- Marina Suttana, Vitoria Morais, Lucas Tinoco, Franco Campos -
Os coletivos artísticos visuais de Curitiba surgem desde a década de 40, e crescem em meio à ditadura militar, transformando-se junto com a sociedade política e cultural.
Os chamados “coletivos independentes” ou "grupos de artistas" são organizações que têm inicialmente como objetivo uma contribuição social na comunidade, incentivando a cultura como forma de resistência. Manifestações artísticas, produção de arte e projetos culturais são algumas das atividades desenvolvidas por esses grupos que surgem em todo país. São formados a partir da união de artistas que buscam se desenvolver como grupo, assim alcançando maior potência em seus trabalhos. Os coletivos estão cada vez mais populares e em maior número nas cidades, principalmente nas grandes metrópoles, se tornando influentes e causando um impacto social considerável.
Muitas vezes os grupos apresentam um ativismo político e um posicionamento crítico a respeito dos problemas enfrentados pela população. Segundo Flavia Vivacqua, em texto publicado no site CORO (Colaboradores em Rede e Organizações), "A arte, fortalecida no coletivo, pode ter seu potencial amplificado e amplamente difundido. Já que mais informação, mais conhecimento, mais experiências circulam… para uma projeção intervencional construtiva da realidade.”
Os Coletivos começam a se popularizar no final dos anos 1980, início dos 1990, com o final da ditadura militar, mas surgiram essencialmente no início da década de 1960, com a necessidade de resistência dos artistas, uma forma de sobreviver às opressões da época, e posteriormente à crise econômica e política que assolou o país, sob a ideia de “unidos somos mais fortes”.
No contexto atual, o surgimento de novos coletivos foi amplamente influenciado pelo evento “Circuito Fora do Eixo”, em 2005, que teve como objetivo estimular as atividades culturais fora do eixo Rio-São Paulo, promovendo a formação de muitos grupos e a criação artística em outras regiões do país, propagando a arte para áreas mais remotas. Os primeiros núcleos dessa iniciativa estavam localizados nas cidades de Cuiabá (Mato Grosso), Rio Branco (Acre), Uberlândia (Minas Gerais) e Londrina (Paraná). Em 2012, o Circuito englobou 72 coletivos culturais presentes em 106 cidades do Brasil.
Foto: Marcelo Araújo (@marcelo_araujo)
Curitiba é uma cidade que possui efervescência cultura e não poderia ser diferente em relação aos coletivos independentes. Temos algumas manifestações dos coletivos por toda a cidade, como por exemplo o Moinho Rebouças que fica na atual sede da Fundação Cultural de Curitiba, Rua Engenheiros Rebouças 1732, foi idealizado pelo coletivo Mucha tinta. Esta intervenção cultural é uma das mais conhecidas de Curitiba pois fica localizada em um prédio histórico, edifício que era uma fábrica de trigo e biscoitos em 1930. Ao todo a intervenção possui 600 m² e este projeto contou com o apoio do Ministério da Cultura e da Fundação Nacional das Artes.
Infelizmente, vários coletivos não são reconhecidos ou não são lembrados por falta de um mapeamento de suas atividades no campo artístico. Um exemplo são os coletivos no Paraná, uma breve pesquisa na internet resulta em informações sobre coletivos em Estados como Rio de Janeiro e São Paulo, mas as informações são escassas no Paraná.
GAUGUIN, Paul. Vincent van Gogh Painting Sunflowers, 1888.
O entendimento dos Coletivos começou a ser difundido faz pouco tempo, mas eles já existem ha muito tempo. Podemos citar o exemplo de Vincent Van Gogh, que vendeu apenas um quadro em vida, mas ao analisar a sua história pode-se dizer que ele fez parte de um coletivo, com seu amigo Paul Gauguin e seu irmão Theodorus Van Gogh. Apesar de não desenvolverem um trabalho em conjunto, Van Gogh e Gauguin se apoiavam como artistas, por um período ambos faziam quadros para o irmão de Vincent, Theodorus era comerciante de arte, e ajudava a vender os quadros de Vincent e Gauguin. Os três por um curto período se apoiaram artisticamente por meio das suas trocas de experiências e vendas.
