O sujeito (o homem) possui três maneiras básicas de conhecer o objeto. Elas se diferencial pela forma como o sujeito tem acesso às propriedades do objeto: se pelos sentidos
(conhecimento sensorial ou empírico), pelo raciocínio (conhecimento lógico ou intelectual) ou pela crença (conhecimento de fé). Afinal, o conhecimento é a porção de realidade que o sujeito consegue perceber,
utilizando-se das ferramentas de que dispõe no momento.
Como qualquer outro animal, o primeiro contato do homem com a realidade se dá pelos cinco sentidos. Na verdade, as cores dos objetos por nós percebidos resultam do bombardeio que partículas do objeto, “viajando” em ondas, fazem sobre nossa retina. O som que ouvimos são ondas que deslocam o ar e impressionam nossos tímpanos. O calor e o frio dependem de movimentos
mais ou menos acelerados de moléculas em contato com a superfície de nosso corpo. Isso equivale a dizer que visão, olfato, audição, tato e paladar “sentem” as propriedades dos objetos. Sentindo os objetos, conhecemos o verde da árvore, o ruído do avião, o cheiro da pipoca, o gosto do café, a maciez do algodão.
O universo dos objetos físicos é, pois, conhecido pela sensação de suas características. O sujeito cognoscente estabelece com eles uma relação física, apoderando-se de suas propriedades sensíveis.
Diferentemente de outros animais, o homem consegue ultrapassar os dados captados pelos sentidos. Em outras palavras, o homem tem a capacidade de abstrair, de conservar imagens dos objetos que apreendeu, mesmo sem tê-los mais presentes. E mais: dos objetos o homem capta apenas as características essenciais, não considerando as qualidades secundárias próprias de cada ser. Por exemplo: a imagem ou conceito que temos de cavalo não traz as cores nem as peculiaridades de cada indivíduo da espécie equina. A partir de i magens, o homem raciocina, combinando-as e tirando conclusões. A combinação dos dados possibilita analisar, comparar, articular e unir, gerando conceitos, definições e leis indispensáveis ao entendimento (e consequente utilização) da realidade. É pelo raciocínio que percebemos o conjunto dos objetos formais, tais como as figuras geométricas, os números, a relação causa-efeito, a gravitação dos corpos, etc.
Combinando dados, descobrimos que “a soma dos quadrados dos catetos é igual ao quadrado da hipotenusa”, que “E=mc²” e que “dois p
ontos materiais se atraem à distância com forças cuja intensidade é diretamente proporcional ao produto de suas massas e inversamente proporcional ao quadrado da distância que os separa”.
Ao conhecimento que vai além do que nossos sentidos percebem, chamamos lógico, ou intelectual.
Há objetos da realidade cujas propriedades escapam tanto a nossos sentidos quanto a nosso raciocínio, impedindo que deles tenhamos dados empíricos ou dados intelectuais. Não podemos, por exemplo, saber o que se passa exatamente na cabeça do outro, o que ele realmente está pensando, nem o que está sentindo. Também não sabemos com certeza o que acontece conosco após nossa morte biológica.
Como lidamos com essas realidades? Acreditando na opinião de terceiros. A crença consiste na aceitação dos dados na forma como outras pessoas os propõem. Quando pergunto a alguém: “O que você pensa sobre mim?”, nunca terei certeza daquilo que a pessoa realmente pensa: só posso acreditar no que ela me diz. Ou quando digo que “após a morte, vou para o céu”, estou aceitando um dado que me foi transmitido por uma religião, na qual eu acredito.
O conhecimento de fé baseia-se, pois, na autoridade de terceiros. Constit
ui um voto de confiança no que os outros afirmam. Por isso, a fé não é objeto da filosofia, uma vez que esta se fundamenta apenas em dados racionais.