Segurança eterna do crente em Jesus
“O Senhor é o meu pastor; nada me faltará. Ele me faz repousar em pastos verdejantes. Leva-me para junto das águas de descanso; refrigera-me a alma. Guia-me pelas veredas da justiça por amor do seu nome. Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo; o teu bordão e o teu cajado me consolam. Preparas-me uma mesa na presença dos meus adversários, unges-me a cabeça com óleo; o meu cálice transborda. Bondade e misericórdia certamente me seguirão todos os dias da minha vida, e habitarei na Casa do Senhor para todo o sempre.” (Salmo 23)
Não conheço ninguém em quem o texto do Salmo 23 não promova paz e segurança, seja ele crente, agnóstico ou ateu. São palavras doces e agradáveis ao ouvido e coração de todo o ser humano.
Contudo, o sentido e âmbito destas palavras, isoladas de todo o texto bíblico que as suporta, podem ser, para muitos, nada mais do que mera ilusão ou enganosa segurança.
Com efeito, a leitura do Salmo, à luz de todo o texto bíblico (metodologia imprescindível em todo o propósito de interpretação de um texto isolado das Escrituras), dá-nos indicações claras quanto à interpretação e âmbito de todas as bênçãos nele registadas.
1. Natureza profética do salmo.
A leitura do salmo revela-nos a meditação e exposição da experiência do rei David com Deus. Em primeira análise, (e assim é) vemos o texto como o testemunho pessoal, espontâneo e sentido, de alguém que manifesta a alegria e do recebimento das bênçãos que enumera.
David teve esta meditação, como terá tido inúmeras outras que não foram registadas, mas esta chegou a nós por exclusiva vontade de Deus. Com efeito, foi o Espírito Santo de Deus que quis registar este texto singular e extraordinário. Esta magnífica realidade, de que foi o Espírito de Deus que inspirou as palavras escritas no Salmo 23, e as promessas profeticamente asseguradas aos homens de todos os tempos, está-nos asseverada na Sua Palavra fiel e verdadeira: “Temos, assim, tanto mais confirmada a palavra profética, e bem fazeis em atendê-la, como a uma candeia que brilha em lugar tenebroso, até que o dia clareie e a estrela da alva nasça em vosso coração, sabendo primeiramente, isto: que nenhuma profecia da Escritura provem de particular elucidação; porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens [santos] falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo.” (2 Pedro 1:19- 21); “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda a boa obra.” (2 Timóteo 3:16). Usando a expressão do testemunho pessoal do rei David, encontramos o propósito divino da expressão do Seu Ser, do Seu poder e do Seu prazer em atuar na vida dos homens.
2. A intemporalidade do Salmo.
Mas, simultaneamente, e porque se trata da Palavra escrita de Deus, sabemos que este texto, à semelhança de todo o texto bíblico, não foi concebido, apenas, para nos relatar as ações, atitudes e efeitos da mão de Deus na vida de pessoas que viveram há milhares de anos, nem tão pouco as reações dessas pessoas a essa mesma ação. Seria parco benefício constatarmos e sermos levados a pensar num Deus que operou em pessoas de tempos remotos. Deus, na Sua Palavra, a Sagrada Escritura, pela boca do Seu Filho, nos assegura a atualidade do que está escrito, ao afirmar: “Passará o céu e a terra, porém as minhas palavras não passarão.” (Lucas 21:33). Assim, convém termos presente a atualidade de todas as promessas de Deus, que atua em nós com o mesmo poder e eficácia demonstrados na vida do rei David, realidade confirmada pelo apóstolo Paulo, quando escreve: “Porque quantas são as promessas de Deus, tantas têm nele o sim; porquanto também por ele é o amém para glória de Deus, por nosso intermédio.” (2 Coríntios 1:20).
3. Condições de exclusividade para usufruir das bênçãos.
Torna-se imprescindível uma interpretação textual, devidamente enquadrada com todo o texto bíblico, como referido anteriormente, para apreendermos o seu conteúdo.
Conhecemos as palavras de Jesus: “Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos do vosso Pai celeste; porque ele faz nascer o sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos.” (Mateus 5:44, 45). Há que, porém, ter presente o objetivo do ensino de Jesus que era o dever amar e orar, em amor, pelos nossos “inimigos”.
