Formação Étnica

Diversos grupos de imigrantes contribuíram e ainda contribuem para o desenvolvimento de Caxias do Sul.

Caxias do Sul foi concebida como uma colônia, isto é, um local para receber imigrantes. A política colonial imperial pretendia povoar a região com imigrantes europeus. Assim, chegaram os imigrantes italianos, em sua maioria. Além deles, poloneses, portugueses, espanhóis, austríacos e outros tantos vindos de além mar. Desde o princípio, Caxias também atraiu migrantes locais que buscavam oportunidades, os chamados brasileiros, vindos dos Campos de Cima da Serra; afro-brasileiros, luso-brasileiros e indígenas. Eles carregavam as culturas brasileira e gaúcha, que se mesclaram com as culturas trazidas da Europa. Dessa forma, foram criando uma cidade de migrantes, multicultural e, ao mesmo tempo, com cultura própria.

Hoje, Caxias do Sul recebe novos grupos: sul-americanos, haitianos, senegaleses e tantos outros. Novos perfis e novas culturas que se somam, transformando e formando a cidade de amanhã.

[Caxias], déc. 1910. Autoria Domingos Mancuso.Doação Francisco Fortuna. Fundo Domingos Mancuso.Acervo Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.

Das migrações se formou Caxias do Sul

Nos últimos séculos, cada povo, onde quer que tenha nascido, foi atingido por poder e cobiça, por crenças e desígnios da expansão europeia. Alegando que o homem branco tinha a tarefa de civilizar o mundo, a história do Brasil se integra nesse processo quando indígenas são desgarrados de suas tribos e, por via da escravidão, negros trazidos à força da África. A miscigenação de uns com os outros e dos europeus com todos plasmou o povo brasileiro. No século XIX, quando os imigrantes italianos chegaram ao Nordeste do Rio Grande do Sul, encontraram um Brasil racialmente heterogêneo, socialmente desigual e coeso apenas pela unidade do idioma. Neste ambiente, os italianos, assim como os demais imigrantes europeus, tiveram de se inserir.

Ainda hoje conflitos e questões econômicas fazem com que outros grupos sejam atraídos para a Serra Gaúcha, buscando estabilidade e oportunidade. Constantemente, novos grupos chegam à cidade, que escolheu por símbolo máximo, o Monumento, em homenagem a todos os imigrantes.

Assista ao vídeo sobre a construção e inauguração do Monumento Nacional ao Imigrante. Acervo Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.

Antes dos imigrantes, os “donos” da terra

Antes da colonização da Serra Gaúcha, a região fora ocupada por diversos grupos indígenas, entre eles, os caingangues. Muito tempo antes da chegada dos colonos, estes grupos já haviam sido dizimados ou expulsos da região, que era conhecida como Campo dos Bugres. Mesmo assim legaram vários hábitos aos colonizadores.

Luso-brasileiros e Portugueses

Os luso-brasileiros lideraram as expedições de reconhecimento e demarcação das terras dos núcleos da colonização, visando demarcar os lotes onde seriam assentados os imigrantes europeus. Dessa maneira, medindo terras, distribuindo lotes, os lusos brasileiros foram os primeiros administradores e funcionários públicos de Caxias Sul. Entre eles, advogados e outros profissionais liberais atendiam os colonos que chegavam. Foram também os fundadores dos primeiros jornais. Com os lusos, os imigrantes aprenderam a falar o português, a tecer a renda, a montar num cavalo e "lutar" contra os mouros nas encenações das cavalhadas. Aprenderam a conduzir o Terno de Reis, a erguer a Bandeira do Divino, tornando a festa religiosa, a mais popular da região.

Entre os imigrantes, poucos eram portugueses natos. Estes haviam chegado nas primeiras décadas do século XX. Mestres na fabricação de barris, os portugueses foram atraídos pela oferta de trabalho no setor tanoeiro, que se expandia junto com a vitivinicultura. Os italianos sabiam processar o vinho, os portugueses sabiam fabricar os barris e, na troca de experiências e habilidades, as duas culturas se aglutinaram. Nesta época se constituiu o bairro Lusitano, na área compreendida entre as ruas Tronca, Visconde de Pelotas, Garibaldi e Sarmento Leite.

