Cavernas são mapeadas na Serra da Piedade, Caeté, MG

Post date: Mar 21, 2011 11:50:36 PM

Por Leda Zogbi e Roberto Cassimiro, Meandros Espeleo Clube.

Desde novembro de 2010, o Meandros Espeleo Clube tem realizado expedições na Serra da Piedade com o objetivo de documentar esse importante patrimônio espeleológico e cultural brasileiro e contribuir com o trabalho da mestranda em geografia, Manuela Corrêa Pereira, vinculado ao Instituto de Geociências da Universidade Federal de Minas Gerais, que escolheu a Serra para sua área de estudo (ver artigo neste boletim). Além de ajudar a compreender a gênese das cavernas em formações ferríferas, seu mapeamento deverá contribuir para a compreensão de diversos documentos históricos deixados por naturalistas e religiosos que descrevem cavernas da região.

Trata-se de uma área de preservação: desde 1956, a Serra da Piedade é protegida pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Em 09 de dezembro de 2010, o Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural aprovou a extensão de tombamento do conjunto arquitetônico e urbanístico da Serra da Piedade, que é tombada em nível estadual e municipal. Ainda assim, o monumento natural tem sido ameaçado pela ação de mineradoras que atuam na área, e infelizmente é vitima da degradação da paisagem e do desmatamento.

Neste período de quatro meses, foram realizadas seis investidas na Serra da Piedade, e dentre as diversas cavernas localizadas e mapeadas, vale um destaque especial para a maior delas, denominada Gruta da Piedade.

A entrada da caverna se localiza na encosta, a aproximadamente 300 metros da estrada que leva ao santuário. O acesso é realizado escalando-se as rochas, em meio à vegetação arbustiva e espinhosa da região. A entrada da caverna é volumosa, e abre-se em um salão que prossegue em diversos condutos, praticamente para todas as direções. Estes condutos são geralmente bastante tortuosos, e subdividem-se por sua vez, formando uma verdadeira “teia de aranha” na vertente da montanha. Diversos condutos levam a novas saídas. Um verdadeiro labirinto, que acompanha a declividade e morfologia da encosta. A caverna se desenvolveu no contato do itabirito com a canga. Não há nenhum curso de água perene na caverna, porém as fortes chuvas que tivemos a oportunidade de presenciar transformaram muitos trechos em verdadeiras cachoeiras, que exemplificam a erosão que continua atuando na cavidade. Foi também observada a presença de uma grande colônia de morcegos em um dos salões laterais. A topografia foi bastante prejudicada pelo magnetismo do itabirito, que modifica significativamente os resultados da bússola, à medida que o instrumento se aproxima do teto ou das paredes. Por este motivo, esta etapa foi lenta, pois houve a necessidade de constantes conferências das leituras. Finalmente, após 3 expedições unicamente para esta caverna, foram mapeados aproximadamente 400 m em linha de trena, que devem render, após os descontos, entre 300 e 350 m de desenvolvimento, dimensão bastante significativa para cavernas formadas em formações ferríferas. Os trabalhos na Serra da Piedade prosseguem.