No Salmo 23, há condições específicas para a fruição das bênçãos prometidas por Deus, que não abrangem, por isso, toda a humanidade, indiscriminadamente.
a) Exclusividade no amor e na fé. “O” - Este determinante definido demonstra claramente que a fé, amor e confiança do salmista descansavam, unicamente, no Senhor dos Exércitos, o Deus vivo e verdadeiro. Não há partilha com mais nada nem ninguém.
b) Exclusividade na pertença e obediência. “Senhor” – “Se com a tua confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo.” (Romanos 10:9)
Ninguém pode confessar, de forma honesta e em louvor e honra aceitáveis a Deus, ter Jesus Cristo como seu Senhor se, previamente, não tiver obedecido, de forma inequívoca, à Sua ordem de obediência prioritária: “Responderam-lhe: Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e a tua casa.” (Atos 16:31). Somente quem aceitou Jesus, pela fé, como seu salvador pessoal, reconhecendo ser Ele a prova suprema do amor de Deus que lhe foi oferecido, pode, igualmente, oferecer a sua obediência, como prova de louvor e gratidão a Deus: “Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional.” (Romanos 12:1)
4. As bênçãos.
Embora sendo a meditação do rei David, o que encontramos no texto são promessas que brotam diretamente do coração de Deus para cada um dos Seus filhos, em todo o tempo.
a) Deus promete ser o Pastor. “É o meu Pastor”- O tempo do verbo ser indica a continuidade da direção de Deus sobre aqueles que Lhe pertencem, ainda que maculados pela desobediência e pecado Cuja graça e misericórdia sobrepujam: “As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim; renovam-se cada manhã.” (Lamentações 3:22). Não foi no passado; não será no futuro; Ele é sempre o nosso Pastor!
b) Deus promete suprir todas as nossas necessidades. “nada me faltará”. “Ora, àquele que é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos, conforme o seu poder que opera em nós, a ele seja a glória, na igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o sempre. Amém!” (Efésios 3:20).
c) Segurança e o conforto da Sua presença, amor e poder, após a saciação. “me faz repousar em pastos verdejantes; refrigera a minha alma” Após nos conceder o necessário para as nossas vidas, o Espírito do Senhor promove a genuína paz e segurança que o mundo não pode dar, sarando, igualmente, as nossas almas.
d) Sabe das nossas necessidades e provê, ao pormenor, o melhor. “Leva-me para junto das águas de descanso;” Não é em águas tumultuosas que as dóceis ovelhas gostam de beber, mas sim, em águas calmas e paradas. Deus conhece os anseios do nosso coração, as nossas necessidades mais íntimas, e responde as nossas necessidades.
e) Guia os Seus remidos, por amor à Sua promessa, por veredas dignas da Sua grandeza e para glória do Seu Nome. “guia-me pelas veredas da justiça por amor do seu nome.” “Lâmpada para os meus pés é a tua palavra e luz para os meus caminhos.” (Salmo 129:105); “Tenho ainda muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora; quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade;” (João 16:12,13).
f) Enfrentando dor e tribulação certos da presença constante do Senhor. “Ainda que eu ande no vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo; o teu bordão e o teu cajado me consolam.” “Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada?... Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou. Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor.” (Romanos 8:35; 37-39).
g) Triunfo, glória e honra sobre os inimigos e poderosos deste mundo. “Preparas-me uma mesa na presença dos meus adversários, unges-me a cabeça com óleo; o meu cálice transborda.” Por amor ao Seu Nome e ao nosso testemunho de obediência e sujeição, Deus honra os Seus filhos, de forma abundante, coroando, igualmente, a sua vida com as bênçãos que o mundo não conhece nem possui. Como é grato vermos a silenciosa, mas sentida reverência com que o mundo contempla a vida dos filhos de Deus, fiéis, em obediência à Sua Palavra e à direção do Seu Espírito!
h) Certeza diária da bondade e misericórdia do Senhor. “Bondade e misericórdia me seguirão todos os dias”. Que sublime segurança! Maravilhosa realidade!
i) Morada eterna na Casa do Pai. “e habitarei na Casa do Senhor para todo o sempre.” “Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar. E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também.” (João 14:1-3); “Na verdade, não temos aqui cidade permanente, mas buscamos a que há de vir.” (Hebreus 13:14).
(Pastor Joaquim Emanuel Martins Pinto)