Reflexões sobre a verdade

A palavra “verdade” vem de “verus” do latim, que significa “real, autêntico e sincero” e de “aletheia” do grego, que significa “o não oculto”, “não escondido” e “não dissimulado”. Conceituar verdade corretamente é um dos grandes desafios da humanidade. Entretanto, o exercício a seguir pode tornar as reflexões sobre a verdade bem coerentes.

Imagine um cenário no qual o universo não tivesse seres racionais em lugar algum. Exatamente como o nosso planeta já foi um dia. Nesta situação existiriam apenas possibilidades e os fatos quando acontecessem decorreriam delas. Esses fatos não poderiam gerar conflitos nem incoerências, pois a natureza é harmônica e não haveria quem os constatasse e interpretasse subjetivamente.

A existência dos seres racionais é imprescindível para a existência da verdade, pois toda verdade tem que ser constatada por algum deles. Exemplo: A chuva antes de cair é apenas uma possibilidade, caindo é um fato, mas ela só se torna uma verdade após a sua constatação. Em outras palavras, o conhecimento dos fatos é indispensável para a caracterização de uma verdade.

Uma das principais evidências da coerência dessa visão da verdade é o próprio adjetivo “verdadeiro”, pois ele é inconcebível sem que algum fato tenha sido constatado. Essa necessidade também pode ser detectada em sinônimos de verdadeiro tais como: real, puro, genuíno, exato, sincero, certo, fiel a algo, autêntico etc. Outra importante evidência dessa visão da verdade está nas ciências, pois a verdade científica também não pode prescindir da constatação de fatos. Resumindo, a constatação de fatos é a chave para a identificação da verdade.

A verdade está sempre mudando, pois os fatos e as constatações se transformam continuamente. Exemplo: A constatação dos fatos “dia” e “noite” sustenta duas verdades diferentes que se alternam continuamente. Em outras palavras, qualquer possibilidade pode tornar-se uma verdade, basta que ela se torne um fato que seja constatado por alguém.

A verdade pode ser objetiva ou subjetiva. A verdade é objetiva quando um mesmo fato é interpretado da mesma maneira por todos observadores. Exemplo: O fato “morte” é o mesmo para todos observadores. A verdade é subjetiva quando um mesmo fato pode ser interpretado diferentemente por vários observadores. Exemplo: O tempo pode ser bom, ruim ou regular, isso depende de quem for o observador. O tempo que é bom para a pessoa de uma região pode ser ruim para a de outra. Portanto, Nietzsche estava parcialmente certo ao supor que a verdade é um ponto de vista. A idoneidade, a responsabilidade e a intenção também afetam a interpretação dos fatos. Entretanto, por mais veemente que seja a defesa das verdades subjetivas isso jamais as tornará objetivas.

Algumas pretensas verdades sequer têm fatos constatados. Elas simplesmente são impostas aos mais fracos ou despreparados pelos mais fortes ou espertos respectivamente. Exemplo: A igreja impingia às pessoas que a Terra fosse vista como o centro do universo (geocentrismo), pois isto era essencial para atender aos seus interesses mercadológicos.

Em suma, a verdade é um fato que já foi constatado por alguém, pois ela existe apenas para os seres racionais. Em outras palavras, o fato que sustenta uma verdade é sempre uma certeza. Portanto, René Descartes tinha razão ao supor que a certeza é o critério da verdade. A propósito, a compreensão do mecanismo de criação da natureza é crucial para viabilizar reflexões sobre a verdade como esta. Para saber mais deste mecanismo clique aqui.