Formação Econômica
Conheça um pouco do contexto econômico e da história do trabalho em Caxias do Sul.
Caxias do Sul no contexto econômico nacional
A Colônia Caxias e as demais colônias criadas no Rio Grande do Sul e no Brasil, na segunda metade do século XIX e primeiras décadas do século XX, foram inseridas dentro de uma economia organizada já por centenas de anos para funcionar baseada na produção agrícola de poucos produtos, em grandes extensões de terra, com mão de obra escrava e voltada para o comércio exterior. As colônias eram como ilhotas no grande oceano da economia agroexportadora brasileira.
Criadas no Império, de política econômica liberal e agroexportadora, continuaram como ambientes econômicos não hegemônicos com o advento da República, que manteve o modelo no país.
Mas se a economia brasileira até 1930 continuou voltada para o exterior, a de Caxias continuou voltada para o mercado interno, e crescendo de forma consistente. A economia agrícola de subsistência dos seus princípios foi criando excedentes, que com o passar do tempo garantiram um circuito agrocomercial de acumulação de riqueza. Esse crescimento foi resultado do regime econômico local de pequena propriedade, mão de obra familiar, produzindo para seu território e para as regiões do estado que necessitavam de seus produtos. Não demorou para sua produção chegar a mercados do centro do país.
Ao mesmo tempo que a agricultura e o consequente comércio foram aumentando seu dinamismo, ocorreram a criação de artesanatos e manufaturas que ofertavam ao mercado caxiense as mercadorias demandadas pela vida socioeconômica da comunidade.
O modelo econômico da pequena propriedade com mão de obra familiar e voltada ao mercado interno foi criando um circuito virtuoso, mesmo inserido numa economia regional e, principalmente nacional, de orientação oposta.
Em conjunto e ao mesmo tempo, a presença do poder público, mesmo em ambiente econômico liberal, foi muito forte e positiva. Foram inúmeras as intervenções no território da colônia e depois município, com aplicação de recursos em infraestrutura, permitindo a expansão da acelerada dinâmica local. Duas dessas foram decisivas: a ponte do Korff, no rio das Antas, e a ferrovia até Montenegro.
A Revolução de 1930 rompe com a política econômica do Império e da República. O choque externo recebido pela crise de 1929, estrangulando o comércio exterior e a renda nacional, dependente do café, mais a visão de política econômica dos novos dirigentes nacionais, encaminha o país no rumo do desenvolvimentismo. E isso significou industrialização. De então até 1980, a antiga economia agroexportadora foi se transformando numa economia industrial, relacionada no início com o capital nacional e posteriormente com o capital estrangeiro.
A reorientação da política econômica brasileira encontrou Caxias (e boa parte da antiga área colonial) em condições de aumentar o seu dinamismo. Acelerou-se a industrialização da cidade, a população como força de trabalho cresceu, e a diversificação econômica e da indústria de transformação foram uma constante.
Novamente, ao mesmo tempo, a presença do poder público foi forte, com inúmeras inversões, com destaque fundamental para a Estrada Federal Getúlio Vargas, escoadouro indispensável para a nova fase expansionista da economia local. No desenvolvimentismo, a política econômica e a inversão em obras públicas tiveram um efeito impulsionador à iniciativa dos particulares. A cidade consolidou seu perfil industrial no campo econômico.
As crises dos anos 1970 e 1980, do petróleo e da dívida externa, jogaram o país em duas décadas perdidas. A orientação desenvolvimentista e industrializante que transformou a economia brasileira foi substituída pelo liberalismo, apresentado como um programa para debelar a hiperinflação resultante do último período da ditadura militar e do primeiro da redemocratização.
