Introdução
O estudo da alimentação e nutrição animal envolve necessariamente o conhecimento sobre os alimentos ou as matérias primas que são essenciais para a produção animal. É preciso lembrar que a exploração dos animais domésticos pelo homem deve sempre se traduzir em eficiente conversão dos alimentos em produtos úteis e, portanto, o conhecimento de sua composição química e valor nutritivo são de suma importância para que as práticas de nutrição e alimentação animal sejam corretamente adotadas.
Atualmente existem milhares de alimentos ou produtos utilizados na alimentação de animais e que são caracterizados com maior ou menor detalhe, dependendo de sua disponibilidade local ou regional.
Pode-se definir de maneira bem simples um alimento ou um produto como qualquer componente de uma ração que tenha função nutricional ou que forneça um ou mais nutrientes ao animal.
1. Nomenclatura de alimentos para animais
Vários órgãos internacionais têm preocupado em dar nomes significativos aos alimentos. O nome adequado deveria reunir em si um máximo de atributos tais que, por si só, identificariam o produto natural ou artificial considerado. Mas, de um só alimento podem advir muitos outros, como é o caso do milho e dos cereais em geral. A proliferação de novos produtos e processos industriais dificulta ainda mais a possibilidade de uma nomenclatura simples, bem definida e específica. Assim, a tendência atual é de associar ao nome vulgar ou técnico de um alimento, o maior número de características possíveis. Tomando como exemplo o milho, temos: grãos inteiros, desintegrados, sabugos, palhas e combinações de cada componente. O todo ou as partes, por sua vez, podem ser processados, originando farelos, fubás, quirelas, farinhas, cangicas, refinazil, rolão, etc.
Segundo Harris et al., uma nomenclatura internacional completa deverá conter os seguintes componentes:
· Nome científico (Gênero e espécie);
· Variedade, tipo ou classe;
· Nome comum do alimento;
· Parte da planta, animal ou produto;
· Processos de tratamentos;
· Estágio de maturação quando for o caso;
· Corte ou colheita quando for o caso;
· Designação de qualidade;
· Classificação.
A Tabela 1 mostra exemplos de nomenclatura internacional.
Tabela 1. Exemplos de nomenclatura internacional
2. Classificação dos alimentos
Os alimentos são numerosos e com tantas propriedades, que se tornaram indispensáveis agrupar os semelhantes, visando a sua utilização em arraçoamento.
Várias propostas de classificação surgiram, baseadas nos mais variados critérios, tais como: quanto a origem dos alimentos; quanto ao preparo; quanto a complexidade; quanto à composição química; quanto a função no organismo e quanto ao uso. Este último foi o mais aceito e deu origem a classificação que veremos a seguir.
2.1 – Classificação segundo o NRC e AAFCO
A Associação Americana Oficial de Controle de Alimentos (AAFCO) e o Conselho Nacional de Pesquisas dos EUA (NRC), desde 1963, adotaram classificar os alimentos segundo o critério em uso. Cada grupo corresponde a um código numérico de referência, colocado entre parênteses conforme segue.
(1) Forragens secas e volumosas
(2) Pastos e forragens verde
(3) Ensilados
(4) Alimentos energéticos ou basais
(5) Suplementos protéicos
(6) Suplemento mineral
(7) Suplemento vitamínico
(8) Aditivos não nutrientes.
2.2 – Classificação adaptada de Morrison
Baseados nos critérios mencionados anteriormente e na classificação de Morrison, os alimentos apresentam o seguinte esquema:
A alimentação dos animais é constituída de uma fração volumosa, oferecida ad libitum (à vontade) e outra concentrada. Para os animais não ruminantes, principalmente na criação industrial de aves e suínos, a fração volumosa normalmente não é ofertada devido a limitação digestiva. Para animais ruminantes a inclusão de concentrado na ração é limitada, dependendo dos objetivos a serem alcançados em termos de desempenho animal, respeitando-se obviamente, a relação custo/benefício no momento de se determinar qual a participação do concentrado na ração total (Feijó et al., 1996).
Alimentos Volumosos
O volumoso, na grande maioria das situações, é o ingrediente mais barato da ração total, devendo seu uso ser sempre maximizado. A produção de volumosos deve ser buscada sempre se preocupando com altos índices de produtividade, associados a qualidade nutricional superior e, evidentemente, a custos reduzidos. Com a obtenção eficiente de volumoso, e seu uso maximizado, o produtor será menos dependente da utilização de concentrados, reconhecidamente mais caros (Valadares Filho, 2002).
Os volumosos englobam todos os alimentos de baixo teor energético, principalmente em virtude de seu alto teor em fibra ou em água. Não se pode esquecer que alimento volumoso não é sinônimo de alimento rico em água e que, por outro lado, o alimento concentrado não significa alimento mais seco. O leite possui cerca de 87% de água e é um alimento concentrado, ao passo que o feno possui somente cerca de 12 % de água e é um alimento volumoso. Todos os alimentos que possuem menos de 60% de NDT e ou mais de 18% de fibra, são considerados alimentos volumosos. Embora a porcentagem de fibra determine essa diferenciação dos alimentos, existem algumas poucas exceções como, por exemplo, o caroço de algodão, que possui teor de fibra de 22% e é considerado um alimento concentrado pelo seu elevado valor energético (92% de NDT).
