Post date: Oct 13, 2009 12:35:55 AM
Por Leda Zogbi - Meandros Espeleo Clube.
No período de 13 a 23 de outubro foi realizada uma expedição ao arquipélago de Fernando de Noronha, com a finalidade de localizar e mapear as cavernas do arquipélago, complementando, dessa forma, o plano de manejo do Parque Nacional Marinho. A viagem foi organizada pelo CECAV-ICMBio, em parceria com o Instituto do Carste.
O arquipélago pertence ao estado brasileiro de Pernambuco e é formado por 21 ilhas e ilhotas, ocupando uma área de 26 km², e situado no Oceano Atlântico, a leste do estado do Rio Grande do Norte, a 360 km de Natal. A ilha principal tem 17 km² e 10 km de comprimento. O arquipélago é, na verdade, o cume de um vulcão extinto cuja base, de 74 km de diâmetro, se encontra 4.200 m abaixo do nível do mar. (citar referência)
A geologia do arquipélago foi estudada em detalhes nos anos 50 por Fernando Marques de Almeida, um dos mais destacados geólogos brasileiros do século XX. As rochas vulcânicas de Fernando de Noronha possuem idades determinadas entre pouco mais de 12 milhões de anos (Mioceno) e 1,5 milhão de anos (Pleistoceno). Sua história geológica alternou períodos de vulcanismo intenso e períodos calmos, quando predominaram processos erosivos, eólicos e sedimentares.
Finalizada a saga vulcânica de Noronha, a parte emersa do edifício foi sendo arrasada através dos tempos pela ação das vagas, em particular durante a última glaciação do planeta, cujo ápice ocorreu há cerca de 20 mil anos. Foram os processos de erosão eólica e marinha que criaram um ambiente propício para o aparecimento de rochas sedimentares em Fernando de Noronha. Os registros sedimentares mais antigos são do período geológico compreendido entre 1,8 milhão e 10 mil anos atrás, e correspondem a antigos depósitos eólicos formados por areias das praias depositadas acima da linha litorânea. Esses depósitos sedimentares – os “arenitos Caracas” alcançam cotas atuais acima dos 50 metros (citar fonte dessas informações)
Segundo... (referência), os pulsos vulcânicos mais antigos não aparecem na parte emersa . Os dois últimos ciclos do vulcão ocorreram no intervalo de 10 milhões de anos, produzindo rochas piroclásticas, derrames, diques e plugs (massas de rochas de forma cilíndrica preenchendo um antigo conduto vulcânico. Constituem saliências abruptas no terreno por serem muito resistentes à erosão. Um exemplo de plug é o Morro do Pico, com 323 m de altura). Esses produtos vulcânicos por sua vez encontram-se parcialmente cobertos por rochas sedimentares antigas (arenitos Caracas) ou modernas (conglomerados de seixos vulcânicos agregados com cimento calcário de organismos marinhos).
Durante a prospecção foram localizadas e mapeadas 20 cavernas, das quais 15 no arenito Caracas e 5 em rocha vulcânica (basalto), sendo que a grande maioria dessas cavernas (quantas do total?) encontra-se ao nível atual do mar.
As cavernas em arenito em geral são pequenas, com 4 a 65 metros de extensão. Na ilha principal elas ocorrem principalmente em encostas, na região denominada Caieiras, na praia do Atalaia e na Ponta das Caracas, aproximadamente 20 a 30 metros acima do nível do mar. Nas ilhas Rasa, do Meio e Rata também foram mapeadas cavernas em arenito, sendo que na Ilha do Meio estão as duas maiores cavernas registradas em arenito, com 40 e 65 metros respectivamente. Esse arenito Caracas é constituído de conchas e corais (carbonatos), e em algumas cavernas ocorrem algumas formações características de rochas calcárias, como estalactites e escorrimentos. Em algumas cavernas também ocorrem formações bastante “originais”, como lapiás “horizontais” esculpidos pelo mar.
As cavernas em basalto estão distribuídas por toda a ilha. A maior delas é a Gruta do Urro do Leão, que se encontra exatamente do lado do famoso “Urro do Leão”, uma fenda na rocha onde a água do mar entra com um rugido muito alto, constituindo um dos atrativos turísticos da ilha. A caverna é formada por uma grande fenda no basalto, com 28 m de altura, 3 m de largura e 85 de comprimento. Logo na entrada um grande bloco de conglomerado se equilibra entre as duas paredes laterais. O visual dentro da caverna é impressionante (vide capa deste boletim). Outra caverna que merece destaque é a Gruta do Capim Açu (51 m) que se encontra na extremidade sudoeste da ilha principal e que possui duas grandes entradas. Na maré baixa é possível entrar na caverna, porém, na maré alta, violentas ondas azul turquesa atravessam toda a caverna, num espetáculo grandioso! Além destas duas, outras cavernas menores foram mapeadas, todas no (ao) nível do mar.
A mais famosa das cavernas da ilha de Fernando de Noronha se chama Caverna do Capitão Kid e se encontra no pé (sopé ou base) de uma falésia de cerca de 50 m de altura. Diz a lenda que a caverna atravessa toda a ilha, comunicando-se com o Forte Nossa Senhora dos Remédios. Infelizmente, não foi possível conferir: no dia previsto para a visita, já no final da expedição, as fortes ondas do Mar de Fora (face sul da ilha) impossibilitaram completamente qualquer incursão. Teremos que voltar num momento mais propício para mapear esta caverna e checar outras referências, que foram surgindo durante a nossa estadia na ilha, e que não pudemos checar por falta de tempo.
Durante a expedição contamos com o apoio da Administração do Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha (Sra. Fabiana Bicudo e colaboradores ICMBio), Projeto Tamar (Sr. Armando Barsante), Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco em Fernando de Noronha (Major Sidnei Cavalcanti e equipe) e dos moradores locais Sr. Orlando José de Souza (Presidente da Associação dos Pescadores de Fernando de Noronha), Fátima Neder e Jorge da Silva Barros. Nosso muito obrigado a todos e até breve, esperamos.