COLETIVOS INDEPENDENTES DESDE 1949
Garaginha (1949)
Alcy Xavier, Domício Pedroso, Fernando Veloso, Loio Pérsio, Paul Garfunkel, Nilo Previdi e Emma Koch eram alguns dos frequentadores da Garaginha, que foi um ateliê de arte na garagem do avô da Violeta Franco, que virou ponto de encontro de artistas da época, onde discutiam sobre arte moderna, gerando um fomento no coletivismo artístico antes mesmo dos coletivos se definirem como tais. Em 2013 é realizado no MON a exposição “Violeta Franco: a Garaginha e a arte moderna no Paraná”
Encontros de Arte Moderna (1969)
Adalice Araújo, Ivens Fontoura, Marcia Simões, Olney da Silveira Negrão, Margareth Born, Fernando Bini, Lauro Andrade, entre outros. Idealizado por Adalice Araújo, coordenado pelo artista Ivens Fontoura, organizado pelo Centro Acadêmico da EMBAP. Foi um coletivo muito ativo na cidade, atraindo artistas brasileiros da vanguarda e realizando performances contemporâneas e polêmicas. Uma das atividades artísticas do grupo foi o “Sábado da Criação”, onde os integrantes do grupo executaram uma ação performática no ambiente experimentando com o corpo e objetos encontrados no canteiro de obras da Rodoferroviária de Curitiba. Outro happening memorável foi na Exposição de São Paulo, onde foram cortados na maioria e com isso a artista Márcia Simões leva embora suas obras, enfaixado Fernando Bini circula ironicamente, e Lauro Andrade distribui bananas as pessoas.
Ponto de Partida (1970)
Surgiu como subgrupo dos Encontros de Arte Moderna, com artistas que pesquisavam dentro do expressionismo e abstração.
Grupo Convergência (1980)
Estudantes de arte da EMBAP, que tinham como palavra-chave a “convergência”, uma união entre artistas de diferentes estilos que convergiam para uma mesma busca de crescimento artístico.
Sensibilizar (1983)
Sergio Moura, Jarbas José Santos Schünemann, Genésio Jr., Djalmir Alves, Aílton Silva e Valter Montenegro. O grupo contou com artistas que realizavam intervenções que tinham como motor o ato real de sensibilizar o espectador sobre a realidade social, realizando happenings em espaços públicos. Um dos atos contou com catadores de papel que caminharam para o centro da cidade onde agrupados montaram uma estrutura de madeira e papel, ação chamada de “Grito Manifesto, 31 de março de 1984”.
Moto Contínuo (1983)
Denise Bandeira, Eliane Prolik, Geraldo Leão, Mohamed El Assal, Raul Cruz e Rossana Guimarães. O nome do grupo promove a ideia de dinamismo que a arte necessita, quebrando paradigmas do convencional, levantando uma discussão sobre o processo criativo e a liberdade de ação. Realizaram um evento na galeria da Fundação Cultural de Curitiba com várias linguagens artísticas.
PH4 (1986)
Antonio Rizzo, Edgar Cliquet, Marcos Pereira e Neri Gonçalves. O grupo iniciou com uma performance que protestava sobre a seleção e o corte de artistas para o Salão Paranaense, eles exploravam todo tipo de linguagem artística nos seus trabalhos.
Pipoca Rosa (2000)
Composto por estudantes de artes plásticas da UFPR, Lívia Piantavini, Lilian Gassen, Otávio Roesner, Raiza Carvalho e Tony Camargo, realizaram uma ação performática onde pacotes de pipoca rosa foram enviados sem remetente para várias pessoas do meio artístico do Brasil, em seguida foram colocados nas portas das principais instituições de arte da cidade a mesma pipoca rosa em grande quantidade, dias depois o ato foi noticiado no jornal.
Da esquerda para direita: Otávio Roesner, Lilian Gassen, Lívia Piantavini, Raiza de Carvalho e Tony Camargo. Esquina da R. Dr. Faivre com XV de Novembro em Curitiba, meados dos anos 2000.
Entrevista com Tony Camargo, Lívia Piantavini e Lilian Gassen. realizada em 25 de junho de 2022, por Marina Suttana, com duração total de 1:13:46.
Interlux Arte Livre (2002)
O IAL é um coletivo de artistas plásticos, músicos, designers, sociólogos, filósofos, que tinha como proposta a interação entre as artes visuais e a música para resinificar espaços urbanos por meio da intervenção urbana. Um coletivo que traz em suas ações de rua uma reflexão sobre a vida urbana em um sistema político. Fizeram cartazes, adesivos, uso criativo de espaços públicos, vivências, etc.
De 2002 a 2010, atuaram no coletivo André Mendes, Claudio Celestino, Fernando Franciosi, Fernando Rosenbaum, Goura Nataraj, Jaime Vasconcelos, Rimon Guimarães, Tiê Passos e Juan Parada.
Para visitar o site do coletivo clik ao lado - Interlux Arte Livre (IAL).
E/OU (2005)
Claudia Washington, Newton Goto e Lúcio de Araújo. A base do grupo era a Casa E/OU, onde aconteciam intercâmbios artísticos e experimentações, também realizando trabalhos na rua, como o mapeamento de lugares desocupados na ação “Cidade Vazia” em 2011.
Couve-Flor (2005)
Cândida Monte, Cristiane Bouger, Elisabete Finger, Gustavo Bittencourt, Michelle Moura, Ricardo Marinelli, Neto Machado e Stéphany Mattanó. Os artistas contavam com o Cafofo Couve-Flor para reuniões e manifestações, executando também performances e intervenções urbanas.