A maioria dos alimentos classificados como volumosos tropicais possui elevado teor de fibra e baixa digestibilidade de nutrientes, tais como proteína e energia. Isto porque eles possuem de modo geral, elevada concentração da fração conhecida como carboidratos fibrosos (CF), e que contém celulose, hemicelulose, lignina. Por outro lado, esses alimentos possuem baixa concentração de carboidratos facilmente aproveitáveis pelo animal, o que os contrasta com os cereais.
A quantidade de lignina presente no alimento é um fator crítico com relação à digestibilidade. A lignina é um composto amorfo e está associada aos carboidratos fibrosos da parede celular dos vegetais, limitando, assim, a digestibilidade da celulose e hemicelulose. A concentração de lignina na planta aumenta à medida que esta atinge estágios avançados de desenvolvimento. É por essa razão, principalmente, que, quanto mais velha ou mais avançada a planta se encontra em seu estágio de desenvolvimento, mais baixa é a sua digestibilidade e qualidade.
Os alimentos volumosos podem ser divididos segundo o teor de água em:
a) secos – basicamente são fenos, palhas, sabugos, cascas, farinha de polpa e fenos;
b) aquosos – agrupa as forragens verdes (pastos e capineiras), as silagens, as raízes e tubérculos e os frutos.
Alimentos concentrados
Na fração concentrada da dieta, os grãos participam em níveis acima de 50% e são os ingredientes que mais oneram a mistura concentrada (Valadares Filho, 2002). Os concentrados são aqueles que contém alto teor de energia, mais de 60% de NDT, e baixo teor de fibra, menos de 18%, e a um elevado teor de amido e gorduras. Subdividem-se em:
a) energético – alimentos concentrados que possuem menos de 20% de proteína. Os concentrados energéticos são aqueles incluídos na ração com o propósito de se elevar sua concentração energética e possibilitar maior ingestão. A energia nesse grupo de alimentos é representada por carboidratos de fácil aproveitamento pelo animal (açúcares e amido) e por lipídeos. Outra característica comum é a baixa porcentagem de fibra, o que reflete baixa concentração de carboidratos estruturais ou aqueles de aproveitamento mais difícil ou lento pelos animais (celulose e hemicelulose).
· Origem vegetal – constituída principalmente pelos grãos de cereais. Ex: milho, sorgo, trigo, aveia, centeio, cevada, etc.
· Origem animal – sebos, gorduras animal. Recentemente o Brasil se mobilizou numa cruzada anti “vacas louca” e prontamente foram tomadas medidas de rastreabilidade de animais importados e também foi estabelecida uma nova norma na área de alimentação animal. A instrução normativa do MAA revogou as anteriores e impôs várias proibições para uso de fontes de proteína e gordura de mamíferos na alimentação de ruminantes, enfatizando também que os processos industriais usados na obtenção dessas matérias primas, não garantem a inativação do agente da Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB).
b) protéicos – alimentos concentrados com um mínimo de 20% de proteína e, por essa razão, são alimentos de custo elevado. Eles devem ser usados em rações como fonte suplementar de proteína para suprir o déficit de outros alimentos concentrados e volumosos.
· Origem vegetal – constituída pelas sementes ou resíduos industriais de oleaginosas. Ex: F. algodão, F. amendoim, F. soja, etc.
· Origem animal – constituídos de resíduos industriais de pescados, frigoríficos e abatedouros. Esses alimentos são usados quase que exclusivamente em rações para monogástricos e sua palatabilidade ou aceitabilidade por parte dos animais é um tanto variável, portanto, seus níveis de inclusão na dieta não devem ser altos. Ex: F. carne, F. de peixes, F. de sangue, etc.
Minerais
Constituem-se dos compostos minerais utilizados na alimentação. Ex: F. ossos, calcário, fosfato, sal comum, sulfato de cobre, etc.
Vitaminas
Engloba todas as vitaminas lipossolúveis e hidrossolúveis
Aditivos
Os aditivos não nutrientes são classificados neste grupo. Ex: antibióticos, corantes, aromatizantes, hormonais, medicamentos, antioxidantes, probióticos, etc.
Outros alimentos
Alimentos que não se classificam nos itens anteriores, tais como aminoácidos, etc.
Os alimentos volumosos constituem a base da alimentação dos herbívoros, principalmente dos ruminantes, cuja grande capacidade do aparelho digestivo permite a ingestão de grandes volumes de alimentos e notadamente em função da flora microbiana do rumem, capaz de desdobrar a celulose fornecendo energia. A fibra, por outro lado limita a energia dos alimentos dos monogástricos, pois não possuem nos seus sucos digestivos enzimas capazes de hidrolisá-la: neste a fibra funciona apenas como auxiliar na formação do bolo fecal, permitindo seu trânsito pelo intestino.
Os alimentos concentrados, em virtude de seu valor energético ou protéico, adaptam-se principalmente aos monogástricos ou como suplementos aos ruminantes para elevar o valor energético ou protéico dos alimentos volumosos.
É relevante mencionar que, embora os alimentos se agrupam em categorias de propriedades químicas ou nutritivas similares, estas podem variar para diferentes amostras de um mesmo alimento.
Slides de aula sobre nomenclatura, classificação dos alimentos e fatores antinutricionais