Post date: Oct 13, 2009 12:34:09 AM
Por Leda Zogbi – Instituto do Carste – Meandros Espeleo Clube
A região de Presidente Juscelino, município mineiro que se encontra aproximadamente 200 km a nordeste da Capital, na confluência dos rios Paraúna e Rio das Velhas, foi visitada por Lund e sua equipe em meados do século XIX. No quadro do projeto do Instituto do Carste intitulado “Grande Roteiro Lund”, está sendo realizada uma busca na região com a finalidade de localizar e remapear as cavernas visitadas por Lund. Numa dessas investidas, em 17 de Setembro de 2009, encontramos uma cavidade bastante interessante, mas que parece não ter sido visitada pelo naturalista, denominada de Lapa d’Agua. Na época, mapeamos aproximadamente 300 m, mas fomos obrigados a interromper o trabalho, por falta de tempo, em um conduto que continuava sem nenhum sinal de afunilamento ou interrupção.
O tempo passou, muitas outras regiões foram visitadas, outras cavernas foram mapeadas, mas a Lapa d’Agua continuava lá, à espera da sua vez. Praticamente um ano depois, no dia 19 de Setembro de 2010, conseguimos voltar para terminar o trabalho.
A gruta se desenvolve nos calcarenitos da formação Lagoa do Jacaré (Grupo Bambuí). Com uma entrada bastante imponente, decorada pelas raízes de uma grande gameleira, a caverna se desenvolve por um conduto único, mais ou menos até o local onde havíamos terminado o mapeamento na primeira investida. Como as duas visitas foram feitas na estação da seca, o rio que atravessa a caverna estava praticamente seco, mas em alguns lugares restavam pequenos lagos, alguns transparentes, outros com muito guano. Os condutos seguem um padrão meandrante, e em diversos locais observa-se que o teto fica bastante alto. Bem próximo do local onde tínhamos encerrado a primeira topografia, havíamos encontrado um salão superior, e dele saía um conduto que subia paralelamente ao desenvolvimento principal da caverna, e que não havíamos explorado até o final.
O objetivo desta segunda investida era, portanto, terminar o mapeamento do conduto principal, eventualmente cruzando o maciço até o lado oposto (pela imagem no Google Earth é possível identificar nitidamente o sumidouro por onde entra a drenagem), e também mapear este conduto superior localizado no final da primeira topografia.
Nossos objetivos foram cumpridos, na medida do possível. Em primeiro lugar, mapeamos o conduto principal do rio, seguindo a direção sul. Grandes troncos de madeira, alguns com mais de 50 cm de diâmetro, espalhados por diversas áreas da caverna, nos davam a esperança de conseguir realmente atravessar o maciço. Afinal, se esses enormes troncos tinham passado, nós passaríamos... Infelizmente, depois de uns 200 m de topografia, chegamos a uma sala um pouco mais ampla, e ao fundo havia uma água empoçada, com muito guano, e teto baixo. Como de costume, o espírito de exploração e a curiosidade venceram a repulsa, e um voluntário at
ravessou o lago de guano, atingindo um salão que descobrimos ser o final dos nossos sonhos: um sifão impedia a passagem. Não foi possível continuar a topografia e fazer a travessia completa. Certamente os troncos devem ter passado em outra época, quando ainda havia uma passagem que hoje não existe mais... Além dos grandes troncos, há depósitos conglomeráticos (brechas residuais), com seixos arredondados que chegam a ter mais de 10 cm de diâmetro, dispostos ao longo de toda a gruta, indicando que já houve regime de energia hídrica muito forte no conduto. Esses depósitos foram parcialmente removidos da caverna.
Encaminhamo-nos, então, para o conduto superior avistado na expedição anterior. O conduto era mesmo paralelo ao conduto principal da caverna, e depois de algumas visadas, chegamos num enorme cupinzeiro, muito próximo da superfície, e, por um buraco pequeno na continuação do conduto, vimos no fundo a luz do dia. Trata-se, portanto, de uma entrada superior, porém só pequenos animais conseguem entrar por esta boca.
Concluímos a topografia da caverna, que atingiu aproximadamente 680 m. Ficamos ainda curiosos em verificar o sumidouro que se encontra do outro lado do maciço, e que certamente deve esconder uma entrada da caverna, e um trecho de conduto até o sifão. Deixamos esta curiosidade pendente para uma próxima oportunidade.