Sangue Azul
Já parou pra pensar no porque propagandas utilizam um líquido azul para representar o sangue no lugar de vermelho? A representação da menstruação ao longo da história pode ter mudado em vários aspectos, mas permanece com o mesmo denominador comum: a vergonha.
Como um tema pouco debatido na sociedade, as pessoas têm poucas referências sobre o que ocorre de fato durante o ciclo menstrual. Consequentemente, muito do que sabemos do assunto vem de propagandas de absorventes, revistas “ femininas” ou mesmo em filmes que abordam o tema.
Sendo assim, a seguir vamos abordar algumas dessas representações e como elas tem se modificado ao longo da história.
A publicidade ao redor da menstruação e dos absorventes começou a surgir no início do século XX. Abordando o tema de forma discreta, os anúncios buscavam vender medicamentos que prometiam amenizar os sintomas da Tensão Pré- Menstrual e alternativas e que ajudassem a conter o sangue.
Como sabemos, ao longo das décadas a menstruação foi tratada como um tabu (link com outra página do site) e isso refletiu diretamente na publicidade. Observando as propagandas, podemos notar palavras como Irregularidades, Incômodos, enfermidade e perturbações. Esses termos foram utilizados de forma que a menstruação fosse tratada como uma doença, e não algo comum a uma mulher.
Preparamos um compilado das propagandas mais famosas do século XX, que nos ajudam a compreender como a temática foi abordada durante décadas.
Você as encontra abaixo:
A publicidade na TV
A partir da década de 80, passam a surgir propagandas voltadas para a televisão. A primeira que temos registro é de 1984, da marca Modess. Em 1987, a Sempre Livre também passou a realizar suas publicidades na televisão, contando com a participação de mulheres famosas, como Fernanda Souza e Natalia do Valle. Essas propagandas abordam em sua maioria o tema bem-estar e conforto da mulher. Assista algumas delas:
Menstruação na publicidade hoje
Analisando as propagandas de absorvente as mulheres sempre são retratadas como felizes, dispostas e com roupas claras. A feminilidade é posta como ideal a ser preservado. Essa imagem idealizada acaba gerando constrangimento para quem não consegue corresponder a todas as expectativas, é fato que o período menstrual, apesar de ser diferente para cada pessoa, pode vir a gerar cólicas, mau estar, ou mesmo uma alteração do humor por conta das alterações hormonais.
A seguir separamos um compilado de propagandas de absorventes, da década de 1990 até a de 2020, que mulheres devem esconder quando se encontram em período menstrual, e que sua confiança depende disso:
Em sua maioria esmagadora, as propagandas de absorvente buscam apenas o público feminino. No entanto, não são apenas mulheres que menstruam, visto que a genitália não necessariamente está relacionada ao gênero de alguém. Essa abordagem invisibiliza a existência de pessoas trans, e reforça estereótipos machistas, como nessa propaganda da Intimus, em que a mulher é colocada como objeto de desejo de um homem:
Intimus, Set de 2012
Um novo ciclo: mais representatividade?
No entanto recentemente vem acontecendo uma reivindicação por parte de grupos militantes, por representações mais realistas e abrangentes, e algumas marcas vem aderindo as mudanças, como é o caso dessa campanha da empresa britânica Callaly:
A seguir separamos um vídeo de propaganda desenvolvida por marca de absorvente, que de alguma forma vem respondendo a essa exigência do mercado. No entanto, a representatividade ainda é limitada a mulheres cisgênero. Confira a seguir:
Informação na adolescência:
As revistas para adolescentes foram muito populares, em meados dos anos 2000 e 2010. Nem todo adolescente tem abertura para conversar com os pais sobre a menstruação, então esse tipo de publicação ajudava muitas pessoas a entenderem mais o que estava acontecendo nesse período de descoberta. Veja abaixo alguns exemplos de publicações feitas nas revistas Capricho e Toda Teen:
Menstruação no cinema
A representação da menstruação no cinema tem sido um assunto complexo e controverso ao longo dos anos. Na maioria das vezes, é retratada como um momento de constrangimento ou humilhação para as personagens, perpetuando estereótipos e tabus sobre o ciclo menstrual. Em muitos casos, é usada como uma ferramenta para ridicularizar as mulheres e reforçar o estigma de que é algo sujo e vergonhoso.
Uma representação mais realista e positiva do fluxo menstrual no cinema pode ajudar a quebrar estereótipos prejudiciais e promover uma conversa mais aberta e saudável sobre o assunto. Felizmente, nos últimos anos, tem havido uma mudança gradual na maneira como a menstruação é retratada no cinema. Vemos cada vez mais filmes que normalizam e desmistificam o assunto.
Selecionamos um clipe do filme "Casulo" que mostra como a menstruação é retratada no cinema. A personagem Nora, jovem de 14 anos que vive em Berlim passa por transformações típicas da adolescência e descobre o amor com Romy, garota de espírito livre que lhe ajuda a conhecer um mundo novo.
Esperamos ter provocado reflexões sobre esse tema que ainda é tabu na nossa sociedade. A menstruação é um processo natural do corpo humano, que deve ser tratado com leveza, para que pessoas que menstruam tenham um dia a dia mais tranquilo.