História do Porto

Para perceber a história da cidade do Porto, é preciso ter em conta a sua localização geográfica e recuar milhares e milhares de anos, à origem de tudo. Devido à localização da Península Ibérica (que engloba Portugal, Espanha, Andorra e Gibraltar), os primeiros seres semelhantes ao homem, o homo sapiens sapiens, chegaram pelo norte de África, através do estreito de Gibraltar, e foram andando e povoando a Europa. Durante a Idade do Gelo, muitos destes seres deslocaram-se do Norte da Europa para o sul, fugindo do clima frio e seco.

Entre Portugal e Espanha, os primeiros homens foram percorrendo o território, procurando encontrar locais onde houvesse condições propícias para a sua fixação. Em Portugal foram subindo pela costa, junto ao mar, para fugir às florestas densas. Há milhares e milhares de anos, não havia aeroportos, portos, auto-estradas, comboios... onde existissem condições para viver, como bom clima, proximidade ao mar e ao rio, para poderem pescar, ou terrenos férteis, para cultivar, era onde se fixavam. Junto ao litoral e no interior, a acção dos rios produziu planícies, criando um ambiente favorável ao homem. Consegue imaginar viver assim, sem meios de transporte e de comunicação, Internet e até sem telemóvel, em que tudo o que tinham era o rio, o mar e o que colhiam da terra?

Em relação à Região Norte, onde o Porto se situa (no noroeste de Portugal, sendo a segunda maior cidade em termos populacionais do país), os povos foram criando raízes graças ao Rio Douro, com 850 quilómetros de extensão, e ao mar. A história do Porto será muito mais antiga do que a de muitas cidades europeias, já que factos históricos e achados arqueológicos apontam para a presença de homo sapiens sapiens há mais de 20 mil anos numa área entre o Alto Douro Vinhateiro e o Vale do Côa.

Dadas as condições, as margens deste rio tornaram-se locais ideais para viverem, com água para consumirem e vales férteis para cultivo de alimentos, que assegurassem a sua sobrevivência. Tudo isto é comprovado com a existência de gravuras rupestres do Paleolítico ou de outros achados arqueológicos, com cerca de 20 mil anos, ao longo da extensão do Rio Douro, em Foz Côa, cidade situada no Alto Douro Vinhateiro.

Nesta zona já são conhecidos 26 quilómetros de gravuras e mais de mil rochas gravadas. A área que liga o Douro Vinhateiro e o Vale do Côa é o maior sítio do mundo com esta arte do Paleolítico Superior, altura em que o homo sapiens sapiens entrou na Europa, há cerca de 40 mil anos.

A criação do Porto, enquanto cidade, remonta ao período romano, ao século VIII a.C. Em várias áreas foram descobertas também ruínas celtas. Esta cidade esteve sob a alçada dos mouros em 711, durante a invasão da Península Ibérica. No ano de 868, chamava-se ‘Cale’ ou ‘Portus Cale’, tendo posteriormente originado o nome de Portugal. Vímara Peres, um guerreiro nascido na Galiza, que ficou na história como o fundador da terra portucalense, teve um papel crucial na conquista do território aos mouros. E assim foi restaurada a cidade de ‘Portucale’.

O Centro Histórico do Porto está assente sobre granito que foi emergindo com o tempo, o que possibilitou a sua utilização para a edificação da cidade ao longo da sua história. Apesar de se atribuírem significados diversos à palavra ‘Portucale’, uma das explicações é que, ao nome romano ‘Portus’ se adicionou a palavra ‘Cale’, que significará ‘pedra, rocha’.

A presença de granito no Porto pode ser testemunhada em vários locais do centro histórico da cidade, que é caracterizado pela sua elegância e pela harmonia que resulta da utilização do granito e dos edifícios construídos com esta pedra, entre os quais se encontram a Torre dos Clérigos, a Estação de São Bento, o Terreiro da Sé, ou o Hospital de Santo António. Contudo, também pode ser encontrado na vista das escarpas de vinhas do Douro ou até nas muralhas que, ao longo da história, ajudaram a moldar a cidade.