Operários da Tanoaria da empresa Luiz Antunes & Cia, Do lado esquerdo Armando Luiz Antunes.Caxias, déc. 1930. Studio Geremia.Fundo Luiz Antunes & Cia. Acervo Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.
AMN 013 (01) AL-006-175
Retrato de Guilherme Mano trabalhando na tanoaria da Vinícola Antunes.
Caxias, c. 1915.
Cedência Isaura Mano Bonho. Divulgação Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.
Retrato de Guilherme Mano trabalhando na tanoaria da Vinícola Antunes.Caxias, c. 1915.Cedência Isaura Mano Bonho. Divulgação Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.


Maria Felícia dos Santos de Jesus com os filhos Libio, Aracy e Nely.Caxias do Sul, [déc. 1940].Coleção Rosa Preiss. Acervo Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.

Afro-brasileiros

Os afro-brasileiros, na maioria originários dos Campos de Cima da Serra, chegaram aos poucos, não eram imigrantes e tampouco lhes foram concedidas terras. Traziam na bagagem a experiência de lidar com o gado e arar a terra. Guardavam na memória as histórias da senzala. Fizeram-se brasileiros como escravos e, na condição de homens livres, tornaram-se agregados nas fazendas ou tropeiros.

Instalaram-se nas proximidades do núcleo urbano, nas periferias. Trabalharam abrindo e pavimentando ruas, nas fábricas, na construção civil, nos serviços públicos. Os negros ajudaram a construir a cidade pelos seus alicerces, preservando suas raízes culturais com muita luta.

Obras de pavimentação com paralelepípedos da Rua Vinte de Setembro, Bairro Jardelino Ramos.Caxias do Sul, c. 1976. Fundo Prefeitura Municipal de Caxias do Sul. Acervo Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.
Saiba um pouco mais sobre as relações étnico-raciais em Caxias do Sul sob o ponto de vista dos afro-brasileiros neste vídeo historiográfico produzido pelo Instituto Memória Histórica e Cultural da UCS, Centro de Memória e TV Câmara da Câmara de Vereadores de Caxias do Sul em 2013. Duração: 57 minutos.

O Gaúcho

O gaúcho é uma mescla de etnias e culturas. Desta fusão nasceu o hábito do chimarrão e do churrasco. Adotou um jeito próprio de trajar, manifestou o gosto pela música, pela lida e pela guerra, demarcando fronteiras. Ser gaúcho foi o jeito que o imigrante encontrou para ser brasileiro, incorporando e cultuando hábitos e tradições, e assim, sentindo-se acolhido na nova Pátria.

Honeyde Bertussi, com a gaita e um peão de estância.Criúva – Caxias do Sul, [déc. 1950]. Autoria CavalcantiColeção Joaquim Pedro Lisboa. Acervo Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.
Família Schmitt HornCaxias - RS, 1932/1933. Autoria não identificada.Fundo Zaíra Kalikowski. Acervo Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.

Alemães

Antes mesmo dos italianos, os alemães já estavam aqui, em locais como a Linha Boêmia. Continuaram chegando, demarcaram as roças, construíram as casas, ergueram os templos e as escolas.

Mesmo quando excluídos, mantiveram-se fiéis às suas tradições e, pouco a pouco, se integraram aos demais, utilizando sua bagagem cultural. A experiência de múltiplos ofícios impulsionou a agricultura, a indústria, o comércio, além de incorporar às cidades um pouco das feições de seus locais de origem.

Poloneses

Na época das migrações a Polônia não existia como nação. Perseguidos, os poloneses deixaram suas terras em busca de liberdade, trabalho e pão, emigrando para outras terras. Eles constituíram a terceira maior corrente migratória que aportou em terras brasileiras, principalmente a partir de 1890. Porém, sua sina aqui não foi diferente, discriminados e excluídos esperavam pelo seu lote, enquanto enfrentavam a doença e fome. Estabeleceram-se na 9ª Légua e em São Marcos.

