Encontradas evidências paleoclimáticas em cavernas no Sul da Bahia

Post date: Jun 21, 2011 2:06:36 AM

Por: Leda Zogbi - Meandros Espeleo Clube

Entre os dias 05 e 08 de maio foi realizada uma expedição ao Sul da Bahia, região situada a aproximadamente 150 km ao norte de Porto Seguro, com o objetivo principal de localizar cavernas que pudessem fornecer registros do clima do passado da região (paleoclima). Estes registros são obtidos através da análise geoquímica e datações das estalagmites. A expedição foi organizada pelo Dr. Francisco da Cruz (Chico Bill) e também contou com a participação do biólogo Leopoldo Bernardi, doutorando da Universidade Federal de Lavras, MG.

Neste curto período, foram visitadas seis cavernas nos municípios de Mascote, Canavieiras, Pau Brasil e Potiraguá, das quais foram mapeadas quatro delas. As cavernas localizadas são bastante interessantes, apesar de nenhuma ser de grande porte. Nelas conseguimos encontrar os registros necessários, tanto na parte geológica, como também na biológica, onde uma abundante fauna cavernícola foi observada e fotografada.

Dentre as cavernas visitadas, vale destacar a gruta São Gotardo, no município de Mascote. A caverna se desenvolve por um conduto amplo (em média 5 m de largura por 8 m de altura), bastante ornamentado (em boa parte depredada) que se bifurca no final. O ramo da direita forma uma sala com muitas colunas e escorrimentos, e no fundo existe uma belíssima parede de cherts. Voltando pelo conduto principal, a uns 50 m da entrada, existe um pequeno orifício no paredão, no rés do chão. Esta estreita passagem dá acesso a uma outra rede de condutos de padrão completamente distinto do restante da caverna. São condutos muito menores (com aproximadamente 1,5 m de largura por 2 m de altura) e muito menos ornamentados. Muitas concreções estão bastante erodidas. O odor do guano dos morcegos é bastante forte nesta rede de condutos laterais. Seu desenvolvimento deve atingir a casa dos 300 m.

Outra caverna que merece destaque é a Gruta do Fernando, no município de Potiraguá. A entrada é muito bonita em um paredão circundado de mata. Da entrada principal, é possível avistar outra entrada superior majestosa: a caverna se desenvolve por dois condutos paralelos sobrepostos. Entramos pelo conduto inferior, bastante amplo, e logo na entrada localizamos um fóssil de um animal de médio porte, possivelmente um ruminante, completamente fixado pela calcita. Subimos, então, por um grande travertino, que ocupa praticamente toda a largura do conduto, que têm uns 10 m. No fundo do conduto, há uma passagem por cima de um escorrimento que dá acesso à galeria superior que desemboca na outra entrada da caverna. Infelizmente não houve tempo para mapear esta caverna, mas estimamos que deva atingir aproximadamente 200 m de desenvolvimento.

Estivemos também em Pau Brasil, onde as cavernas se encontram em território indígena. O clima é de tensão, e tivemos dificuldade em conseguir um guia que nos levasse até as cavernas. Todos temem os forasteiros, pois houve muitos confrontos e assassinatos.

C

onseguimos visitar uma caverna bastante interessante, a Gruta Milagrosa, com uns 150 m de desenvolvimento, um altar logo na entrada. A caverna era usada para rituais indígenas e possui um altar logo na entrada, mas não observamos sinais de visitação recente. Também possui amplos salões, muitas ornamentações infelizmente depredadas e muitos morcegos.

Além da galeria principal, há ainda uma rede de condutos menores que dá acesso a outras entradas. Toda essa região do Sul da Bahia, denominada “Costa do Descobrimento”, é muito verde, coberta pelas plantações de cacau. O carste não está exposto como em outras regiões baianas, mas se insinua, com seus rios transparentes e dolinas cobertas de resquícios de mata atlântica. A população é muito hospitaleira, mas é necessário realizar contatos prévios com representantes das comunidades indígenas, caso as cavernas estejam situadas no território deles na região de Pau Brasil, pois pode haver perigo real para espeleólogos desavisados.

O objetivo da expedição foi cumprido com êxito. Esperamos conseguir bons resultados com as amostras coletadas, ampliando o conhecimento do paleoclima brasileiro para esta área do sul da Bahia. Há certamente muito trabalho de prospecção e de topografia a ser realizado. Esperamos voltar em breve para continuar a explorar esse lugar fantástico.