É a vontade de Deus!

A afirmação: “É a vontade de Deus!” é utilizada com grande frequência para justificar porque as coisas acontecem. Ela remete a dois assuntos muito polêmicos: o destino e a moral. O destino é um futuro pré-determinado que muita gente acredita existir por vontade de Deus. Para mais informações leia o artigo ”Reflexões sobre o destino” ou pesquise na internet, pois não falaremos mais dele. Falaremos exclusivamente da moral porque é muito grande a pressão que sofremos para que sigamos regras que teriam sido ditadas por um deus. Em outras palavras, o objetivo deste artigo é analisar se as regras através das quais tentam moldar o nosso comportamento são impostas pela vontade de um deus.

A palavra “Moral” origina-se de “morale” do latim que vem de “mores” (costumes). A palavra “morale” é uma tradução parcial da palavra grega “êthica” (ética). Esta tradução faz com que confundamos os significados das palavras moral e ética. Grosso modo, a moral refere-se ao respeito devido às convenções sociais e a ética aos valores. Diferenças à parte, as duas palavras referem-se ao comportamento humano. Em outras palavras, a moral e a ética referem-se ao respeito às regras que são utilizadas para a socialização dos indivíduos.

A socialização é um processo que modela comportamentos individuais para adequá-los a uma cultura específica. Em outras palavras, a socialização é responsável pela programação das crenças e valores que padronizam o comportamento social. Como alguns temas tendem a se tornar tabus ou sagrados, algumas crenças e valores tornam-se quase estáticos. Esta imutabilidade faz com que se perenizem os comportamentos que possibilitam o convívio social, mas em contrapartida também propicia a geração de muitos indivíduos conservadores. A existência da socialização está profundamente atrelada à da empatia.

A empatia é o fenômeno que possibilita a alguém sentir na própria pele o mesmo que os seus semelhantes sentiriam se estivessem na mesma situação. Sem ela, ser racional algum saberia como as suas ações afetariam aos seus semelhantes. É por causa dela que os indivíduos criam, respeitam e impõem regras comportamentais. Em outras palavras, a empatia é um pré-requisito imprescindível para existência da moral e uma prova de que a natureza preparou os seres racionais para se integrarem socialmente. A empatia também é uma das causas que fazem o primatologista holandês Frans de Waal crer que a moral não é uma exclusividade humana, pois ela também foi observada em outros primatas.

Em suma, os fatos demonstram que a natureza é a base para a realização de qualquer vontade, seja ela divina ou não. Dizer que as leis da natureza realizam a vontade de um deus não seria exagero algum, pois elas atendem a interesses que não são nossos. Entretanto, seria muito incoerente considerar como deus quem precisasse de nós para divulgar e cobrar a observância de leis em seu nome. Um deus tão poderoso que nos dá autonomia decisória através da natureza jamais tentaria submeter o nosso comportamento à sua vontade de uma maneira tão infantil e vulnerável. Entretanto, muita gente acredita nisto e justifica a sua posição através de depoimentos sustentados por meio de estórias ou histórias tocantes contadas por livros e pessoas rotulados de sagrados e santificadas respectivamente. Acreditar nelas ou conhecer novos pontos de vista é prerrogativa todos. Para as pessoas de mentes abertas sugiro a leitura dos seguintes artigos: “Reflexões sobre as leis”, “Uma visão surpreendente do universo” e da “Teoria do Big Brain”.