonização da Serra Gaúcha, a região fora ocupada por diversos grupos indígenas, entre eles, os caingangues. Muito tempo antes da chegada dos colonos, estes grupos já haviam sido dizimados ou expulsos da região, que era conhecida como Campo dos Bugres. Mesmo assim legaram vários hábitos aos colonizadores.
Os luso-brasileiros lideraram as expedições de reconhecimento e demarcação das terras dos núcleos da colonização, visando demarcar os lotes onde seriam assentados os imigrantes europeus. Dessa maneira, medindo terras, distribuindo lotes, os lusos brasileiros foram os primeiros administradores e funcionários públicos de Caxias Sul. Entre eles, advogados e outros profissionais liberais atendiam os colonos que chegavam. Foram também os fundadores dos primeiros jornais. Com os lusos, os imigrantes aprenderam a falar o português, a tecer a renda, a montar num cavalo e "lutar" contra os mouros nas encenações das cavalhadas. Aprenderam a conduzir o Terno de Reis, a erguer a Bandeira do Divino, tornando a festa religiosa, a mais popular da região.
Entre os imigrantes, poucos eram portugueses natos. Estes haviam chegado nas primeiras décadas do século XX. Mestres na fabricação de barris, os portugueses foram atraídos pela oferta de trabalho no setor tanoeiro, que se expandia junto com a vitivinicultura. Os italianos sabiam processar o vinho, os portugueses sabiam fabricar os barris e, na troca de experiências e habilidades, as duas culturas se aglutinaram. Nesta época se constituiu o bairro Lusitano, na área compreendida entre as ruas Tronca, Visconde de Pelotas, Garibaldi e Sarmento Leite.
Os afro-brasileiros, na maioria originários dos Campos de Cima da Serra, chegaram aos poucos, não eram imigrantes e tampouco lhes foram concedidas terras. Traziam na bagagem a experiência de lidar com o gado e arar a terra. Guardavam na memória as histórias da senzala. Fizeram-se brasileiros como escravos e, na condição de homens livres, tornaram-se agregados nas fazendas ou tropeiros.
Instalaram-se nas proximidades do núcleo urbano, nas periferias. Trabalharam abrindo e pavimentando ruas, nas fábricas, na construção civil, nos serviços públicos. Os negros ajudaram a construir a cidade pelos seus alicerces, preservando suas raízes culturais com muita luta.
O gaúcho é uma mescla de etnias e culturas. Desta fusão nasceu o hábito do chimarrão e do churrasco. Adotou um jeito próprio de trajar, manifestou o gosto pela música, pela lida e pela guerra, demarcando fronteiras. Ser gaúcho foi o jeito que o imigrante encontrou para ser brasileiro, incorporando e cultuando hábitos e tradições, e assim, sentindo-se acolhido na nova Pátria.
Antes mesmo dos italianos, os alemães já estavam aqui, em locais como a Linha Boêmia. Continuaram chegando, demarcaram as roças, construíram as casas, ergueram os templos e as escolas.
Mesmo quando excluídos, mantiveram-se fiéis às suas tradições e, pouco a pouco, se integraram aos demais, utilizando sua bagagem cultural. A experiência de múltiplos ofícios impulsionou a agricultura, a indústria, o comércio, além de incorporar às cidades um pouco das feições de seus locais de origem.
Na época das migrações a Polônia não existia como nação. Perseguidos, os poloneses deixaram suas terras em busca de liberdade, trabalho e pão, emigrando para outras terras. Eles constituíram a terceira maior corrente migratória que aportou em terras brasileiras, principalmente a partir de 1890. Porém, sua sina aqui não foi diferente, discriminados e excluídos esperavam pelo seu lote, enquanto enfrentavam a doença e fome. Estabeleceram-se na 9ª Légua e em São Marcos.
Os italianos chegaram em Caxias do Sul a partir de 1875. Eram artesãos, camponeses e operários, os imigrantes italianos que aqui chegaram, vieram para ser donos de sua terra, sua casa, seu negócio. De lá trouxeram a experiência, o conhecimento e a religiosidade. Chegaram como vênetos, milaneses e tiroleses e aqui se constituíram como imigrantes italianos.
A situação peculiar que encontraram, uma experiência de reforma agrária, em que o comércio e a manufatura tinham espaço para crescer e prosperar, fez com que se formasse a identidade do caxiense, fruto da relação desses homens e mulheres com o trabalho.
A história, os valores, a cultura dos imigrantes italianos se revela na culinária, no artesanato, nas vinícolas, nas fábricas e no jeito de falar.
Quem migra, além de motivado pelas questões econômicas, migra pela ideia de mudança, crescimento e oportunidade. Os diferentes grupos que migraram para Caxias do Sul também tinham essa motivação. Mas nem sempre o imigrante é recebido pelos locais de “braços abertos”. Os recém chegados precisam conquistar seu lugar, provando a todo momento seu valor. Nos últimos 10 anos, Caxias do Sul passou a receber novos fluxos migratórios, principalmente de haitianos, senegaleses e ganeses.
A imigração de haitianos cresceu a partir de 2011. Devido ao terremoto no Haiti, o Brasil passou a ser um destino desta população, uma vez que os governos dos dois países mantêm relações próximas. Os senegaleses vêm para a região desde 2011, mas, a partir de 2013, este fluxo aumenta. Estes dois grupos representam a parcela mais significativa de novos imigrantes chegados a Caxias do Sul nos últimos anos. No ano de 2015, a Secretaria de Saúde da Prefeitura de Caxias do Sul registrou 1.709 imigrantes provenientes do Senegal e 1.655 do Haiti.