Com o tempo, a cidade do Porto passou a fazer parte da rota comercial entre Braga e Lisboa. No ano de 1111, D. Teresa, mãe de D. Afonso Henriques, que foi o primeiro rei de Portugal, entregou ao bispo D. Hugo o ‘couto do Porto’. Das armas da cidade faz parte a imagem de Nossa Senhora, por isso o Porto é conhecido também como ‘Cidade da Virgem’. Este bispo iniciou a construção da Sé do Porto, o ponto de partida para o crescimento da cidade, que começou por nascer dentro dos muros da catedral e foi descendo até à Ribeira. Já como rei, D. Afonso Henriques, filho de Henrique de Borgonha, reconquistou o território a sul do Porto com a ajuda do bispo Hugo.

Os frutos secos, a azeitona e derivados constituíam a parte mais significativa do comércio do Porto e da região do Vale do Douro, sendo esses produtos exportados para vários mercados do mundo. Porém, o grande impulso nas relações comerciais arrancou com a indústria do Vinho do Porto. Neste aspecto, o desenvolvimento do Porto esteve sempre muito ligado à margem sul do Rio Douro, Vila Nova de Gaia, onde foram e estão estabelecidas as caves para envelhecimento dos vinhos finos do Douro. As uvas eram colhidas nas vinhas plantadas na margem do Rio Douro e depois transportadas nos barcos típicos da cidade, os ‘rabelos’. A criação das caves em Gaia aconteceu porque os vinhos envelheciam melhor se estivessem num local temperado e húmido, o que acontecia nessa margem.

Durante este século, o Porto escoava a produção do vinho produzido no Douro, estabelecendo relações com mercados internacionais. E foi no fim deste século, e no decorrer do seguinte, que a exportação de vinhos do Douro começam a ganhar importância.

E foi nesta cidade que aconteceu também a união entre o rei D. João I e a princesa Filipa de Lencastre, de raízes inglesas, em 1397. Deste casamento nasceu uma aliança militar entre Inglaterra e Portugal e o filho do casal, o Infante D. Henrique, o navegador, teve um papel de relevo na história do país, já que organizou viagens à costa de África e, das suas expedições mar fora, surgiram mapas para a exploração, conquista, comércio e um ponto de partida para o caminho marítimo para a Índia.

A cidade foi crescendo, tornando-se num ponto de ligação obrigatório com o Mediterrâneo, apesar das constantes ocupações francesas e espanholas.

Durante este século registou-se um grande aumento de população nesta cidade, ao longo da margem ribeirinha do Douro, devido à importância cada vez maior das actividades comerciais e marítimas. Nessa altura a povoação começou a estender-se para fora da muralha que delimitava a Sé do Porto, a Cerca Velha. Ainda em meados deste século começou, então, a ser construída a Cerca Nova, que também ficou conhecida como Muralha Fernandina, uma vez que foi iniciada ainda no tempo de D. Afonso IV, mas só ficou concluída no reinado de D. Fernando.

No início deste século, a malha urbana do Porto era fechada pela Muralha Fernandina, resumindo-se a uma rede apertada de ruas, algumas estreitas e irregulares.

Neste século, os estaleiros do Porto foram pioneiros no desenvolvimento naval do país, graças ao Infante D. Henrique, o navegador.

Uma curiosidade acerca das gentes do Porto. Devido aos esforços feitos para apoiar a armada que seguiu, em 1415, para a conquista de Ceuta, no norte de África, em que a população local ofereceu aos combatentes toda a carne que possuíam, ficando apenas com as tripas para se alimentarem, os naturais do Porto ganharam a alcunha de ‘tripeiros’, devido ao prato que inventaram, que ainda hoje faz parte da tradição gastronómica da cidade e já possui uma confraria dedicada a esta especialidade.

É neste século que a cidade do Porto inicia uma fase de crescimento urbano e económico. A partir de 1521, e por iniciativa do rei D. Manuel I, começaram a ser abertas as principais ruas da cidade, como a Rua de Santa Catarina das Flores, a actual Rua das Flores. Aos poucos a cidade foi se tornando mais elegante e refinada. Durante este século surgem edifícios notáveis, como o Convento de Santa Clara, o Convento de Lóios ou o Mosteiro de São Bento da Vitória.