Curso de topografia de cavernas é ministrado em Paripiranga, BA

Post date: Apr 9, 2013 2:45:24 AM

Por Leda Zogbi – Meandros Espeleo Clube.

Equipe que participou do curso

No final de 2005, durante uma expedição, passamos por Paripiranga, cidadezinha do nordeste da Bahia, e lá encontramos o João, apicultor e interessado por cavernas nas horas vagas. Ele nos levou para as maiores cavernas que ele conhecia nas redondezas, sempre acompanhado de seu filho Fernando, na época com 16 anos. Mapeamos algumas cavernas muito interessantes. Fernando nos acompanhava por toda parte, completamente envolvido pela nossa atividade. Demos a ele um livro “Espeleologia, Noções Básicas”, mas nunca imaginávamos o que aconteceria depois. O tempo foi passando, e o Fernando nunca nos esqueceu: todos os anos ele ligava perguntando quando voltaríamos para Paripiranga, dizendo que ele tinha descoberto outras cavernas para nos mostrar... Em agosto de 2012, estive em Aracaju a trabalho, e liguei para o amigo Elias, do grupo Centro da Terra para nos encontrarmos. Elias me contou que o grupo estava realizando diversas atividades interessantes, e que tinha inclusive adquirido recentemente um equipamento de topografia, mas que eles ainda não sabiam produzir os mapas. Na mesma hora, disse a ele que eu poderia voltar para dar um curso para a equipe dele, e marcamos para o feriado de 7 de setembro, quando eles iriam justamente para Paripiranga, cavernar com o Fernando e seus amigos. Quando disse ao Fernando que eu iria dar o curso de topografia em Paripiranga, ele ficou eufórico.

Como o tempo disponível para o curso seria curto (três dias), preparei uma apostila ilustrada com diversas fotos e desenhos explicando os princípios básicos da topografia de cavernas.

No dia 7 de Setembro de 2012, chegamos em Paripiranga na hora do Almoço. Eram 9 espeleólogos do grupo Centro da Terra de Aracaju, e mais 9 do Grupo Mundo Subterrâneo de Espeleologia (GMSE) – O grupo do Fernando. Fomos no mesmo dia para uma caverna pequena para iniciar o curso. Toda a equipe do GMSE estava uniformizada, com macacões vermelhos novinhos e camisetas pretas, com logo do grupo. Todos eles usando motocicletas... Bonito de ver!

Expliquei a parte teórica fora da caverna, depois entramos todos.

A caverna era pequena (uns 20 m), gente por todo lado. Tínhamos 3 equipamentos de topografia e montamos 3 equipes, mas todos estavam juntos mapeando o mesmo trecho. E eu explicando como colocar as bases, como fazer as visadas, que “numerozinho” tinha que olhar, como tinha que anotar e ainda como fazer o croquis! Mas foi divertido.

No sábado, fomos numa caverna bem maior que eu já tinha mapeado anteriormente, a gruta “Fim do Morro do Parafuso”. Montamos três equipes e posicionei cada uma delas num lugar diferente da caverna. Fiquei passando de um grupo para o outro, para esclarecer as dúvidas. Foi bem melhor. Os croquis ficaram muito interessantes, todos eles em escala. Todos saíram satisfeitos, pois cada um tinha aprendido uma função diferente.No domingo, fomos visitar a gruta do Bom Pastor, a caverna mais conhecida da região, famosa pela romaria que é organizada todos os anos, e que tínhamos mapeado durante a nossa primeira passagem por Paripiranga. Uma grande escadaria de alvenaria dá acesso a um salão onde é celebrada a missa, durante a romaria. Depois desse salão, existe uma escada de ferro que desce na vertical, e no paredão há diversos ossos grandes, fossilizados, incrustados no conglomerado. Realmente impressionante. Outro fator notável é o calor dentro da caverna: deve beirar os 34 graus. Depois dessa escaldante cavernada, fomos todos almoçar no Babalu, maravilhoso restaurante bem próximo da caverna, com a presença do amigo apicultor João, que continua a visitar cavernas e a incentivar a nova geração de espeleólogos que acabou criando naturalmente.

De volta a Paripiranga, ainda arrumei tempo para explicar ao Fernando e ao seu amigo Lucas como fazer para passar a topografia para o computador e produzir o mapa. Já de volta em Aracaju, dei essa mesma explicação aos amigos do Centro da Terra... Uma verdadeira maratona.

Foi tudo muito rápido, muita informação concentrada, mas espero que com a ajuda dos manuais disponíveis online, e com a enorme motivação que percebi no brilho dos olhos desses interessados aprendizes, eles vão chegar lá, com toda a certeza. Quero ver em breve belos mapas sendo produzidos pelos espeleólogos de Aracaju e de Paripiranga.

Acredito que a conscientização das pessoas que vivem em regiões cársticas e a difusão dos conhecimentos relacionados às técnicas de documentação e cadastramento das cavernas são deveres de todos os espeleólogos conscientes. Somente assim conseguiremos ampliar, pouco a pouco, a nossa representatividade na defesa do Patrimônio Espeleológico Nacional. Vamos ajudar quem tem vontade de aprender, as cavernas agradecem!

Os Manuais “Curso básico de topografia de cavernas” e “Como fazer mapas digitais passo a passo” estão disponíveis para neste site, (procurar a aba Mapas, ir até o final da página, procurar “documentos para download”).

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