A economia local sofreu os efeitos dessas décadas, com a venda de gigantes para capitais de fora da cidade ou com o enfrentamento de recuperações judiciais. Porém, a diversificação da economia como um todo e principalmente a diversificação da indústria de transformação, consolidada por décadas, fizeram com que a economia caxiense se recuperasse mais rápido que o conjunto da brasileira. A participação da indústria no produto total da economia da cidade, apesar disso, foi diminuindo, acompanhando a queda da participação da indústria na economia brasileira. Mas no caso de Caxias, a queda foi menor e mais lenta.
A partir do início da década dos anos 2000, a nova orientação da política econômica nacional encontrou Caxias preparada para atender o mercado interno que se expandia. Junto a isso, muitas empresas industriais também consolidaram seus mercados internacionais, além de criarem subsidiárias em diversos países.
Até meados da década de 2010, o crescimento do produto interno caxiense foi muito expressivo, chegando a “níveis chineses.” A imprensa do centro do país registrava esse crescimento, baseado em capital local, com vendas industriais para o mercado interno, mercado externo e também para compras governamentais.
A crise econômica brasileira da segunda metade dos anos 2010 rompeu com o ciclo dinâmico da economia local, causando muito desemprego industrial e impacto negativo no produto interno, que ainda não se recuperou.
Trabalhadores
Na história do trabalho em Caxias do Sul, destaca-se a experiência dos trabalhadores. No contexto pós-emancipação, a força de trabalho local era constituída pelos imigrantes das primeiras levas, de diferentes origens, que ocupavam ofícios diversos, para além das atividades agrícolas que marcaram as primeiras décadas do município. No início, também destacavam-se os setores vinícola, das madeireiras e têxtil, e existiam outras pequenas fábricas, localizadas na zona urbana, que empregavam os trabalhadores, como marcenarias e carpintarias, ferrarias, fábricas de bebidas, de derivados da carne suína, alfaiatarias... Concomitantemente, crescia o setor metalúrgico, sendo o que irá absorver boa parte da mão de obra operária local.
Neste setor, a antiga Metalúrgica Abramo Eberle é um exemplo significativo, pois chegou a empregar em torno de 25% dos trabalhadores da indústria, isso na década de 1920. Na Eberle trabalharam os aprendizes, a partir dos oito anos de idade, e adultos, homens e mulheres, em período no qual as relações de trabalho eram caracterizadas pelo paternalismo. Outros setores que passam a empregar boa parte dos trabalhadores são o do comércio – que deixará, aos poucos, de estar vinculado estritamente ao âmbito familiar –, e o de serviços, diversificando as atividades econômicas locais. Na realidade atual é importante destacar as novas configurações do mundo do trabalho, em que novas modalidades de emprego vêm ocupando um lugar significativo na economia, não sem o acompanhamento pelas organizações e associações coletivas dos trabalhadores – os sindicatos, existentes desde os anos de 1930 em Caxias –, que representam as diferentes categorias profissionais.
Linha do tempo da economia caxiense
Referências
- Foto de Capa: Feira livre na rua Feijó Júnior esquina com a rua Sinimbu. Caxias do Sul, 1948. Autoria Studio Geremia. Fundo Studio Geremia. Acervo Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.
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- MACHADO, Maria Abel. Mulheres sem rosto. Caxias do Sul, RS: Maneco, 1998.
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- TESSARI, Anthony Beux. Imagens do labor : memória e esquecimento nas fotografias do trabalho da antiga metalúrgica Abramo Eberle (1896-1940). Dissertação Mestrado em História. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2013.
- TISOTT, Ramon Victor. Formar trabalhadores, transformar a sociedade: o ensino industrial em três tempos (Caxias do Sul, 1901-1964). Tese Doutorado em História. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2017.
- Projeto de Pesquisa: Formação econômica regional: 1875-2000. Integrantes: Loraine Slomp Giron - Coordenador / Vania Beatriz Merlotti Herédia - Integrante / Roberto Radunz - Integrante / Aline Marques de Freitas - Integrante / Lucas Caregnato - Integrante / Mário Alberto Tomazoni - Integrante.