Estudos em Chysomelidae

A família Chrysomelidae Latreille, 1802 está inserida dentro da superfamília Chrysomeloidea (LAWRENCE & NEWTON, 1995; LAWRENCE et al., 1999). Segundo Costa (2000) ela apresenta 2.560 gêneros e 36.500 espécies no mundo; deste total 551 gêneros e 12.446 espécies na Região Neotropical, e 356 gêneros e 4.362 espécies em todo o Brasil. É uma das maiores famílias de besouros e entre as famílias de fitófagos é a segunda em número de espécies, depois de Curculionidae (RILEY et al., 2002).

Atualmente Chrysomelidae é constituída por 11 subfamílias: Bruchinae Latreille, 1802, Cassidinae Gyllenhal, 1813, Chrysomelinae Latreille, 1802, Criocerinae Latreille, 1807, Cryptocephalinae Gyllenhal, 1813, Donaciinae Kirby, 1837, Eumolpinae Hope, 1840, Galerucinae Latreille, 1802, Lamprosomatinae Lacordaire, 1848, Sagrinae Leach, 1815, e Spilopyrinae Chapuis, 1874 (REID, 1995; 2000).Nomes populares: por ser um grupo muito diverso e com grande importância econômica, existem muitos nomes comuns dados aos crisomelídeos. De maneira geral são conhecidos como vaquinhas, mas algumas espécies de outras famílias também são referidas com esse nome. Nos EUA a família recebe o nome de leaf beetles, devido ao hábito alimentar fitófago.

Alguns exemplos conhecidos são a barata-do-coqueiro (ou falsa-barata-do-coqueiro), besouro-da-batata, vaquinha verde-amarela (sua larva é chamada de larva alfinete), vaquinha do feijoeiro, besouro-saltador ou besouro-pulga (todos os representantes da tribo Alticini, subfamilia Galerucinae), vaquinha das cucurbitáceas e chapéu-de-sol-chinês (ou chapéu de bruxa).

Outros exemplos podem ser encontrados em Buzzi, 1994.

Chrysomelidae de Vila Dois Rios (Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro)

A maior diversidade de besouros coletada em Vila Dois Rios no ano de 2008 foi da família Chrysomelidae. Após a etapa de triagem do material, o mesmo foi morfotipado e identificado ao nível de subfamília. Até o momento, um total de 176 espécies em 8 subfamílias foi registrado para a localidade.

As subfamílias Donaciinae, Spilopyrinae e Sagrinae não foram registradas, corroborando os dados de distribuição da literatura, em que as duas primeiras não apresentam representantes neotropicais e a última só tem um registro pro Brasil (nordeste).

O trabalho de identificação das espécies de Chrysomelidae é muito dificultado visto que o número de especialistas do grupo ainda é muito pequeno quando comparado com a grande diversidade existente. Muitos grupos não apresentam chaves de identificação para tribos, gêneros ou espécies, e quando existem, a maioria é restrita a localidades específicas (ex. América do Norte) que não incluem a grande diversidade Neotropical. Sendo assim, o trabalho de identificação tem que ser realizado por meio de comparação com material depositado em museus e descrições originais, a maioria com poucas ou nenhuma ilustração e com descrições curtas e redundantes. É extremamente necessário então a ajuda de especialistas nos grupos, como foi realizado para os galerucíneos de Vila Dois Rios (Dr. Luciano de Azevedo Moura).

O estudo inicial da família resultou na monografia intitulada "Diversidade de Chrysomelidae em Vila Dois Rios (Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro) com ênfase na tribo Galerucini", defendida em Julho de 2010, além de resumos e pôsteres em reuniões científicas.

Taxonomia do gênero Isotes Weise, 1922

Isotes Weise foi descrito em 1922 para incluir uma única espécie Isotes quadrimaculata Weise. Nenhum estudo foi realizado desde então, até que em 1972 o gênero foi sinonimizado com Synbrotica Bechyné, 1956 por Aslam. I. quadrimaculata é considerada sinônimo júnior de I. tetraspilota (Baly, 1865) , espécie tipo. Hoje o gênero inclui 180 espécies com distribuição Neotropical (Wilcox, 1972) separadas em 11 grupos.

Não existe nenhum registro da biologia das espécies, apesar de Galerucinae incluir muitas espécies consideradas pragas de plantações. Em relação à taxonomia, os trabalhos do grupo se resume a descrições originais das espécies, sinonímias e transferência de gênero (p. ex. Moura, 2003).

