À primeira vista, os mitos parecem ser narrações fantasiosas e revestidas de certa magia de personagens, fatos e feitos heroicos de um passado distante, cuja existência veraz é muitas vezes duvidosa. Geralmente são utilizados para explicar o início da história de uma comunidade ou como fundamento da origem do mundo e da espécie humana sobre a face da Terra.
Tem-se a impressão de que os mitos não passam de lendas e têm pouco a ver com a existência real e vivida de cada ser humano. Na verdade, essa é uma falsa ideia acerca dos mitos. Segundo Georges Gusdorf, filósofo francês contemporâneo, a consciência mítica, bem como a consciência filosófica, é a maneira que o ser humano encontrou para organizar um conhecimento sobre a realidade.
O homem, admirado e perplexo, diante da natureza que o cerca, sem entender o dia, a noite, o frio, o calor, o sol, a chuva, os relâmpagos, os trovões, a terra fértil ou árida, sem entender a origem da vida, a morte e o seu destino eterno, a dor, o bem e o mal, recorre aos mitos. Fabrica-os como uma fonte de explicação para o que vê e não consegue compreender. Forças sobrenaturais são invocadas, deuses se revestem de formas humanas e se materializam nos mitos criados para desvendar a realidade ainda desconhecida e enigmática.
Os mitos expressam a capacidade inicial do homem de compreender o mundo. Surgem como modelos explicativos para satisfazer a curiosidade e as exigências da mente primitiva, embora desprovidos de conteúdo passivos de convencer a razão humana: "O mito é uma intuição compreensiva da realidade, é uma forma espontânea de o homem situar-se no mundo. As raízes do mito não se acham nas explicações exclusivamente racionais, mas na realidade vivida, portanto pré-reflexiva, das emoções e da afetividade" (Aranha e Martins, 1986: 22).
Segundo Cassirer, o caráter distintivo dos mitos reside em seu fundamento emotivo. Os mitos, bem como a religião primitiva, não são incoerentes e nem totalmente privados de senso ou de razão. a sua coerência provém muito mais de uma unidade sentimental do que de regras lógicas, e essa unidade sentimental é um dos impulsos mais fortes e mais profundos do pensamento primitivo.
Os relatos míticos, apoiados em uma "lógica do sensível", explicam a realidade concreta, conferindo significado e ordem a um mundo aparentemente caótico e desorganizado.
Fonte:SOUZA, S. M. Ribeiro de, Um outro olhar: filosofia, p. 49.
Seria difícil encontrar uma definição do mito que fosse aceita por todos os eruditos e, ao mesmo tempo, acessível aos não-especialistas. Por outro lado, será realmente possível encontrar uma única definição capaz de cobrir todos os tipos e todas as funções dos mitos, em todas as sociedades arcaicas e tradicionais?[...]
A definição que a mim, pessoalmente, me parece a menos imperfeita, por ser a mais ampla, é a seguinte: o mito conta uma história sagrada; ele relata um acontecimento ocorrido no tempo primordial, o tempo fabuloso do "princípio". Em outros termos, o mito narra como, graças às façanhas dos entes sobrenaturais, uma realidade passou a existir, seja uma realidade total, o cosmo, ou apenas um fragmento: uma ilha, uma espécie vegetal, um comportamento humano, uma instituição. É sempre, portanto, a narrativa de uma "criação": ele relata de que modo foi produzido e começou a ser. O mito fala apenas do que realmente ocorreu, do que se manifestou plenamente. [...]
O mito é considerado uma história sagrada e, portanto, uma "história verdadeira", porque sempre se refere a realidades. O mito cosmogônico é "verdadeiro" porque a existência do mundo aí
está para prová-lo; o mito da origem da morte é igualmente "verdadeiro" porque é provado pela mortalidade do homem, e assim por diante.
Mito e realidade, Mircea Eliade
Fonte:SOUZA, S. M. Ribeiro de, Um outro olhar: filosofia, p. 49.
A lua e a morte
É sobretudo na África que são contadas estas histórias, que têm algo do mito. Como a da lua e a da morte, que pertence à tradição do povo sandê.
Havia um homem morto. Sobre ele recaía a claridade da lua. Um velho reuniu em torno do corpo um grande número de animais e lhes disse:
- É preciso levar a morte e a lua para o outro lado do rio. Quem quer cuidar disso?
Uma tartaruga pegou a lua com as patas e levou-a para o outro lado do rio. Outra tartaruga, que tinha as patas mais curtas, apanhou o morto. Mas não conseguiu transportá-lo e se afogou.
É por isso que a lua aparece a cada dia e que o homem morto não volta nunca.
O polegar isolado
Uma história do povo adja, do Togo, conta o seguinte:
Originalmente, os cinco dedos da mão eram colados uns nos outros. O dedo maior certo dia viu um pedaço de carne frita e disse aos outros dedos que era preciso apanhá-lo.
- Nunca tomarei parte deste roubo! - gritou o polegar. - E contarei tudo a Deus, pois este pedaço de carne pertence a ele!
Os outros quatro dedos pegaram a carne e se apressaram a falar com Deus antes do polegar. Disseram a Deus:
- O polegar roubou seu pedaço de carne!
- Todo ladrão deve ser isolado! - ordenou Deus.
Desde esse dia, o polegar permanece isolado dos outros quatro dedos. Aliás, é graças a esse isolamento que a mão pode agarrar qualquer coisa que surja na sua frente.
Fonte: CARRIÈRE, Jean-Claude, O círculo dos mentirosos, pp. 283 e 287-8.
Aprenda mais
Mitologia grega é o estudo dos conjuntos de narrativas relacionadas aos mitos dos gregos antigos, de seus significados e da relação entre eles e os povos — consideradas, com o advento do cristianismo, como meras ficções alegóricas.[1] Para muitos estudiosos modernos, contudo, entender os mitos gregos é o mesmo que lançar luz sobre a compreensão da sociedade grega antiga e seu comportamento, bem como suas práticas ritualísticas.[2] O mito grego explica as origens do mundo e os pormenores das vidas e aventuras de uma ampla variedade de deuses, deusas, heróis, heroínas e outras criaturas mitológicas.
PARA JOGAR!
Grepolis
Grepolis é um jogo de estratégia que se passa na Grécia Antiga. Neste jogo multiplayer, seu objetivo é construir e evoluir uma pequena cidade para torná-la uma grande metrópole. São várias os edifícios que podem ser construídos para a evolução da sua cidade.O jogo lhe permite estabelecer poderosas forças militares e navais para explorar e conquistar nossas terras.Os Deuses também desempenham um papel importe no jogo e você deve contar com ajuda deles. Forças divinas e unidades míticas podem ser invocadas para te ajudar nas batalhas.Venha descobrir os mistérios da Grécia Antiga e junte-se aos Deuses antigos nessa viagem por busca de glória e honra.
AGE OF MTHOLOGY
Age of Mithology é um jogo que transporta os jogadores para uma Era onde os heróis enfrentavam monstros lendários e os deuses interferiam nas vidas dos mortais. Desenvolvido pelos criadores da série Age of Empires, Age of Mithology utiliza os mesmos elementos já popularizados na série ao mesmo tempo em que novas características são apresentadas, oferecendo uma experiência única aos jogadores.