a produção açucareira
Engenho São João da Fortaleza – Década de 1930
Casa-grande e Engenho Salgado (1992)
Por José Renilton Nascimento Santos
Até 1930, a agricultura era a base de nossa economia, tendo a cana-de-açúcar e o algodão como os principais produtos. A partir de 1930, inicia-se o processo de pecuarização e a criação de bovinos, aos poucos, transforma-se na principal atividade econômica.
Ofício da Câmara Municipal de 1875 apresenta um panorama da agricultura no município: “A agricultura neste município vai em completo atraso por falta de meios próprios para o seu desenvolvimento, e os seus principais artigos de produção são cana e algodão”. (Ofício da Câmara Municipal de Riachão ao Presidente da Província, Antônio dos Passos Miranda. Vila do Riachão, 25 de janeiro de 1875. Manuscrito. APES, fundo CM, v. 63)
A cana-de-açúcar era o nosso principal produto agrícola. Pertencendo à Vila de Lagarto, as terras riachãoenses são inseridas na produção açucareira desde a primeira metade do século XIX. Na região de Lagarto, “seria principalmente em seus solos localizados no Sul, e de onde se formariam os municípios de Boquim e Riachão, que se encontravam as melhores condições para o plantio da cana-de-açúcar”. (ALMEIDA, 1976. p. 487) Daí a existência de engenhos em terras riachãoenses antes mesmo de a povoação ser elevada à Freguesia, em 1855. São exemplos os engenhos Cipó, Caborje e Fortaleza.
A partir de 1840, ocorre um crescimento do número de engenhos em Sergipe, estabilizando-se “na segunda metade do século XIX em torno de 700 a 750 unidades”. (ALMEIDA, 1991. p. 81) Há uma clara expansão da fronteira agrícola da cana-de-açúcar. Assim, a cultura canavieira, em Riachão, ocorre a partir da incorporação de novas áreas à economia açucareira do Estado de Sergipe.
A área açucareira na qual se incluía Riachão era secundária dentro do Estado de Sergipe. Isso ocorre por situar-se no Agreste, “onde tanto o custo de transporte para os portos litorâneos, quanto a possibilidade de perda das safras em anos de secas ou estios mais prolongados ameaçavam sua sobrevivência econômica” (PASSOS SUBRINHO, 2000. p. 59). A área da nova fronteira agrícola apresentava dois inconvenientes, como cita Maria da Glória Almeida: “a distância dos portos para embarque do açúcar, agravada pela completa inexistência de adequados meios de comunicação [e] a sujeição das áreas canavieiras interiores aos efeitos da seca” (ALMEIDA, 1993. p. 142). Esses fatores prejudicaram a comercialização e a expansão do cultivo da cana.
Os nossos engenhos se enquadram na categoria dos chamados engenhos banguês ou trapiches. São engenhocas que
empregam pequena quantidade de trabalhadores e não supõem grandes lucros. Entretanto, demonstram impressionante capacidade de resistência, na medida em que pouco a pouco vão se voltando para o mercado interno que cresce e consome não apenas o açúcar, mas o mel e, principalmente, a cachaça. (ALMEIDA, 1993. p. 143).
A relação de engenhos de Riachão, segundo Relatório apresentado a S. Ex. Sr. Conselheiro Pedro Luiz Pereira de Souza, Ministro e Secretário d’ Estado dos Negócios Estrangeiros e interino dos da Agricultura, Comércio e Obras Públicas por Antônio Pimenta Bueno, em 1881, era a seguinte:
Nº NOME DOS ENGENHOS
01 Salgado
02 S. J. das Pontes
03 Nova Lua do Salobro
04 Lagoa Grande
05 Bom Jardim
06 Roça de Dentro
07 Grutão
08 Cajueiro
09 Campestre
10 Cipozinho
11 S. Pedro do Barão
12 Cipó
13 São João da Fortaleza
14 S. J. da Boa Vista
15 Monte Alegre
16 Nobre
Na década de 1930, ocorreu uma retração econômica do município, retratada por João Oliva da seguinte forma:
Depois de 1932, com a desorganização da economia do município, motivada pela seca, a gradual subjugação das terras a um sistema exclusivo de exploração para engorda de bovinos e as facilidades de transporte para outros centros (...) o êxodo começou a manifestar-se e a vila foi entrando em certo declínio até estabilizar-se. (ALVES, 1959. p. 424)
Neste contexto de retração econômica, deu-se o declínio da cultura canavieira e a redução do número de engenhos. Segundo Ibarê Dantas,
Nas primeiras décadas do século XX, o número de unidades produtivas diminuiu, ao ponto de, em 1930, estar reduzido a seis: o Salgado, sob a propriedade de Manoel Costa e Silva; o São José, de Fiel Freire Fontes; o Paraná, de Abdias Evaristo de Carvalho; o Fortaleza, de João Dantas dos Reis; o Maxixe, de Alberto Menezes; e o Maratá, de Manoel Ferreira de Araújo. Entretanto, um a um encerraram suas atividades. No início da década de 1950, somente o Salgado continuava ativo, absorvendo muitos trabalhadores no seu complexo cotidiano típico.
Com o declínio da atividade açucareira, verificou-se a queda da produção da cana-de-açúcar. Em 1920, tivemos uma produção de 3.960 toneladas. Em 1940, registrou-se uma produção de 1.697 toneladas. Em 1960, a produção foi de apenas 253 toneladas.
A decadência da cultura canavieira tem sua origem em diversos fatores dos quais citamos as dificuldades de transporte, os efeitos das secas que ocasionavam a perda das safras. A isso se acrescente o baixo grau de inovações técnicas utilizadas na atividade canavieira.
REFERÊNCIAS BIBBLIOGRÁFICAS:
ALMEIDA, Maria da Glória S. de. Sergipe: fundamentos de uma economia dependente. Petrópolis: Vozes, 1984.
________ Nota prévia sobre a propriedade canavieira em Sergipe. In: Separata dos Anais do VIII Simpósio Nacional de Professores de História. São Paulo, 1976.
________ Nordeste açucareiro: desafios num processo do vir-a-ser capitalista. Aracaju: UFS/SEPLAN/BANESE, 1993.
ALVES, João Oliva. Riachão do Dantas. In: Enciclopédia dos Municípios Brasileiros. Rio de Janeiro: IBGE, 1959. Vol. XIX.
DANTAS, Ibarê. Memórias de Família: o percurso de quatro fazendeiros. Criação: Aracaju, 2013.
PASSOS SUBRINHO, Josué Modesto dos. Reordenamento do trabalho: trabalho escravo e do trabalho livre no Nordeste açucareiro; Sergipe 1850-1930. Aracaju: FUNCAJU, 2000.