Arte e Menstruação

Da arte rupestre a arte contemporânea a menstruação foi (pouco) representada. Selecionamos algumas artistas e imagens que provocam nosso imaginário sobre o tema e nos faz pensar que falar e representar a menstruação ainda é um tabu.

Não é de se surpreender que algo tão cotidiano e ao mesmo tempo íntimo do universo das mulheres tenha sido representado nas diversas modalidades artísticas. Diferente da publicidade e do cinema, as/os artistas conseguiram falar sobre a menstruação com mais liberdade, dando outras e impensáveis dimensões para o tema. As representações sobre/da  menstruação foram além da criação de uma imagem que mostre o fluído. O artigo "Sangue (in)visível: performances menstruais e arte corporal" de Daniela Manica e Clarice Rios, de 2017 e o artigo "Painting Blood: Visualizing Menstrual Blood in Art" de Ruth Green-Cole de 2020 (ambos em língua inglesa) compilaram diversos exemplos de artistas que trataram criativamente o tema. Algumas publicações como "Art and Feminism" editada por Reckitt em 2012 e as exposições/catálogos da "Histórias da Sexualidade" e "Mulheres Radicais: arte latino-americana, 1960-1985" também apresentaram bons exemplos.  Abaixo veremos alguns trabalhos presentes nos artigos e outros de artistas que se valem do próprio sangue menstrual como tinta, com atitudes mais perfomáticas e que podem ser agrupadas como a modalidade da body-art. A variedade de propostas é tanta que essas criações também já foram classificadas como "Period Art" (Arte do Período), "Menstrual Art" (Arte Menstrual) ou como "Menstrala", um nome sugerido pela artista Vanessa Tiegs como "um tipo de movimento artístico que respeitosamente re-enquadra e redefine um dos tabus mais antigo da humanidade: o sangue menstrual"

Timi Páll

A artista romena usou do seu fluxo menstrual durante noves meses para criar uma sequencia de 9 imagens que representam a gestação de um bebê. Ela se valeu de absorventes internos e o sangue de sua menstruação como tinta. No site dela podemos ver mais dessa obra que ao final do ciclo completa a imagem de um feto que não veio ao mundo. 

Romã Neptune

O Instagram da artista carioca Romã Neptune divulga "experimentos artísticos com sangue menstrual". A artista indica aceitar encomendas para produzir peças com o fluido corporal.  


Jen Lewis

A artista Lewis na série Beauty in Blood (2015) cria uma série de imagens fotográficas macro (muito próximas) de seu sangue menstrual coletado e em contato com superfícies aquosas.

Rupi Kaur

A artista e poeta se valeu do Instagram (inclusive já sendo banida da rede social) para postar imagens da sua experiência cotidiana com menstruação. A imagem íntima é exposta então numa rede social. 

 Ingrid Berthon-Moine 

A artista francesa produziu a série de fotografias "Red is the Colour" que apresenta mulheres com lábios pintados de vermelho com títulos típicos de nomes e marcas de batons "Rouge Hollywwod", "Red Taboo". A série convida as mulheres a usarem a própria menstruação como batons - causando um misto de surpresa e estranhamento. 


Bee Hughes

A artista Hughes  tem produzido diversos trabalhos com a temática. Num dos seus mais conhecidos "Lifetime Supply" de 2017 nos é apresentado os absorventes internos inutilizados como miniesculturas a serem apreciados. O trabalho chama a atenção também para o descarte e uso desses objetos.

Catherine Elwes

Em 1979 a artista foi pioneira em utilizar sangue menstrual na perfomance gravada e chamada de "Menstruation I" e Menstruation II" na Escola de Arte de Slade. 

Judy Chicago

No trabalho "Red Flag" de 1971, uma fotolitografia de uma mulher tirando o absorvente interno de sua vagina, como "uma nova permissão para artistas mulheres".  A imagem vendida constrasta com o fenômeno corporal que sempre teve associado a trauma, a humilhação e a punição de quem o experiencia.

Sophie Rivera

A série "Rouge at noit' de 77-78 apresenta fotografias coloridas vistas de um vaso sanitário com absoventes íntimos descartados. Objeto que é intimo e ao mesmo tempo descartável se torna público e exibível refletindo sobre a função do corpo para além dos seus tabus e convenções

María Evelia Marmolejo

A artista feminista colombiana cria em 1981 a peça "11 de março - ritual para a menstruação, digno de toda mulher como precursora da origem da vida", uma sequência de imagens de um ritual para celebrar a menstruação como algo natural e fundamental para a origem da vida. 

George Cruikshank

Uma das representações mais antigas da cólica na mulher não foi por ela criada, mas por um homem. Nessa imagem de 1819 disponível no Instituto de Arte de Chicago vemos a representação  da dor da cólica por meio de pequenos demônios que pressionam o ventre amarrado da mulher. 

Aleta Valente 

Artista brasileira carioca que criou perfil no Instagram "Ex Miss Febem" como uma personagem que desafia os esteriótipos e divulga, dentre várias coisas, sua experiência com a menstruação nessa rede social que é conhecida por divulgar um padrão de corpo e de imagens de paisagens bonitas. Como é de se esperar, suas postagens provocam os outros usuários e ela recebe apoio e também muita crítica.