Mucha Tinta (2008)
O grupo Mucha tinta, teve vários artistas em sua composição e fizeram várias obras e intervenções sociais ao longo de sua jornada. No grupo já passaram artistas gráficos, designers, grafiteiros, ilustradores e videomakers como Cyla Costa, Bozo Crusty e Guilherme Caldas. Guilherme, teve a honra de ajudar a construir e idealizar o projeto que atualmente é a Praça Bolso do Ciclista que fica localizado perto a UFPR. Foi uma experiência em conjunto com várias pessoas de diversas formações e classes sociais. O grupo atua até os dias atuais.
Entrevista com Guilherme Caldas, realizada por Lucas Tinoco dia 3 de julho de 2022. (16:39 min)
Grupo Em-Cadeia (2019)
Entrevista Grupo Em Cadeia.
Site oficial Grupo Em Cadeia: https://grupoemcadeia.wixsite.com/grupoem-cadeia
COLETIVOS PARA SEMPRE
Ao analisar esta breve pesquisa, conclui-se que os grupos de artistas causaram uma revolução na potência da arte na sociedade, como protesto político, sintetizadores da ideologia de uma geração, destruidores de antigos e criadores de novos paradigmas, na ocupação dos espaços, com a catarse provocada pelas manifestações artísticas. Apresentando um crescimento exponencial, acreditamos que os coletivos tem muito potencial.
GOTO, Newton. Visionário invisível: o circuito curitibano de artes visuais. Newton Goto. 2014. 14 p. Disponível em: https://newtongoto.files.wordpress.com/2015/01/visionc3a1rio-invisc3advel_texto-goto_14-07-20141.pdf. Acesso em: 29 jun. 2022.
MARTINS, João Cândido . As Cores de Violeta Franco (1931-2006). Câmara Municipal de Curitiba. 2022. Disponível em: https://www.curitiba.pr.leg.br/informacao/noticias/as-cores-de-violeta-franco-1931-2006. Acesso em: 29 jun. 2022.
REINALDIM, Ivair Junior. Moto Contínuo: Estudo de caso - arte no Brasil - início da década de 80. Rio de Janeiro, v. 2, 2007. 281 p Dissertação (Pós Graduação em Artes Visuais) - Universidade Federal do Rio de Janeiro.
REIS, Paulo R. O.. O corpo na cidade:: Performance em Curitiba. 1 ed. Curitiba - PR: Ideorama, 2010. 128 p.
SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO. Referência em Planejamento: Arte no Paraná I. Curitiba: Imprensa Oficial do Paraná, v. 3, 1980. (nº 12 janeiro/março).
VIOLETA FRANCO: A -GARAGINHA- E A ARTE MODERNA NO PARANÁ. Museu Oscar Niemeyer. Disponível em: https://www.museuoscarniemeyer.org.br/exposicoes/exposicoes/realizadas/2013/exposicao-violeta-franco. Acesso em 29 jun. 2022.
https://colletive.duopana.com/blog/conheca-as-intervencoes-criativas-de-4-coletivos-de-curitiba Acesso em 2 de junho de 2022.
https://www.bemparana.com.br/noticia/coletivos-independentes-impulsionam-cena-eletronica-#.YrxVi3bMLDd Acesso em 02 de junho de 2022.
https://www.radiolarecords.com/about.html Acessp em 02 de junho de 2022.
Foto:https://pt-br.facebook.com/canalarte1/photos/os-amigos-vincent-van-gogh-e-paul-gauguin-s%C3%A3o-os-personagens-em-foco-no-bio-arte/559950587423410/ Acesso em 25 de junho 2022.
Site Grupo EM-CADEIA, 2022. Disponível em: <https://grupoemcadeia.wixsite.com/grupoem-cadeia>. Acesso em: 29 de junho de 2000.
https://www2.jornalcruzeiro.com.br/materia/379302/os-chamados-coletivos-associacoes-civis-ou-fundacoes Acesso em 12 de maio de 2022.
https://www2.jornalcruzeiro.com.br/materia/379302/os-chamados-coletivos-associacoes-civis-ou-fundacoes Acesso em 20 de maio de 2022.
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https://web.archive.org/web/20131226220750/http://corocoletivo.org/algumas-poucas-linhas-sobre-coletivos-de-arte/ Acesso em 16 de outubro de
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https://prediosdecuritiba.com.br/moinho-paranaense-reboucas/ Acesso em 16 de Outubro de 2022
https://www.favelaeissoai.com.br/noticias/1798/coletivos-de-arte-uma-alternativa-para-vencer-as-dificuldades/ Acesso em 20 de maio de 2022.
https://jornalcomunicacao.ufpr.br/coletivo-de-artistas-mulheres-ganha-destaque-no-cenario-da-arte-urbana-e-contemporanea-de-curitiba/ Acesso em 08 de junho de 2022.