Família Jaceski.São Marcos, 1928.Cedência Arilde Cecília Chemello Bertelli.Divulgação Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.
Família De Nardi exibindo "bochas de pinhão", sementes comestíveis de Araucária, árvore típica da região.Caravaggio, Caxias. [c. 1926]. Autoria não identificada.Fundo Maria Cambruzzi. Acervo Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.
CFA [B2324]
Vindima na propriedade da família de Ludovico Cavinato.
Caxias, 1918. Autoria Giacomo Geremia.
Fundo Família Cavinato. Acervo Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami
Vindima na propriedade da família de Ludovico Cavinato.Caxias, 1918. Autoria Giacomo Geremia.Fundo Família Cavinato. Acervo Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami

Italianos

Os italianos chegaram em Caxias do Sul a partir de 1875. Eram artesãos, camponeses e operários, os imigrantes italianos que aqui chegaram, vieram para ser donos de sua terra, sua casa, seu negócio. De lá trouxeram a experiência, o conhecimento e a religiosidade. Chegaram como vênetos, milaneses e tiroleses e aqui se constituíram como imigrantes italianos.

A situação peculiar que encontraram, uma experiência de reforma agrária, em que o comércio e a manufatura tinham espaço para crescer e prosperar, fez com que se formasse a identidade do caxiense, fruto da relação desses homens e mulheres com o trabalho.

A história, os valores, a cultura dos imigrantes italianos se revela na culinária, no artesanato, nas vinícolas, nas fábricas e no jeito de falar.

Novos Imigrantes

Quem migra, além de motivado pelas questões econômicas, migra pela ideia de mudança, crescimento e oportunidade. Os diferentes grupos que migraram para Caxias do Sul também tinham essa motivação. Mas nem sempre o imigrante é recebido pelos locais de “braços abertos”. Os recém chegados precisam conquistar seu lugar, provando a todo momento seu valor. Nos últimos 10 anos, Caxias do Sul passou a receber novos fluxos migratórios, principalmente de haitianos, senegaleses e ganeses.

A imigração de haitianos cresceu a partir de 2011. Devido ao terremoto no Haiti, o Brasil passou a ser um destino desta população, uma vez que os governos dos dois países mantêm relações próximas. Os senegaleses vêm para a região desde 2011, mas, a partir de 2013, este fluxo aumenta. Estes dois grupos representam a parcela mais significativa de novos imigrantes chegados a Caxias do Sul nos últimos anos. No ano de 2015, a Secretaria de Saúde da Prefeitura de Caxias do Sul registrou 1.709 imigrantes provenientes do Senegal e 1.655 do Haiti.


Desfile Cênico Musical da Festa da Uva.Caxias do Sul, 2014. Autoria Andreia Copini.Arquivo da Prefeitura Municipal. Acervo Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.
Desfile Cênico Musical da Festa da Uva, que teve como tema "Na Alegria da Diversidade".Caxias do Sul, 2014. Autoria Andreia Copini.Arquivo da Prefeitura Municipal. Acervo Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.

Referências

  • Foto de Capa: Clube das Margaridas, por ocasião do baile de coroação da Rainha, Srtª Iracema Nair Vieira, à direita do popular "Jacó", membro da diretoria do Clube. Caxias, déc. de 1930. Autoria Julio Calegari. Fundo João Spadari Adami. Acervo Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.
  • Texto elaborado a partir de textos produzidos pela historiadora Sônia Storchi Fries, do Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami, para Festa da Uva de 2006.
  • Agradecimento a prof. Dra. Juliana Rossa, autora do vídeo Materialidades na Imigração.
  • MENIN, Assis Felipe. Novos imigrantes em Caxias do Sul (RS): identidade e história oral. Ponto-e-Vírgula : Revista de Ciências Sociais, [S.l.], n. 20, dez. 2016. ISSN 1982-4807. Disponível em: <https://revistas.pucsp.br/pontoevirgula/article/view/31176>. Acesso em: 11 jun. 2020.