Ao longos dos anos, diversos mitos a respeito da menstruação foram criados e disseminados ao redor do mundo. O objetivo aqui é explorar parte dessa mitologia, como ela foi sendo representada ao longo dos séculos, buscando assim desmentir alguns imaginários e melhor informar ao público.
Desde o início dos tempos a relação dos humanos com a menstruação foi cercada por diversos mitos e preconceitos. Já na pré-história foi construída a ideia de que as mulheres que menstruavam com frequência eram doentes, afinal estar nesse período significava não estar grávida, fato visto como algo extremamente negativo. Na Idade Média, a Igreja Católica criou a ideia de que a menstruação era algo profano e quem estivesse nesse ciclo deveria se resguardar da sociedade durante o período. Mesmo então com o Iluminismo e o avanço da medicina, a menstruação e o que ocorre com os corpos quando passam por ela ainda não eram considerados importantes a ponto de serem objetos de estudos.
As pessoas menstruantes, historicamente, se adaptaram a essa cultura mesmo tendo apenas a si mesmas e as outras para aprender mais sobre esse processo biológico pelo qual passavam. Tal fenômeno fez com que muitas das informações aprendidas pelas gerações mais novas tenham vindo de histórias repassadas pelas mais velhas. Isso pode incluir tanto experiências úteis para entender mais sobre o período quanto a perpetuação da vergonha – tão relacionada à menstruação ao longo da história – ou o nojo e suas muitas mistificações.
Construção dos mitos e desinformação
As razões pelas quais toda essa mitologia foi criada em torno do tema podem se dar a vários fatores. Com certeza a construção cheia de preconceitos em relação aos corpos femininos, formada ao longo de séculos foi fator decisivo para isso. Entretanto, outros pontos se destacam como colaboradores para essa visão, como o fato de o sangue estar muito relacionado a coisas negativas, ou a falta de conhecimento sobre esse processo natural do corpo.
É válido discutir aqui, dentro dessa escassez de informações, a falta de interesse histórica da medicina em relação aos estudos do ciclo menstrual, além do fato de que mulheres, por muitos anos, não puderam estudar. Àquelas que mais se interessavam por desmistificar o assunto não podiam pesquisar a respeito de seus ciclos por si mesmas, para romper com os mitos tão disseminados.
Essa quantidade de inverdades disseminadas trazem junto de si um sério problema de desinformação sobre o que é de fato a menstruação e sobre características que a acompanham. Mas felizmente, diferente do cenário de séculos atrás, hoje existem pessoas que dedicam seus estudos justamente a desmistificar esse processo natural, como é o caso da professora Sônia Trannin de Mello.
Sônia dedicou seus estudos à diversas áreas da biologia e, atualmente, conta com projetos de pesquisa sobre a pobreza menstrual e suas repercussões, tanto sociais quanto físicas. No vídeo abaixo, confira as respostas da professora para algumas perguntas que podem te ajudar a se informar um pouco mais sobre a menstruação.
Mesmo que o passar da linha do tempo tenha sido de certa ajuda para que as pessoas passassem a compreender melhor a menstruação, as consequências de tantos anos de mentiras e lendas sobre a mesma ainda são vistas. Até hoje é possível ouvir dezenas de mitos que são repassados com muita frequência para aqueles que menstruam.
Mitos da menstruação em diferentes períodos da história
Diversos mitos sobre a menstruação foram criados ao longo da história. Clique nas imagens abaixo para saber mais sobre como a menstruação era vista em diferentes períodos.
Desmistificando a Menstruação
Visualizar os significados sobre os quais a menstruação foi submetida ao longo dos anos, mostra a relação de menstruação como um assunto tabu, ainda na atualidade, por meio de uma construção social. Como visto anteriormente, ao longo dos anos, o ciclo menstrual foi tratado pela maioria das culturas como um processo negativo e sobretudo, relacionado com algo que prejudica e põe em risco os homens não menstruantes. Segundo o livro “Lua Vermelha”, escrito pela autora Miranda Gray, foi preciso muita luta para que a medicina conscientizasse a sociedade de que a menstruação traz um estado de consciência alterado para quem menstrua, mas não existe outra estrutura que a ajude a enxergar essa consciência de uma maneira positiva.
Antes de ser vista como algo impuro e contagioso, a menstruação tinha um sentido positivo como um poder místico para a mulher. Empoderamento que, por sua vez, fora visto como algo prejudicial ao homem. Portanto, é de extrema importância que todos sejam conscientes de como a história em torno desse assunto carrega significados os quais, ainda hoje, são repercutidos. E que desta forma, através de uma conscientização, possa haver uma quebra deste condicionamento social, imposto por uma repressão patriarcal, que acarretou em mistificações e desinformações sobre o ciclo menstrual.
Atualmente, ainda existem muitos mitos relacionados à menstruação, e essa transmissão de conhecimento ocorre naturalmente de geração em geração, segundo as autoras Maria Luisa Mundim e Milena de Souza em “Transformação da percepção da menstruação em gerações”. Quando pessoas mais novas procuram por ajuda dos mais velhos, para sanar suas dúvidas sobre o ciclo, ocorre essa passagem de informações, muitas vezes de caráter de senso comum sem bases científicas confiáveis.
Pode ou não pode?
Com essa tradição de passar informações através da oralidade, de geração em geração, você provavelmente já se perguntou se aquela história que sua avó te contou sobre não fazer alguma coisa enquanto está menstruando é realmente verdade. Por isso, confira abaixo algumas suposições famosas que se ouve por aí e descubra de vez o que pode ou não pode durante este período.
Conclusão
De fato, trazer o tema de menstruação como pauta na sociedade é algo que contribui e muito para a desmistificação do ciclo menstrual. Na pesquisa realizada pelas autoras Maria Luisa Mundim e Milena de Souza, consta-se sobre o assunto do ciclo menstrual dentro do ambiente escolar e os muitos benefícios para o entendimento de jovens em relação a seus corpos. Além disso, a pauta da menstruação nas redes sociais, torna-se algo de extrema importância para trazer a reinterpretação da geração atual sobre a menstruação, assim como a visão do movimento feminista e o impacto positivo da abordagem do tema dentro das redes e meios de comunicação.
Ainda assim, deve-se levar em consideração, que por mais que haja a luta para refutar as desinformações advindas da repressão ao longo do tempo, faz-se necessário a compreensão de que fatores como idade, escolaridade, contexto demográfico, comportamento e conhecimento prévio, influenciam na relação com seu corpo, ciclo menstrual, e a forma como cada um transmitirá seus conhecimentos para outras pessoas.