Em 1967, Smith & Lawrence realizaram um estudo dos tipos de Diabroticites (seção que inclui hoje 16 espécies) onde foram especificados os locais onde estão depositados os espécimes tipos, junto com os dados das estiquetas dos mesmos. No mesmo trabalho os autores disponibilizaram uma chave de identificação para todos os gêneros e seus respectivos grupos. No caso de Synbrotica, a maioria dos grupos foi separada por padrões de coloração das manchas dos élitros.

Atualmente, está sendo realizado um estudo de morfologia comparada dos grupos de espécies do gênero Isotes com o objetivo de se obter caracteres morfológicos inéditos que proporcionem uma melhor definição dos grupos e espécies estudadas.

Referências:

  1. Buzzi, Z. J. 1994. Coletânea de nomes populares de insetos do Brasil. Curitiba, UFPR, 230 p.
  2. Costa, C. Estado de conocimiento de los Coleoptera neotropicales. In: Fermín Martín-Piera; Juan José Morrone; Antonio Melic. (Org.). Hacia un proyecto CYTED para el inventario y estimación de la diversidad entomológica en iberoamérica: Pribes 2000. 1 ed. v. 1, Sociedad Entomológica Aragonesa (SEA), Zaragoza, 2000. p. 99-114.
  3. Lawrence, J. F. &. Newton, A. F. Families and subfamilies of Coleoptera (with selected genera, notes, references and data on family-group names). In: J. Pakaluk & S. A. Slipinski (eds.). Biology, Phylogeny, and Classification of Coleoptera. Warszawa, Muzeum i Institut Zoologii PAN, 1995. p. 779–1006.
  4. Lawrence, J. F. et al. 1999. Beetles of the World: A Key and Information System for Families and Subfamilies. CD-ROM, Version 1.0 for MS-Windows. Melbourne: CSIRO Publishing.
  5. Moura, L. de A. 2003. Nova espécie de Zischkaita e notas taxonômicas em Galerucini (Coleoptera, Chrysomelidae, Galerucinae). Revista Brasileira de Zoologia 20(4):643-645.
  6. Reid, C. A. M. A cladistic analysis of subfamilial relationships in the Chrysomelidae sensu lato (Chrysomeloidea). In: J. Pakaluk & S. A. Slipinski (eds.). Biology, Phylogeny, and Classification of Coleoptera. Warszawa, Muzeum i Institut Zoologii PAN, 1995. p. 559–631.
  7. Reid, C. A. M. Spilophyrinae Chapuis: a new subfamily in the Chrysomelidae and its systematic placement. Invertebrate Taxonomy, Australia, v. 14, p. 837–862. 2000.
  8. Riley, E. G. et al. 124. Chrysomelidae. In: Arnett Jr., R. H.; Thomas, M. C.; Skelley, P. E. & Frank, J. H. (Ed.). American Beetles. Volume 2. Polyphaga: Scarabaeoidea through Curculionoidea. Boca Raton, CRC Press LLC, 2002. p. 617-691.
  9. Wilcox, J. A. 1972. Coleopterorum Catalogus, Supplementa Pars 78,2. Chrysomelidae, Galerucinae, Luperini, Aulacophorina, Diabroticina. s'Gravenhage, W. Junk, 211 p.

Mais informações:

  • Chrysomela - revista internacional dedicada aos crisomelídeos. Fundada em 1979, a revista inclui informações sobre atividades de pesquisa, encontros, literatura recente, artigos e e-mails dos pesquisadores. É publicada semianualmente, dependendo do material enviado aos editores.
  • Base de dados dos tipos depositados na Coleção de Entomologia do Museu de Zoologia Comparada da Universidade de Harvard - o site fornece imagens de alta resolução dos espécimes tipos depositados na coleção, e de suas etiquetas.
  • Guia dos gêneros de Besouros-pulga paleárticos - Konstantinov & Vandenberg, da USDA, criaram uma página voltada para os besouros alticíneos, com dados da taxonomia dos gêneros paleárticos, com fotos e desenhos esquemáticos, chave interativa, literatura e outras informações. É muito interessante para quem quer conhecer um pouco mais o grupo, apesar de não incluir a grande diversidade neotropical.
  • Manual interativo dos Cassidinae do Mundo - Borowiec & Swietojanska, da Universidade de Wroclaw (Polônia), criaram em 2002 uma página voltada para os cassidíneos, com muitas informações do grupo e ilustrações da maioria das espécies descritas.

Por Juliana M. S. Rodrigues

Apoio:


Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro